sexta-feira, 29 de março de 2013

VIA-SACRA


A grande mística Beata Alexandrina reviveu no corpo, no coração e na alma a Paixão de Jesus.
Foi obrigada pelos directores a deixar escrita a sua experiência num Diário: "Sentimentos da Alma"
Dele foram extraídos os fragmentos que compõem esta Via-Crucis, aqui assinalados com a sigla S (nalguns descreve o que vive Jesus, noutros exprime-se como se fosse ela mesma Jesus, com o qual se sente identificada.)


PRÓLOGO

Tu não quiseste nem sacrifício nem oblações, em vez disso preparaste-me um corpo ...
Então disse:
- Eis que venho, ó Deus, fazer a tua vontade!" (Heb. l0,5-7)

Viu a minha alma
a grande montanha do Calvário
e no cimo a cruz ao alto onde eu havia de estar crucificada. S(3-11-50)
Esta cruz chegava ao Céu
e fazia-o abrir e resplandecer. S (3-11-50)
Era cruz de triunfo
que brilhava mais que o sol! S (7-11-52)


1. JESUS É IMOLADO

Senti-me levada por alguém,
à varanda de Pilatos.
A cabeça ia cheia de espinhos,
o rosto coberto de sangue,
todo o corpo ferido e despedaçado.
Vi e ouvi a grande multidão que,
a uma só voz,
sem se condoer de mim,
bradava a minha crucifixão. S (4-7-47)
Os meus ouvidos ouviam, a uma voz só,
a palavra "morra", "condene-se!"
Oh, que gritos os da multidão! S (30-3-45)
Recebi a sentença de morte. S (11-4-52)
Vi a cruz que, pouco depois senti
a meus ombros para seguir o Calvário. S (4-7-47)
O meu corpo ia entregue aos malfeitores,
o meu espírito ia só em Deus. S (30-3-45)


2. JESUS RECEBE A CRUZ

Recebi a cruz.
Esmagada, curvada com o seu peso,
caí debaixo dela no mesmo lugar. S (5-10-45)
Foi talo peso, que me fez curvar
e fez sentir que me infundia no solo. S (8-3-46)
Não foi a cruz que levei em meus ombros:
foi o mundo inteiro! Senti-o bem. S (6-5-49)
Vi a multidão que me acompanhava:
poucos amigos, quase só inimigos.
Os amigos enterneciam-se;
os inimigos descarregavam
sobre o meu corpo
grandes chicotadas, sem dó nem piedade. S (31-8-45)


3. JESUS CAI PELA PRIMEIRA VEZ

Quase no princípio caí Jesus,
pela primeira vez.
Caiu sobre a cruz; feriu gravemente
o Seu santíssimo rosto e peito. S (16-5-47)
Um número de curiosos contemplavam
essa carne e esse sangue,
por escárnio e não por amor. S (14-9-45)
Caí desfalecida
(a Alexandrina identificada a Jesus).
E parecia mesmo, mesmo perder a vida!
Perder a vida para dar vidas dava-me forças.
Voltava a caminhar. S (26-1-45)
A sede ardente que no coração levava
era a força do meu caminhar. S (14-S-45)


4. JESUS ENCONTRA A MÃE

Saiu-me ao encontro a Mãezinha! Fitou-me; eu fitei-a a Ela.
Uniram-se os nossos corações na mesma dor. A troca dos nossos olhares não se demorou: tive que caminhar à frente,
maltratada, empurrada, arrastada. s (16-2-45)
Ela caminhava também, guiada pelo olhar que tinha ferido e atraído o coração e a alma.
S (13-7-45)
Em tudo o percurso do Calvário não perdi mais a união com Ela.
Eu não arrastava Só a cruz: arrastava-A também a Ela, ou melhor, arrastava a Sua dor. S (13-6-47)


5. JESUS É AJUDADO PELO CIRENEU

A cada passo ia a expirar.
Caía e sobre mim ficava a cruz. s (30-3-45)
Não por dó, mas por receio queriam alguém que a levasse.
Houve quem caminhasse com ela,
não por amor, mas por ser mandado. Mas, mesmo assim, quanto amor senti o meu coração dispensar-lhe!
Que grande paga! s (30-3-45)
Me foi tirada a cruz, mas eu sentia-me como se sempre levasse o seu peso.
S (27-647)


6. JESUS ENCONTRA A VERÓNICA

Veio ao meu encontro a mulher, a mulher querida compadecida da minha dor. Com que ternura e amor limpou do meu rosto o suor, o sangue e o pó!
Os laços da mais estreita amizade prenderam os nossos corações.
É indizível o que queria dizer dela, os louvores que queria dar-lhe!
Oh, como queria que ela fosse falada por este acto tão heróico! S (19-1-45)
Quando a Verónica limpou o rosto de Jesus, eu senti como se o meu rosto e o amor do meu coração, que não era o meu amor, ficassem no pano imprimidos. S (22-8-47)

  
7. JESUS CAI SEGUNDA VEZ

No meado do caminho, foi tão grande a queda e a descarga de açoites que sobre o meu corpo caíram! S (20-6-47)
Os lábios abriram-se-me em sangue e beijavam a terra na qual me feria! S (13-9-46)
O mundo não se compadecia da dor do divino Jesus. E eu via-O chorar. S (3-8-45)
Via os homens vomitar sobre Ele os vómitos das suas maldades e injúrias. S (3-8-45)


8. JESUS ENCONTRA AS SANTAS MULHERES

Quanto mais se aproximava o fim da montanha, mais difícil se tornou a subida: mais agonia, mai sangue, mais abandono e mais dor. S (12-1-51)
As golfadas de sangue eram quase contínuas e o desfalecimento leveva-me a terra. S (17-1-47)
Seguiam-me algumas mulheres. Choravam amargamente, a vista de tantos sofrimentos.

