quinta-feira, 31 de maio de 2012

O Salto (5)


Lino Ferreira (1884-1971)

Na biografia da Alexandrina, Lino Ferreira é sobretudo o seu desapiedado vizinho e patrão de alguns meses e um dos energúmenos que se quis aproveitar das jovens que trabalhavam na sala da casa da D. Ana, provocando o Salto da Alexandrina, origem da sua paraplegia. Anos antes chegara à inaudita baixeza de convidar esta adolescente para sua amante. Palavras dele recolhidas pelo P.e Humberto em Eis a Alexandrina:

Parece-me que foi uma vez, enquanto carregávamos um carro de mato num pinhal. Eu, por brincadeira (!), fiz a proposta à Alexandrina de ela consentir em ser a minha amante, o que é coisa muito comum e natural; mas a cachopa respondeu-me logo:
- Eu não! Não quero!
Ela não dava margem a coisas pouco boas.

Ao que ele chamou brincadeira apetece chamar crime.
Na Autobiografia o seu nome ocorre algumas vezes, mas a Alexandrina cala feitos como anterior, apesar da dureza com que o descreve:

O patrão era um perfeito carrasco; chamava-me nomes, obrigava-me a trabalhar mais do que as forças que tinha. Tinha mau génio e pouca paciência – até os animais o conheciam, porque batia-lhes e assustava-os, sendo quase impossível chamar o gado quando ele ia junto do gado. Envergonhava-me sem causa, fosse diante de quem fosse, e eu sentia-me humilhada. Apesar de estar no princípio da minha mocidade, não sentia alegria com aquele triste viver.
Um dia fui à azenha levar a fornada, mas era já noitinha quando lá cheguei e, portanto, muito tarde quando regressei a casa, pois gastava no caminho uma hora. Depois que cheguei a casa, ralhou-me muito, insultou-me e até me chamou ladra.

Para gastar tanto tempo a ir ao moleiro a fornada a moer, poderia ser o de Guardes, em vez do do Crespo.
Para nos elucidarem sobre a sua rudeza, contaram-nos que uma vez o Lino Ferreira chamou umas mulheres para trabalharem num campo, o da Valinha. Elas vieram e dirigiram-se para o trabalho.
Como entretanto ele não ia ao campo, alguém lhe chamou a atenção, mas ele respondeu que, como elas não lhe tinham vindo falar, para receber ordens, que fossem embora quando quisessem. Com certeza o que ele não queria era pagar-lhes.
Ao tempo da ida à Póvoa que a seguir se conta, a Alexandrina teria 12-13 anos:

Uma vez estive das dez horas da noite às quatro da manhã na Póvoa de Varzim a tomar conta de quatro juntas de bois, porque o patrão e um seu amigo ausentaram-se de mim; e eu, cheia de medo, lá passei aquelas horas tristíssimas da noite. Enquanto vigiava o gado, ia contemplando as estrelas que brilhavam muito e serviam de minhas companheiras.

Das dez horas às quatro da manhã, convém notar, são seis horas. E quatro juntas de bois são muitos animais.
Que fariam aqueles dois homens na noite poveira? É legítimo pensar o pior, isto é, em prostituição, mas podia ser coisa mais sofrível: comezaina, cavaqueira ou até política.
De facto, no início da República, Lino Ferreira envolveu-se na política como republicano “democrático”; após a Monarquia do Norte, presidiu à Junta de 1919 a 1923 e ainda havia de ser regedor.
Segundo notas laterais do seu assento de baptismo, ele era filho de José António Ferreira, do Calvário, e casou primeiro em 1909 com uma jovem de Bagunte (da casa do Capela, em Corvos) e, enviuvando em 1929, voltou a casar, em 1933, desta vez com uma balasarense. Enviuvou de novo em 1935.
Possuiu uma mercearia, facto a que a Alexandrina não alude.
O Lino Regueira, como lhe chamavam, que foi secretário dos “democráticos”, terá sido ocasional e anónimo correspondente d’O Comércio da Póvoa de Varzim.
Por altura do ataque aos protestantes, tratou a D. Ana com grande rudeza.
Uma vez o P.e Leopoldino, no princípio das suas correspondências para jornais poveiros, dá dele a imagem de um homem socialmente considerado. Tal resultaria ou de desconhecimento ou de vontade de o recuperar pois os testemunhos sobre a sua malvadez dão pouca margem a dúvidas sobre a sua pessoa.
Escreveu o P.e Humberto que Lino Ferreira era (“conforme se soube de fonte segura”), pessoa “muito astuta e hipócrita a ponto de incutir medo às pessoas de bem; foi escolhido frequentes vezes para depor como testemunha no tribunal”.

quarta-feira, 30 de maio de 2012

O Salto (4)


A narrativa do Salto contada pela Rosalina

Rosalina Gonçalves de Almeida era aprendiz de costureira na sala da casa de D. Ana no momento do Salto. Das três jovens, era a de mais idade. Um dia contou o episódio ao P.e Humberto.

