A grande mística Beata Alexandrina reviveu no
corpo, no coração e na alma a Paixão de Jesus.
Foi obrigada pelos directores a deixar escrita
a sua experiência num Diário: "Sentimentos da Alma"
Dele foram extraídos os
fragmentos que compõem esta Via-Crucis, aqui assinalados com a sigla S (nalguns
descreve o que vive Jesus, noutros exprime-se como se fosse ela mesma Jesus,
com o qual se sente identificada.)
PRÓLOGO
Tu não
quiseste nem sacrifício nem oblações, em vez disso preparaste-me um corpo ...
Então
disse:
- Eis que
venho, ó Deus, fazer a tua vontade!" (Heb. l0,5-7)
Viu a minha
alma
a grande
montanha do Calvário
e no cimo a
cruz ao alto onde eu havia de estar crucificada. S(3-11-50)
Esta cruz
chegava ao Céu
e fazia-o abrir
e resplandecer. S (3-11-50)
Era cruz de
triunfo
que
brilhava mais que o sol! S (7-11-52)
1. JESUS É
IMOLADO
Senti-me
levada por alguém,
à varanda
de Pilatos.
A cabeça ia
cheia de espinhos,
o rosto
coberto de sangue,
todo o
corpo ferido e despedaçado.
Vi e ouvi a
grande multidão que,
a uma só
voz,
sem se
condoer de mim,
bradava a
minha crucifixão. S (4-7-47)
Os meus
ouvidos ouviam, a uma voz só,
a palavra
"morra", "condene-se!"
Oh, que
gritos os da multidão! S (30-3-45)
Recebi a
sentença de morte. S (11-4-52)
Vi a cruz
que, pouco depois senti
a meus
ombros para seguir o Calvário. S (4-7-47)
O meu corpo
ia entregue aos malfeitores,
o meu
espírito ia só em Deus. S (30-3-45)
2. JESUS
RECEBE A CRUZ
Recebi a
cruz.
Esmagada,
curvada com o seu peso,
caí debaixo
dela no mesmo lugar. S (5-10-45)
Foi talo
peso, que me fez curvar
e fez
sentir que me infundia no solo. S (8-3-46)
Não foi a
cruz que levei em meus ombros:
foi o mundo
inteiro! Senti-o bem. S (6-5-49)
Vi a
multidão que me acompanhava:
poucos
amigos, quase só inimigos.
Os amigos
enterneciam-se;
os inimigos
descarregavam
sobre o meu
corpo
grandes
chicotadas, sem dó nem piedade. S (31-8-45)
3. JESUS
CAI PELA PRIMEIRA VEZ
Quase no
princípio caí Jesus,
pela
primeira vez.
Caiu sobre
a cruz; feriu gravemente
o Seu
santíssimo rosto e peito. S (16-5-47)
Um número
de curiosos contemplavam
essa carne
e esse sangue,
por
escárnio e não por amor. S (14-9-45)
Caí
desfalecida
(a Alexandrina
identificada a Jesus).
E parecia mesmo,
mesmo perder a vida!
Perder a
vida para dar vidas dava-me forças.
Voltava a
caminhar. S (26-1-45)
A sede
ardente que no coração levava
era a força
do meu caminhar. S (14-S-45)
4. JESUS
ENCONTRA A MÃE
Saiu-me ao
encontro a Mãezinha! Fitou-me; eu fitei-a a Ela.
Uniram-se
os nossos corações na mesma dor. A troca dos nossos olhares não se demorou:
tive que caminhar à frente,
maltratada,
empurrada, arrastada. s (16-2-45)
Ela
caminhava também, guiada pelo olhar que tinha ferido e atraído o coração e a
alma.
S (13-7-45)
Em tudo o
percurso do Calvário não perdi mais a união com Ela.
Eu não
arrastava Só a cruz: arrastava-A também a Ela, ou melhor, arrastava a Sua dor.
S (13-6-47)
5. JESUS É
AJUDADO PELO CIRENEU
A cada
passo ia a expirar.
