quarta-feira, 31 de outubro de 2012

De Balasar a Rates


Há alguns meses fizemos umas leituras sobre a Igreja românica de S. Pedro de Rates que nos impressionaram, sobretudo o que se refere ao tímpano do portal principal desta igreja.

Às vezes parece que há a ideia de que na Idade Média as pessoas eram todas cristãos praticantes e exemplares. Mas o nosso rei D. Afonso Henriques teve vários filhos fora do casamento, D. Sancho I a mesma coisa, D. Afonso III foi muito pior, D. Dinis foi também muito fraco marido. Se abrirmos o chamado Cancioneiro da Biblioteca Nacional, que é um livro muito grande e com poesia dos séculos XII, XIII e XIV, por cada cantiga decente que lá se encontra deve haver meia dúzia delas obscenas, ou mais. Nas Inquirições há comuns informações de roubos e às vezes de assassínios.
De facto, chegou-nos muita notícia de maldades que então se cometiam.
Ora o tímpano da Igreja de S. Pedro de Rates, que datará de cerca de 1220, parece um programa de ataque a este estado de coisas.
Ao centro, vê-se Cristo em Majestade ou o Pantocrátor, Cristo vencedor, ladeado pelos apóstolos S. Pedro e S. Paulo, o primeiro papa e o primeiro grande propagador do Cristianismo. Sob os pés de Cristo e dos apóstolos jazem dois homens, que os entendidos identificam como Ario e Judas. Ario foi um heresiarca e a sua heresia vigorou algum tempo na Península, sob os suevos. Judas representa o judaísmo, que pode ter tido relevância no período visigótico.
Ora, segundo os mesmos especialistas da história da arte, a imagem de Cristo em majestade apresentá-lo-á de acordo com estas palavras de um salmo: “Disse o Senhor ao meu Senhor: Senta-te à minha direita enquanto eu ponho os teus inimigos sob o escabelo dos teus pés”. Deus Pai promete a Cristo colocar-lhe os inimigos sob os pés, isto é, derrotá-los.
A mensagem é clara, a vitória de Cristo no passado sobre Ario e Judas garante a sua vitória no presente e no futuro.
Em capitéis do mesmo portal, representa-se o Tetramorfo, isto é, os símbolos dos Evangelistas, o que indica que essa vitória passa pelo Evangelho, pela sua divulgação.
Não está aqui, ao menos directamente, uma mensagem guerreira, de luta pelas armas contra os mouros, embora possa incluí-la, mas é antes uma mensagem para dentro das comunidades cristãs, para irem às fontes genuínas.
No tímpano da chamada porta sul, representa-se o Agnus Dei, o “Cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo”, do Evangelho de S. João, e o mesmo Cordeiro do Apocalipse, em cujo sangue os redimidos lavaram as suas vestes. E também aí terá estado representado o Tetramorfo.
Este segundo tímpano continua a mensagem do da porta principal, a do regresso ao Evangelho.
Sabemos que, apesar desta espécie de manifesto de luta, ali em Rates se desenvolveu a lenda de S. Pedro de Rates, a que andou associada a de S. Félix. E a lenda de S. Pedro de Rates teve um apêndice em Balasar. Em Bagunte, parece ser sobre uma lenda que se criou a ermida da Senhora das Neves, em S. Clara de Vila do Conde houve a Lenda da Berengária e outras.
É mais difícil estar com os Evangelhos, de um tempo e uma cultura distantes, do que com uma piedosa lenda do nosso lugar.
Esta mensagem, em imagens tão toscas, trazida pelos monges franceses de Cluny, é surpreendentemente actual, convidando os cristãos a seguir o caminho da verdade evangélica, na certeza de que a vitória os espera.
Muito curioso é tudo isto.
Ouçam-se estas palavras de um crítico de arte sobre o tímpano que serviu de ponto de partida para esta reflexão:
Talvez o mais interessante dos tímpanos portugueses seja o de S. Pedro de Rates, mosteiro de refundação beneditina do séc. XII que teve uma importância primordial na difusão artística da Ordem no Norte de Portugal, bem como um papel decisivo na “normalização” teológica e litúrgica empreendida pelos Beneditinos cluniacenses no novo reino peninsular, facto que ajuda a explicar o tema do tímpano do seu portal principal.
Jorge Rodrigues, História da Arte Portuguesa, direcção de Paulo Pereira, vol. I, páginas 268-269.
A Alexandrina conheceu certamente a Igreja de S. Pedro de Rates (Rates confronta com Balasar), que foi restaurada em finais dos anos de 1930, em tempo dela portanto, quando a paroquiava o P.e Arnaldo Moreira, que era bom músico e que ensaiou frequentemente o coro de Balasar.
Algumas vezes o órgão de Rates foi trazido por uma mulher, à cabeça, para tocar em Balasar.
Em fins de Outubro ou começos de Novembro de 1938, Salazar foi a Rates ver as obras do restauro.

Imagens a partir de cima: Igreja românica de S. Pedro de Rates, tímpano do portal principal da mesma e tímpano do portal sul.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Pagelas 4


Uma pagela poliglota

Esta é uma das pagelas mais antigas: com o mesmo texto, embora com alguma variação na imagem, foi editada quando a Alexandrina era ainda Serva de Deus, depois quando já era Venerável e por fim já Beata.
O primeiro Nihil obstat tem a assinatura de Molho de Faria e data de 1965, de quando o P.e Humberto já preparava o Processo Informativo Diocesano. Foi sem dúvida este que a preparou e conseguiu as traduções para italiano, espanhol, francês, inglês e alemão.
Houve tempo em que era disponibilizada com uma pequena relíquia.


segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Pagelas 3


Na Beatificação

Esta pagela, desdobrável, em três colunas, do Secretariado da Beatificação, é bastante cuidada, contém com muita informação e três ilustrações. Mas é negativo que nenhuma das duas fotografias da agora beata a mostre na cama e que ela seja chamada Alexandrina de Balasar.
Coloca-se a seguir um texto do antigo abade de Singeverga, D. Gabriel de Sousa, que frequentou a casa da Alexandrina. Dispusemo-lo em verso, como tínhamos feito para a pagela:

Uma flor que não seca

Às vezes, de visita a lugares célebres,
trago entre as folhas do canhenho
a pétala duma flor;
ela seca, perde o aroma,
e só fica a valorizá-la a data que se lhe inscreve.
Fui a Balasar um dia. Voltei uma segunda vez.
E também trouxe de lá,
entre as folhas do Livro de Horas de minha pobre vida,
uma pétala de lembrança.
Mas essa ainda não murchou,
ainda não perdeu o aroma:
a visão duma alma angelical,
através duns olhos de pureza,
como nesta derrancada terra se não encontram.
E, do Calvá­rio da Alexandrina Costa,
foi esta a dolorosa e ima­culada lembrança
que me ficou.

