domingo, 24 de novembro de 2013

Marias dos Sacrários-Calvários

Temos connosco os 12 números da revistinha Mensageiro Eucarístico de 1934. Era seu proprietário, director e editor o Padre Abílio Gomes Correia. Não nos vamos pronunciar sobre esta publicação, pois isso obrigar-nos-ia a estudá-la e a recolher informação sobre o seu director, coisas que não estão ao nosso alcance.
Aos pés da cama da Alexandrina, em cima, vê-se uma representação em relevo do Calvário, que documenta a sua inscrição na associação das Marias dos Sacrários-Calvários, de que o Mensageiro Eucarístico era o órgão promotor. É como um pequeno oratório e, se não erramos, remonta a 1934. Quantas vezes ela o fixaria ao padecer a Paixão!
A Beata Alexandrina teve direito à celebração de uma missa mensal no quarto em razão de integrar esta associação, como consta de um documento com a assinatura do secretário do Arcebispo, Pe. Sebastião Cruz, com data de 12 de Novembro de 1952.


De cima para baixo:
Oratório das Marias dos Sacrários-Calvários da Alexandrina, que pensamos que remonta a 1934.
Capa dum número da revista Mensageiro Eucarístico de Outubro de 1934.
Uma ilustração da mesma revista.

Reunião da Liaba

Na reunião da Liaba de hoje, começámos pelas notícias. A algumas que já se encontram neste blogue, acrescentámos que a Bernadette Bevans, a criadora do DVD sobre Beata Alexandrina (que pode já ter sido visto por muitos milhões de famílias), está a recuperar do mal que recentemente a afectou.

A seguir, após o momento de oração, em que se recorreu ao Sanctus, foi explicada a origem e o sentido deste breve cântico, explicação que se pretendia que conduzisse ao Hino aos Sacrários. Este foi explicado e confrontado com o Cântico do Irmão Sol de S. Francisco de Assis e com o bíblico Benedicite. Nas três orações há a convocação de toda a criação para o louvor a Deus. Leram-se ainda os poemas O Tudo desceu ao nada e Só por Amor!
Sobre o Hino aos Sacrários, foi comentada esta breve análise literária:
Considerando os hábitos dos poetas contemporâneos, este hino é um poema longo; desenvolve-se em prosa, sem recurso ao verso ou à metáfora.
Um dos aspectos que opõe a poesia à prosa é a aceitação da repetição: isto é, a poesia acolhe a repetição (idêntico número de sílabas no verso, consequente semelhança do ritmo deles e rima são processos de repetição) num grau que a prosa recusa.
Mas, como o Hino aos Sacrários não tem verso, que é se repete?
Ele apresenta processos de repetição bem evidentes: a anáfora, a enumeração, o paralelismo e uma espécie de epístrofe, que pode ser considerada refrão.
O poema compõe-se de duas partes, a do “eu quero” e a de “eu Vos ofereço”: as palavras da anáfora mudam a meio, afastando a sensação de monotonia.
No final há uma recolecção, uma síntese de “tudo”, da oferta que fora feita antes.
A enumeração acumulativa confere-lhe um aspecto de radicalidade, que também está no Benedicite: todo o universo é convocado para o louvor aos Sacrários. A epístrofe acentua-lhe o carácter poético.

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Visualizações de páginas no último mês

Pode ser que algumas pessoas tenham curiosidade em saber de onde vêm os leitores deste blogue e se são muitos ou poucos. Aqui fica a estatística do último mês: 


"Balasarenses"

No site da Lulu está disponível um livro nosso sobre “Balasarenses”. 
Nas 30 e algumas páginas da primeira parte, fala dos Carneiros da Grã-Magriço. A segunda parte tem por título “Outros balasarenses” e trata sucessivamente dos seis vereadores que a freguesia deu à Câmara Municipal (António Fernandes de Sousa Campos, José Domingues Furtado, Manuel Joaquim de Almeida, Manuel Lopes dos Santos Murado, José António de Sousa Ferreira e João Ferreira Gonçalves da Costa), de Manuel da Costa Soares (fundador da Capela da Senhora da Piedade), do Comendador do Maranhão José Pedro dos Santos, do Pe. António Gomes Ferreira (arcipreste e pároco de Terroso); apresenta a seguir a lista dos reitores de Balasar com uma breve informação sobre cada um, aborda depois dois presidentes da Junta (Joaquim António Machado e Lino Araújo) e finaliza com um grupo de balasarenses adoptivos onde constam António José dos Santos (administrador do concelho), Luís Joaquim de Oliveira (o célebre Cirurgião da Bicha), Leonardo Coimbra (o filósofo que datou o prefácio de um seu livro da Quinta de Balasar) e os párocos António Martins de Faria (poeta) e Leopoldino Mateus (jornalista).
No livro quase não está presente a Beata Alexandrina, mas nós já publicámos sobre ela duas obras.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Livros do juiz de paz de Balasar

