quinta-feira, 27 de maio de 2010

P.e Leopoldino Mateus

Finalmente, ficamos a saber quem era o P.e Leopoldino Mateus que em 1933 foi paroquiar Balasar. Muito elucidativa e com pormenores desconhecidos esta apresentação que o jornal poveiro A Defesa fez dele nos seus 50 anos. Veja-se o que se escreveu ao centro da primeira página, em 20 de Janeiro de 1929, sob o título “P.e Leopoldino Mateus”.

Na última segunda-feira celebrou as suas bodas de ouro natalícias o nosso prezado amigo e distinto colaborador Sr. P.e Leopoldino Rodrigues Mateus. O ilustre sacerdote nasceu nesta vila, numa casa da rua do Norte (António Graça), no dia 7 de Janeiro de 1879 e é filho legítimo do Sr. Francisco Rodrigues Mateus, distribuidor dos Correios, aposentado, e da Sra. D. Josefa Rosa de Jesus, ainda vivos. Foi baptizado solenemente no dia 9 de Janeiro do mesmo ano, na Igreja Matriz, pelo coadjutor Rev. António José Garcia, sendo padrinhos o Sr. Leopoldino Rodrigues da Costa Silveira e a Sra. D. Germana Rosa de Jesus, já falecidos.
Em 1885 matriculou-se na Escola Camões, em que era professor o Sr. Joaquim Francisco Fernandes Cunha, e em 1886 foi transferido para a Escola Gomes de Amorim (Pereira Azurar), em que era professor o Sr. José Alves Vieira, de saudosa memória.
Tendo feito o exame de Instrução Primária no Liceu de Braga, em Abril de 1890, e destinando-se à carreira eclesiástica, entrou em Outubro do mesmo ano para o Seminário de Santo António e S. Luís Gonzaga, onde frequentou o curso de preparatórios, que concluiu em Julho de 1895.
Por falta de idade, só entrou em Outubro de 1896 para o Seminário Conciliar de Braga, onde concluiu o Curso Teológico em Junho de 1899. Foi professor no Colégio de S. Joaquim, em Chaves, de 1900 a 1901, e celebrou a sua primeira missa na Igreja Paroquial desta vila no dia 28 de Setembro de 1901. No dia 1 de Janeiro de 1902, entrou para capelão do Senhor dos Navegantes, nas Caxinas, até Outubro de 1906, em que foi admitido como capelão da Confraria das Almas, onde se conserva.
A 8 de Agosto de 1908, foi nomeado pelo saudoso Prelado D. Manuel Baptista da Cunha coadjutor desta vila, lugar que tem desempenhado com zelo e actividade, ininterruptamente, durante a paroquialidade dos Reverendos Priores Manuel Martins Gonçalves da Silva, José Martins da Silva Gonçalves, Álvaro de Campos Matos, Aurélio Martins de Faria e Alexandrino José Leituga. Tendo-se dedicado à pregação, já tem percorrido uma boa parte do norte do país, onde tem sido muito apreciado.
Nas corporações religiosas já foi, durante algum tempo, juiz da Confraria de Nossa Senhora do Rosário e segundo secretário da Senhora de Lourdes e Mesa da Associação do Coração Agonizante de Jesus; fez parte da Comissão da Senhora do Desterro, dando-lhe grande impulso, e hoje é membro da Comissão de Santo António, da Matriz. Em corporações civis, foi presidente da direcção da Associação de Socorros Mútuos (A Povoense), em 1907, salvando-a do perigo que a faria soçobrar, mais do que uma vez presidente da assembleia-geral da mesma e presidente do conselho fiscal, durante dois anos, da Mutualidade. É o actual presidente da assembleia-geral da Fúnebre Familiar e foi presidente do conselho fiscal da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários durante o biénio findo.
De Julho de 1912 a Junho de 1917 foi presidente da direcção da Associação de Caridade «A Beneficente», cargo em que desenvolveu um carinho e dedicação exemplar pela causa dos pobrezinhos e durante alguns anos foi membro activo da Conferência de S. Vicente de Paulo.
Dedicando-se ao jornalismo é redactor efectivo do considerado semanário local «A Voz do Crente», colaborador do nosso semanário e do «Comércio da Póvoa de Varzim», do «Mensageiro Eucarístico» de Braga e correspondente do importante diário católico de Lisboa «As Novidades» e do semanário do Porto «A Ordem». Tem feito parte de diversas comissões festivas, principalmente da Festa Marítima, em que tem revelado o seu amor pela Póvoa.
O nosso estimado colaborador foi muito cumprimentado no dia das suas bodas de ouro, tendo havido na Igreja Matriz missa e grande comunhão pelo seu aniversário natalício – 50 anos. Fazemos votos ao Céu pelo prolongamento da sua preciosa e estimada existência. J.A.M.


