sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Programa para 13 de Outubro

Está a chegar o dia 13 de Outubro, aniversário do "voo" da Beata Alexandrina para o Céu. Colocamos a seguir o programa que a Paróquia de Balasar preparou para esse dia.
Espera-se que venha então uma peregrinação da Irlanda e da Escócia.

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Para a história da Santa Cruz

Este documento data de 1823, nove anos antes da aparição da Santa Cruz no Calvário, e dá conta do temor que se apossou dos liberais quando houve o primeiro levantamento militar contra eles. Foi registado nos livros paroquiais das visitas e mais tarde veio ordem para o tornar ilegível. Houve párocos que acataram a ordem, outros nem tanto, como foi o que riscou a cópia que se coloca ao fundo.
Na verdade, o documento é precedido por parte duma exortação das autoridades eclesiásticas bracarenses adversa ao teor do documento liberal.
Viveram-se então décadas terríveis.

O Doutor Manuel José Leite Pereira, Abade de S. Pedro de Maximinos, Desembargador, Provisor e Vigário Geral nesta Corte e Arcebispado pelo Ex.mo e Rev.mo Senhor D. Fr. Miguel da Madre de Deus, Arcebispo e Senhor de Braga, Primaz das Espanhas, etc., faço saber aos Rev.dos Párocos que, da parte dos Senhores Governadores do Arcebispado, me foi dirigida a Exortação seguinte:

Os Governadores do Arcebispado Primaz aos Rev.dos Párocos, ao Venerável Clero Secular e Regular e aos mais súbditos desta Santa Igreja.
Aparecendo a luz, dissipam-se as trevas e, aparecendo a verdade, dissipam-se os erros, os enganos, tais foram aqueles que motivaram a nossa exortação datada no dia 15 de Março de 1823, expedida por força da Régia Portaria do teor seguinte:

Manda El-Rei pela Secretaria de Estado dos Negócios da Justiça:
Atendendo a que o terrível exemplo de perjuro dado pelo Conde de Amarante pode alucinar alguns incautos desconhecedores de seus verdadeiros interesses e consequentemente deixarem-se arrastar por mal-intencionados que só desejam ver derramado o sangue dos irmãos, parentes e amigos para, no meio da desordem, da confusão e da carnagem, darem cruento pasto a inveterados ódios e antigas rixas, sem lhes importar transpor todas as barreiras da humanidade, da honra e da probidade, virtudes inatas em verdadeiros Portugueses, contanto porém que imaginam conseguir assim os seus perversos e danados intentos, que o Reverendo Arcebispo Primaz ou quem suas vezes fizer ordene a todos os Párocos da sua Diocese instruam os seus fregueses no horror em que devem ter os que, violando um tão sagrado juramento como o que há pouco prestaram à Constituição da Monarquia, única forma de governo que pode fazer a felicidade dos Portugueses, se hão deixado, desapercebidos, fascinar por aquele rebelde, que verdadeiramente lhes façam sentir os iminentes males que lhes caberiam em partilha se deixassem contaminar-se com um tão execrando modelo, cumprindo ao mesmo tempo fazer-lhes conhecer quanta obediência devemos prestar à Constituição e leis regentes (vigentes?), o respeito devido às autoridades constituídas e quanto enfim seria terrível a Sua Majestade que mais sectário encontrasse o detestável exemplo de Vila Real, cujo estranho procedimento entre Portugueses tem profundamente magoado seu coração paternal.
Palácio da Bemposta, em 5 de Março de 1823.
José da Silva Carvalho

sábado, 20 de setembro de 2014

Homenagem à Beata Alexandrina

Andamos a preparar uma monografia de Balasar em seis pequenos volumes. O primeiro, esperamos apresentá-lo em Dezembro, embora já tenhamos connosco um exemplar; tem por título Balasar Antiga. O seguinte, que da nossa parte está quase pronto, chamar-se-á Balasar. O Século de D. Benta. Os outros volumes estão todos bastante adiantados e tencionamos que saiam ao longo dos próximos anos.
Gostávamos que o conjunto fosse uma grande homenagem à Beata Alexandrina e que fizesse alguma luz sobre vários aspectos da sua vida.
Saiu um novo número do Boletim de Graças.

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

DA IGREJA DO MATINHO À IGREJA NOVA (15)

O transepto

O maior ganho em termos de espaço das obras de 1976-1978 foi conseguido com a criação do transepto, sendo aproveitado o piso térreo e construídas galerias superiores de ambos os lados.
A norte colocou-se a nova campa rasa da Alexandrina, uma urgência para pôr as suas relíquias à guarda da paróquia e fora da alçada da junta, cuja colaboração não se poderia garantir, mormente nos tempos tumultuosos que se viviam.
Exteriormente, nas extremidades do cume, foram colocadas três imagens em pedra, adquiridas em segunda mão. A que fica a norte pretende representar Santa Eulália (informação do Pe. Francisco); as outras duas representam o Sagrado Coração de Jesus, a nascente, e São José, a sul.
Imagem de boa qualidade estética, no extremo norte do cume do transepto, que pretende representar a padroeira de Balasar, Santa Eulália.