Segundo a acta camarária de 10 de Junho de 1837, os distritos do juízo de paz em que se dividia “o concelho (da Póvoa de Varzim) eram cinco, a saber: primeiro, a freguesia de Nossa Senhora da Conceição da vila da Póvoa de Varzim; segundo, Balasar com as anexas Outeiro Maior, Parada e Santagões; terceiro, Rates com a anexa de S. Cristóvão de Rio Mau; quarto, Terroso com sua anexa Laundos; quinto, Nabais com sua anexa Estela”. Mas houve muitas alterações nos distritos dos juízos de paz ao longo dos anos.
Colocamos abaixo as capas dos três livros do juiz de paz do distrito de Balasar. Ostentam todos ao cimo a  palavra Balasar.


sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Custódio José da Costa no Juízo de Paz

Conservam-se três livros com conciliações do Juiz de Paz balasarense. Não são muito grandes, mas estão em bom estado.
O primeiro começou em 18 de Maio de 1837, terminou em 7 de Março de 1839 e tem 56 páginas; o segundo começou 9 de Abril de 1839, terminou em 4 de Novembro de 1840 e tem 80 páginas em folhas de papel selado; o terceiro começou em 27 de Novembro de 1840, terminou em 19 de Novembro de 1841 e tem 60 páginas.
As conciliações contidas nestes livros deveram-se a juízes balasarenses e foram escritas por um escrivão também da freguesia, João José Ferreira.
Vêm de tempo bastante próximo da aparição da Santa Cruz e por isso vamos transcrever uma conciliação que fala mesmo na Santa Cruz.
Estava-se em Janeiro de 1840 e Custódio José da Costa andava de mal com a Junta de Paróquia, mas agora iam conciliar-se.
Reuniu-se quase o estado-maior de Balasar: nem faltou o Administrador do Concelho, António José dos Santos. Só não esteve presente o Pároco.
Constam aqui os nomes da mais antiga Junta de Paróquia que se conhece.

Auto de conciliação do autor Custódio José da Costa e réus o Presidente da Junta e mais membros da Junta de Paróquia, todos desta mesma freguesia de Balasar.

Ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil e oitocentos e quarenta, aos vinte e oito dias do mês de Janeiro do dito ano, nesta freguesia de Balasar, nas casas de residência de João Gomes, Juiz de Paz desta mesma freguesia de Balasar e suas anexas São Martinho do Outeiro, Parada e Santagões, apareceram presentes Custódio José da Costa desta mesma freguesia de Balasar e José António Furtado, Presidente da Junta, e Custódio Lopes da Silva e José da Costa Reis, todos membros da mesma Junta, para se conciliarem sobre o objecto do seguinte memorial:
Senhor Juiz de Paz, Custódio José da Costa, da freguesia de Balasar, quer chamar a este juízo os membros da Junta de Paróquia da mesma freguesia sobre o exposto seguinte: foi administrador da Capela da Santa Cruz da mesma até ao ano presente (?) de mil oitocentos e trinta e oito em que, no mês de Janeiro, entregou à mesma Junta a dita administração; pelas despesas que faz na dita capela, com as obras que estão pendentes, tem de alcance a seu favor a soma que à vista das contas se lhe (ilegível) despesas que fez na mesma capela das contas que deu à Junta de mil oitocentos e trinta e oito por isso pretende que a referida Junta actual lhe reconheça esta dívida na forma do pagamento, quando não usará de seu direito, pelo que espera mande citar para o dia e hora, pena de revelia. Por isso pede a Vossa Mercê se sirva mandar cumprir, e receberá mercê.
Despacho:
Sim, para o dia vinte e oito do corrente pelas oito horas da manhã.
Balasar, vinte e quatro de Janeiro de mil oitocentos e quarenta. Gomes.
Notifiquei o Presidente e membros da Junta em suas próprias pessoas para o conteúdo neste memorial, que lhe li e do qual lhe dei cópia, sendo testemunhas Manuel José Ferreira e António da Sousa Guimarães, que aqui assinaram, com os citados, e eu João José Ferreira, escrivão do Juiz de Paz, que fiz a citação aos vinte e quatro dias do mês de Janeiro de mil oitocentos e quarenta.
José António Furtado, José da Costa Reis, Custódio Lopes da Silva, Manuel José Ferreira e António de Sousa Guimarães e João José Ferreira.
E ouvindo o referido Juiz de Paz todas as partes e procurando conciliá-las sem empregar meio algum violento ou caviloso, conseguiu que que se conciliassem nos termos seguintes, que conciliaram dois membros da Junta lhe pagarem a conta que o dito autor apresentou, e confirmada pelo Ilustríssimo Senhor Administrador Geral deste Distrito, que é a quantia de duzentos e sessenta e um mil e trezentos réis. E logo no mesmo acto se conciliaram os dois membros da Junta em que se lhe deviam pagar pelos rendimentos da mesma Santa Cruz agora os sessenta e um mil e trezentos réis e que depois, pelos mesmos rendimentos da Santa Cruz, se lhe devia pagar em cada um ano cinquenta mil réis, tudo isto pelos rendimentos da mesma Santa Cruz. E neste mesmo acto o Presidente da mesma Junta se não quis conciliar.
E não passe dúvida as duas linhas à margem que dizem cinquenta mil réis.
E mais declararam que se deve pagar dos rendimentos, como dito fica, havendo livres de despesa precisa, e sujeitando-se cada um às cláusulas referidas e por eles estipuladas se obrigaram reciprocamente a cumpri-las, sendo testemunhas António José dos Santos e Manuel Francisco Malta.
E depois de lido este auto o assinaram com o referido Juiz de Paz e testemunhas. E eu, João José Ferreira, escrivão que o escrevi.
Custódio José da Costa
Gomes (é o Juiz de Paz)
Custódio Lopes da Silva
José da Costa Reis
Presidente (da Junta), José António Furtado
António José dos Santos
Manuel Francisco Malta