Teria eu os meus 19 anos, encontrei-me com a Deolinda e a Alexandrina nesta sala. A Deolinda costurava à máquina, a Alexandrina passava a ferro e eu costurava à mão.
A certa altura, a Deolinda notou a presença de três homens na estrada. Estavam parados e pelos gestos deles a Deolinda ficou preocupada e levantou-se imediatamente e foi fechar a porta da casa, uma vez que já não tinha tempo de ir fechar a do caminho.
Meu dito, meu feito: um dos homens, bateu à porta e à pergunta da Deolinda – Quem está aí? – respondeu:
- Seu criado, faz favor.
E Deolinda:
- A porta não se abre. Você não tem cá obra.
E a Deolinda retomou o trabalho.
Momentos depois, o mesmo, que conhecia bem o interior da casa por morar pertinho, tentou entrar pelo alçapão que dá para esta sala.
Ao sentir gente lá debaixo, a Deolinda puxou a máquina sobre o alçapão. Então o atrevido pegou num maço e começou a bater até arrebentar as tábuas do alçapão. Ao tentar segurar a máquina para ela não cair no buraco aberto, a Deolinda foi agarrada pelas saias e o assaltante, não a querendo deixar, foi arrastado pela Deolinda até perto da porta e só a largou ao magoar-se no braço. A Deolinda abriu a porta (para fugir) e entraram então os outros dois. De nada valeram os protestos da Deolinda, como mestra da costura que era.
O outro, o solteiro, veio direito a mim e obrigou-me a sentar-me nos seus joelhos – havia aqui na sala uma cama de ferro.
Ao ver isto, a Alexandrina, num rápido, saltou pela janela. A Deolinda deu um grito e saiu pela porta fora. Entretanto, a Alexandrina veio de volta com um arejão na mão e a chorar, protestando que lhe tinham feito perder uma aliança. Chamou-lhe cães e ameaçou que gritaria se não se fossem embora. Um deles mostrou-lhe a mão cheia de anéis e disse-lhe:
- Perdeste o anel? Escolhe aqui um.
A Alexandrina recusou desdenhosamente e então eles foram-se embora.

O homem solteiro era o Camilo da Costa Faria, o casado, certamente o dos anéis, chamava-se António da Costa Faria e devia ser irmão.

terça-feira, 29 de maio de 2012

O Salto (3)

Jovem Alexandrina


A sua segunda filha de D. Ana há-de ter sido uma adolescente e uma jovem atraente. Os Signoriles descrevem-na assim ao tempo da cura na Póvoa, uns dois anos após o Salto:

A Alexandrina não era mais a menina de 7-8 anos, mas uma bela jovem, com fartos e longos cabelos negros que emolduram um vulto expressivo, avivado por dois olhos negros, vivos, luminosos e que às vezes o sorriso ilumina com uma bela fila de dentes branquíssimos.

Era alta e bem proporcionada, vigorosa e determinada, briosa e inteligente quanto baste, folgazã e sensível (na verdade, dotada de veia lírica), apaixonada pelo trabalho.
O facto de ter na irmã uma boa costureira também ajudaria ao seu visual.
Com razão concluem os mesmos Signoriles:

É por isso compreensível que fosse objecto de atenções da parte de jovens, mesmo sérios.

Na Autobiografia, ela mesma dá notícia de vários pretendentes que a cortejaram.
Uma vez conta esta brincadeira:

Com os meus dezasseis anos, e já doente, fui à casa de uma vizinha onde minha irmã estava a trabalhar de costura. Ao deparar com um fato de rapaz, vesti-o e apareci junto da minha irmã e da dona da casa. Riram-se a escangalhar. Depois disse-me a dona da casa:
- Olha, vai pela estrada fora, que os meus filhos e o meu marido andam a podar as videiras por cima da estrada.
Eu pensei que me conheceriam, mas resolvi e fui. Os senhores não me reconheceram e, muito admirados, pararam de trabalhar, para ver se conheciam o cavalheiro. Da janela da casa, minha irmã e a dona da casa encheram-se de rir.

Entre outras histórias, conta também este jogo de força:

Quando tinha doze ou treze anos, tinha muita força. Um homem começou a fazer-se muito forte com outras raparigas. Ele estava sentado. Eu dirigi-me a ele e voltei-o. Ele pôs-se a gritar: “Deixa-me! Deixa-me!” Mas deixei-o só quando quis. O meu fim era só: como ele era homem, que mostrasse a sua força.

Para o caso do Salto, convém ter presente que, em termos práticos, a Alexandrina era órfã de pai. Isto dá um carácter ainda mais sabujo ao acto dos três energúmenos. Se o pai por lá estivesse, o Lino Ferreira não chegaria ao atrevimento de rebentar o alçapão à martelada.
A mãe da Alexandrina era uma mãe solteira, mas o seu porte irrepreensível garantia-lhe o direito a ser respeitada. E não era propriamente pobre: possuía uma pequena casa e alguns terrenos para cultivo.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

O Salto (2)


