sexta-feira, 5 de setembro de 2014

DA IGREJA DO MATINHO À IGREJA NOVA (2)

A Igreja Paroquial em 1830

Em 1830, a Igreja Paroquial não deveria diferir muito do que tinha sido construído 90 a 100 anos antes. O Tombo da Comenda mede-a, do que resulta quase uma descrição.

Tem de comprido, do nascente ao poente, vinte e uma varas por cada um dos lados (cerca de 23 m); e de largo, na testa do nascente, onde é a fronteira da mesma Igreja, tem sete varas e um quarto (cerca de 8 m); e na testa do poente, nas costas da capela-mor, tem cinco varas (cerca de 5,5 m).
Tem um torreão de duas empenas e duas sineiras, à face com a fronteira, e para a parte do sul tem uma escada de pedra com quinze degraus[1]. Tem a porta principal para o nascente e mais duas portas travessas, uma virada ao norte e outra ao sul.
Tem duas sacristias para o lado do norte, uma das quais tem uma porta para o nascente e a outra tem uma servidão por dentro da Igreja.
Tem uma capela de S. António[2] e no corpo da Igreja duas frestas para cada um dos lados e uma na fronteira; e na capela-mor tem uma fresta de cada lado. Tem o altar-mor e mais três altares no corpo da igreja e outro na capela de S. António. Tem seu coro com escadas pelo lado norte.

Não encontrámos em nenhum documento alusão à pedra do acordo.

Representação muito esquemática da Igreja Paroquial do Matinho, com a Residência e a estrada da Cruz para Vila Pouca.

O adro

Agora a medição do adro:

O adro da referida Igreja, que, principiando a medir do nascente a poente, na entrada dela, indo a medição pelo lado norte, por cima do capeado da parede do mesmo adro, em toda a volta, até chegar às casas da residência do Reverendo Reitor, tem setenta varas (cerca de 75 m); e aí, em volta de duas chaves que faz a dita casa da residência para dentro do mesmo adro, até à fronteira e entrada do referido adro, tem dezassete varas e três quartas (cerca de 19 m); e tem de largo, na entrada, cinco varas (cerca de 5,5 m). Tem um fojo[3] com quatro degraus.
Parte do nascente com baldio, do norte e poente com terra do prazo do assento da igreja desta Comenda, do enfiteuta José António de Miranda, de Barcelos, que possui António João Furtado; e do sul parte com o mesmo e com horta do passal da Igreja e casas da residência do Reverendo Reitor. Dentro do mesmo adro há três oliveiras.

Mencionam-se as três oliveiras destinadas a produzir o azeite para a lamparina, mas ignora-se a pedra do acordo, que deveria existir. 
Esta planta com o "Projecto para a ampliação do Cemitério de Balasar" tem data de Março de 1911. As manchas a tracejado perto do cimo à esquerda correspondem à antiga residência. Quase em baixo, ao centro, está planeado o portão original do cemitério, o tal que tem duas datas, uma de 1914, nas ombreiras, e outra de 1915, ao fundo do portão propriamente dito. A antiga igreja ocupava apenas o espaço imediatamente por trás do portão.

O espaço do actual Cemitério de Balasar é constituído pelo cemitério de 1914 mais uma grande ampliação para poente. Se considerarmos a parte original, a que se refere esta planta, verificamos que ela incluiu o adro e terreno da igreja, que nela ficavam imediatamente frente ao portão, para os dois lados, mas mais para a direita, a parte propriamente de habitação da antiga residência paroquial – área sombreada – e ainda algum terreno agrícola, ao cimo da planta, à direita. Isso permite formar uma ideia da verdadeira dimensão da antiga igreja, o que fica ainda mais claro se confrontarmos esta planta com o fragmento do projecto viário de 1905.

Residência e assento paroquial

Copia-se também a medição da residência paroquial. Parece espaçosa: devia poder albergar também o cura.

As casas da residência do Reverendo Reitor (…) têm de comprido, de nascente a poente, trinta e duas varas, partindo com o adro da igreja e com baldio; pelo sul, até chegar à horta onde faz a chave, tem vinte e sete varas, partindo com os eirados e cortes do prazo do assento desta Comenda, do enfiteuta José António Miranda, de Barcelos, que possui António José Furtado[4]; curvando ao sul, a partir com o mesmo prazo, tem a chave de largo, pelo nascente, cinco varas; e torna a virar ao poente, a partir do sul com terra do referido prazo, tem quinze varas e meia; e virando ao norte, a partir do poente, com a mesma terra do dito prazo, tem dez varas; pelo nascente tem de largo dezassete varas e uma quarta, partindo com o mesmo.
Dentro desta medição ficam as casas da Residência do Reverendo Reitor, e vem a ser uma morada de casas-torres, com sua cozinha também torre, e no meio tem dois andares com quatro salas e seus quartos, uma varanda para o sul, com duas entradas para o nascente e uma para o poente, para a servidão da igreja, com três escadas de pedra com seus pátios, quatro janelas para o norte, duas para o poente e três para o nascente, com suas competentes frestas; e outra casa térrea, que serve de despejo, com entrada de um portal fronho; e na horta, que também fica incluída, tem uma lata e mais árvores de fruto; e tudo levará de semeadura dois alqueires de centeio.

O acesso à igreja e à residência faziam-se pelo nascente, certamente por qualquer caminho que precedeu a rua que hoje vai para Agrelos.




[1] Esta escada daria acesso aos sinos?
[2] Poderá tratar-se de Santo Antão, também dito S. António o Grande ou do Egipto.
[3] Desconhecemos o que significa aqui a palavra fojo, mas sabemos que havia fojos em portas doutras igrejas.
[4] A casa do assento ou parte dela ainda estava pegada à residência como desde a construção da igreja.

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