D. Gabriel de Sousa, abade de Singeverga

Clique sobre as imagens para as ver em tamanho maior.

domingo, 28 de outubro de 2012

Pagelas 2

Associação pela Conversão dos Pecadores

A pagela ao fundo, desdobrável em três e com destacável, tem aprovação de 1974, depois do fim do Processo Informativo; deve ter sido criação do P.e Humberto, que naquele ano fez uma comunicação ao II Congresso Eucarístico de Braga sobre "A Alexandrina e a Reparação". Além disso, este exemplar concreto remete para uma associação italiana.
A conversão dos pecadores era um dos temas primeiros da Alexandrina: tudo pelo amor de Deus e pela salvação das almas.
Pena foi que a associação proposta não vingasse.

Clique sobre as imagens para as aumentar.

sábado, 27 de outubro de 2012

Pagelas 1

A pagela mais antiga

Esta pagela, embora, pela ilustração, venha do tempo em que já havia capela-jazigo, tem a aprovação do Sr. Arcebispo Primaz D. António Bento Júnior e a data de Fevereiro de 1956; paroquiava ainda Balasar do P.e Leopoldino Mateus.
Deve ter saído antes de chegar do Brasil Uma Vítima da Eucaristia.
Foi por essa altura, ignoramos se antes se depois, que, em Roma, Pio XII declarou a D. António Martins Júnior que a Alexandrina era “uma jóia que o mundo não conheceu”.
Assim, faz mais sentido que, em 8 de Setembro de 1956, a beatificação já surgisse como uma meta muito assumida e divulgada num noticiário do P.e Leopoldino:
Há dias recebemos de Alvarães, Viana do castelo, a seguinte missiva:
"Senhor, enviamos em vale do correio 75 escudos, sendo 25 escudos para ser celebrada uma Missa e 50 para juntar para as despesas da beatificação da Alexandrina, em acção de graças por ter obtido de Nosso Senhor o benefício de aliviar de outros sofrimentos uma pessoa da família".

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Vida maravilhosa e prodigiosa é a tua, ó filha querida!


A abóbada do céu desceu sobre mim toda ela almofadada em algodão, a qual envolvia os anjos com instrumentos. Ouvia os seus hinos maravilhosos, não os compreendia bem, mas sei que eram a Jesus Sacramentado. Ouvi as palavras Corpus Domini Jesu Christi, senti que Jesus Se deu a mim e me prendeu mais e mais a Ele. Os anjos continuavam a cantar; por entre eles sobressaiu um canal fortíssimo directamente a mim, dele caíam chamas de fogo e muitas e muitas coisas, tudo entrava para mim. E então principiou Jesus a dizer-me assim:
- Este canal, minha filha, é do Coração da tua e minha Mãe Bendita: dele recebes o nosso amor na maior das abundâncias; dele recebes as nossas graças, virtudes e dons, riquezas divinas e tudo o que é do céu. Dele recebes vida para viveres, vida para dares às almas. É este o orvalho, o sangue que sentes cair sobre a humanidade. É uma mistura que faço das minhas riquezas, das minhas graças com a tua dor. És a nova redentora. Passo para ti tudo pelo canal da minha Bendita Mãe; és tu com Ela que salvas o mundo.
Não te entristeças, minha filha, por não me receberes na Eucaristia. Quanto mais fores humilhada e a minha divina causa combatida mais maravilhas, maiores prodígios opero em ti. A minha divina ciência tem sempre que dar-te e tu, minha pomba bela, tens sempre que oferecer. Já que é sem igual a tua dor, o teu martírio, é sem igual o meu amor, as minha maravilhas em ti. São luzes confusas para aqueles que as não quiseram ver claras. Vida maravilhosa e prodigiosa é a tua, ó filha querida! Tu és orvalho que fecunda e dá vida. Tu és de Jesus, tu és das almas. És a bolinha de Jesus, és a bolinha dos meus entretimentos, dos meus encantos, assim como és a bolinha de encantos atraentes para os pecadores. És de Jesus e és deles. És vítima que amas e encantas o céu, és vítima que dás a vida momento a momento pela humanidade. Recebe toda esta vida divina, dá-a ao mundo faminto, dá-a ao mundo em perigo. A ti o entreguei, a ti o confiei. Tenho eu, Jesus, toda a confiança em ti. Confio tanto quanto tu me amas, quanto amas as almas. És rica comigo, comigo as salvas, comigo e minha Bendita Mãe. Vai, minha jardineira, para a minha agricultura. Vai dar, vai distribuir.

A expressão Corpus Domini Jesu Christi significa Corpo do Senhor Jesus Cristo. Mas é diferente da que os sacerdotes usavam, que era Corpus Domini nostri Jesu Christi, Corpo de Nosso Senhor Jesus Cristo. Embora a Alexandrina não soubesse latim, ela notava a diferença - que se justificava por não ser um sacerdote ou um anjo a dar-lhe a Comunhão, mas o próprio Senhor Jesus Cristo.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Ainda a Via-Sacra


O P.e Humberto criou a Via-Sacra a partir de A Paixão de Jesus em Alexandrina Maria da Costa. Ela, e também o livro, foram um êxito: traduzidos ambos para japonês, a Via-Sacra foi mesmo musicada e passada na Rádio Maria (possuímos uma gravação)
Quando este livro do P.e Humberto se esgotou, os Signoriles publicaram um semelhante com o título de Sofferenza Amata. Mais adiante, ou ainda os dois ou já só a D. Eugénia, redigiram também uma Via-Sacra. Encontrámo-la, por exemplo, em Mi Amasti fino all’Estremo. Recentemente a D. Eugénia refê-la: a versão que resultou foi a que pretendeu que fosse colocada na Casa do Calvário.
A Prof.ª Maria Rita publicou também uma Via-Sacra, mas conhecemos ainda mais duas publicações com trabalho do mesmo género: o do P.e Pier Luigi Cameroni em Sui Passi di Alexandrina e um outro em opúsculo independente.
Pela nossa parte, colocámos a Via-Sacra em Orar com a Beata Alexandrina, livrinho de que já se venderam em Balasar vários milhares de exemplares.
De facto a caminhada que leva ao Calvário está no coração das vivências místicas da Beata Alexandrina: quase todos, senão todos, os colóquios dos Sentimentos da Alma a evocam.