A narrativa do Salto contada pela Beata Alexandrina

Uma ocasião, estando eu, minha irmã e uma pequena mais velha que nós a trabalhar na costura, avistámos três homens: o que tinha sido meu patrão, outro casado e um terceiro solteiro. Minha irmã, percebendo alguma coisa e vendo-os seguir o nosso caminho, mandou-me fechar a porta da sala.
Instantes depois, sentimos que eles subiam as escadas que davam para a sala e bateram à porta. Falou-lhes minha irmã. O que tinha sido meu patrão mandou abrir, mas, como não tivessem lá obra, não lhes abrimos a porta. O meu antigo patrão conhecia bem a casa e subiu por umas escadas pelo interior da habitação e os outros ficaram à porta onde tinham batido. Ele, não podendo entrar pelo interior por um alçapão que estava fechado e resguardado por uma máquina de costura, pegou num maço e deu fortes pancadas nas tábuas até rebentar o alçapão, tentando passar por aí.
Minha irmã, ao ver isto, abriu a porta da sala para fugir, mas essa ficou presa, e eu, ao ver tudo isto, saltei pela janela que estava aberta e que deitava para o quintal. Sofri um grande abalo porque a janela distava do chão quatro metros. Quis levantar-me logo, mas não pude, porque me deu uma forte dor na barriga. Com o salto caiu-me o anel que usava, sem dar por ela.
Cheia de coragem, peguei num pau e entrei pela porta do quintal para o eirado onde estava a minha irmã a discutir com os dois casados. A outra pequena estava na sala com o solteiro. Eu aproximei-me deles e chamei-lhes cães e disse que ou deixavam vir a pequena ou então gritava contra eles. Aceitaram a proposta e deixaram-na ir.
Foi nesta altura que dei pela falta do anel e disse-lhes de novo:
- Seus cães, por vossa causa perdi o meu anel.
Um deles, que trazia os dedos cheios de anéis, disse-me:
- Escolhe daqui um.
Mas eu, toda zangada, respondi:
- Não quero.
Não lhes demos mais confiança; eles retiraram-se e nós continuámos a trabalhar.
De tudo isto não contámos a ninguém, mas minha mãe veio a saber tudo.
Pouco depois, comecei a sofrer mais e toda a gente dizia que foi do salto que dei. Os médicos também afirmaram que muito concorrera para a minha doença.

Alçapão – portinhola horizontal que permite a comunicação entre dois pavimentos.
Eirado – espaço aberto das casas de lavoura para onde davam as portas das cortes do gado. Tradicionalmente, cobria-se de mato que, apodrecendo aí, era depois utilizado como estrume.

Ao centro da imagem, a janela do Salto.

domingo, 27 de maio de 2012

O Salto (1)

Fraquezas humanas


Em Sábado Santo de 1918, a Beata Alexandrina, com catorze anos, foi vítima do desregramento de três seus conterrâneos e isso veio a prostrá-la no leito de doente durante três décadas. Que horror!
Mas antes de nascer já fora vítima do desregramento dos pais e, em particular, do pai, que nunca assumiu a tarefa da sua paternidade, antes cobardemente se apressou a casar com outra mulher.
Do estudo que andamos a fazer da freguesia, verificamos que o desrespeito pontual pelas normas cristãs da sexualidade vem de muito longe (noutras terras não seria muito diferente).
No começo do séc. XVIII, nos quase 200 baptismos efectuados em duas décadas, perto de um décimo das crianças baptizadas eram filhas de mães solteiras. E essa chaga, embora viesse a diminuir, manteve-se.
Mas mais, não eram só os comuns fiéis a desrespeitar tais normas. Como se sabe, na origem da casa de D. Benta está a filha dum pároco; e conhecem-se os nomes de mais dois párocos da freguesia que também tiveram filhos.
Estas fraquezas humanas, especialmente entre aqueles que a gente gostava de ver como modelos de vida cristã, nem devem causar-nos um espanto muito grande. Basta recordar o que se passou com os apóstolos: um traiu Jesus, vendendo-O, Pedro negou que O conhecia num momento em que isso lhe podia ser de grave ameaça e os outros, na mesma hora de dificuldade, fugiram (certo é contudo que, à parte Judas, os restantes acabaram perder o receio e foram mártires, isto é, deram a vida na defesa da verdade).
Honra portanto àqueles e àquelas que, como a Alexandrina, saem vencedores das dificuldades e também aos que, se alguma vez fraquejaram, depois se levantaram para não voltar a cair.
A violência que se pretendia cometer contra a Alexandrina e as suas companheiras tem alguma coisa a ver com os tempos da República, que parece ter dado origem a um grupo de notória libertinagem na freguesia, a que creio que chamavam o Grupo da Vermelhinha. Não é por acaso que um homem de uma malvadez tão entranhada como o Lino Ferreira se torna Presidente da Junta logo após a Monarquia do Norte (presidiu de 2 de Fevereiro de 1919 a 26 de Novembro de 1923). António da Costa Faria, outro do grupo dos energúmenos, em meados de Outubro de 1919 foi a Lisboa assistir ao Congresso do Partido Republicano Português, na companhia de Carlos da Costa Reis, de má memória, e desse “pardal” que foi Cândido dos Santos. 