N’A Voz do Crente de 4 de Janeiro escrevera-se, depois de o P.e Leopoldino ser declarado “orador sagrado, ilustre e primoroso jornalista e nosso colaborador assíduo e dedicado”:

No desempenho das funções dos eu ministério, o Rev. Leopoldino Mateus, diligente e canseiroso, desenvolve uma actividade pasmosa e modelar. Apesar disso nunca o tempo lhe falta para nos prestar os seus valiosos e apreciáveis serviços”.
A redacção aproveita este ensejo para lhe tributar “o nosso agradecimento pela sua boa colaboração e prestar-lhe a nossa solidariedade jornalística contra as insinuações baixas e torpes  com que alguns pretensiosos, cheios de orgulho e presunção, têm tentado ofuscar o brilho das suas primorosas crónicas, cheias sempre da mais sã doutrina”.


Infelizmente, ainda não é aqui que se esclarece o papel que o P.e Leopoldino teve nas duras lides jornalísticas dos primeiros anos da República. Mas uma coisa já aparece, conviria um dia reunir uma antologia dos seus escritos.
Para Balasar, receber um pároco com este currículo foi muito importante.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Notícia antiga sobre o P.e Mariano Pinho

Tomámos há pouco conhecimento duma notícia relativa ao jovem P.e Mariano Pinho que aqui vamos transcrever. Data de 3 de Março de 1929 e fala da inauguração duma escola sob o patrocínio de “D. João Bosco”, o que não deixa de ser curioso. O futuro “São” João Bosco seria beatificado nesse ano. O Padre Pinho tinha chegado à Póvoa, do estrangeiro, no Natal precedente e iria fazer sair em Junho o número experimental da Cruzada Eucarística. Vamos à notícia:

Foi, há tempo, inaugurado, com uma festa, o culto ao SS. Sacramento, que ficará permanente na capela da Escola D. João Bosco, sita na rua do Visconde, nº 49, e que tem por director o Sr. Francisco José de Barros. Houve uma missa e comunhão geral das crianças deste estabelecimento de ensino primário elementar, recebendo quatro a Jesus-Hóstia pela primeira vez. Presidiu ao acto o Rev. Mariano Pinho que, numa formosa alocução, tomando para tema as palavras de Jesus – Deixai vir a Mim as criancinhas, porque delas é o reino dos Céus – explicou clara e simplesmente o grande amor que o Divino nazareno tinha aos pequeninos e como Ele os desejava ver sempre junto de Si. Disse-lhes que Jesus Sacramentado ficava permanente naquela capela da escola para que os seus alunos O pudessem visitar e receber amiúde. Aos pais das crianças ali presente recomendava-lhes a Escola D. João Bosco, que ministrava aos seus filhos uma educação literária e religiosa, merecendo o auxílio de todos os católicos da Póvoa de Varzim. […]

Curiosamente a frase de Jesus citada, com um quadro alusivo, vai sair sempre nos primeiros números da Cruzada
.
Na imagem, capa do primeiro número da Cruzada, onde se lê ao fundo a frase "Deixai vir a Mim as criancinhas".