Imagens: ao cimo, pequenina publicação com a Via-Sacra criada pelo P.e Humberto; mais abaixo, refrão musicado da mesma Via-Sacra, de uma outra publicação; ao fundo, 14ª estação da Via-Sacra em japonês.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Uma Via-Sacra


Escrever e publicar livros sobre a Beata Alexandrina pode ser muito bom, se eles trouxerem algo de novo ou se se dirigirem a um público novo. Mas não é só com livros que se promove a sua divulgação. Fazê-lo por pagelas pode ser um meio eficaz, sabendo-se que as pessoas lêem pouco.
Nós possuímos uma pagela com uma Via-Sacra em italiano, editada em Milão pelos Salesianos. É pequenina: menos que meia folha A4 dobrada, com texto na frente e no verso. Foi certamente o P.e Humberto que a preparou e a fez publicar.
Embora já conhecêssemos esta pagela há bem meia dúzia de anos, só agora é que temos um exemplar nosso.
Mas há uma coisa curiosa: possuímos um documento, em quatro folhas A4, que nos deram há bastantes anos, que parece ser o original português desta Via-Sacra.
Na cópia da pagela, a D. Eugénia acrescentou no epílogo uma frase: essa frase está no original português: "Um som harmonioso encheu o céu e a  terra"…
As indicações à margem identificam com certeza as datas dos colóquios donde foram retiradas as citações.
Clique sobre as imagens para as ver em tamanho maior.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Livros dos Signoriles sobre a Beata Alexandrina


Os Signoriles publicaram muito sobre a Beata Alexandrina: livros volumosos como Figlia del Dolore Madre di Amore ou La Gloria dell'Uomo dei Dolori nel Sorriso di Alexandrina, livros de tamanho médio como Mio Signore Mio Dio! Come Pregava Alexandrina, Solo per Amore! ou L'Amor che Muove il Sole e l'altere Stele!, vários livros pequenos, opúsculos e pagelas. Foram muitos anos de trabalho, de paixão, de muito estudo e muito saber. É difícil encontrar quem se deixe absorver assim por uma tarefa e sem ser movido por aquelas razões que tantas vezes movem as pessoas, o dinheiro ou o prestígio. 
Salvo as pagelas, de que possuímos alguns exemplares, mas que aqui não apresentamos, pensamos que abaixo vai a lista completa ou quase completa das obras que publicaram.

A D. Eugénia enviou recentemente para a tipografia um novo livro.


COSTA, Alexandrina Maria da, Maria, Madre mia. Come Alexandrina sente la Madonna, selecção e tradução de textos pelo Casal Signorile, Mimep-Docete, Pessano (MI), Itália, 1987.

COSTA, Alexandrina Maria da, Anima pura, cuore di fuoco, selecção e tradução de textos pelo Casal Signorile, Mimep-Docete, Pessano (MI), Itália (profusamente ilustrado), 1990.

COSTA, Alexandrina Maria da, Venite a me (richiami di Gesù), selecção e tradução de textos pelo Casal Signorile, Mimep-Docete, Pessano (MI), Itália, 1991.

COSTA, Alexandrina Maria da, Ho sete di voi, selecção e tradução de textos pelo Casal Signorile, Mimep-Docete, Pessano (MI), Itália (sem data).

COSTA, Alexandrina Maria da, Mi Amasti fino all’Estremo!, selecção e tradução de textos pelo Casal Signorile, Mimep-Docete, Pessano (MI), Itália (sem data).

COSTA, Alexandrina Maria da, Mio Signore, mio Dio! Come pregava Alexandrina, selecção e tradução de textos pelo Casal Signorile, Mimep-Docete, Pessano (MI), Itália, 1992.

COSTA, Alexandrina Maria da, Figlia del Dolore, Madre di Amore. Quasi una autobiografia, selecção e tradução de textos pelo Casal Signorile, Mimep-Docete, Pessano (MI), Itália, 1993.

COSTA, Alexandrina Maria da - Sofferenza amata! La Passione di Gesù in Alexandrina, selecção e tradução de textos pelo Casal Signorile, Mimep-Docete, Pessano (MI), Itália, 1999.

SIGNORILE, C.E., Croce e sorriso, Mimep-Docete, Pessano (MI), Itália, 2002.

SIGNORILE, Eugenia C., Sulle Ali del Dolore, Ed. Gamba, Verdello, Itália, 2002.

SIGNORILE, Eugenia C., Alexandrina, Voglio Imparare da Te!, Gamba Edizioni, Verdello, Itália, 2002.

GIACOMETTI, Giulio, SESSA, Piero, SIGNORILE, Eugenia, La Gloria dell'Uomo Dei Dolori nel Sorriso di Alexandrina, Segno, Udine, Itália, 2005. 

COSTA, Beata Maria Alexandrina da, Solo per Amore!, selecção e tradução de textos por Eugénia Signorile, Mimep-Docete, Milão, Itália, 2006.

COSTA, Beata Maria Alexandrina da, Zampilli Incandescenti, selecção e tradução de textos por Eugénia Signorile, Mimep-Docete, Milão, Itália, 2007.

COSTA, Beata Maria Alexandrina da, L'Amor che Muove il Sole e l'altere Stelle, selecção e tradução de textos por Eugénia Signorile, Mimep-Docete, Milão, Itália, 2008.

COSTA, Beata Maria Alexandrina da, Quei Due Cuori, selecção e tradução de textos por Eugénia Signorile, Gamba Edizioni, Verdello, Itália.


COSTA, Beata Maria Alexandrina da, Il Sorriso nella Croce, selecção e tradução de textos por Eugénia Signorile, Gamba Edizioni, Verdello, Itália, 2010: reelaboração de Croce e Sorriso.

SIGNORILE, Eugénia e Chiaffredo, Vida Interior da Beata Alexandrina, Apostolado da Oração, Braga, Portugal, 2002: tradução portuguesa de Mio Signore, mio Dio! Come pregava Alexandrina.

COSTA, Beata Maria Alexandrina da, Seulement par Amour!, Alex-Diffusion, Reims, França, 2010: tradução francesa de Solo per Amore!

COSTA, Beata Maria Alexandrina da, Orar com a Beata Alexandrina, Fábrica da Igreja de S. Eulália de Balasar, Portugal: tradução duma Via-Sacra e duma Novena preparadas pelos Signoriles.


Solo Per Amore! está traduzido, mas não publicado, para português, inglês e cremos que para tailandês.

Zampilii Incandescenti e Alexandrina, Voglio Imparare da Te!: estão também traduzidos, mas não publicados, para português, inglês, espanhol e francês.

Anima pura, cuore di fuoco: traduzido para várias línguas.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Um livro precioso


O livro a que nos referimos é italiano e tem um título poético, Una Lacrima Succhiata dal Sole, “Uma lágrima sugada pelo Sol”. Como seu autor, figura na capa Chiaffredo Signorile, um cooperador salesiano grande estudioso da Beata Alexandrina. Mas ele é autor e também tema.
Mas não se trata duma autobiografia propriamente dita, embora naturalmente se apresentem muitas informações biográficas. Foi preparado pela sua esposa, a D. Eugénia, e fala dos últimos dez anos da vida do marido, do período em que ele foi afectado pela doença de Alzheimer. Tem mesmo como subtítulo “um caso de Alzheimer”.
É um livro do casal, dum casal apaixonado e ferido pela dor. É um poema de amor e de vivência cristã. Divide-se em duas partes: Sombras e Luz. As sombras nascem das moléstias de Chiaffredo, que chega mesmo a tornar-se violento. A luz é a da fé que ilumina o casal, que lhe dá a certeza de que o discípulo de Cristo também participa dos seus sofrimentos.
Chiaffredo Signorile, que tanto se dedicara à Beata Alexandrina, morreu, como ela, no dia 13 de Outubro, no ano de 1999.