O altar-mor

Tendo-se apagado toda a memória da decoração da igreja que vinha de 1909, o altar-mor foi necessariamente substituído. Em seu lugar instalou-se uma composição berrantemente moderna, de aceitável qualidade artística[1]. 
Fotografia publicada no Boletim de Graças que mostra uma fase das obras da construção do transepto.

[1] O altar anterior ainda obrigava o celebrante a estar de costas para os fiéis e foi por essa altura que as normas litúrgicas se alteraram neste pormenor (e em muitos outros).

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

DA IGREJA DO MATINHO À IGREJA NOVA (14)

As obras de 1976-1978

Passados 60 anos, a nova igreja de Balasar já não comportava a população, que aumentara muito: já havia mais umas 700 pessoas que em 1910; além disso, a devoção à Alexandrina deve ter atingido então um dos pontos mais altos. Que se havia de fazer?
Optou-se por um aproveitamento novo do espaço antigo, por uma ampliação.
Mas sacrificou-se a jóia da coroa: refez-se a capela-mor, o que implicou retirar toda a sua excelente talha, a tribuna e o painel do Bom-Pastor. Do corpo da igreja foram também retirados os altares laterais com os seus retábulos.
Fotografia publicada no Boletim de Graças, com a respectiva legenda, que mostra a Igreja Paroquial já sem o retábulo do altar-mor. Ainda se não tinham removidos os laterais.

O interior da igreja, aquele em que a Beata aprendeu e ensinou catequese, em que foi corista, em que rezou, onde a sua mãe passara tantas horas em oração, em que pregara o Pe. Mariano Pinho, que encantava o Pe. Leopoldino, ficou irreconhecível.
Haveria outras soluções? Talvez houvesse, talvez fossem mais caras, talvez não fossem viáveis a curto prazo[1].

As obras promovidas nos anos de 1976-1978 ficaram recordadas no lintel da porta principal da Igreja Paroquial.



[1] A escolha do lugar para a construção desta igreja não foi feliz. Dever-se-ia ter procurado um espaço muito mais amplo, sem barrancos. Isso limitou as possibilidades da ampliação. 

terça-feira, 16 de setembro de 2014

DA IGREJA DO MATINHO À IGREJA NOVA (13)

A Igreja de Balasar, a de Amorim e a da Misericórdia

A Igreja de Balasar, a de Amorim e a da Misericórdia são contemporâneas. A de Amorim começou a ser construída em 1908 mas só foi benzida em 1920; a construção da da Misericórdia começou talvez no mesmo ano e foi benzida em 1914.
Globalmente, a de Balasar é a que mais fiel se mantém à tradição arquitectónica e decorativa; os arquitectos da de Amorim e da da Misericórdia claramente pretenderam trilhar caminhos novos. Na da Misericórdia destacam-se a fachada aparatosa e um interior rico e belo, mas sem exageros; à de Amorim apetece chamar igreja de brasileiro, pelo seu carácter vistoso e por certa riqueza de decoração, mais no exterior; o interior não é particularmente feliz.

Interior da Igreja Nova de Amorim.

Na de Balasar todavia há dois aspectos que a tornam notável, a sua dimensão e a sua talha. A sua dimensão fez dela caso único na região durante muito tempo e foi certamente isso que levou a que, em tempo do Pe. Leopoldino, lá tivessem decorrido sucessivos e grandes encontros de fiéis de várias paróquias vizinhas; a talha, em especial a do retábulo do altar-mor, sem romper com a linha tradicional, era belíssima.
Cândido dos Santos, falando da igreja nova, classificou-a de “sumptuoso templo”; o Pe. Leopoldino chamou-lhe “ampla e majestosa” igreja. Estas avaliações devem reflectir a sensação que então a igreja dava às pessoas de Balasar e às de fora.
Porta principal da Igreja Nova de Amorim.

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Memorial Padre Francisco


Segundo o Mais Semanário, vão avançar ainda este ano as obras do Memorial Padre Francisco. Será a adaptação da Casa da Ponte a um pequeno museu que exporá as obras do coleccionador que foi aquele sacerdote.

DA IGREJA DO MATINHO À IGREJA NOVA (12)

No interior da nova igreja

A fachada principal da Igreja de Balasar é bastante vulgar, com excepção da torre, que é alta e que exigiu um investimento artístico bastante grande. A sua altura condiz com a extensão da freguesia.
O antigo e excelente retábulo do altar-mor da Igreja Nova de Balasar. Foi este que a Alexandrina conheceu, era frente a ele que diariamente rezava longas horas a sua mãe.