terça-feira, 25 de maio de 2010

Manuel Sá

Manuel Ferreira da Silva e Sá é um daqueles balasarenses adoptivos a quem a freguesia muito deve. Natural de Leça de Palmeira, veio para chefe da estação das Fontainhas em 1 de Novembro de 1900 e aí assentou definitivamente arraiais. Foi um homem de múltiplos ofícios, como disso deu conta o P.e Leopoldino:
Manuel Sá
“Muito dinâmico e culto – abandonara os estudos quando lhe faltava apenas um ano para concluir o curso de Engenharia – a ele se deve a fundação, em 1903, de um Grupo Cénico que levou ao palco dramas sacros e comédias hilariantes; em 1913, de uma Escola de Ginástica, gratuita; em 1923, do Clube dos Caçadores, que chamava grande concurso de gente para as disputas aos tiros aos pombos; em 1924, da Tuna, que foi um bom elemento de propaganda local, pelos concertos dados aqui e em outros locais do País, como Famalicão, Guimarães, Amarante, etc., sendo muito apreciado o grupo artístico regido pelo fundador, que era músico distinto; e, para coroar a sua obra patriótica, em 4 de Janeiro de 1929, iniciou a feira semanal, auxiliado pelos lavradores Srs. Joaquim António Machado, João Domingues de Azevedo, José António de Sousa Ferreira, Luís Murado Torres, João de Sousa Ferreira e Antónia Murado, conseguindo da Câmara a abertura da avenida que liga a estrada nacional ao largo da feira”.
Durante anos, houve em Balasar um notável interesse pelo teatro, que certamente nasceu do Grupo Cénico por ele fundado.
Faleceu em 4 de Junho de 1936.
Nessa altura um tal D. Araújo escreveu sobre «Manuel de Sá», no jornal poveiro Ideia Nova o que segue:

 Acaba de deixar este mundo, em casa de seu extremoso genro e inteligente Presidente da Comissão de Freguesia da União Nacional de Balasar, Sr. José António de Sousa Ferreira, o saudoso Ma­nuel Sá, que foi chefe - lugar que sempre desempenhou com apru­mo - da estação de Fontainhas da Companhia dos C. de F. do Norte de Portugal.
Homem de «inteligência límpida e serena», de copiosos conhecimentos, cheio de acção mas «prudente nos seus projectos», de uma sincera modéstia que o caracterizava, de coração verdadeiramente esmoler, que ao toque da mais subtil indigência se des­fazia em puras generosidades, de uma paciência que era só dele, excepcional, deveras apreciável, foi e é por todos admirado e res­peitado.
Paladino do progresso da sua terra, da harmonia, do bem-estar, do bem viver, muito trabalhou abnegadamente, não com o intuito de ganhar prestígio, mas para que pudesse, com isso, proporcionar, al­vejando, um pouco de desafogo, um pouco de alegria, um pouco da honesto e justo divertimento a to­dos aqueles que à sua volta, quotidianamente, lutavam e lutam pela vida.
E assim pelo preço de muitos esforços, de muito labor, de mui­tas canseiras, de muito dispêndio de dinheiro, conseguiu, e em 1928 inaugurou, com todos os necessários requisitos, um mer­cado-feira, entre invejas, apatias e aversões, facilmente despreza­das pela sua especial tenacidade e desassombro; em 1926, fundou um Teatro que, por várias vezes, foi entusiasticamente aplaudido, mesmo fora da terra; em 1923, constituiu apaixonadamente uma orquestra, que guiou e amparou carinhosamente, merecendo os de­vidos louvores em Braga, Guimarães, Amarante, Santo Tirso, Tai­pas, etc.; criou uma «Escola de tiro» ou «Torneio aos pombos», em 1921, onde foram disputados valiosos prémios por atiradores insignes, como Dr. Elísio de Cas­tro, Baptista de Sá, o grande di­rector de tiro, etc.; foi um dos fundadores e regente da Tuna dos empregados do Caminho de Fer­ro do P. à P. e Famalicão; enfim, perdeu Balasar e portanto Póvoa um modelo de trabalho, de disciplina, de iniciativa, digno até de ser estudado e imitado por quem se sinta encorajado de continuar a sua obra.
Além de músico exímio, foi um excelente atirador. Concor­reu a vários torneios do país e neles mereceu o justo prémio do seu saber, de sua arte de atirar.
Balasar, portanto, deve-lhe de­dicar, embora modesta, uma me­mória, como preito de gratidão e estima. 