sábado, 26 de maio de 2012

Três fotografias antigas


Há uma fotografia célebre, tirada em Balasar em 1929, a dos fundadores da Feira das Fontainhas; saiu inclusive numa publicação da CP da altura. Ela assinala um momento marcante da história daquele lugar. Talvez até aí ninguém na freguesia tivesse sido fotografado.
A Beata Alexandrina também foi então fotografada. Verdadeiramente, não é certo se o foi nesse ano ou no seguinte, mas inclinamo-nos a crer que foi o mesmo fotógrafo e no mesmo ano. Ela tem nas mãos um ramo de flores, em vez do crucifixo, que vai passar a ser uma sua marca.
Uma terceira fotografia antiga tirada em Balasar foi a da inauguração da Cruzada Eucarística em 1933. O P.e Leopoldino tinha chegado há pouco e, em colaboração com o P.e Pinho e vários balasarenses, pôs em marcha o grupo local da Cruzada.
O mais antigo fotógrafo de que temos conhecimento na freguesia foi Cândido dos Santos ou Cândido Pardal, mas o P.e Pinho também teve máquina fotográfica. A da Cruzada Eucarística pode ter sido tirada por ele. Das outras duas não sabemos quem fosse o fotógrafo, Cândido dos Santos talvez só tenha adquirido a máquina mais tarde.
Luís Joaquim de Oliveira, o Cirurgião da Bicha, foi fotografado em anos bem anteriores, mas tê-lo-á sido acaso em Famalicão, Póvoa ou até Porto.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

A Igreja do Matinho


A Beata Alexandrina foi baptizada na Igreja do Matinho, a que precedeu a actual e que ficava na parte nascente do cemitério paroquial. Como os materiais dessa igreja foram aproveitados na nova construção, dela conservam-se apenas imagens e alguma informação escrita.
Nos anos iniciais do século XVIII, a capela-mor da Igreja do Matinho estava arruinada e os balasarenses pressionaram o comendador a restaurá-la, como era sua obrigação. De facto, foi inteiramente refeita.
Em princípios de 1736, “os moradores da freguesia de Santa Eulália de Balasar” requereram a Braga licença para o pároco benzer a nova capela-mor. Não se pode garantir a transcrição fiel da totalidade das palavras do pedido pois a cópia que dele se conserva no arquivo distrital é de leitura muito difícil, mas foi mais ou menos nestes termos que eles se dirigiram à autoridade eclesiástica:

Ilustríssimo Senhor
Dizem os moradores da freguesia de Santa Eulália de Balasar, termo de Barcelos, Arcebispado Primaz, que arruinando-se a capela-mor da sua igreja e freguesia e para haver de se reparar foi necessário erigi-la sendo de novo feita e acabada e juntamente (?), telhada e caiada, com seu altar feito e tribuna benzida, capaz para nela se poder celebrar o Santo Sacrifício da Missa, pelo que pede a Vossa Ilustríssima seja servido conceder-lhe licença para se benzer e dizer nela e celebrar o Santo Sacrifício da Missa.

A licença veio só dois anos depois. E deve ter sido ainda alguns anos mais tarde que a paróquia decidiu refazer também o corpo da igreja, que de três naves passou então a uma só.

A imagem da padroeira ao cimo foi pintada de novo em tempo recente e profundamente desfigurada face ao que aqui se vê. Deve ter vindo da Igreja do Matinho.

terça-feira, 22 de maio de 2012

A palavra Balasar


Tradicionalmente escreveu-se Balazar, com z, hoje sabe-se que se deve escrever Balasar, com s, pois na remota origem da palavra está o étimo grego Belisarios.
Mas houve alguma vez em Balasar um homem com este nome ou com o nome na sua forma latinizada Belisarius? Com certeza não, o que houve foi um homem chamado Belsar (ler-se-ia Belzar). Se Belsar tivesse alguma vez feito compras ou vendas de propriedades, e é capaz de ter feito, no latim tabeliónico, obrigatório nos documentos, alatinavam-lhe o nome para Belisarius, mas ele continuava a ser o Sr. Belsar. 
Os documentos antigos escreveram o nome da freguesia de muitas formas: a mais próxima da origem foi Belesar, mas ao seu lado ocorria já Balasar. Não sabemos por que caminhos, a forma que vingou foi esta última.
Quando terá vivido Belsar? Com certeza em fins do século XII e princípios do XIII. A igreja de Santa Eulália de Belsar deve ter ficado pronta em 1215 e foi com certeza ele que promoveu a sua construção.
Como se chega a esta data? Há um documento de 1215 que fala duns moinhos em Guardes e que, a terminar, informa que o emprazamento deles foi feito no ano em que a igreja foi concluída – pressupõe-se que era a de Balasar, ou antes, de Belsar.
E onde viveu Belsar? Ignoramos. A igreja construída foi a do Matinho.

Tuitio Fidei


Estivemos hoje na casa da Tuitio Fidei em Vila Pouca, Balasar: há lá obras em curso e sobretudo uma grande vontade de divulgar a Beata Alexandrina.

