segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Uma associação irlandesa de fiéis inspirada na Beata Alexandrina

Para os leitores que não sabem inglês colocamos aqui a tradução um pouco livre do terceiro texto que se vê na página inicial de A Blessed Call to Love.

Um Abençoado Apelo ao Amor inspira-se na vida da Beata Alexandrina da Costa, a Santinha de Balasar (30 de Março de 1904 - 13 de Outubro de 1955), que ficou paralisada e acamada em consequência dos ferimentos mal tratados produzidos pela sua fuga a uma tentativa de estupro quando saltou da janela. Tinha então catorze anos. O Papa João Paulo II beatificou a Alexandrina em 25 de Abril de 2004. Ela foi apresentada como "modelo de pureza e de perseverança na fé para os jovens de hoje. Um Abençoado Apelo ao Amor" junta-se a todos os que vêem no sofrimento bem-humorado desta mística contemporânea uma imagem do nosso tempo: a tragédia da violência e a vitória transformadora da bondade. A sua vida representa uma explosão impressionante do divino no mundo hipnotizado pelo materialismo secular e sua ganância egoísta. A sua mensagem espiritual é simples: "Fazei penitência, não volteis a pecar, rezai o Rosário, recebei a Eucaristia". A Alexandrina ensina como ver tudo o que é triste e doloroso na vida e fá-lo nobre através do amor. Ela ofereceu a sua vida ao seu Amado. O segredo da sua santidade não é senão o seu amor a Cristo.

Novo site em inglês sobre a Beata Alexandrina

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Patrick Reynolds, filho de Francis Reynolds, o fundador da Alexandrina Society, está a colocar em linha um novo site em inglês sobre a Beata de Balasar.
Este novo trabalho já se pode consultar aqui, embora ainda incompleto. Espera-se que a versão definitiva fique pronta em princípios de Março.
Abra também este link onde encontra uma pequena informação sobre a nossa Beata.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

"És rainha dos pecadores, és rainha do mundo"

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No mesmo tempo veio para o meu lado direito a Mãezinha tomando-me para os seus braços. Pediu-me coragem em nome do seu divino Filho.
— Anima-te, minha filha, anima-te, peço-te em nome do meu amor e do teu e meu Jesus. Aceita, sofre tudo, consola o seu divino Coração ferido com os pecados do mundo.
Olha, filhinha, venho confirmar as palavras do meu divino Filho.
És rainha dos pecadores, és rainha do mundo. Aceita o meu santíssimo Manto, é teu, faz o meu lugar. Envolve nele, põe à tua volta os que te são queridos e mais de perto partilham a tua dor. Os que partilham dela e cuidam da causa do meu Jesus são queridos do teu coração, do meu e do de meu bendito Filho. Aqueles que mais associamos ao teu sofrimento são aqueles a quem mais de perto queremos purificar. Coloca depois em volta todos os pecadores. Podes cobrir com o meu Manto o mundo inteiro, chega para todos.
Aceita a minha coroa, és coroada por mim: és rainha.
Meu Deus, que vergonha a minha!
Como eu era pequenina, mesquinha ao pé da Mãezinha! Que vergonha ao sentir Ela colocar sobre os meus ombros o seu santíssimo Manto e sobre a minha cabeça uma coroa de rainha que da sua santíssima cabeça tirou para colocar na minha.
Mãezinha, Mãezinha, que vergonha tenho de Vós e de Jesus! Eu não sou digna de tal. Oh, que miséria a minha !
— Coragem, filhinha, não te envergonhes.
Estás purificada pelo sofrimento e pelo Sangue do teu Jesus, que purificou tudo; tens a alvura do arminho.
O brilho da tua pureza e das tuas virtudes iluminam o mundo, irradia-o o teu perfume.
Enche-te, recebe amor, é meu, é de Jesus.
O amor, carinho e carícias que recebes de Nós atraem a ti as almas.
Dá tudo em nosso nome aos que te são queridos.
Enche-te para salvares o mundo inteiro. Enche-te, é teu, pertence-te, salva-o.
A Mãezinha e Jesus inundaram-me de amor e depois das suas ternas carícias retiram-se.
Fiquei com mais vida e mais alegre.
À medida que o tempo vai passando, a alegria foge, a vida vai falhando. Contudo, grito e gritarei sempre:
— Amo Jesus e a Mãezinha; quero o que Eles quiserem!