O retábulo do altar-mor era uma composição artística excelente, de sobriedade clássica. Aquelas colunas eram uma maravilha de simplicidade e beleza.
Belíssimo também o quadro do Bom-Pastor que ocultava a alta tribuna quando não havia exposição do Santíssimo.
A composição impunha serenidade e uma sensação de grandiosidade, harmonia e elevação.
Os retábulos laterais eram justamente pequenos, pois tudo devia apontar na direcção do altar-mor. Mas fica-se com a impressão que houve uma razão menor, mas determinante para essa pequenez, o aproveitamento das imagens da igreja anterior. Mesmo as imagens do retábulo do altar-mor eram pequenas, permitindo que a grande imagem do Bom-Pastor dominasse o retábulo.
Ao centro do sanefão do arco cruzeiro via-se uma data, 1909, o ano em que quase toda a obra, se não mesmo toda, ficou pronta.
Belos também os dois púlpitos.
A obra da torre há-de ter absorvido uma parte grande dos gastos globais da igreja. Aquele óptimo granito, bem cinzelado, tinha de vir de fora da freguesia.

domingo, 14 de setembro de 2014

DA IGREJA DO MATINHO À IGREJA NOVA (11)

A comissão

Ao contrário do que aconteceu em Beiriz, da construção da Igreja de Balasar chegou até à actualidade, na freguesia, pouca informação. Sobre a comissão encarregada das obas, o Pe. Leopoldino só identifica o nome do tesoureiro, o abastado irmão do pároco, José Fernandes de Sousa Campos. Mas há um nome que merecia ser registado, o do vereador municipal Manuel Joaquim de Almeida. Ter-se-ão proposto três localizações para a igreja e a escolhida terá sido a que ele sugeriu.
 Na edição de 19 de Maio de 1907, a Estrela Povoense informa que “na Póvoa não se vêem obras de algum valor, nas aldeias mormente em Balasar e Navais e no seu lugar de Aguçadoura, gastam-se rios de dinheiro em alguns melhoramentos de muito duvidoso interesse”[1]. Manuel Joaquim de Almeida é que geria as verbas camarárias que se gastavam em Balasar.
E num artigo de jornal de muito mais tarde o seu autor vai escrever:

Ao passar na Igreja Paroquial, que me traz sempre à memória o nome de Manuel Joaquim de Almeida, seu principal impulsor, assim como de outros melhoramentos locais, ouvi o toque de uma orquestra.

A criação da comissão foi decisão excelente pois tirou a gestão do dinheiro e das obras às rivalidades partidárias de renovadores e progressistas que deviam dividir a freguesia.
Quem lê as actas da junta[2], percebe que em 1908 houve mudança de maioria[3].



[1] Citado de SOUTO, Manuel Fernando Faria Souto, “O Abade de Nabais e Rocha Peixoto”, Boletim Cultural Póvoa de Varzim, vol. 44, 2010, página 138.
[2] Possuímos, em fotografia, um conjunto destas actas, seleccionadas com base no critério do tema da Capela da Santa Cruz e do da construção da igreja.
[3] Nas actas da câmara escandaliza a frequência das queixas de balasarenses contra balasarenses que iam ter à autarquia, mesmo durante o período em que decorreram as obras da igreja. Queixam-se o professor primário Joaquim Alves de Sousa, o médico-cirurgião João Gonçalves da Costa, o Luís Lopes….etc., etc. Embora já em Fevereiro de 1910, até a catequista da Alexandrina, Josefa Alves de Sousa, levou uma queixa à câmara.

sábado, 13 de setembro de 2014

DA IGREJA DO MATINHO À IGREJA NOVA (10)

O que o Pe. Leopoldino escreveu

O Pe. Leopoldino Mateus orgulhava-se da Igreja de Balasar; sobre a sua construção informou ele: 

Com o andar dos tempos, a população aumentou muito e, julgando-se insuficiente a igreja paroquial (anterior) para conter no devido respeito e devoção os fiéis, constituiu-se uma comissão de bons paroquianos para escolher novo terreno onde pudesse ser erigido um templo amplo, majestoso e digno de ser a Casa de Deus.
Escolhido o lugar da Cruz, foi demolida a capela do Senhor da Cruz e erecta essa majestosa igreja que ainda hoje é uma das melhores das aldeias desta circunscrição e que, concluída em 1907, custou a obra de pedreiro, carpinteiro e estucador 12 contos.
Mais tarde procedeu-se ao douramento dos altares que importou em 21 contos e há poucos anos foi adquirido o carrilhão dos sinos, pagando-se 80 contos ao sineiro Jerónimo Serafim, de Braga, que os fundiu e afinou por música.
Hoje, a Igreja de Santa Eulália de Balasar, do concelho da Póvoa de Varzim, arciprestado de Vila do Conde - Póvoa de Varzim, Arquidiocese de Braga, é imensamente visitada pelos forasteiros que admiram a elegância do templo, a linda ornamentação dos altares confiados ao cuidado de devotas zeladoras e sobretudo o espírito de sacrifício deste povo laborioso e crente que, não sendo rico, conserva a sua igreja num asseio e limpeza muito para louvar e imitar.