sábado, 19 de maio de 2012

Capela de Nossa da Senhora da Piedade, no Casal


Ao modo do que se passou em 1834 com a capela do Senhor da Cruz, também um século antes foi necessário fazer complexas diligências para obter de Braga a autorização para a erecção da Capela de Nossa Senhora da Piedade no lugar do Casal. A iniciativa da erecção foi de António da Costa Soares, dono duma quinta e cerca naquele lugar, mas residente no Porto onde devia possuir um negócio rendoso: era mestre serigueiro, isto é, naquele tempo da ostentação barroca trabalhava em sedas. Mas deve ser o mesmo em 1749 é referido como capitão num assento de baptismo duma filha de Manuel Nunes e talvez o sargento-mor dum assente de óbito posterior.
No processo ocorre uma vez o nome do P.e Eusébio António Soares, que devia ser familiar muito próximo de António da Costa Soares. Até se pode alvitrar que a capela tenha sido erigida, ao menos em parte, para ele ter nela alguma fonte de rendimento.
O documento da capela da Senhora da Piedade tem dezassete páginas: é um dossiê constituído por vários outros documentos menores. O primeiro é a petição dirigida a Braga a solicitar autorização para a construção e data de 1735, tempo ainda do reitor António da Silva. Seguem-se pedidos de esclarecimento da parte de Braga e as respectivas respostas (a última das quais já é assinada pelo reitor António da Silva e Sousa) bem como três escrituras de dotação de bens que haviam de garantir a subsistência económica do pequeno templo. A concluir, vem a provisão, que é a autorização para se levantar a capela.
Sobre esta capela, escreveu em 1758 o reitor da freguesia, quando ela tinha apenas uns vinte anos:

Tem [a freguesia] uma ermida da Senhora da Piedade, sita no lugar do Casal, que é anexa da igreja paroquial de que se trata.
A romagem que acorre à dita ermida é somente no primeiro domingo de Agosto, quando se faz a festa à mesma Senhora.

Mas pode-se dizer que de algum modo a capela de Nossa Senhora da Piedade antecipa a da Santa Cruz - a da Santa Cruz antecipa a Beata Alexandrina.


Ilustração - Imagem de Nossa Senhora da Piedade que se venerou no Casal.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

A Igreja, sempre combatida, nunca vencida até ao fim dos séculos


A vaga de hedonismo parece submergir tudo. Os inimigos da Igreja não desarmam e apresentam como vitórias o que devia ser a sua humilhação: aborto, homossexualidade, gula, luxúria desenfreada…
Perante isto, a juventude nem imagina alternativa.
Mas eles não passarão. De acordo com as palavras de Nossa Senhora em Fátima:
Por fim, o Meu Imaculado Coração triunfará.
É uma afirmação semelhante à de Jesus à Beata Alexandrina:
Coragem, minha filha! Escuta a afirmação do teu Jesus, o Esposo da tua alma:
A tua vida é semelhante à da Santa Igreja, a Igreja, sempre combatida, nunca vencida até ao fim dos séculos.
A tua vida, a minha divina causa, sempre perseguida, adiada, combatida, há-de vencer, há-de triunfar até ao fim dos séculos e depois por toda a eternidade! S 15/10/1954
Segundo o Evangelho, as forças do Inferno não prevalecerão.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

10 000 Visitas


No passado sábado, dia 12, esta página de notícias da Beata Alexandrina, começada em 7 de Abril de 2010, atingiu as 10 000 visitas, desde a sua origem. Talvez mais interessante que o número em si seja a procedência dos visitantes. Os dez países mais assíduos foram estes, em números de hoje: Portugal, com 5 340 visitas; Brasil, com 2 275; EUA, com 693; França, com 454; Rússia, com 293; Alemanha, com 235; Reino Unido, com 59; Canadá, com 54; Itália, com 45; Índia, com 38.
Os números das visitas dos EUA, da Rússia e até da Índia parecem-nos os mais surpreendentes.
Duas causas há que actualmente nos dificultam a recolha de notícias ou a abordagem de temas especificamente relativos à Beata Alexandrina: por um lado, irmos agora menos a Balasar e, por outro, absorver-nos o estudo da história da freguesia.
Não sabemos quando é que este estudo atingirá o seu termo, mas entendemos que ele virá a constituir uma útil base para aprofundar vários aspectos da biografia da Beata de Balasar e que acabará por proporcionar inesperados motivos de interesse para o visitante que lá se dirige.
Ultimamente, tomámos conhecimento da existência de alguns documentos relevantes para a história de Balasar, como o tombo de 1542, um documento relativo à Igreja do Matinho, outro à Capela da Senhora da Piedade, etc.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

S. PEDRO DE RATES E A SUA FONTE NO CASAL

Um mártir em Balasar?

Desde muito antes da Beata Alexandrina e da Santa Cruz, os balasarenes acreditaram que a sua terra fora sobrenaturalmente beneficiada: S. Pedro de Rates, um santo mártir da era apostólica, teria deixado aí uma milagrosa marca da sua passagem. Um grande santo, que era o padroeiro da milenária Arquidiocese de Braga. A Vila de Rates poderia gloriar-se de possuir o seu túmulo, mas Balasar possuía o testemunho palpável dum milagre seu.
Só que…

O mundo da lenda

Quando uma lenda passa por ser verdade, deve-se rejeitar. Mas não é a mesma coisa se sabe bem que ela é lenda.
Quem não ouviu falar já da Lenda do Galo de Barcelos? É lenda, mas proporciona grande proveito aos barcelenses...
De Santa Clara de Vila do Conde, conhecem-se ao menos duas belas lendas: a da Abadessa Berengária, sobre a qual Joaquim Pacheco Neves escreveu uma original peça dramática, e a da Menina do Merendeiro.
Do Mosteiro de Vilar de Frades, há a famosa Lenda do Monge e o Passarinho.
É como lenda que se o conta a origem da Capela da Senhora das Neves, ao lado de Balasar.
Há lendas de âmbito local, mas há muitas de âmbito nacional, como a do rimance Nau Catrineta, por exemplo, a da Batalha de Ourique, que Camões tomou como verdade n’Os Lusíadas, a lenda sebastianista, etc., etc.
Na Galiza é importantíssima a lenda sobre S. Tiago, em Compostela.
O mundo da lenda é um mundo onde a fantasia refaz a realidade.