Breve excerto biográfico do livro:
No verão seguinte (1965) voltam a Balasar, onde o padre Humberto  Pasquale (segundo  director espiritual  Alexandrina) está a trabalhar incansavelmente para preparar o processo diocesano de beatificação.
Há uma reunião agradável com Chiaffreddo, a quem o padre Humberto  pediu  para colaborar no trabalho de divulgar as mensagens de Alexandrina. Com grande paixão o casal  começa a estudar português para, em seguida, traduzir  para italiano vários de seus escritos. Ardendo na mesma chama  de amor - que os une ainda mais - os dois cônjuges lançam-se de "corpo e alma" neste empreendimento. Juntos, estudam, juntos seleccionam, e depois ele dita e ela escreve à máquina; corrigem provas ...
Todas as suas capacidades e energias, inclusive económicas, são jogados naquela fornalha que os inflama mais e mais.
Compreendem também porque lhes foi negada a graça (tão desejada) de ter filhos: tinham sido escolhidos para essa única missão.
Imagens:  ao cimo, capa do livro aqui mencionado; aqui ao lado, o casal Signorile numa fotografia que cremos que foi tirada no Sameiro em 1965 ou 1966.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Um balasarense arrependido


Toda a gente comete faltas, maiores ou menores, e por isso todos têm razão para arrependimento. Mas se as faltas são grandes, a razão para o arrependimento é maior.
O caso que se apresenta a seguir é certamente lamentável, mas aproxima-se bastante do que se passou com o pai da nossa Beata. A diferença porém é enorme: aqui, o pai solteiro assume a paternidade e faz testamento aos filhos. Bem difícil há-de ter sido tomar tão louvável decisão!

Registo do testamento cerrado com que no dia 30 de Novembro de 1910 faleceu no Rio de Janeiro, Brasil, António Alves de Sousa Campos, de Balasar

Em nome da Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, três pessoas distintas e um só Deus verdadeiro, digo eu, António Alves de Sousa Campos, solteiro, lavrador, de maior idade, natural da freguesia de Santa Eulália de Balasar, do concelho da Póvoa de Varzim, filho legítimo de António Alves de Sousa e de Rita Alves, da dita de Balasar, que temendo a morte, as contas que hei-de dar a Deus e tencionando ausentar-me para o Império ou República Brasileira, resolvi fazer o meu testamento, o qual efectivamente faço pela forma seguinte:
Em primeiro lugar encomendo a minha (alma) a Jesus Cristo, que a remiu com o seu preciosíssimo sangue, à Virgem Santíssima, ao Anjo da minha Guarda, ao Santo do meu nome, a todos os Santos e Santas da Corte do Céu, para que orem a Deus por mim.
E dispondo do temporal declaro, como acima fica dito, que sou filho António Alves de Sousa e Rita Alves e que por fraquezas humanas tive relações ilícitas com Ana Domingues da Costa Gomes, filha de António Domingues Gomes e Maria da Costa e Silva, de cujas fraquezas nasceu uma criança do sexo feminino a que se deu o nome de Felismina, a qual considero como filha minha e instituo por herdeira, assim como por iguais fraquezas tive relações com uma filha de José Domingues Martins e de Maria da Costa Lopes, do lugar de Gestrins, da mesma de Balasar, a qual nesta data se acha em estado de grávida, e por isso também instituo como meu herdeiro ou herdeira o fruto que esta der à luz e venha a salvamento, e isto se entende não só dos adquiridos como das legítimas paterna e materna que me possam pertencer por falecimento de meus pais, quando a eles sobreviver, mas com a condição destes meus herdeiros ou quem os representar se conformarem com as partilhas amigáveis que terão lugar por falecimento de meus pais, para o que deixo procuração com poderes especiais; e isto se entende quando os meus irmãos ou mais herdeiros do casal de meus pais com isto se conformem, pois não se o conformando estes e sendo as partilhas feitas judicialmente neste caso terão também os meus referidos herdeiros aquilo que por justiça lhes pertencer.

Na imagem, provável retrato do jovem António Alves de Sousa Campos

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Uma atribulada festa em honra do Sagrado Coração de Jesus em 1911


A pressão republicana sobre a Igreja nos anos de 1911 e seguintes foi duríssima. Foram os anos em que a pequena Alexandrina estudou na Póvoa e depois regressou à sua Balasar. Não é abundante a informação que possuímos sobre o que se passou nesta freguesia e por isso paga a pena ver o que aconteceu com a festa do Sagrado Coração de Jesus no vizinho Outeiro Maior:

Outeiro, Vila do Conde, 2/8/1911

Realizou-se no domingo passado a festividade do Coração de Jesus, precedida de práticas preparatórias feitas pelo novel orador sagrado Adelino Anselmo de Matos, pároco de Curvos, Esposende, que muito agradou e tirou abundante fruto, não obstante ter sido chamado à última hora.
De manhã houve comunhão geral, distribuindo-se o Pão dos Anjos a umas trezentas pessoas.
De tarde realizou-se uma procissão em honra do SS. Sacramento, promovida por um grupo de devotos e que este ano quiseram cooperar com a Associação do Coração de Jesus, revestindo a festa mais solenidade em virtude de se ter levantado um novo e lindo cruzeiro oferecido à freguesia por um grupo de briosos rapazes que daqui foram para o Brasil e que, entregues ao labutar constante da vida, não se esqueceram da sua terra natal nem da sua fé.
À frente da procissão ia uma bandeira que, pela sua frente, em puro veludo de sedas, ostenta os emblemas do Coração de Jesus, circundados por um ramo a ouro, entrelaçado por uma fita a matiz, rematando tudo em uma espécie de dossel, que produz um efeito surpreendente. Do lado oposto, encontra-se, também bordado a ouro, o emblema JHS, tendo ao fundo um ramo a matiz de belo gosto, e ao cimo a palavra “particular”, em semicírculo.
Como que a pôr um embargo à alegria que todos sentiam no meio de tão linda e religiosa festividade, por ser a única que agrada e consola o coração do verdadeiro cristão e está no ânimo de todos os habitantes desta freguesia, apareceu um ofício do cidadão Administrador do Concelho de Vila do Conde, com a nota de “urgente”, que ao conhecer-se produziu o efeito de um frigidíssimo duche. Dizia assim:

Tendo conhecimento de que nessa freguesia se costuma anualmente fazer umas práticas e confissões, sob a denominação de Coração de Jesus, tenho a dizer-lhe que tais práticas são proibidas e punidas por lei. Queira pois não consentir e participar-me, caso não sejam acatadas as minhas ordens.
Saúde fraternidade.
Ao cidadão regedor da freguesia de Outeiro.
Vila do Conde, 27 de Julho de 1911.
O Administrador do Concelho – Luís da Silva Neves.