A igreja do Matinho devia proporcionar cerca de 140 metros quadrados de espaço utilizável, o que equivale a cerca de um terço do que a actual deve oferecer[1].
É errada a data de 1907 para a conclusão das obras, pois é apenas a do seu início.
Sobre os gastos na obra da igreja, fica-se a saber que “custou a obra de pedreiro, carpinteiro e estucador 12 contos”. Como o douramento dos altares “importou em 21 contos” e o carrilhão dos sinos 80, vê-se que com a palavra contos se designam valores muito diferentes (em razão da inflação).
Onde se foi buscar tamanha quantia de dinheiro e em tão pouco tempo para esta obra? Não possuímos nenhuma indicação para responder, mas ultrapassava as capacidades de financiamento da freguesia; os brasileiros balasarenses não hão-de ter negado o seu generoso contributo. Algum, rico, há-de ter entrado com muito dinheiro[2].


[1] Hoje apetece dizer que a localização da igreja não foi a melhor, pois deixou-a encravada entre o morro a sul e uma ladeira a norte e ainda obrigou a demolir a capela da Santa Cruz. Bom seria que ela tivesse sido construída num sítio plano e amplo, com fácil acesso e um grande adro.
Quando Manuel de Almeida estava a construir o cemitério, balasarenses houve que acharam que ele era grande demais – e já foi preciso aumentá-lo para o dobro. Talvez tenha sido o mesmo Manuel de Almeida a defender as avantajadas medidas da nova igreja.
[2] Um dos principais responsáveis da construção, Manuel Joaquim de Almeida, que não devia ser muito abastado, pôde, talvez em simultâneo com a construção da igreja, edificar a sua casa ali ao lado do adro. A casa da família Murado junto ao Cemitério data de 1913.

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

DA IGREJA DO MATINHO À IGREJA NOVA (9)

Quando a obra se concluiu

N’O Liberal, de 7 de Novembro de 1909, saiu esta breve informação:

Conquanto ainda não estejam concluídas as obras da nova igreja da freguesia de Balasar, deste concelho, sabemos que elas estão muito adiantadas, principiando já há semanas a celebrar-se missa.
Ainda não tivemos ocasião de ver o novo templo para podermos falar acerca dele, mas logo que isso nos seja possível diremos das nossas impressões.
No entanto, as informações que temos são de que a construção da igreja satisfaz por completo e que o lugar em que foi construída é um dos melhores da freguesia. 
Interior da nova igreja de Balasar. 

Infelizmente não se encontra naquele semanário o cumprimento da promessa de que voltaria a falar da nova igreja.
As actas da Junta de Paróquia não dão conta do andamento da construção, mas registam que a 23 de Janeiro de 1910 a igreja “já está concluída e aberta aos actos de culto”.
Em síntese, as obras tiveram princípio ainda em 1907 e prolongaram-se pelos anos de 1908 e 1909. Como os preparativos se tinham iniciado uns dez ou mais anos antes, faz algum sentido que tivessem sido rápidas.

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Uma nota biográfica incompleta sobre o Padre Mariano Pinho

Na Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira vem uma entrada para o Pe. Mariano Pinho. Como se estava em 1950, só podia sair muito incompleta.

Sacerdote jesuíta, escritor e professor, nasceu no Porto a 16 de Janeiro de 1894. Entrou na vida religiosa a 7 de Dezembro de 1910 e fez profissão solene de quatro votos a 21 de Fevereiro de 1929. Tendo estudado letras humanas na Bélgica e filosofia escolástica na Espanha, partiu, em 1919, para o Brasil, e no colégio António Vieira, da Baía, leccionou religião, matemática, português, latim e inglês e fundou a revista Legionários das Missões, à qual deu notável impulso.