Na ida do P.e Leopoldino para Balasar

O autêntico elogio ao P.e Leopoldino Mateus que vamos copiar saiu no jornal poveiro A Propaganda, em 17 de Julho de 1933, pouco mais de uma semana após ele tomar conta da paróquia de Balasar. O estado da freguesia não devia ser o melhor, após as perturbações acontecidas na fase final da presença do pároco anterior, o P.e Manuel de Araújo.
O P.e Leopoldino tinha na altura já os seus 54 anos e na Póvoa atrás de si deixava anos duma luta muito dura, em particular ao tempo dos princípios da República, quando foi repetidamente enxovalhado pelos seus inimigos.
.
Abade de Balasar
No dia 9 de Julho tomou posse da paroquialidade de Balasar, deste concelho, o nosso prezado amigo e conterrâneo Sr. P.e Leopoldino Rodrigues Mateus. Deixando a sua terra e os seus venerandos pais, o novo pároco vai cumprir uma missão de paz e religiosidade, confiada pelo seu Prelado, que tem pelo nosso amigo a maior estima e consideração pelos relevantes serviços prestados à Igreja.
Foi muito sentida a ausência deste ilustre sacerdote, que se impôs pelo seu zelo e dedicação à Igreja e pelo seu bairrismo, sempre devotado à causa da sua terra. Como capelão da Confraria das Almas, onde esteve durante 27 anos, calcorreando as ruas todas as madrugadas, quer chovesse quer ventasse, de dia e de noite, intensificou esta devoção, que é hoje muito fervorosa.
Como capelão interino da devoção da Senhora do Desterro aumentou a frequência daquela pequena capela, convertendo-a no centro de fervorosa piedade. Como coadjutor ou vigário cooperador da freguesia da Póvoa de Varzim, cargo que desempenhou com zelo e actividade durante 24 anos, prestou bons serviços à causa da Igreja Católica, de que é digno ministro.
Por isso, não admira que o povo crente da Póvoa o estimasse e respeitasse, porque sabia a falta que faz no nosso meio religioso e social. Deixou a nossa Varzim e foi cumprir uma missão delicada para a importante freguesia de Balasar, deste concelho. Ao celebrar a sua primeira missa paroquial, as suas palavras de saudação calaram de tal forma no ânimo dos seus novos paroquianos que todos atentos e visivelmente satisfeitos foram cumprimentar o seu novo abade.
Vai grande regozijo na freguesia de Balasar pela estadia do seu novo Pastor a quem já tributam respeito, estima e consideração, esforçando-se por conservar o mais tempo possível. Sua Reverência cumpre um dever de obediência aceitando aquele lugar espinhoso e trabalhoso, é de esperar que o povo de Balasar, respeitador e crente, estime o seu novo Pároco, que é um dos sacerdotes mais trabalhadores e honestos da nossa terra.
Que a saudade que o povo da Póvoa tem pelo seu ex-coadjutor e amigo dedicado seja compensada pela benevolência e estima com que é tratado na sua nova freguesia. Ao Sr. Abade de Balasar, todos os que aqui trabalham na redacção enviam os seus respeitosos cumprimentos.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Balasar e Poça da Barca

Rezava assim a nota que, em 12 de Abril de 1914, Cândido Manuel dos Santos enviou para O Intransigente:

Fiquei admirado quando vi escrito que o Sr. Santos Graça disse, na entrevista a França Borges, que daria Balasar a Vila do Conde, a propósito da Poça da Barca.
Ele foi a Lisboa reclamar um direito ou fazer uma troca de freguesias? Se é, como creio, de justiça a vinda da Poça da Barca para a Póvoa, seria isto o que o Sr. Graça devia pedir, mas nunca dar em troca aquilo que nos pertence. Naturalmente esqueceu-se que era poveiro e de que sempre anda apregoando bairrismo e patriotismo…
O Sr. Graça assim tem tanta queixa de Balasar? O povo aqui não é democrático como ele…
Mas nós não queremos ser vila-condenses, nem à mão do Sr. Graça, «deus-padre, todo-poderoso», demagogicamente falando…