Está claro que se a autoridade da freguesia – o Sr. António Gonçalves de Azevedo – não fosse um cavalheiro prudente, um católico prático a quem agradam sobremaneira os actos da nossa santa religião, na qual se esmera por educar toda a sua família, este ofício viria privar este bom povo da sua querida festa, contristando-o e talvez exaltando-o. Felizmente tudo se fez sem o mais pequeno incidente e no meio da mais franca alegria. – P. A.

(Informação saída no jornal O Poveiro, da Póvoa de Varzim, em 10/8/1911)

De notar que a notícia refere a Associação do Coração de Jesus, que também se conhece em Balasar e poderia existir na generalidade das freguesias

Na imagem, cruzeiro do Outeiro Maior, de que a notícia faz menção e que pode ter sido obra de artista que participou na construção da Igreja de Balasar.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

A devoção ao Sagrado Coração de Jesus e a Alexandrina


Em finais do séc. XIX a Póvoa decidiu avançar para a construção da Basílica do Sagrado Coração de Jesus: era um grande empreendimento que supunha uma profunda devoção.
“Deus amou de tal modo o mundo que lhe entregou o Seu Filho Unico”. A redenção é a suprema obra do Amor e é deste amor que fala o Coração de Jesus.
Depois de sabermos que no Arquivo de Vila do Conde se conservam os arrolamentos dos bens paroquiais feitos pelos republicanos, quisemos verificar que sinais havia dessa devoção nas igrejas do concelho a norte do Ave, que se integram na Arquidiocese de Braga e portanto no arciprestado da Alexandrina. O testemunho é convincente.
As freguesias são dez. Seis tinham altares do Sagrado Coração de Jesus, três tinham só a sua imagem no Altar da Almas e apenas o inventário duma, Parada, não menciona mesmo a imagem.
A devoção ao Sagrado Coração de Jesus não era antiga: em Portugal popularizou-se apenas no séc. XIX. Mas apesar de ter sido um século de hostilidade à Igreja, ela impôs-se. E para isso há-de ter dado contributo decisivo a revista jesuíta o Mensageiro do Coração de Jesus.  
A Beata Alexandrina pertenceu à associação do Sagrado Coração de Jesus de Balasar, foi por altura dum tríduo em honra do Sagrado Coração, pregado pelo P.e Mariano Pinho na freguesia, que este conheceu a Alexandrina, as primeiras palavras de Jesus sobre a Consagração do Mundo ao Imaculado Coração de Maria evocam Santa Margarida…
A devoção ao Sagrado Coração de Jesus está no cerne da mensagem da Beata Alexandrina e Jesus pediu-lhe que a espalhasse.

Na imagem, conjunto escultórico da Igreja de Bagunte, vizinha de Balasar: o Sagrado Coração de Jesus e S. Margarida Maria Alacoque.

sábado, 13 de outubro de 2012

Directo de Balasar

Acompanhe aqui os eventos da Festa da Beata Alexandrina.

Estivemos de tarde em Balasar. O movimento que vimos e que a fotografia abaixo documenta fazem crer que na Missa da Festa a igreja vá registar uma grande enchente. Idos dos lados da Póvoa, alguns grupos de peregrinos dirigiam-se a pé para Balasar.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Amanhã, dia da Festa da Beata Alexandrina


Ó Trindade Santíssima,
adoro-Vos e agradeço-Vos
Porque nos destes o exemplo da Beata Alexandrina,
Gota puríssima do Vosso amor.
Peço-Vos que me ajudeis a imitá-la
No seu amor autêntico à Eucaristia;
Que eu me consuma num anseio sempre mais ardente
De me dedicar a Vós e aos irmãos.
Suplico-Vos humildemente que a glorifiqueis com a Canonização
E que me concedais, pela sua intercessão,
A graça que ardentemente Vos peço (enunciar o pedido)...

Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo,
como era no princípio, agora e sempre! Ámen!

Maria, nosso auxílio, rogai por nós!

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

O MARTÍRIO DOS ÚLTIMOS DEZ ANOS (3)


A última fase

Acabadas as fontes directas, as Cartas ao P.e Pinho e o Diário, atenhamo-nos às outras fontes: C G (Cristo Gesù in Alexandrina), NoC (No Calvário de Balasar).
Sobre os sofrimentos, temos duas cartas do Dr. Azevedo ao P.e Pinho. Uma é de 10 de Janeiro de 55:
A Alexandrina está prostrada como nunca. Está a chegar ao cimo do seu calvário... Parece que tudo tem evo­lucionado nesse sentido. (NoC, p. 299 port.)

A outra, de 17 de Outubro de 55, quatro dias depois da morte.
As do­res eram nos últimos meses horríveis.
Ultimamente estava a sofrer imenso, e parece-me que a sua doença, as suas dores eram de origem sobrenatural, daquela origem a que se refere Henri Bon, quan­do fala das enfermidades sobrenaturais. (NoC, pp. 298-299, port.)

E uma carta, ao P.e Humberto, da médica Dra. Irene de Azevedo, filha do Dr. Azevedo (querida amiga que muitas vezes tinha escrito, em substituição da Deolinda, o que a Alexandrina ditava para os seus diários); eis algumas linhas:
Tinha-se a sensação de que naquele quarto de dor acontecia algo de tremendamente grande e misterioso: tinham chegado os últimos momentos duma vítima à qual tinha sido pedida uma grande reparação.
Junto dela, tentava dar-lhe um pouco de consolo molhando-lhe os lábios secos.
Não ousava quase falar com o temor de lhe aumentar o sofrimento.
(...) Pedia com insistência a Deus que a levasse depressa para o Céu: única oração digna dela. (...) Que expressão tinha! Santa resignação à vontade de Deus, mas sofrimento de aterrorizar, e tal que uma alma pode suportar naquele modo só com uma graça e uma ajuda grande do Senhor.
Desde então faço uma ideia do que terá sido a Paixão e Morte do Senhor. (...) Contemplando o seu vulto dolorosíssimo, parecia-me ouvir a frase de Jesus: “Pai, porque me abandonaste?”
Tudo estava consumado. (C G, p. 694)

Em Setembro, a mártir Alexandrina teve a generosidade de permitir à Deolinda participar durante três dias num retiro espiritual em Fátima. Foi um esforço heróico, porque só a Deolinda sabia acudir-lhe do modo melhor nestes últimos tempos de dores atrozes.
A Alexandrina, que se sentia já próxima do fim, queria dar à Deolinda, com tal infusão de espiritualidade, a força para suportar o grande golpe. (C G p. 691)

No princípio do “seu” mês, ouve o anúncio da partida.
Hoje, 2 de Outubro, dia dos Santos Anjos, senti que me tocaram num ombro e ouvi cantar os Anjos. Perguntei:
— Quem cantará com os Anjos?
Nosso Senhor respondeu:
— Tu, tu, tu, em bre­ve, em breve, em breve. (NoC, p. 299, port.)