Pe. Mariano Pinho
Voltando à Europa em 1923, estudou Teologia na Universidade de Innsbruck (Áustria), concluiu a formação religiosa e ascética em Paray-le-Monial (França) e graduou-se na Universidade Pontifícia de Comillas (Espanha).
Em 1929 entrou para a redacção da revista Mensageiro do Coração de Jesus e em Junho desse ano tomou parte no Congresso Eucarístico de Viana do Castelo, no qual apresentou uma tese sobre A Comunhão Frequente e as Vocações.
Nomeado superior da casa de escritores de São Roberto Belarmino, de Lisboa, em 27 de Dezembro de 1933, dirigiu ao mesmo tempo a conceituada revista Brotéria, à qual já dera colaboração, de 1924 a 1927, com uma série de estudos sobre Teosofismo.
De 1936 a1942 foi promotor nacional das Congregações Marianas e da Cruzada Eucarística e director dos seus órgãos de Imprensa.
Em Fevereiro de 1946 embarcou novamente para o Brasil e actualmente (1950) é professor do colégio António Vieira, da Baía, dedicando-se também à pregação, como orador e conferencista muito apreciado.
Além da colaboração nas revistas mencionadas, publicou em volume: Relatório da Cruzada Eucarística, Braga, 1932; Carta Magna da Acção Católica Portuguesa, Braga, 1939; Regresso ao Lar, 1.ª edição, Porto, 1944; 2.ª edição, Baía, 1947; O Coração Imaculado de Maria à Luz de Fátima, Baía, 1948.

Não há aqui qualquer referência à Beata Alexandrina, como seria de esperar, nem muito menos às obras que posteriormente o Pe. Marino Pinho sobre ela escreveria. Ficam claras é a preparação intelectual deste jesuíta e a sua dedicação à Igreja

DA IGREJA DO MATINHO À IGREJA NOVA (8)

A Junta de Paróquia só deu a aprovação à planta em 24 de Novembro de 1907, como consta da acta desse dia, mas as obras começaram antes. Sabemos isso por uma nota d’O Comércio da Póvoa de Varzim, de 19 de Setembro de 1907, onde se escreveu:

Foi arrematada a nova igreja paroquial de Balasar pelo Sr. António Ferreira Dias, de Mijães, Viana, pela quantia de 5.845$000 réis, recebendo os materiais do velho templo e da capela da Santa Cruz.
As obras principiaram em meados do mês passado. 

Nota d’O Comércio em 19 de Setembro de 1907.

O empreiteiro da igreja chamava-se António Fernandes Dias e era natural de Mujães, Viana da Castelo (veja-se esta nossa mensagem).
Começaram então as obras da nova igreja em Agosto de 1907.
Sem planta aprovada, talvez se começasse a arrecadar o que merecia ser guardado da Igreja do Matinho e da Capela da Santa Cruz, antes de proceder às suas demolições. E era preciso depois terraplanar a área em que se ia construir, que era em acentuado declive.
Desconhecem-se os nomes do arquitecto como o do entalhador e do pintor do painel do Bom Pastor.
Em 29 de Novembro de 1908, apresentou à Santa Casa da Misericórdia da Póvoa de Varzim uma proposta sua para fazer as obras da igreja que a irmandade ia construir e datou-a de Balasar.

Documento autógrafo do empreiteiro da igreja de Balasar em que apresenta a proposta para a construção da igreja da Misericórdia da Póvoa de Varzim.

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

DA IGREJA DO MATINHO À IGREJA NOVA (7)

Um documento do pároco de Balasar

Há muitas perguntas sem resposta para quem estuda a construção da actual igreja paroquial de Balasar. Uma delas é a do papel dos vários intervenientes principais: o pároco, o seu irmão José e Manuel Joaquim de Almeida.
No arquivo municipal encontramos um documento de 18 de Abril de 1907 da autoria do pároco Manuel Fernandes de Sousa Campos, que também era presidente da junta, dirigido ao administrador do concelho; continha esta mensagem: 

Acuso a recepção do ofício de V. Excelência, com data de 10 de corrente, acompanhando a acta de 24 de Fevereiro último sobre a construção da nova Igreja Paroquial, devidamente aprovada.
Deus guarde V. Excelência.
Freguesia de Balasar, 18 de Abril de 1907.
O abade Manuel Fernandes de Sousa Campos.

A acta é a que já se transcreveu.
Devia tratar-se de um passo importante para legalizar a comissão e o seu modo de actuar por subscrição para a angariação de fundos.
No seu género este documento é único.
Este pároco foi o que baptizou a Beata Alexandrina; no documento só a assinatura é escrita dele.

terça-feira, 9 de setembro de 2014

DA IGREJA DO MATINHO À IGREJA NOVA (6)

A construção

Em 23 de Dezembro de 1906, o jornal poveiro Estrela Povoense publicou esta notícia sobre a “Igreja Paroquial de Balasar”, bem semelhante a uma outra saída n’O Comércio da Póvoa de Varzim no dia 27:

A freguesia de Balasar, deste concelho, vai possuir um novo templo paroquial, cujas obras vão ser postas a concurso.
Quem desejar concorrer deverá examinar o projecto na secretaria do arquitecto da Câmara Municipal, onde ele está exposto todos os dias úteis, desde as 10 horas da manhã até às 3 horas da tarde.
As propostas devem ser enviadas em carta fechada à residência paroquial daquela freguesia até ao próximo dia 30 do corrente ao meio-dia.

