Cândido Manuel dos Santos (14/12/1892-16/8/1966) era balasarense e morava onde está hoje a residência paroquial, não longe da casa da Alexandrina, no Calvário; devia conhecê-la muito bem. Ainda estava vivo aquando dos preparativos para o Processo Informativo Diocesano.
Na sequência do fracasso da chamada Monarquia do Norte, em 1918, tomou decidida atitude de defesa do regime vitorioso e quis ser correspondente da freguesia para o jornal poveiro A Sentinela. Veja-se um pouco da sua prosa saída em 19 de Outubro de 1919:
“Paciência, para mim tudo quanto seja a defesa da República me é simpático, mas uma defesa sincera e persistente. Antes, porém, de iniciar as minhas correspondências, cumpre-me saudar o ilustre corpo redactorial de A Sentinela; saúdo com uma saudação que me vai da alma por ver que desse ilustre corpo fazem parte verdadeiros republicanos, que não se importam de arrostar com grandes sacrifícios para defesa da República. Em segundo lugar, peço antecipadamente aos meus queridos leitores que me desculpem alguma falta involuntária que possa cometer”.
E acrescentou ainda, falando na terceira pessoa:
“A fim de assistir ao Congresso do Partido Republicano Português, partem na próxima sexta-feira para Lisboa os nossos prezados correligionários Carlos da Costa Reis, António da Costa Faria e Cândido Manuel dos Santos, que ali vão representar esta freguesia”.
Cândido Manuel dos Santos não ia para Lisboa bem acompanhado. De Carlos da Costa Reis ou Carlos da Torre, que era de Gresufes, contam-nos que era dado a larga libertinagem e António da Costa Faria, pouco tempo antes, foi um dos três homens que entraram violentamente na casa da Alexandrina, provocando o pânico que a levou ao famoso salto.
Era de poucas posses este ocasional correspondente d’A Sentinela, mas alguns estudos haveria de ter, nem que fosse por iniciativa de autodidacta. O seu republicanismo viria já de antes, pois foi a ele que atribuíram o encargo de fazer o resisto civil (que seria uma recompensa pelo seu empenho em favor do regime).
Cândido Manuel dos Santos, em conversa com o P.e Humberto, apreciou do seguinte modo a actuação da Alexandrina no cargo de catequista, quando aí pelos seus doze anos lho entregaram:
"Tinha tal jeito para tratar com crianças e falar-lhes nas coisas de Deus que elas fugiam frequentemente das outras catequistas para se juntarem ao grupo das alunas da Alexandrina".
Ao que se afirma em Balasar, um dos méritos do P.e Leopoldino como pároco foi o de não hostilizar os republicanos, com quem convivia sem reparos. É de crer que também Cândido dos Santos tenha beneficiado dessas atenções.
Esta breve nota sobre Cândido Manuel dos Santos deve ser vista como uma pequena achega para o estudo do que foi a República em Balasar, para o que ajudará muito a leituras das actas da Junta de Freguesia. Tanto quanto sabemos, a imprensa poveira desse período não adianta muito para este efeito.
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