Em 1965 Deolinda contou ao P.e Humberto o que se segue:
Aconteceu, se não erro, em 7 de Outubro de 1955. Havendo trabalhos em casa, eu tive de vigiar os pedreiros. A minha irmã chamou-me para me dizer:
- Deolinda, tu foges-me!
Respondi-lhe: - Vou e volto já!
Sentei-me junto dela, que já se ouvia com dificuldade, e entregou-me o dinheiro destinado às missões e o saquinho do dinheiro para a casa.
Como é natural, fiquei impressionadíssima, porque a Alexandrina tinha administrado sempre os nossos pobres haveres, como também o dinheiro para as obras de caridade. (C G, p. 691, nota 17)


O dia 12

Às duas da noite a Alexandrina diz à Deolinda que a assiste:
Vou contar-te uma coisa que nunca te disse nunca para não te afligires.
Foi o seguinte: no dia um de Fevereiro, logo de manhã, ouvi uma voz:
- Faz um acto de resignação à vinda do teu Paizinho. (…)
Não to ditei para não to fazer saber. (C G, p. 691)
Depois acrescentou:
Logo que seja dia, farás três telefonemas.
1. - À menina Irene Gomes, para lhe pedir que acompanhe a casa a mãe com toda a sua roupa; que volte definitivamente, porque eu vou morrer (a mãe estava no mar a fazer uma cura).
2. - Ao P.e Alberto Gomes (o confessor), por um dever de gratidão da minha parte e, se mo consentir, para repetir publicamente o acto de renúncia à vinda do P.e Pinho.
Entretanto avisarás o tio Joaquim que vá a chamar o Dr. Azevedo.
3. - À Sra. Ana Pimenta (amiga e benfeitora, que tinha manifestado o desejo de assistir à morte da Alexandrina).

Durante a manhã disse várias vezes:
- Eu queria o Céu.
Não tenho peninha nenhuma de deixar a Terra.
Acabaram todas as trevas da alma (...)
É sol. É vida. É tudo. É Deus!
A Deolinda a um certo ponto perguntou-lhe:
- Queres alguma coisa?
- O Céu, porque na terra não se pode estar.
Eu queria receber o Sacramento dos Enfermos, enquanto estou lúcida.

Numa iluminação sobre o futuro, exclama:
- Um dia, vai ser muito bonito aqui!
Ó Jesus, seja feita a vossa vontade, não a minha!

Pelas 15 do mesmo dia, na presença do confessor, do Dr. Azevedo, dos familiares e de alguns entre os mais íntimos, fez o acto de aceitação da morte.
Registemos o relato feito pelo sacerdote que a assistiu no momento da morte, Mons. Mendes do Carmo.
Quando naquelo quarto-calvário esteve tudo preparado, fez espontaneamente o seu Acto de Resignação diante de todos.
Ó Jesus Amor, ó divino Esposo da alma minha, eu, que na vida sempre procurei dar-Vos a maior glória, quero, na hora da minha morte, fazer-Vos um acto de resignação à vinda do meu Paizinho Espiritual; e assim, meu amado Jesus, se com este Acto dou maior glória à Santíssima Trindade, submeto-me jubilosamente aos vossos eternos desígnios... só para implorar da Vossa misericórdia o Vosso Reino de amor, a conversão dos pecadores, a salvação dos moribundos e a libertação das almas do Purgatório.
Meu Deus, como Vos consagrei sempre a minha vida, Vos ofereço agora o fim dela, aceitando resignada a morte acompanhada das as circunstâncias que Vos derem maior glória.

Depois, com voz clara, pediu perdão, agradeceu e perdoou a todos...
Recebeu depois, de modo angélico, o Sacramento que purifica de todos os vestígios de culpas e imperfeições.
O quarto encheu-se de soluços e a Alexandrina, moribunda, disse:
- Não choreis, porque vou para o Céu.
E repetiu:
- Não choreis, porque eu vou para o Céu! (C G, p.824)

Eis algumas frases que disse a intervalos:
- Ai Jesus, não posso ficar mais na terra.
Ai Jesus, a vida custa; o Céu custa!
Sofri tudo nesta vida pelas almas. Espremi-me nesta cama até a dar o meu sangue pelas almas.
Perdoo a todos... Foram tormentos para o meu bem.
Ai Jesus, perdoai ao mundo inteiro!...
Agradeço àqueles que me fizeram bem; rezarei por eles no Céu.
Estou tão contente por ir para o Céu! (sorrindo e olhando para o alto).

Ao médico que à tarde a saudava antes de a deixar, disse:
Que claridade, que luz! É tudo luz (sorrindo).
As trevas desapareceram. (C G, pp. 692-693)


quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Um postal

Recebemos hoje um postal antigo italiano em cuja frente vem uma fotografia da Beata Alexandrina. No verso diz, traduzido:
ALEXANDRINA M. DA COSTA
Cooperadora Salesiana e Lâmpada Viva
Palavras de Jesus:
"Fala às almas;
fala-lhes do Rosário e da Eucaristia.
Rosário, Rosário, Rosário!
Eucaristia: o meu Corpo, o meu Sangue!"
(29-10-1954)



Frente do Postal 

O MARTÍRIO DOS ÚLTIMOS DEZ ANOS (2)


Sofrimentos espirituais

Os sofrimentos espirituais podem-se catalogar em dois tipos: as lutas contra Satanás, sem mais agressões do corpo, desde o fim do 1937, e as tentações contra a fé, que são também provocadas por Satanás.

LUTAS ESPIRITUAIS CONTRA SATANÁS

Ao meu lado estava o demónio encadeado. Queria chegar a mim. Eu via que ele não conseguia, mas sentia como se despedaçasse o meu corpo com mordeduras. Os insultos eram tantos. Dizia-me:
Maldita, hás-de pecar, hei-de te levar ao desespero. S (20-12-46)

Satanás insiste no fazê-la padecer o temor de enganar sobre os seus fenómenos místicos e de pecar por vaidade ao escrever.
O demónio diz-me que os meus combates sou eu que os invento para ter que escrever!
Meu Jesus, queria amar-Vos, mas não queria ter de escrever! Bem sabeis que é ele e não eu. S (21-8-45)

- Tu consegues com as tuas falsidade enganar quase toda a gente: hás-de condenar-te!
E na verdade, naqueles momentos, sentia-me falsa, enganadora, maliciosa. S (20-12-46)

Mas a nota mais insistente é a da luxúria.