Numa acta de 24 de Fevereiro de 1907, lê-se uma exposição feita à Junta de Paróquia pelo pároco, o abade Manuel Fernandes de Sousa Campos, que merece ser transcrita:

Tendo uma comissão, composta de alguns moradores desta freguesia, como à Junta não é estranho, tomado a seu cargo, por meio duma subscrição, a construção da nova igreja paroquial desta mesma freguesia, por essa construção não poder realizar-se por conta desta Junta de Paróquia, visto serem insignificantes os seus rendimentos e essa nova igreja tornar-se absoluta necessidade pelo estado de ruína em que se acha a actual, que não pode continuar a funcionar porque as suas paredes estão desequilibradas e as suas madeiras podres, como já foi verificado por peritos competentes, cumpria à Junta auxiliar essa iniciativa, prestando a essa comissão todo o seu apoio e valimento, dentro das atribuições legais, pois que de um tal melhoramento provinha um salutar benefício para a freguesia. Portanto, ocorria à Junta o dever de não só ceder da antiga igreja o seu material, altares e mais aprestos, como realizar definitivamente o acordo feito em 20 de Junho de 1897 com a comissão do Senhor da Cruz, desta freguesia, a fim de ser aproveitada a sua capela e terreno anexo na construção da nova igreja, por se tornar esse local o mais apropriado para essa edificação.

Nesta fotografia do espólio do Pe. Mariano Pinho ainda não há muro de suporte ao lado direito da igreja, o que mostra melhor o que foi a tarefa de terraplanar o lugar para a construção.

Os membros da mesa da Confraria do Senhor da Cruz estavam presentes e fecharam o acordo mencionado, abrindo assim as portas à construção da nova igreja. Este acordo seria ainda corroborado na sessão de 28 de Abril. Era juiz da Confraria do Senhor da Cruz Manuel Joaquim de Almeida, a quem se chegou a chamar, certamente com algum exagero, principal impulsor das obras da igreja, mas o seu contributo deve ter sido valioso[1].




[1] Consta que Manuel Joaquim de Almeida se terá aproveitado da posição política para adquirir de modo pouco transparente o terreno onde construiu a sua casa – a que fica imediatamente a poente do adro.

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

DA IGREJA DO MATINHO À IGREJA NOVA (5)

José António dos Santos Reis, primeiro benfeitor da Igreja Paroquial de Balasar

O jornal A Independência de 11 de Junho de 1893 noticiava o falecimento do brasileiro “José António dos Santos Reis, casado, negociante à Praça do Almada”. Era balasarense e havia falecido na terça-feira anterior, dia 6. Pelo assento de óbito, sabe-se que tinha 47 anos e que vivera na “casa número 13” daquela praça. O consentimento dado pelo pai para ele rumar ao Rio de Janeiro tem data de 30 de Dezembro de 1859. Nascera no Casal.
No álbum do Prof. Furtado vem uma fotografia sua, com dedicatória e assinatura, datada do “Rio, 27 de Outubro de 1875”.
José António dos Santos Reis possuía fortuna no Brasil e não tinha filhos. Duas das deixas do seu testamento merecem ser aqui copiadas:

Deixa 1.500 réis a cada pessoa mais necessitada da freguesia de Balasar que não possa trabalhar ou ganhar alimentação.
50.000 réis à Junta de paróquia daquele freguesia para auxílio da construção duma igreja paroquial[1].
José António dos Santos Reis fotografado no Rio de Janeiro em 27 de Outubro de 1875.

Deve ter sido o primeiro donativo para a Igreja Paroquial, quinze anos antes de as obras começarem[2].
No que deve ser uma farpa ao partido progressista, o jornal regenerador Estrela Povoense de 30 de Julho de 1899, sob o título “Tudo pronto”, tem estas frases a que o momento político de então daria um sentido que em boa parte nos escapa:

Os povos de Balasar, contemplando o Outeiro, já ali imaginavam catedrais superiores às de Notre Dame ou de Colónia.
Não sabiam até como mostrar a sua gratidão ao autor de obra tão grandiosa.
Afinal, oh, decepção!

À parte o jogo político implícito, percebe-se no escrito o desejo antigo de Balasar construir uma nova e grande igreja.