A lenda de S. Pedro de Rates

Conta-se que S. Pedro de Rates foi convertido ao Cristianismo pelo Apóstolo S. Tiago aquando da sua peregrinação pela Hispânia, no século I. Durante essa viagem, cumprindo a missão de difundir a mensagem de Cristo, morto e ressuscitado havia pouco tempo, foi deixando sementes que germinaram e fortaleceram as raízes da Igreja, num império hostil à nova fé. S. Pedro de Rates seria um dos sete varões ordenados pelo Apóstolo, em Santiago de Compostela, e nomeado Bispo de Braga.
Na lenda, o episódio que fez dele um mártir teve origem num milagre: solicitado para curar de doença fatal a filha de um poderoso pagão, S. Pedro de Rates conseguiu-lhe tal dádiva. Reconhecida, a jovem converteu-se ao Cristianismo, o que causou a ira do pai e consequente vingança. Avisado, o santo refugiou-se em Rates, mas foi aí encontrado e morto. Ficou sepultado sob as ruínas da pequena capela onde tudo aconteceu, que foi destruída.
Séculos mais tarde, do alto do monte onde se refugiara, o eremita S. Félix de Laundos vislumbrava uma luz na escuridão. Guiado pela curiosidade e pela convicção de um chamamento divino, dirigiu-se ao local, procedeu à remoção das pedras e encontrou a razão do clarão: o corpo de S. Pedro de Rates.

Como entra a Fonte do Casal na lenda

Cerca do ano 1700, o P.e Carvalho da Costa explicou como a Fonte do Casal entrava na lenda de S. Pedro de Rates:

Na aldeia do Casal está a fonte em que São Pedro de Rates estava de joelhos, bebendo, quando os tiranos vinham atrás dele, de Braga, para o matarem, e foi Deus servido de que o não vissem, estando patente à vista. Dizem que duas covinhas que tem são de seus santos joelhos.
Vêm a esta fonte muitos enfermos de maleitas e, bebendo dela, voltam livres do achaque.

A serem verdade tão manifesto milagre do santo e as subsequentes curas, justificava-se a grande veneração de que essa nascente gozou.
As Memórias Paroquiais dão notícia da fonte nestes termos:

Bebem os moradores duma fonte a que dão o nome de S. Pedro de Rates: há aqui uma pedra com uma pegada estampada, a qual dizem ser do Santo de que a fonte tomou o nome; e, tirando a pedra em certa ocasião, dizem secara de todo e não lançara mais água senão quando se lhe tornou a pôr. Tem o povo grande fé com esta água e dizem que bebendo-a tira as maleitas, de que há repetidas experiências. (1736)
Há nesta freguesia, no lugar do Casal, uma celebrada fonte, chamada de S. Pedro, cuja água é milagrosa para os doentes de sezões e terçãs, como se experimenta bebendo-a com fé e devoção ao mesmo Apóstolo (…). (1758)

Está-se no campo da pura lenda, mas, lenda por lenda, a versão do P.e Carvalho da Costa era mais maravilhosa e completa.
Em 1736, o pároco, o P.e António da Silva e Sousa, fala apenas do milagre da pedra que se tira e se volta a colocar e que condiciona o fluxo da água e até das curas, mas adossa tudo ao povo, embora falando de “repetidas experiências”. S. Pedro de Rates não é taxativamente identificado com o Apóstolo homónimo, mas identifica-o em 1758 (ao menos assim parece); nesta data, a água continua com o seu poder curativo.
Se tudo isto fosse verdade, seria uma extraordinária verdade[1].

Devoção a S. Pedro de Rates em Balasar

Houve devoção a S. Pedro de Rates em Balasar: testemunham-na o P.e Carvalho da Costa e o autor das memórias paroquiais. O primeiro fala até com bastante clareza num peregrinar dirigido à fonte.
Mas, ao lado da intercessão que visava a vida terrena, também se lhe pedia a intercessão para depois da morte: no séc. XVIII, dão disso testemunho os assentos de óbito, no séc. XIX, os testamentos.
Em 11 de Abril de 1745, Custódia, de Gestrins, deixou que se celebrassem por sua alma “oito missas a S. Pedro de Rates, ditas em Braga, no altar privilegiado”; em 30 de Março de 1758, outra senhora estipulou que se “dissessem por sua alma cinco missas no altar privilegiado de S. Pedro de Rates em Braga”; Maria, solteira, de Guardinhos, falecida em 4 de Agosto de 1761, deixou “uma missa rezada a S. Pedro de Rates”; em 1762, uma tal Margarida Gonçalves, natural de Rio Mau, mas residente em Escariz, falecida a 21 de Julho, deixa também uma missa a “S. Pedro de Rates, dita no seu altar, em Braga”.
Haveria certamente mais casos do mesmo século. Mas Manuel Nunes não deixou nenhuma missa com esta intenção, do mesmo modo procedendo um padre balasarense de nome Valentim Rodrigues da Costa.
Nos testamentos do séc. XIX, são frequentes as missas em honra de S. Pedro de Rates, mas muitas vezes é uma só, como aconteceu com Custódio José da Costa:

E logo que eu faleça se dirá uma missa rezada no altar de São Pedro de Rates.