Há dias que sinto o meu corpo é uma casa aberta de entrada para quem quer.
Sofri muito com esta novo sofrimento! (...)
O demónio, mais enraivecido, veio como um ladrão e senti como se ele me levasse o coração.
- É meu – disse-me – vamos pecar! - E cobriu-me de insultos. - E com o teu coração nas minhas mãos faço-te pecar quando quero.
Então, muito mais ao vivo, senti de ser essa morada que acima falei. Nela entravam quantos queriam. Eu era a casa do pecado, e o próprio pecado: estava disposta para tudo. Meu Deus, que horror, tantos pecados, tantos crimes!
Lutei muito e o demónio mostrava-se contentíssimo, por fazer de mim tudo quanto queria.
Disse a Jesus muitas vezes que era a sua vítima e que não queria pecar. S (23-7-45)

Foram quatro os combates que tive com o demónio; foram combates do inferno!
Tinha mãos para tudo, menos me benzer e afastar da mim o maldito. O corpo era num banho de suor, o coração uma máquina estrondosa.
Sim, eu conseguia chamar por Jesus e pela bendita Mãezinha. Mas o que eu não conseguia, ou me pareceu, foi chamá-los a tempo.
Eu gostava de ser cega e surda para não ver nem ouvir os ensinamentos do maldito e para não me aterrorizar com o que ele dizia contra Jesus.
Mas, se assim fosse, não poderia combater nem sofrer, não poderia ser vítima do meu Senhor. S (7-11-47)

O demónio atormentou-me com a sua força e malícia diabólica.
Nos primeiros três ataques atormentou-me em forma de homem, mas introduziu em mim toda a malícia humana. Que horror! 
Eu pecava em todos os pontos e sentidos. E ele, muito descansado, deitava ao mundo o seu olhar infernal e deixava tudo cheio da sua malícia. 
Se eu soubesse dizer o veneno que ele infundia nas almas!
Que horror! Oh, como se peca! S (11-10-46)

Às vezes Jesus faz-lhe compreender por que categorias está a reparar.
Nosso Senhor fez-me compreender, pelos sentimentos e visões da alma, por quem me pedia a reparação.
Os primeiros dois ataques foram pelos pecados durante os bailes e divertimentos mundanos: quanta indecência, quanta maldade e crimes escandalosos praticados descaradamente!
Os três a seguir foram pelos sacerdotes. Ó meu Jesus, quanto se deve pedir por eles! São do mesmo barro que nós somos, coitadinhos! Estão sujeitos a grandes quedas. S (9-7-48)

Jesus conforta-a, encoraja-a a continuar, afirmando que com tal reparação salva almas.
É esse o desespero do demónio, é a razão por que ele tenta devorar-te: ele sabe bem quantas almas que lhe tens arrancado. S (14-9-51)

- O demónio tem sobre ti toda a sua raiva infernal. É grande o estrago que lhe dás: fazes mais mal à sua obra satânica pelo teu sofrimento do que todo o bem que na humanidade se faz.
Está raivoso, raivoso. Serve-se de tudo. Serve-se dos homens para a minha Causa destruir. Nunca, nunca seus infernais intentos se satisfazem.
Sofre tudo, minha filha, sofre toda a tua indizível dor e tormento.
Repara-Me, repara-Me por todos os sacrilégios e por todas as confissões nulas.
- Jesus, eu amo-Vos: sou a vossa vítima! S (19-3-54)

TENTAÇÕES CONTRA A FÉ

Pareceu-me que desceu uma nuvem sobre mim, negra, negra, assustadora. Envolveu-me toda nela.
Tudo é noite, da Terra ao Céu.
Debaixo de mim, está cruz e espinhos; à minha volta cercam-me cruzes e espinhos; sobre mim, cruzes e espinhos. Tudo é noite, tudo são cruzes, tudo são espinhos, dor e sangue: morte no mundo e morte na eternidade. S (29-3-45)

Sinto-me como que só eu e a dor vivêssemos no mundo. Sinto fugirem-me todos; senti fugir-me Jesus.
Tenho por companhia a dor, por habitação as trevas. Tudo o que nasceu a elas vem morrer. Horrível cegueira, trevas assustadoras! S (3-5-46)

Eu creio, eu creio que sois o meu Jesus, creio mesmo em trevas e em dor: não permitais que eu duvide! Não quero desagradar-Vos. S (22-7-49)

Quantas dores, quantos suspiros escondidos e abafados!
Estou sob o mundo e é este mesmo mundo que abafa os meus suspiros e esconde as minhas dores.
Nenhum brado dos meus chega ao Céu: não se escuta lá nenhum gemido, não se vê uma só lágrima.
Que abandono, meu Jesus, que abandono! S (27-7-51)

Parece-me que tenho tentações e desesperos contra mim mesma. Minto a todos e minto a mim.
Tenho tentações contra a fé: parece que me quero convencer que depois deste exílio tudo acaba, que nada adianta o sofrer.
Sinto sobre mim a raiva do demónio: está furioso contra mim. Parece que tenho fortes grades de ferro a separar-me dele (de facto Jesus não permite que a toque, desde o fim de 37). Mas a minha alma vê e sente que a sua forte dentadura morde nesses ferros como se fosse em mim. Crava-me os seus olhares desesperadores e raivosos. Ouço os seus uivos e desesperos. S (14-9-51)

Nesta imensidade tempestuosa em que só prevalece a inutilidade, minha alma conserva-se em paz, a não ser de longe a longe, uns momentos de agitação, dúvidas de toda a minha vida, tentações contra a fé que me levam quase que a cair no desespero.
Para que vim ao mundo? Para que serve tanto sofrer e uma vida pregada na cama?
Isto é sem que eu o queira. Sinto mesmo serem tentações do demónio, ser ele a querer roubar-me a paz. S (20-6-52)

Estou num mar tempestuoso. Não cesso de lutar com as ondas. Sinto-me cansada, sinto-me desfalecida com tanto lutar.
Quero apanhar a areia, ou qualquer coisa que me segure deveras e não encontro: tudo me falha.
Deixo-me ficar à mercê das ondas. S (15-1-54)

Continua a luta entre a vontade de crer e a tentação de não crer. É um sofrimento tremendo!
Creio, na dor ou na alegria, no abandono ou no conforto. Creio, na vida e na morte.
Sou vossa, Jesus, sou a vossa vítima! S (16-7-54)

Sinto que nada estou a fazer no mundo, depois de perder Jesus e a Mãezinha.
Desde que a eternidade não existe, uma tentação (do demónio) tenta persuadir-me: que estou eu a fazer aqui, sem gozar, sempre a sofrer? Para quê, para quê?
“Creio, Jesus, creio! Creio que existis.
Que me importa o sentimento da mentira (dizendo “creio”), se a verdade sois Vós, ó Senhor, sois Vós, e a eternidade sois Vós?”
Nesta luta desprezei todo o Horto (ao reviver a Paixão). Nada existe. Nada houve, nada há!
Assim subi para o Calvário, sem fé, sem acreditar na eternidade. E em tal tentação a querer suicidar-me a mim mesma!
Parecia-me que quereria liquidar a vida sem vida, fosse qual fosse o processo (também Jesus sofreu ataques demoníacos, não só no início, no deserto, mas mesmo no fim, no Horto).
Com que custo eu chamava por Jesus e a Mãezinha e Lhes repetia o meu “creio”!
Nas trevas da agonia e da morte, quis repeti-lo, e não pude.
Veio Jesus. Bradou-me alto e com doçura:
Minha filha, ó minha filha, a tua reparação é pelos sem fé, pelos sem Deus, pelos incrédulos. S (15-10-54)