Caminhava e fitava-as com olhar de compaixão. O coração murmurava-lhes:
"Não choreis por mim mas por vós. Chorai as vossas culpas: são a causa das minhas dores". S (13-12-46)


9. JESUS CAI TERCEIRA VEZ

Caminhava como se o mundo estivesse sobre mim a esmagar-me, a sujar-me com todas as suas imundícies.
E o Céu carregava sobre este mundo de iniquidades, esmagava-o com o peso da sua justiça.
Era o mundo, era o Céu contra mim! S (28-6-46)
Caí. Por uns momentos fiquei desfalecida, como se não tivesse vida. Os algozes fitaram-me curiosos, pensando eu ter morrido.
Novo furor me arrastou fortemente e fez bater nas lajes. ( ... )
Mesmo assim, do meu coração Só saía amor e compaixão por eles. S (24-5-46)
No decorrer da viagem o meu corpo ficou por muitas vezes desfalecido... E quantas vezes se repetiam os sofrimentos, outras tantas me saia da alma uma oferta ao Eterno Pai. S (31-8-45)

  
10. JESUS É DESPIDO

Cheguei no Calvário. Ao serem-me tirados os vestidos, foram tirados com tanta pressa que chegaram a rasgarem-se. Que dores violentas ao irem com eles pedaços de carne! S (28-9-45)
Os olhos com o sangue não podiam abrir-se, mas a vergonha obrigava a conservá-los mais profundamente fechados.
Ser despida em público!
Sentí logo que a Mãezinha queria com o seu manto cobrir Jesus revestido em mim. S (12-10-45)
Foram tantas as risadas de escárnio, que ecoavam em todo o Calvário! S (20-9-46)

  
11. JESUS É CRUCIFICADO

Senti como se fosse eu mesma a deitar-me sobre o madeiro e a estender as mãos e os pés para ser crucificada.
Era um abraço eterno à cruz, à obra da redenção ( ... ) Que sede infinita de me dar toda!
Na ânsia de me dar inteiramente no amor mais puro e louco, chegou o momento de dar a vida. S (24-2-50)
Foi violentíssima a crucifixão! Senti quase como que se me arrancassem os braços e pernas, tal era a força com que eram puxados para chegarem ao ponto marcado da cruz. S (18-2-49) 
Vi um algoz com olhares infernais levantar o martelo ao alto e com toda força o deixou cair no cravo que prendia a mão divina de Jesus.
Tudo se reflectia em meu coração. S (9-1-48)

  
12. JESUS MORRE NA CRUZ

Oferecia-me ao Pai como vítima; e à humanidade oferecia o coração e o amor. S (27-3-53)
Era noite, noite tremenda! S (31-10-47)
"Minha Mãe, aceita o mundo que é Teu: é filho do meu sangue e filho da tua dor.
Para o salvar tens que cooperar comigo". Nessa intimidade, com os olhos fitos no Céu, acrescentei: "Está tudo consumado". S (18-1-52)
"Meu Pai, custa-me a ingratidão, mas perdoai-lhes que desconhecem que sou Teu Filho". S (6-9-46)
"Pai, nas Tuas mãos entrego o meu espírito: é para Ti o meu último suspiro". S (24--10-47)
Ele a expirar e um som harmonioso enchia o Céu e a Terra. S (11-10-46)

  
13. JESUS É DEPOSTO NO REGAÇO DE SUA MÃE

A minha alma viu-O a ser descido da cruz, cruz que estava dentro em mim.
A santíssima cabeça pendurada, um braço já estendido, e a Mãezinha ao pé da cruz, de braços abertos para O receber. S (21-12-45)
Queria abraçá-Lo, limpar-Lhe o rosto cheio de escarros e pó, todo ensanguentado e recolher em Si todas as gotas do precioso sangue de Jesus, que também era Seu.S (29-4-49)
Mas ai, quanto isto me custou! Estremeci: parecia-me sentir o corpo de Jesus sem vida, frio, gelado! S (21-12-45)


 14. JESUS NO SEPULCRO

Voou a sua Alma santíssima. E eu fiquei na mesma dor, a sentir a mesma perda da Mãezinha. S (11-3-49)
Jesus a morrer para dar a vida, e os homens a matarem a vida! S (3-8-45)
Como Ele amou, como Ele ama! Os Seus desejos que vivêssemos d'Ele e para Ele! S (20-5-49)
Foi o amor que levou Jesus a dar a vida. E a Mãezinha, já com o Seu querido Filho morto nos braços, continuava a mesma missão do amor: amar-nos como a Jesus. S (3-S-49)
Foi um ser humano que sofreu, uma vida divina que venceu. S (27-2-53)
O amor unido à graça e à vida divina triunfou na dor, triunfou na morte. S (27-2-53)


EPÍLOGO

Por entre aquelas nuvens da morte rompeu Jesus, sobressaiu, foi brilhar mais além.
Venceu tudo e de tudo triunfou. ( ... ) Ele foi, mas ficou sempre comigo. (...) Transformado em mim sofria. S (9-11-45) Jesus morreu e viveu sempre.
Senti que Ele morreu e senti que Ele vivia. Ó vida, vida celeste! S (23-12-49)
Ficou o Céu reconciliado com a Terra. S (20-5-49)
O Céu abriu-se quando Jesus expirou.
Já todos, do Calvário podíamos passar ao Céu. S (3-10-47)
O sangue regou a Terra. ( ... )
Ia ser para as almas, no decorrer dos tempos, orvalho de vida e de salvação. S (4-7-47)
Jesus declara:
"Quem com Jesus vive, com Jesus morre.
Quem com Ele morre, com Ele ressuscita para a verdadeira vida".

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