A urgência atribuída a esta missa deve-se a que S. Pedro de Rates era identificado com S. Pedro Apóstolo, o porteiro do Paraíso.
O Cirurgião da Bicha não deixou nenhuma.
Neste século parece ter chegado a existir na freguesia um altar privilegiado do santo, naturalmente com imagem, mas nas décadas finais a lenda deve ter caído em descrédito - provavelmente algum pároco a terá desacreditado - e então a devoção a São Pedro de Rates apagou-se. Ao menos desapareceu dos testamentos. De facto, desde há muito que na diocese era manifesta, ao mais alto nível, a recusa das "patranhas e falsidades" que alimentavam lendas como a deste santo.
Convém também lembrar aqui que havia balasarenses que pagavam rendas a Rates. Aliás a ligação de Balasar a Rates era antiga e devia ser diversificada, até porque a sua igreja devia causar grande admiração pela sua relativa riqueza artística.

Perspectiva crítica

Em 20 de Outubro de 1985, S. Pedro de Rates foi substituído por S. Martinho de Dume como padroeiro da Arquidiocese de Braga. A sua lenda não resistiu à crítica histórica. Mas parece-nos que não se respondeu satisfatoriamente à questão: como é que tal lenda se gerou em Rates? Porquê em Rates? Se não há fumo sem fogo, qual foi o fogo que aí produziu tal fumo?
Como é que este santo lendário pôde ser alçado a padroeiro da diocese se não havia mesmo nada que garantisse o seu carácter histórico?
Mas os estudiosos, que saibamos, não encontraram qualquer notícia do santo nas muitas esculturas dos capitéis e arcos da igreja nem vestígios do seu túmulo.
A tentativa de associar S. Pedro de Rates ao Bispo D. Pedro, o restaurador da Diocese de Braga no séc. XI, falhou[2].
A Fonte de S. Pedro, em Balasar, aponta para um episódio secundário da vida deste problemático santo.
Cavidades em pedras com desenhos vagamente semelhantes a partes do corpo humano[3] impressionaram as mentes populares, gerando lendas. Curioso é que estas sofreram por vezes adaptações com as mudanças de pensamento religioso. No caso da Fonte de S. Pedro de Rates, também é possível que tenha havido adaptação de algo anterior, o que de modo nenhuma a desvalorizaria, bem ao contrário.
O culto a São Pedro de Rates teve pouca expressão na diocese: ele foi venerado em Rates, na Sé de Braga, em Balasar e numa capela em Vila Nova de Cerveira.
No quinto volume da Etnografia Portuguesa[4], a monumental obra de José Leite de Vasconcelos, a Fonte de S. Pedro vem mencionada duas vezes entre as “fontes santas”; na primeira ocorrência, é chamada “Fonte de Balasar”, na segunda, “Fonte de S. Pedro, na Quinta da Piedade”. Uma nota a esta segunda ocorrência envia para duas referências bibliográficas, uma delas em alemão[5].
Balasar deve redescobrir e valorizar esta lenda, e isso implica restaurar a Fonte de S. Pedro.


Imagens de cima para baixo:


Imagem de S. Pedro de Rates, o antigo padroeiro da Arquidiocese de Braga, que se venera na Igreja da Vila de Rates.
Esta imagem que nos mostraram na Casa do Carvalho pode bem ter sido venerada como representando S. Pedro de Rates.
Em 1745, Custódia, solteira, de Gestrins, deixa “oito missas a São Pedro de Rates, ditas em Braga no altar privilegiado”.
Fragmento da primeira página d'O Notícias da Póvoa de Varzim, de 15 de Maio de 1985, a anunciar a substituição S. Pedro de Rates por S. Martinho de Dume no lugar de padroeiro da Arquidiocese de Braga.


[1] A España Sagrada, de Fr. Henrique Florez, Madrid, 1759, tomo XV, páginas 96 e seguintes (reeditada em fac-símile em Lisboa, em 2004), que é um texto bastante crítico, também afirma a historicidade de S. Pedro de Rates.
[2] COSTA, Avelino de Jesus da – O Bispo D. Pedro e a Organização da Arquidiocese de Braga, 2.ª ed., Braga, 1997, vol. I, páginas 502 a 511.
[3] Note-se que para o P.e Carvalho da Costa as marcas da Fonte de S. Pedro eram covinhas que representavam os joelhos de S. Pedro, já para o pároco P.e António da Silva e Sousa tratava-se duma pegada estampada na pedra. Coisas bastante diferentes.
[4] Páginas 132 e 134.
[5] 