Sentimentos da Alma, 1944-12-2

sábado, 22 de janeiro de 2011

Breve mas interessante nota sobre o DVD da Beata Alexandrina

Um influente sacerdote católico inglês colocou no seu blogue uma breve mas muito positiva apreciação sobre o DVD da Beata Alexandrina. Veja aqui.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Santa Eulália

Santa Eulália (c. 292-304) nasceu e foi martirizada em Mérida, cidade da província de Badajoz, a menos de 100 km de Elvas; foi pois martirizada ainda na adolescência. Foi mais uma vítima da perseguição romana contra o cristianismo que, em breve aliás, iria ser legalizado. É por isso uma figura sobre quem há algumas informações históricas mais rigorosas do que sobre outros mártires dos quais pouco mais sabemos que o nome. 100 anos após a sua morte, houve um poeta chamado Prudêncio que lhe dedicou um poema biográfico. 100 anos é muito, mas não vamos exagerar, são por exemplo os anos que nos separam da implantação da República. Ora nós ouvimos aos nossos pais histórias desse tempo que lhes contavam os nossos avós. E Prudêncio já fala dum belo templo que tinha sido dedicado a Santa Eulália. Ora isso também é um dado historicamente significativo: havia um culto já enraizado.
Aparentemente, a menina Eulália seria uma espécie de sobredotada que, apesar da sua idade, decidiu enfrentar afoitamente o poder instituído, sabendo que tal resultaria na sua morte.
Santa Eulália é a padroeira de duas freguesias poveiras, Balasar e Beiriz. Estas freguesias, como a maior parte das actuais, já estavam formadas há 1.000 anos atrás e já a Santa Eulália era a sua padroeira.
Houve um pároco de Balasar que depois veio para Beiriz, o P.e António Martins de Faria. Como era poeta e pessoa culta, escreveu um poema sobre Santa Eulália que dedicou aos seus paroquianos de Beiriz e aos seus ex-paroquianos de Balasar. Começa assim:

Anjos do Céu, que louvores
Cantais sem nunca cessar
A Deus, que nessas alturas
Vos deu tão santo lugar,
Por piedade ensinai-me
Hoje também a cantar
Eulália, a virgem, a santa,
O meu anjo tutelar.

Eulália, que toda a vida
Amou a Deus de maneira
Que, se não é entre as santas
Virgens mártires a primeira,
Também não é com certeza
De todas a derradeira,
Como Balasar o comprova,
Tomando-a por padroeira.

Dai pois luz à minha mente,
E à minha frase atavio;
Dai justeza ao meu conceito,
E ao meu génio força e brio;
Fazei enfim que meu canto,
Além de suave e pio,
Seja também a Deus grato,
Que eu desde já principio.

Corria o terceiro século
Dos dias da Redenção,
Quando num jardim de Espanha
Brotou dum lindo botão
Uma rosa, mas tão bela
Que não só toda a atenção
Roubava de quem a via,
Mas também o coração.

Isto já dá para perceber o estilo claro da narrativa, culta sim, mas sem alardes inoportunos de ciência. Qualquer pessoa com um pouco de saber lia o poema e entendia-o quase na íntegra.
A palavra Eulália quer dizer bem-falante. É possível que as narrativas biográficas desta santa tivessem em conta o facto e por isso a mostrassem propositadamente eloquente. Ouçamos por isso mais um pouco do poema quando Eulália se dirige ao governador e desacredita os deuses do panteão romano:

Essa Vénus, esse Apolo,
E muitos outros que tais,
A quem vós, filhos das trevas,
Deuses penates chamais,
Alguns até com figuras
Dos mais feios animais,
Não são deuses, são quimeras,
Pau e pedra e nada mais.

Se tais deuses, entretanto,
Que meu gosto era calcar,
Quereis na vossa cegueira,
Como loucos adorar,
Adorai-os muito embora,
Mas não queirais obrigar
Os cristãos, como já disse,
Vossa loucura imitar.