João José Ferreira

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

A resistência popular ao cisma liberal em Terroso e Rates (1838-1842)

No próximo dia 20, pelas 15 horas, vamos falar no Arquivo Municipal da Póvoa de Varzim sobre “A resistência popular ao cisma liberal em Terroso e Rates (1838-1842)”. A palavra cisma era então usada em dois sentidos opostos: os liberais, de inspiração maçónica, que tinham cortado relações com a Santa Sé, culpavam de cismáticos aqueles que se lhes opunham, aqueles que faziam o possível por obedecer a uma autoridade religiosa legítima.
A partir de certa altura toda a gente em Portugal devia ser cismática: uns porque o eram (os governantes e aqueles que pelo país fora davam seguimento às suas orientações), outros porque assim eram mentirosamente chamados, como está nos documentos de então. Veja-se este:

Administração Geral do Distrito do Porto
1.ª Repartição, n.º 17

Ilustríssimo Sr. Administrador do Concelho da Póvoa de Varzim

Ilustríssimo Senhor
Constando oficialmente nesta Administração Geral que na freguesia de Santa Maria de Terroso, desse Concelho, grassa escandalosamente o cisma, e até se celebraram Sacrifícios e fizeram Baptismos em casas particulares, ordena S. Ex.cia o Sr. Administrador Geral que V. Senhoria proceda à captura daqueles que forem achados em flagrante e a todas as mais diligências que lhe foram ordenadas na circular n.º 23 por esta Repartição, de 15 de Março deste ano, empregando sempre a maior vigilância para não progredir tão grave mal.
Por esta ocasião, manda o mesmo Senhor lembrar a V. Senhoria o cumprimento do ofício confidencial que lhe foi dirigido em 15 deste mês.
Deus guarde V. Senhoria.

Secretaria da Administração Geral do Porto, 29 de Maio de 1838.
António Luís de Abreu, Secretário-geral.

Recorde-se que estamos a 6 anos da aparição da Santa Cruz.

Os “sacrifícios” celebrados em casas particulares referem-se sem dúvida à Eucaristia.

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Um estranho livro

Um destes dias indicaram-nos um trabalho de Alfredo Pimenta saído no seu Terceiro Livro de Estudos Filosóficos (Livraria Cruz, Braga, 1958) sob o título de “Abscôndita”. Uma referência ainda que breve ao livro Abscôndita: diário da Irmã Inês do Coração de Maria, da Congregação de S. José de Cluny nos estudos da Beata Alexandrina parece-nos inevitável. E nós já a tínhamos publicado aqui, por exemplo. O director espiritual da Irmã Inês, o Pe. José de Oliveira Dias, SJ, era amigo do P.e Mariano Pinho e conheceu bem a Alexandrina, a quem visitou até num delicado momento, o da primeira morte mística.
O que não sabíamos é que este estranho livro, de que chegámos a possuir um exemplar, que demos ao Pe. Francisco, tinha sido colocado no Índex, o “Índice dos Livros Proibidos”. Mas foi. Confirme-se aqui. Numa página em inglês, chega-se a escrever sobre ele: Explicitly contradicts Catholic faith or morals, or is directed against the Church ("contradiz explicitamente a Fé Católica ou a moral ou é dirigido contra a Igreja"). Que terrível condenação!
Nós lemos a Abscôndita e não recordamos nada que justificasse estas enormidades. Quando muito, poder-se-ia admitir que a Irmã Inês fora uma iludida e que o seu director falhara ao não a esclarecer devidamente. Contra a Fé Católica, a moral ou contra a Igreja, pensamos que não há lá nada. E o livro chegou a receber rasgados elogios de gente muito conceituada.
O escrito de Alfredo Pimenta pareceu-nos de valor quase nulo: de mística devia saber pouco.
Quando um dia se iniciar o processo de beatificação e canonização do Pe. Mariano Pinho, no mínimo, será conveniente reler algum relatório que exista e que conduziu à inclusão da Abscôndita no Índex, registada no Osservatore Romano de 17 de Março de 1950. 
O Pe. José de Oliveira Dias também foi mandado para o Brasil, como o P.e Pinho… e tomou muito a mal a ordem recebida, segundo nos disseram. 
Na Autobiografia, contando o que se passou na sua primeira morte mística, a Beata escreveu: "O Sr. Pe. Dr. Oliveira Dias pareceu-me um anjo que veio do do Céu serenar a tempestade da minha alma". O P.e Mariano Pinho transcreve esta frase em Uma Vítima da Eucaristia e em No Calvário de Balasar.