Estava em causa portanto anexar à Póvoa um bocado das actuais Caxinas, a parte norte, para onde tinha crescido a Lapa e que antes era desabitado; em troca, a Póvoa cedia Balasar a Vila do Conde. Um mês adiante, em 3 de Maio, a redacção d’O Intransigente comentou o que se estava a passar num pequeno artigo intitulado “Póvoa e Balasar”, que se transcreve abaixo. 
Ao que se depreende do escrito de Cândido dos Santos, a propaganda republicana radical tinha produzido efeito na freguesia, com muitos estragos, com certeza.

Está o povo de Balasar indignado, e com justificada razão, por causa do chefe democrático local, Sr. António dos Santos Graça, administrador e comerciante, ter querido negociar com ­aquela freguesia, dando-a a Vila do Conde, a propósito da desejada anexação da Poça da Barca à Póvoa de Varzim.
Balasar tem razão: é da Póvoa e não quer ir nem quer que a levem para a Vila do Conde, não se quer vender, nem consentirá que a vendam como escravos em tempos ominosos, - Balasar é mais patriota do que aqueles que andam sempre a apregoar... patriotismo e bairrismo e têm a infeliz e triste lembrança - para não empregar outro termo - de querer negociá-la como se negoceia fazendas ou se monopoliza anúncios camarários.
Balasar tem razão, e a Póvoa não tem culpa do que disse ou quis fazer alguém. A Póvoa quer Balasar e não consentiria tal facto – para não empregar outro termo.
Aquilo foi um arranco náufrago que, vendo-se no momento crítico, lançou uma blasfémia ­no auge do desespero e da descrença. Perdoai-­lhe, Balasar, que ele não soube o que disse.
Balasar é pela Póvoa e a Póvoa é por Balasar. O resto... são desabafos d'alma, que nada justificam nem nada valem. A Póvoa lamenta e protes­ta contra o facto, declinando a sua responsabilidade.
Mas... ainda haverá democráticos naquela ­freguesia que, por conveniências políticas, sacrifiquem o seu amor patriótico? O melhor protesto contra a calinada é o povo dali deixar o partido que tal chefe tem e votar contra ele nas próximas eleições. É um protesto legal e justo e que contribuirá para abalar o pedestal dum homem que parece desconhecer as responsabilidades da chefia dum partido, e para cuja conservação no pedestal não se importava de patrioticamente ceder Balasar a Vila do Conde, a propósito da justa anexação da Poça da Barca.

Na imagem: Igreja de Nosso Senhor dos Navegantes, paroquial das Caxinas.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Cândido Manuel dos Santos correspondente do jornal O Intransigente

Desconhecíamos inteiramente o facto, mas realmente, entre finais de 1913 e meados de 1914, Cândido Manuel dos Santos enviou regularmente correspondência para o jornal poveiro O Intransigente. Estávamos longe de imaginar este balasarense aliado da ala mais radical do republicanismo.
Não é bem a vulgar correspondência aldeã, é uma rubrica, intitulada Posta Restante, onde por vezes disserta longamente sobre ocorrências da freguesia. Por ela ficamos a saber que foi primeiro cabo de Infantaria 8 e que escreve com razoável fluência e segurança, uma ou outra vez até com graça; a sua prosa não parece de principiante.
O caso mais curioso que aborda, aliás, de corrida, é o duma troca que Santos Graça imaginou: para que Poça da Barca pudesse ser anexada à Povoa, esta cederia Balasar a Vila do Conde. No âmbito do costumado despique com a ala democrática republicana liderada por Santos Graça, a redacção do semanário, em 3/5/1914, repudia escandalizada a ideia.
Estes escritos de Cândido dos Santos têm o interesse de nos falarem da Balasar da adolescência da Alexandrina e mesmo de como aí conviviam as duas orientações republicanas, a mais moderada e a mais radical. Além disso, encontram-se neles muitos nomes de balasarenses, pelo que é possível ainda hoje a alguém de mais idade identificar de algum modo pessoas e casas que estavam por um lado e por outro.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