Santa Eulália partilha com a Beata Alexandrina o seu empenho religioso e o seu destemor. Ambas foram luz que iluminou duas vezes, porque ia à frente,
Ela foi uma santa popular para além das fronteiras da Península. Na França, há um célebre e antigo poema intitulado A Cantilena de Santa Eulália. É pelos vistos o mais antigo texto que se conhece escrito em francês.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Curiosos assentos paroquiais de Balasar



Um exorcismo
Aos doze dias do mês de Setembro de 1702, fiz os exorcismos a Maria, que enjeitaram na aldeia de Gestrim (sic), e trazia um escrito que dizia vinha já baptizada, e por verdade fiz este assento que assinei, era ut supra.
João Silva

Outra enjeitada
Aos sete dias do mês de Abril de 1754, apareceu uma menina exposta nesta freguesia de Santa Eulália de Balasar e, por duvidar do seu baptismo, foi baptizada sub conditione por mim António da Silva e Sousa, Reitor desta mesma igreja, com licença do padre Encomendado desta mesma, aos oito dias do mesmo mês e ano, e chama-se Antónia de S. José. Foram padrinhos o Rev. Reitor desta mesma igreja, e Teresa, solteira, filha de Francisco Machado, de Gresufes, estando por testemunhas o Rev. Encomendado, João, criado, e José, criado do Rev. Reitor. E por assim ser verdade mandei fazer este termo, que assinei. Era ut supra.
O Rev. Encomendado João Carvalho
João, solteiro
José, solteiro

Estranha mortandade
Desde o dia de Natal de 1629 até aos 8 de Janeiro de 1630, a saber, 15 dias, sepultei eu, o P.e Manuel Nunes Cansado, cura nesta Igreja de Balasar, seis pessoas da casa de André João, de Gardes, scilicet, dois filhos e quatro filhas, e duas se enterraram num dia numa cova.
Hoje, 10 de Janeiro da era ut supra.
Manuel Nunes Cansado

Estes assentos estão disponíveis no Etombo.

sábado, 15 de janeiro de 2011

Uma balasarense célebre


Depois da Beata Alexandrina, a mais célebre balasarense deve ser D. Benta. D. Benta viveu no séc. XVIII, era da pequena nobreza rural e casou com um abastado brasileiro do Louro (Vila Nova de Famalicão). Graças aos haveres do marido, que morreu cerca de 10 anos antes dela, D. Benta passou a ser uma senhora muito considerada, cujo filho (ela tinha várias filhas) foi vereador da Câmara poveira. A casa que lhe pertenceu, e que possui uma grande capela, é uma das poucas que no concelho ostenta brasão.
Há dias descobrimos o registo de óbito desta senhora. Ela vivia em Vila do Conde (alguma filha dela terá professado em Santa Clara?), mas acabou por morrer na Póvoa de Varzim, em 1774.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

A Aparição da Santa Cruz, a Capela


Leopoldino Mateus

Junto ao adro da igreja paroquial de Balasar existe uma capela dedicada à Santa Cruz. Esta capela, levantada há mais de um século, em memória de um acontecimento extraordinário, sin­gular, dado em 1832, foi em tempo muito frequentada pelo povo crente, especialmente pela classe piscatória da Póvoa, que deixou gravadas algumas «marcas» na porta da mesma.
Esse facto extraordinário da aparição de uma cruz na terra é desenvolvidamente narrado no processo em que se contém a «Carta de Sentença Cível de Património da Capela da Santa Cruz de Jesus Cristo colocada na freguesia de Santa Eulália de Balasar», dada pelo Doutor António Pires de Azevedo Loureiro, Desembargador Provisor e, por ausência do Governador e Vigário Capitular, sede vacante, encarregado interinamente do governo temporal e espiritual do Arcebispado de Braga, a pedido e reque­rimento de Custódio José da Costa e outros devotos, cuja petição era do teor seguinte:

Excelentíssimo e Reverendíssimo Senhor
Diz Custódio José da Costa e outros mais devo­tos da freguesia de Santa Eulália de Balasar do termo de Barcelos deste Arcebispado Primaz que são devo­tos da Santa Cruz de Jesus Cristo que, para avivar a fé amortecida no coração de alguns cristãos, se dignou aparecer nesta mesma freguesia; fizeram contrair [sic] uma espécie de oratório para veneração daquele milagre, precedendo a licença junta; acontece porém ser muita a influência de devotos que ali concorrem agra­decidos aos milagres que a misericórdia divina se digna obrar por intercessão daquela maravilhosa aparição; seria de muito serviço de Deus construir ali uma capela com altar onde se pudesse oferecer o sacrifício incruento do Nosso Salvador para satisfação das Mis­sas que os mesmos devotos ofertam; e por isso pede a Vossa Excelência Reverendíssima haja por bem conceder-lhe a licença pedida, e receberá mercê.

A esta petição, dirigida ao Vigário Capitular, deu o Desembargador-Promotor o seguinte parecer, datado de 5 de Julho de 1834:

Antes de deferir a pretendida licença, convém que o Reverendo Pároco de Gondifelos ou outro vizinho informe sobre a necessidade da capela que se pretende edificar e a quantidade das esmolas que se juntam e se com elas se poderá no futuro constituir um fundo para a sua conservação, ouvindo por escrito o Reverendo Pároco próprio, para se saber se com ele se prejudica­rão os seus direitos e servirá de embaraço para o povo deixar de concorrer à Igreja Paroquial.

Em face do parecer, o Vigário Capitular proferiu esta porta­ria, datada de 22 de Julho de 1834:

Autuada na Câmara; passe ordem de informe ao Reverendo Pároco em cujo distrito se pretende for­mar oratório ou construir capela, assim como aos Reverendos Párocos circunvizinhos com a resposta do Reverendo Desembargador-Promotor.

Junto à mencionada petição se via e mostrava uma represen­tação do Pároco de Balasar ao Vigário Capitular que então ser­via, datada de 6 de Agosto de 1832, cujo teor, de verbo ad verbum, era o seguinte:

Excelentíssimo e Reverendíssimo Senhor
Dou parte a Vossa Excelência de um caso raro acontecido nesta freguesia de Santa Eulália de Balasar.
No dia de Corpo de Deus próximo pretérito, indo o povo da missa de manhã em um caminho que passa no monte Calvário, divisaram uma cruz descrita na terra: a terra que demonstrava esta cruz era de cor mais branca que a outra: e parecia que, tendo caído orvalho em toda a mais terra, naquele sítio que de­monstrava a forma da cruz não tinha caído orvalho algum.
Mandei eu varrer todo o pó e terra solta que estava naquele sítio; e continuou a aparecer como antes no mesmo sítio a forma da cruz. Mandei depois lan­çar água com abundância tanto na cruz como na mais terra em volta; e então a terra que demonstrava a forma da cruz apareceu de uma cor preta, que até ao presente tem conservado.
A haste desta cruz tem quinze palmos de comprido e a travessa oito; nos dias turvos divisa-se com clareza a forma da cruz em qualquer hora do dia e nos dias de sol claro vê-se muito bem a forma da cruz de manhã até as nove horas e de tarde quando o Sol declina mais para o ocidente, e no mais espaço do dia não é bem visível.
Divulgada a notícia do aparecimento desta cruz, começou a concorrer o povo a vê-la e venerá-la; adornavam-na com flores e davam-lhe algumas esmolas; e dizem que algu­mas pessoas por meio dela têm implorado o auxílio de Deus nas suas necessidades e que têm alcançado o efeito desejado, bem como: sararem em poucos dias alguns animais doentes; acharem quase como por milagroso animais que julgavam perdidos ou roubados e até algumas pessoas terem obtido em poucos dias a saúde em algumas enfermidades que há muito padeciam. E uma mulher da freguesia da Apúlia, que tinha um dedo da mão aleijado, efeito de um penando que nela teve, tocando a Cruz com o dito dedo, repentinamente ficou sã, movendo e endireitando o dedo como os outros da mesma mão, cujo facto eu não presenciei, mas o atestam pessoas fidedignas que viram.
Enfim, é tão grande a devoção que o povo tem com a dita cruz que nos domingos e dias santos de guarda concorre povo de muito longe a vê-la e venerá-la, fazem romarias ora de pé ora de joelhos em volta dela e lhe deixam esmolas; e eu nomeei um homem fiel e virtuoso para guardar as esmolas.
Querem agora alguns moradores desta freguesia com o dinheiro das esmolas se faça, no sítio onde está a cruz, como uma espécie de capela cujo tecto, coberto de tabuado, seja firmado em colunas de madeira e em volta cercado de grades também de madeira, para resguardo e decência da mesma cruz e, dentro e defronte da cruz descrita na terra, pôr e levan­tar outra cruz feita de madeira, bem pintada com a Imagem de Jesus Crucificado pintada, na mesma cruz.
Eu não tenho querido anuir a isto sem dar a Vossa Excelência parte do acontecido e mesmo em fazer a sobredita obra sem licença de Vossa Excelência, per­suadido que nem eu nem os moradores da freguesia temos autoridade para dispor a nosso arbítrio do di­nheiro das esmolas, que por agora ainda é pouco e não chega para se fazer obra mais dispendiosa e decente à proporção do objecto.
Agora sirva-se Vossa Excelência determinar o que lhe parecer e o que eu devo praticar a este respeito.
Santa Eulália de Balasar, aos seis dias do mês de Agosto de mil oito centos trinta e dois.
De Vossa Excelência súbdito o mais reverente – o Reitor António José de Azevedo