quarta-feira, 9 de maio de 2012

“Fatima Prayer Book”, de Leo Madigan


Agora que caminhamos para o centenário das Aparições de Fátima, foi com muito gosto que recebemos do nosso amigo e colaborador Leo Madigan a recente edição (a oitava) do seu livro Fatima Prayer Book. Este escritor, a quem a divulgação da mensagem de Fátima muito deve desde há anos, já nos tinha enviado The Fatima Guide, além, naturalmente, de Blessed Alexandrina da Costa: the mystical Martyr of Fatima, sempre edições da Ophel Books.
Jesus afirmou uma vez à Beata Alexandrina: “Só Ela lhe poderá valer”; o que no contexto significava: Só a Mãe de Deus poderá valer ao mundo. Este mundo ocidental enlouquecido, que recusa Deus e promove com orgulho práticas que se opõem do modo mais frontal à sua tradição cristã, precisa prementemente de se voltar para Ela na penitência e na oração. Fatima Prayer Book é um vade-mecum para o peregrino que vem à Cova de Iria: contém aquele conjunto de orações mais comuns que toda a cristandade reza, com algumas particularidades de Fátima.
Na página 7, recorda-se esta afirmação do Papa Bento XVI: “As aparições de Nossa Senhora em Fátima, com o seu veemente apelo à conversão e penitência, são sem dúvida as mais proféticas das aparições modernas”. Mas sem oração não haverá conversão nem penitência.
A execução gráfica do livro é óptima, como é excelente a selecção das ilustrações.

domingo, 6 de maio de 2012

Uma explicação

Já lá vão cinco ou seis anos desde que começámos a estudar a história de Balasar. Nessa altura, percebemos que isso nos iria afastar do estudo mais intenso e quase exclusivo da Beata Alexandrina.
Mas, se se reparar bem, o P.e Mariano Pinho escreveu uma biografia da mesma Alexandrina quase sem mais balasarenses que a biografada; já o P.e Humberto deu um espaço de mais de visibilidade a algumas figuras da freguesia e, ao ritmo em que ia avançando no conhecimento da realidade que a envolveu, esse espaço crescia, como se vê com muita clareza pelo livro Eis a Alexandrina!
Do nosso estudo sobre Balasar esperamos que proporcione um quadro muito amplo que as futuras biografias poderão considerar. Entretanto, procuraremos garantir aqui o fundamental.
Em 2009, o estudo sobre Balasar chegou a estar quase pronto a nível de tipografia, mas depois a edição foi suspensa. Para nós, acabou por ser bom, pois ele entretanto ampliou-se muito. De momento, não vemos que alguém o venha a publicar, mas é muito bom que esteja feito.
Prevê-se que no próximo Agosto haja em Balasar uma exposição sobre a freguesia; esperamos contribuir com uma palestra.
No Arquivo Distrital de Braga, existem documentos importantes sobre Balasar, nomeadamente um tombo de 1542, um documento sobre a Capela-mor da Igreja do Matinho e outro sobre a Capela da Senhora da Piedade.
Em 1542, estavam anexas a Balasar Gresufes e Gondifelos (presumimos que só S. Marinha).

sábado, 5 de maio de 2012

Quando a Alexandrina queria ir a Fátima

Hoje vimos alguns grupos de peregrinos a caminho de Fátima. Neste início de Maio, recordamos por isso aquele passo da Autobiografia em que, no ano de 1928, a jovem Alexandrina, não podendo ir, pede a quem vai que lhe traga de Fátima uma medalha.

Nesse ano, o Sr. Abade foi a Fátima e perguntou-me o que queria de lá. Pedi-lhe que me trouxesse uma medalha, mas ele ofereceu-me um terço, uma medalha, o Manual de Peregrino e alguma água de Fátima.
Sua Reverência aconselhou-me a fazer uma novena a Nossa Senhora e a beber água de Fátima com o fim de ser curada. Não fiz uma, mas muitas.
Cantava muito e dizia às pessoas vizinhas que me visitavam: se um dia me vissem pelo caminho e me ouvissem cantar, era eu que ia agradecer a Nossa Senhora o benefício que recebia.

Mesmo sem obter o milagre da cura, ela continuará sempre grata à Mãe de Deus.

Agora algumas palavras sobre a água que produz curas. Com razão ou não, a crença no poder curativo da água dos lugares santos está documentada no passado de Balasar. Era assim em relação è Fonte de S. Pedro de Rates. Por volta de 1700, escreveu o P.e Carvalho da Costa:

Vêm a esta fonte muitos enfermos de maleitas e, bebendo dela, voltam livres do achaque.

As memórias paroquiais também o registam:

Tem o povo grande fé com esta água e dizem que bebendo-a tira as maleitas, de que há repetidas experiências. (1736)
Há nesta freguesia, no lugar do Casal, uma celebrada fonte, chamada de S. Pedro, cuja água é milagrosa para os doentes de sezões e terçãs, como se experimenta bebendo-a com fé e devoção ao mesmo Apóstolo (…) (1758)

Esta tradição chegou à Etnografia Portuguesa onde Leite de Vasconcelos inclui a Fonte de S. Pedro entre as “fontes santas”.

Mas há um ex-voto que uma balasarense ofereceu em 1701 à Senhora das Neves da vizinha freguesia de Bagunte que também regista o poder curativo da água:


Milagre que fez Nossa Senhora das Neves a Domingas Gomes, mulher de Domingos Gomes, morador na freguesia de Balasar, termo de Barcelos, que estando a dita mulher muito doente de uma febre muito perigosa, se ofereceu (?) a Nossa Senhora das Neves e bebendo água da sua fonte, logo teve saúde. 1701.

Nas imagens, vê-se primeiro a cartela do ex-voto à Senhora das Neves e depois o ex-voto completo.