Caía e
sobre mim ficava a cruz. s (30-3-45)
Não por dó,
mas por receio queriam alguém que a levasse.
Houve quem
caminhasse com ela,
não por
amor, mas por ser mandado. Mas, mesmo assim, quanto amor senti o meu coração
dispensar-lhe!
Que grande
paga! s (30-3-45)
Me foi
tirada a cruz, mas eu sentia-me como se sempre levasse o seu peso.
S (27-647)
6. JESUS
ENCONTRA A VERÓNICA
Veio ao meu
encontro a mulher, a mulher querida compadecida da minha dor. Com que ternura e
amor limpou do meu rosto o suor, o sangue e o pó!
Os laços da
mais estreita amizade prenderam os nossos corações.
É indizível
o que queria dizer dela, os louvores que queria dar-lhe!
Oh, como
queria que ela fosse falada por este acto tão heróico! S (19-1-45)
Quando a
Verónica limpou o rosto de Jesus, eu senti como se o meu rosto e o amor do meu
coração, que não era o meu amor, ficassem no pano imprimidos. S (22-8-47)
7. JESUS
CAI SEGUNDA VEZ
No meado do
caminho, foi tão grande a queda e a descarga de açoites que sobre o meu corpo
caíram! S (20-6-47)
Os lábios
abriram-se-me em sangue e beijavam a terra na qual me feria! S (13-9-46)
O mundo não
se compadecia da dor do divino Jesus. E eu via-O chorar. S (3-8-45)
Via os
homens vomitar sobre Ele os vómitos das suas maldades e injúrias. S (3-8-45)
8. JESUS
ENCONTRA AS SANTAS MULHERES
Quanto mais
se aproximava o fim da montanha, mais difícil se tornou a subida: mais agonia,
mai sangue, mais abandono e mais dor. S (12-1-51)
As golfadas
de sangue eram quase contínuas e o desfalecimento leveva-me a terra. S
(17-1-47)
Seguiam-me
algumas mulheres. Choravam amargamente, a vista de tantos sofrimentos.
Caminhava e
fitava-as com olhar de compaixão. O coração murmurava-lhes:
"Não
choreis por mim mas por vós. Chorai as vossas culpas: são a causa das minhas
dores". S (13-12-46)
9. JESUS
CAI TERCEIRA VEZ
Caminhava
como se o mundo estivesse sobre mim a esmagar-me, a sujar-me com todas as suas
imundícies.
E o Céu
carregava sobre este mundo de iniquidades, esmagava-o com o peso da sua
justiça.
Era o
mundo, era o Céu contra mim! S (28-6-46)
Caí. Por
uns momentos fiquei desfalecida, como se não tivesse vida. Os algozes
fitaram-me curiosos, pensando eu ter morrido.
Novo furor
me arrastou fortemente e fez bater nas lajes. ( ... )
Mesmo
assim, do meu coração Só saía amor e compaixão por eles. S (24-5-46)
No decorrer
da viagem o meu corpo ficou por muitas vezes desfalecido... E quantas vezes se
repetiam os sofrimentos, outras tantas me saia da alma uma oferta ao Eterno
Pai. S (31-8-45)
10. JESUS É
DESPIDO
Cheguei no
Calvário. Ao serem-me
tirados os vestidos, foram tirados com tanta pressa que chegaram a rasgarem-se.
Que dores violentas ao irem com eles pedaços de carne! S (28-9-45)
Os olhos
com o sangue não podiam abrir-se, mas a vergonha obrigava a conservá-los mais
profundamente fechados.
Ser despida
em público!
Sentí logo
que a Mãezinha queria com o seu manto cobrir Jesus revestido em mim. S (12-10-45)
Foram
tantas as risadas de escárnio, que ecoavam em todo o Calvário! S (20-9-46)
11. JESUS É
CRUCIFICADO
Senti como
se fosse eu mesma a deitar-me sobre o madeiro e a estender as mãos e os pés
para ser crucificada.