De Paray-le-Monial para Dublin

Continuamos a aguardar informação respeitante à Conferência sobre a Beata Alexandrina que teve lugar em Paray-le-Monial, no passado dia 13, sabendo embora que foi um êxito.
A Alexandrina Society planeia escrever ao Arcebispo de Dublin a pedir que a Beata Alexandrina seja declarada patrona do 50º Congresso Eucarístico Internacional  a decorrer naquela cidade em 2012.

sábado, 15 de maio de 2010

Um oportuno e extenso artigo do último número do Boletim

As duas páginas centrais do novo número do Boletim são ocupadas por um longo e extenso artigo de Maria Rita Scrimieri sobre o tema eucarístico, o das Marias dos Sacrários-Calvários, intitulado "1º Centenário da União Eucarística Reparadora". Embora não contenha bem toda a informação que teria sido possível lá colocar, tem também muita que ignorávamos. O número do Boletim pode-se ler em pdf aqui.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

O Papa Bento XVI no Porto

Estivemos hoje no Porto para manifestar o nosso apoio ao supremo responsável da Igreja. A multidão era imensa e vibrante, como as duas fotografias documentam. Na primeira vê-se Bento XVI na varanda da Câmara Municipal e na segunda a multidão a despedir-se de Sua Santidade.
Vemos o entusiasmo das multidões de Lisboa, Fátima e Porto como um desagravo ao muito que de mal tem sido dito sobre a Igreja e como um convite ou desafio: há que ir sempre para a luta. Era aliás assim que praticava a Alexandrina quando na Póvoa homenageva os sacerdotes, levantando-se se eles passavam, quando, durante a II Guerra Mundial, escrevia ao Papa a incentivá-lo, etc. A Igreja era uma grande preocupação sua.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Uma mão cheia de pequenas notícias

O Kevin recebeu da Nova Zelândia um pedido de 100 exemplares do seu livrinho, que reenviou para as New Hope Publications. Está também em contacto com gente das Filipinas interessada na nossa Beata.
Recebemos o catálogo das New Hope Publications de Kentucky; o livrinho do Kevin tem lá um destaque muito especial: vem anunciado na primeira página e na contracapa. Além disso, aquelas edições publicaram também uma pagela da Alexandrina.
A D. Eugénia escreveu e entre muitas outras coisas informa que uma equatoriana se agregou ao seu Grupo Beata Alexandrina.
É já amanhã que se realiza em Paray le Monial a conferência de que nos falou o Afonso Rocha.
Aproveitamos também para publicar parte duma fotografia que recebemos e que nos mostra o farmacêutico Sr. Oliveira à porta da sua farmácia – aquela em que tratou a pequena Alexandrina, em 1908 - entre dois amigos.

terça-feira, 11 de maio de 2010

O Papa em Lisboa

Creio que terá sido surpresa para muita gente o entusiasmo que suscitou a visita do Papa, o modo como decorreram os preparativos próximos e agora a enchente do Terreiro do Paço.
Há 100 anos, um ministro predizia o fim da Igreja em Portugal em duas ou três gerações; aquela multidão deu a resposta ao vaticínio maçónico.
Como Jesus ensinou à Beata Alexandrina, será a “Igreja sempre combatida, (mas) nunca vencida até ao fim dos séculos”.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Boas notícias

No próximo dia 13 vai fazer-se em Paray le Monial uma conferência sobre a Beata Alexandrina: esperam-se ao menos 400 pessoas, no meio das quais um certo número de jornalistas e editores católicos.
 A Congregação das Filhas do Sagrado Coração de Jesus mandou distribuir em todas as casas da Congregação uma biografia da nossa Beata, com pedido que esta seja lida e meditada. Esta Congregação, fundada por uma francesa há pouco beatificada, tem casas em França, na Bélgica, no Canadá e, salvo erro, em África igualmente.

domingo, 9 de maio de 2010

Uma porta da capela da Santa Cruz com siglas, em Balasar

Vimos há poucos dias em Balasar uma antiga porta da capela da Santa Cruz com siglas poveiras. É uma porta velha e podre na parte de baixo; mas os dois terços superiores estão em bom estado, só que pintados. Seria preciso retirar a tinta para fazer dela uma peça de museu.
As siglas documentam a devoção da pescaria poveira à Santa Cruz, pescaria que depois há-de visitar com muita frequência a Beata Alexandrina, como o P.e Leopoldino registou.