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Cem anos


Faz este mês cem anos que a pequena Alexandrina foi frequentar a escola primária para a Póvoa de Varzim. Uma experiência custosa pelo desenraizamento familiar e rural, mas também pelo ambiente difícil que os primeiros meses da República faziam viver a vila.
O número de países donde vieram em Dezembro as visitas ao Sítio Oficial cifrou-se em 119, número nunca antes atingido.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Há mais de um século que mostrei a cruz a esta terra amada



Na história da Santa Cruz de Balasar misturam-se o muito humilde e o muito original e surpreendente. A aparição, a princípio, não aparentou ser fenómeno de grande alcance, mas revelou-se intrigante e as pessoas deram-se disso bem conta e por isso dedicaram-lhe justificada veneração.
Depois da relação que Jesus estabeleceu entre a Cruz aparecida em Balasar em 1832 e a Beata Alexandrina, tudo quanto lhe diz respeito ganhou uma importância nova, enorme.
No colóquio de 5 de Dezembro de 1947, Jesus falou assim à Beata do Calvário:

És a minha vítima a quem confiei a mais alta missão. E como prova disso atende bem ao que te digo para bem o saberes dizer.
Quase um século era passado que eu mandei a esta privilegiada freguesia a cruz para sinal da tua crucifixão. Não a mandei de rosas, porque a não tinha, eram só espinhos; nem de oiro, porque esse, com pedras preciosas, serias tu com as tuas virtudes, com o teu heroísmo a adorná-la. A cruz foi de terra, porque a mesma terra a preparou.
Estava preparada a cruz; faltava a vítima, mas já nos planos divinos estava escolhida; foste tu.
O mal aumentou, a onda dos crimes atingiu o seu auge, tinha que ser a vítima imolada; vieste, foi o mundo a sacrificar-te.
E agora partes para o céu e a cruz fica até ao fim do mundo, como ficou também a minha.
Foi a maldade humana a preparar-Me a minha, e a mesma maldade humana preparou a tua.
Oh, como são admiráveis os desígnios do Senhor! Como são grandes e admiráveis! Que encantos eles têm!

Oito anos à frente, em 21 de Janeiro de 1955, insistiu:

Há mais de um século que mostrei a cruz a esta terra amada, cruz que veio esperar a vítima. Tudo são provas de amor!
Oh, Balasar, se me não correspondes!...
Cruz de terra para a vítima que do nada foi tirada, vítima escolhida por Deus e que sempre existiu nos olhares de Deus!
Vítima do mundo, mas tão enriquecida das riquezas celestes que ao Céu dá tudo e por amor às almas aceita tudo!
Confia, crê, minha filha! Eu estou aqui. Repete o teu «creio». Confia!