[1] Este dinheiro só seria entregue quando as obras começassem.
[2] A venda das casas da Confraria do Senhor da Cruz à Junta de Paróquia, em 30 de Janeiro de 1876, quando presidia o Pe. António Martins de Faria, já se poderia integrar no plano da construção da nova igreja.

domingo, 7 de setembro de 2014

DA IGREJA DO MATINHO À IGREJA NOVA (4)

2. A Igreja Paroquial actual

Após o Liberalismo, muitas igrejas paroquiais foram restauradas e ampliadas e outras construídas de novo. A de Touguinhó data de 1842; a grande igreja de Beiriz vem de 1872; no princípio do séc. XX, construiu-se a de Amorim (paga por quatro irmãos brasileiros da freguesia); desde a década final de 1800, estava a decorrer a primeira fase das obras da Basílica do Sagrado Coração de Jesus e ia começar a da Misericórdia da Póvoa.

O aumento populacional

Quando se repara na evolução da demografia balasarense, compreende-se a urgência de construir uma nova igreja: desde meados do século XIX a princípios do XX a população quase duplicou.
A nova igreja paroquial é também um resultado dos tempos novos que se viviam, que deram origem a reconstruções das velhas casas, com as suas grandes chaminés e outros sinais de abundância e certamente da riqueza de alguns brasileiros. A tal não é estranho o fim da enfiteuse.
150 anos de evolução demográfica de Balasar.

sábado, 6 de setembro de 2014

DA IGREJA DO MATINHO À IGREJA NOVA (3)

Uma igreja com largo interesse histórico

A Igreja do Matinho devia vir de antes de Portugal se tornar nação independente e, em tempos recuados, embora a igreja tivesse um fim eminentemente religioso, também nela tinham eco os momentos políticos.
Dezenas de gerações de anónimos balasarenses, ao longo de quase mil anos, aí foram baptizadas e enterradas, ou dentro ou nas imediações, lá ocorreram centenas e centenas de casamentos de gente anónima mas também de gente que deixou um nome na história, como os Grã-Magriços e em concreto D. Benta. Foi nela que se baptizaram os pais da Beata Alexandrina e a própria Alexandrina.
Foram lá sepultados muitos sacerdotes naturais ou não da freguesia, os pais da Viscondessa de Azevedo, Custódio José da Costa, os “ossos” do Comendador do Maranhão, o Cirurgião da Bicha, vários ex-vereadores, Manuel Boucinhas.
Em tempos de epidemias e pestes, como a Peste Negra, esta igreja testemunhou os horrores então vividos.
Aí se celebraram eucaristias semanais de preceito e as feriais.
Politicamente, nela ecoaram momentos de grande tensão; de muitos deles só a podemos imaginar, como foi o caso dos acontecimentos da revolução de 1383-1385 e da Restauração. Mas conhecemos os escaldantes documentos do tempo do Liberalismo, os vindos da autoridade legítima de Braga e os das autoridades cismáticas, todos lá lidos.
Muitos actos importantes ocorreram dentro dela ou no seu exterior. Era neste que se reunia a Confraria do Subsino e sem dúvida aí era feita a recolha da décima. Na porta eram afixados editais, às vezes de grande alcance, como o que pôs em marcha a elaboração do Tombo da Comenda de 1830-1832[1].
Conservam-se na actual igreja várias imagens idas da do Matinho.



[1] O Juiz do Tombo mandava explicitamente que afixassem edital na porta da igreja:
“E mando ao escrivão do Tombo que este fez o faça afixar pelo porteiro do mesmo Tombo no pelourinho ou lugar competente e mais público desta vila e outro igual na porta da igreja da dita freguesia e Comenda de Balasar, fazendo dar os pregões necessários, e se conservarão afixados por espaço de nove dias, etc.
Dado e passado nesta vila de Barcelos, sob meus sinal e selo, aos dezasseis dias do mês de Fevereiro de mil oitocentos e trinta anos”.

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

DA IGREJA DO MATINHO À IGREJA NOVA (2)

A Igreja Paroquial em 1830

Em 1830, a Igreja Paroquial não deveria diferir muito do que tinha sido construído 90 a 100 anos antes. O Tombo da Comenda mede-a, do que resulta quase uma descrição.

Tem de comprido, do nascente ao poente, vinte e uma varas por cada um dos lados (cerca de 23 m); e de largo, na testa do nascente, onde é a fronteira da mesma Igreja, tem sete varas e um quarto (cerca de 8 m); e na testa do poente, nas costas da capela-mor, tem cinco varas (cerca de 5,5 m).
Tem um torreão de duas empenas e duas sineiras, à face com a fronteira, e para a parte do sul tem uma escada de pedra com quinze degraus[1]. Tem a porta principal para o nascente e mais duas portas travessas, uma virada ao norte e outra ao sul.
Tem duas sacristias para o lado do norte, uma das quais tem uma porta para o nascente e a outra tem uma servidão por dentro da Igreja.
Tem uma capela de S. António[2] e no corpo da Igreja duas frestas para cada um dos lados e uma na fronteira; e na capela-mor tem uma fresta de cada lado. Tem o altar-mor e mais três altares no corpo da igreja e outro na capela de S. António. Tem seu coro com escadas pelo lado norte.