Cândido Manuel dos Santos

Cândido Manuel dos Santos (14/12/1892-16/8/1966) era balasarense e morava onde está hoje a residência paroquial, não longe da casa da Alexandrina, no Calvário; devia conhecê-la muito bem. Ainda estava vivo aquando dos preparativos para o Processo Informativo Diocesano.
Na sequência do fracasso da chamada Monarquia do Norte, em 1918, tomou decidida atitude de defesa do regime vitorioso e quis ser correspondente da freguesia para o jornal poveiro A Sentinela. Veja-se um pouco da sua prosa saída em 19 de Outubro de 1919:
“Paciência, para mim tudo quanto seja a defesa da República me é simpático, mas uma defesa sincera e persistente. Antes, porém, de iniciar as minhas correspondências, cumpre-me saudar o ilustre corpo redactorial de A Sentinela; saúdo com uma saudação que me vai da alma por ver que desse ilustre corpo fazem parte verdadeiros republicanos, que não se importam de arrostar com grandes sacrifícios para defesa da República. Em segundo lugar, peço antecipadamente aos meus queridos leitores que me desculpem alguma falta involuntária que possa cometer”.
E acrescentou ainda, falando na terceira pessoa:
“A fim de assistir ao Congresso do Partido Republicano Português, partem na próxima sexta-feira para Lisboa os nossos prezados correligionários Carlos da Costa Reis, António da Costa Faria e Cândido Manuel dos Santos, que ali vão representar esta freguesia”.
Cândido Manuel dos Santos não ia para Lisboa bem acompanhado. De Carlos da Costa Reis ou Carlos da Torre, que era de Gresufes, contam-nos que era dado a larga libertinagem e António da Costa Faria, pouco tempo antes, foi um dos três homens que entraram violentamente na casa da Alexandrina, provocando o pânico que a levou ao famoso salto.
Era de poucas posses este ocasional correspondente d’A Sentinela, mas alguns estudos haveria de ter, nem que fosse por iniciativa de autodidacta. O seu republicanismo viria já de antes, pois foi a ele que atribuíram o encargo de fazer o resisto civil (que seria uma recompensa pelo seu empenho em favor do regime).
Cândido Manuel dos Santos, em conversa com o P.e Humberto, apreciou do seguinte modo a actuação da Alexandrina no cargo de catequista, quando aí pelos seus doze anos lho entregaram:
"Tinha tal jeito para tratar com crianças e falar-lhes nas coisas de Deus que elas fugiam frequentemente das outras catequistas para se juntarem ao grupo das alunas da Alexandrina".
Ao que se afirma em Balasar, um dos méritos do P.e Leopoldino como pároco foi o de não hostilizar os republicanos, com quem convivia sem reparos. É de crer que também Cândido dos Santos tenha beneficiado dessas atenções.
Esta breve nota sobre Cândido Manuel dos Santos deve ser vista como uma pequena achega para o estudo do que foi a República em Balasar, para o que ajudará muito a leituras das actas da Junta de Freguesia. Tanto quanto sabemos, a imprensa poveira desse período não adianta muito para este efeito.

domingo, 2 de maio de 2010

Siglas poveiras na antiga porta da Capela da Santa Cruz em Balasar

Já está em linha o artigo sobre o farmacêutico que tratou a pequena Alexandrina quando se feriu ao lado da boca.
Segundo a Wikipédia, a antiga porta da Capela da Santa Cruz era um vasto quadro de siglas poveiras(veja-se tipos de siglas)
A imagem que aqui colocamos, de um livro de A. Santos Graça intitulado Inscrições Tumulares por Siglas, dá-nos uma ideia do que seria tal porta.