Um mês depois Jesus reafirma-lhe que quer esta forma de reparação, com a tenaz profissão de fé. Mas dá-lhe também a sua ajuda.
Repete o teu “creio!”. Tens de viver da fé sem fé, do amor sem nenhum sentimento de amor.
Só quero de ti o teu “creio!”, a tua firmeza na cruz, a tua generosidade heróica, sempre heróica.
Vem repousar sobre o meu divino Coração. É repouso divino, é repouso confortante, é repouso de vida. S (19-11-54)

Mesmo enquanto revive a Paixão continua a luta. Eis uma descrição com um poder poético maravilhoso.
Creio, creio firmemente, repeti tantas vezes no cimo da montanha, espetada numa lança, mas tão em prumo que não pendia mais nem para um lado nem para o outro: ou Deus ou o demónio; ou a eternidade ou o nada.
Assim ferida, toda em sangue, caí da parte em que fui repetindo o meu “creio, creio firmemente!”
Creio, embora o meu sentimento seja todo mentiroso.
Veio Jesus, disse-me:
- Crê, minha filha, crê, minha esposa amada, crê, flor mimosa do Paraíso!
Crê que Eu existo, crê que estás na verdade, crê que toda a tua vida é a minha vida. Coragem, coragem! S (17-12-54)

Chegada ao último ano de exílio, intensifica-se ainda aquela luta tremenda.
- Ó Jesus, perdoai-me! Eu não tenho fé nem acredito em Vós. Ai de mim, quem poderá valer-me?
- Valho-te Eu, minha filha! Tu tens fé inflexível, mais firme que a rocha.
Repara pelos a que não têm, pelos que vivem sem Deus.
Confia, confia! As almas são salvas aos milhões, aos milhões. Sim, minha filha! S (25-3-55)

E assim vou caminhando sem mar nem terra, apenas com um sopro falso, que sempre me deixa precipitar nos abismos.
Valei-me, Jesus! Valei-me, Mãezinha! Confortai-me neste mundo de incertezas e dúvidas. Oh dor, oh dor, oh agonia e morte!...
Nesta luta dolorosa e, por assim dizer contínua, veio Jesus até a mim e falou-me:
- (...) Coragem, coragem! Tens fé, tens amor e dás-me tudo. (...)
Vai, vive da fé, repete o teu “creio!”. Sofre e ama, sofre e ama! S (1-4-55)

A minha alma sangra, toda sangra, está nas trevas.
Ai, meu Deus, falar da alma, falar do que tantas vezes me parece não ter! Quantas vezes uma voz me grita – é ela e o corpo também: “Agarra-te, agarra-te!” – mas nem um nem outro encontram a que se agarrar.
Agarra-te, agarra-te às trevas, à ignorância, à inutilidade, à morte!
É o que eu tenho, é o que eu encontro em mim.
Gritar, gritar bem forte ao Céu, ao Céu que não há, à eternidade que não existe! Ó meu Deus, é inútil todo o meu bradar. Estounuma grande agonia.
Eu quero, se Jesus o quer, estar aqui para a sua glória e para a salvação das almas. S (13-5-55)

Jesus a adverte-a de um ulterior aumento do martírio.
- Minha filha, não são os sentimentso de fé e consolação que me consolam, mas sim essa luta constante no auge da dor.
É a ultima fase, tremenda fase: o auge do sofrimento a enfrontar com o auge do pecado e do crime. O mundo peca, o mundo peca!
Tem coragem, tu que és luz e farol do mundo. Repara e faz que seja amado o meu divino Coração. Sustenta o braço da justiça de meu Pai, que teima cair sobre a terra. S (10-6-55)

Minha filha, sobe, sobe, coragem! (...) A tua fase, a última fase da tua vida não pode ser mais dolorosa. Mas assim é quando escolho uma alma para o mais alto grau de perfeição, de amor e de união comigo.
Confia: tu amas-Me e fazes-Me amado.
O teu Céu é perto! S (8-7-55)

Com uma firmeza heróica repete o seu “creio!”
Custe o que custar, sangre o que sangrar! Mesmo mentindo a mim mesma, hei-de repetir sempre: Creio em Deus, creio em todas as verdade eternas, creio que tenho uma alma filha do sangue de Deus! S (5-8-55)

Sempre a lutar, sempre a agarrr-me, a agarar-me sem ter a quê, cá vou eu de queda em queda, de abismo em abismo para abismos sem fim de trevas, de morte, de inutilidade.
E sem fé, meu Deus, sem fé!
Sempre vou repetindo no meu íntimo: Tudo por vosso amor, Jesus, e pelas almas! S (19-8-55)

E, por fim, no último diário, dita:
Numa angústia lancinante repeti os meus actos de fé:
Creio, Jesus, creio que foi para mim o vosso nascimento, a vossa morte, o vosso calvário.
Creio, Jesus, creio!
Os meus abismos são tão negros e profundos que só um Deus podia penetrar neles.
Foi assim que Jesus fez.
Desceu à minha profundeza, trouxe à superfície e iluminou o meu pobre ser com uns raiozinhos da sua luz:
- Vem cá, minha filha, luz e farol do mundo!
Tu que és treva inigualável, és luz que brilha, farol que tudo ilumina.
A treva é para ti, a luz é para as almas.
Vem cá, luz de quem Eu sou luz, farol de quem Eu sou farol!
Não posso Eu fazer-te brilhar com o Meu brilho?
Não posso Eu fazer que sejas farol como Eu sou farol?

No mesmo diário lê-se um último apelo aflito de Jesus:
- Deixa, minha filha, que Jesus grite pelos teus lábios:
“Ó Igreja, ó Igreja, aceita a voz do Senhor! Vigilância, vigilância!
Ó Igreja, minha querida Igreja, vela, vela, não durmas, não descanses!
Nunca o mundo pecou tanto. Nunca foi assim urgente tanta reparação.» (...)
Não Me disseste tantas vezes que no meu amor te querias consumir e desaparecer? Coragem, coragem! Tomei à letra tudo, tudo quanto Me disseste.
- Ó Jesus, olhai para a minha alma! Só Vós sabeis olhar para ela.
Atendei aos meus pedidos!
E o mundo, o mundo! Jesus, perdoai-lhe, que ele é vosso! S (2-9-55)

Com tão angustiada súplica, que explode dum coração a sangrar de dor e a arder de amor, se fecha o diário da nossa santa mártir.