Não encontrámos em nenhum documento alusão à pedra do acordo.

Representação muito esquemática da Igreja Paroquial do Matinho, com a Residência e a estrada da Cruz para Vila Pouca.

O adro

Agora a medição do adro:

O adro da referida Igreja, que, principiando a medir do nascente a poente, na entrada dela, indo a medição pelo lado norte, por cima do capeado da parede do mesmo adro, em toda a volta, até chegar às casas da residência do Reverendo Reitor, tem setenta varas (cerca de 75 m); e aí, em volta de duas chaves que faz a dita casa da residência para dentro do mesmo adro, até à fronteira e entrada do referido adro, tem dezassete varas e três quartas (cerca de 19 m); e tem de largo, na entrada, cinco varas (cerca de 5,5 m). Tem um fojo[3] com quatro degraus.
Parte do nascente com baldio, do norte e poente com terra do prazo do assento da igreja desta Comenda, do enfiteuta José António de Miranda, de Barcelos, que possui António João Furtado; e do sul parte com o mesmo e com horta do passal da Igreja e casas da residência do Reverendo Reitor. Dentro do mesmo adro há três oliveiras.

Mencionam-se as três oliveiras destinadas a produzir o azeite para a lamparina, mas ignora-se a pedra do acordo, que deveria existir. 
Esta planta com o "Projecto para a ampliação do Cemitério de Balasar" tem data de Março de 1911. As manchas a tracejado perto do cimo à esquerda correspondem à antiga residência. Quase em baixo, ao centro, está planeado o portão original do cemitério, o tal que tem duas datas, uma de 1914, nas ombreiras, e outra de 1915, ao fundo do portão propriamente dito. A antiga igreja ocupava apenas o espaço imediatamente por trás do portão.

O espaço do actual Cemitério de Balasar é constituído pelo cemitério de 1914 mais uma grande ampliação para poente. Se considerarmos a parte original, a que se refere esta planta, verificamos que ela incluiu o adro e terreno da igreja, que nela ficavam imediatamente frente ao portão, para os dois lados, mas mais para a direita, a parte propriamente de habitação da antiga residência paroquial – área sombreada – e ainda algum terreno agrícola, ao cimo da planta, à direita. Isso permite formar uma ideia da verdadeira dimensão da antiga igreja, o que fica ainda mais claro se confrontarmos esta planta com o fragmento do projecto viário de 1905.

Residência e assento paroquial

Copia-se também a medição da residência paroquial. Parece espaçosa: devia poder albergar também o cura.

As casas da residência do Reverendo Reitor (…) têm de comprido, de nascente a poente, trinta e duas varas, partindo com o adro da igreja e com baldio; pelo sul, até chegar à horta onde faz a chave, tem vinte e sete varas, partindo com os eirados e cortes do prazo do assento desta Comenda, do enfiteuta José António Miranda, de Barcelos, que possui António José Furtado[4]; curvando ao sul, a partir com o mesmo prazo, tem a chave de largo, pelo nascente, cinco varas; e torna a virar ao poente, a partir do sul com terra do referido prazo, tem quinze varas e meia; e virando ao norte, a partir do poente, com a mesma terra do dito prazo, tem dez varas; pelo nascente tem de largo dezassete varas e uma quarta, partindo com o mesmo.
Dentro desta medição ficam as casas da Residência do Reverendo Reitor, e vem a ser uma morada de casas-torres, com sua cozinha também torre, e no meio tem dois andares com quatro salas e seus quartos, uma varanda para o sul, com duas entradas para o nascente e uma para o poente, para a servidão da igreja, com três escadas de pedra com seus pátios, quatro janelas para o norte, duas para o poente e três para o nascente, com suas competentes frestas; e outra casa térrea, que serve de despejo, com entrada de um portal fronho; e na horta, que também fica incluída, tem uma lata e mais árvores de fruto; e tudo levará de semeadura dois alqueires de centeio.

O acesso à igreja e à residência faziam-se pelo nascente, certamente por qualquer caminho que precedeu a rua que hoje vai para Agrelos.




[1] Esta escada daria acesso aos sinos?
[2] Poderá tratar-se de Santo Antão, também dito S. António o Grande ou do Egipto.
[3] Desconhecemos o que significa aqui a palavra fojo, mas sabemos que havia fojos em portas doutras igrejas.
[4] A casa do assento ou parte dela ainda estava pegada à residência como desde a construção da igreja.