Era um
abraço eterno à cruz, à obra da redenção ( ... ) Que sede infinita de me dar
toda!
Na ânsia de
me dar inteiramente no amor mais puro e louco, chegou o momento de dar a vida.
S (24-2-50)
Foi
violentíssima a crucifixão! Senti quase como que se me arrancassem os braços e
pernas, tal era a força com que eram puxados para chegarem ao ponto marcado da
cruz. S (18-2-49)
Vi um algoz com olhares infernais levantar o martelo ao alto
e com toda força o deixou cair no cravo que prendia a mão divina de Jesus.
Tudo se
reflectia em meu coração. S (9-1-48)
12. JESUS
MORRE NA CRUZ
Oferecia-me
ao Pai como vítima; e à humanidade oferecia o coração e o amor. S (27-3-53)
Era noite,
noite tremenda! S (31-10-47)
"Minha
Mãe, aceita o mundo que é Teu: é filho do meu sangue e filho da tua dor.
Para o
salvar tens que cooperar comigo". Nessa intimidade, com os olhos fitos no
Céu, acrescentei: "Está tudo consumado". S (18-1-52)
"Meu
Pai, custa-me a ingratidão, mas perdoai-lhes que desconhecem que sou Teu
Filho". S (6-9-46)
"Pai,
nas Tuas mãos entrego o meu espírito: é para Ti o meu último suspiro". S (24--10-47)
Ele a
expirar e um som harmonioso enchia o Céu e a Terra. S (11-10-46)
13. JESUS É
DEPOSTO NO REGAÇO DE SUA MÃE
A minha
alma viu-O a ser descido da cruz, cruz que estava dentro em mim.
A
santíssima cabeça pendurada, um braço já estendido, e a Mãezinha ao pé da cruz,
de braços abertos para O receber. S (21-12-45)
Queria
abraçá-Lo, limpar-Lhe o rosto cheio de escarros e pó, todo ensanguentado e
recolher em Si todas as gotas do precioso sangue de Jesus, que também era Seu.S
(29-4-49)
Mas ai,
quanto isto me custou! Estremeci: parecia-me sentir o corpo de Jesus sem vida,
frio, gelado! S (21-12-45)
Voou a sua
Alma santíssima. E eu fiquei na mesma dor, a sentir a mesma perda da Mãezinha.
S (11-3-49)
Jesus a
morrer para dar a vida, e os homens a matarem a vida! S (3-8-45)
Como Ele
amou, como Ele ama! Os Seus desejos que vivêssemos d'Ele e para Ele! S
(20-5-49)
Foi o amor
que levou Jesus a dar a vida. E a Mãezinha, já com o Seu querido Filho morto
nos braços, continuava a mesma missão do amor: amar-nos como a Jesus. S
(3-S-49)
Foi um ser
humano que sofreu, uma vida divina que venceu. S (27-2-53)
O amor
unido à graça e à vida divina triunfou na dor, triunfou na morte. S (27-2-53)
EPÍLOGO
Por entre
aquelas nuvens da morte rompeu Jesus, sobressaiu, foi brilhar mais além.
Venceu tudo
e de tudo triunfou. ( ... ) Ele foi, mas ficou sempre comigo. (...)
Transformado em mim sofria. S (9-11-45) Jesus morreu e viveu sempre.
Senti que
Ele morreu e senti que Ele vivia. Ó vida, vida celeste! S (23-12-49)
Ficou o Céu
reconciliado com a Terra. S (20-5-49)
O Céu
abriu-se quando Jesus expirou.
Já todos,
do Calvário podíamos passar ao Céu. S (3-10-47)
O sangue
regou a Terra. ( ... )
Ia ser para
as almas, no decorrer dos tempos, orvalho de vida e de salvação. S (4-7-47)
Jesus
declara:
"Quem
com Jesus vive, com Jesus morre.
Quem com
Ele morre, com Ele ressuscita para a verdadeira vida".
Sem comentários:
Enviar um comentário