Ao longo do tempo houve três nomes que se destacaram como fundamentais para a história da devoção à Santa Cruz.
O primeiro foi o de Custódio José da Costa, balasarense que se assumiu como guardião da Cruz aparecida, a quem se deve a construção da capela e a erecção da confraria, que pela nova devoção gastou muito tempo e muito dinheiro e foi alvo de incompreensões.
O segundo foi o P.e Leopoldino Mateus, que tentou, a seguir à data do primeiro centenário da aparição, reavivar a devoção antiga, que promoveu o restauro do ex-voto de Custódio José da Costa e que por fim publicou sobre o tema um grande artigo no Boletim Cultural Póvoa de Varzim.
Mas há ainda o nome da Beata Alexandrina. Era para ela que a Cruz apontava, como Jesus esclareceu.
Curioso é constatar que em 1944, pouco antes portanto das primeiras palavras de Jesus sobre a Santa Cruz, tinha o retrato de Custódio José da Costa sido submetido a um restauro, sem dúvida da iniciativa do P.e Leopoldino. Se ele não conseguira repor a devoção antiga, ao menos não deixara que ela de todo se esquecesse.

domingo, 9 de janeiro de 2011

Os reitores de Balasar entre 1822 e 1860



De Novembro de 1823 a fins de Agosto de 1832, paroquiou Balasar o reitor António José de Azevedo.
Foi o pároco do tempo da renovação do Tombo da Comenda de Balasar (quase até ao fim) e da aparição da Santa Cruz.
A data do fim da sua actividade é um pouco suspeita. Terá ele sido vítima de expulsão logo após o desembarque do Mindelo?
De acordo com o P.e Silos, ao reitor António José de Azevedo sucedeu Manuel José Gonçalves da Silva. Mas este muito jovem padre, apesar de provido para reitor da freguesia, não deve ter chegado a tomar conta do lugar senão muito mais tarde, “por motivo ter sido mercê no tempo da usurpação” e talvez devido a ser mestre de Moral, em Braga. Se calhar também pertenceu ao batalhão eclesiástico… De facto, não se conhece nenhum registo paroquial com a sua assinatura antes de 1841.
Como em 1845 tinha 37 anos e fora provido para Balasar em 1833, teria nesta data 22.
A partir de 1841, ocupará o cargo até 1860, aos 52 anos.
De fins de 1832 até à vinda do reitor Manuel José Gonçalves da Silva, paroquiou Balasar o P.e Domingos José de Abreu. Nunca assinou como reitor, reconhecendo porventura que a sua situação não era definitiva na paróquia. Durante o breve período que medeia entre a morte de Domingos José de Azevedo e a chegada dele, assegurou o serviço o cura António José da Silva, como encomendado.
Domingos José de Abreu é o pároco do tempo das obras da actual capela da Santa Cruz e do começo da Junta de Paróquia. Lidou muito perto com Custódio José da Costa.
Em 1845, o P.e Domingos José de Abreu paroquiava Rio Mau.

sábado, 8 de janeiro de 2011

O contexto político-religioso da aparição da Santa Cruz e do desenvolvimento da nova devoção


As décadas de 20 e 30 do nosso séc. XIX foram marcadas por conflitos políticos que tiveram as mais variadas implicações religiosas.
Em Balasar, em Junho de 1832, era pároco António José de Azevedo. Foi em seu tempo que ocorreu a aparição. Logo adiante, ele desaparece da cena. Como? Porquê? Não sabemos; talvez tenha falecido.
O novo reitor de Balsar será colocado em 1833 e chamava-se Manuel José Gonçalves da Silva. Em 1834 porém expulsaram-no, só regressando sete anos mais tarde. Durante eles, o lugar foi ocupado por Domingos José de Abreu.
Porque foi expulso o reitor de Balasar? Por ser “cismático-miguelino”, diz o P.e Domingos da Soledade Silos. Mas isso, traduzido em linguagem comum, significa, por um lado, que ele simpatizava com D. Miguel e, por outro, que não simpatizava com D. Pedro e os liberais, preferindo a obediência às autoridades religiosas legítimas à dos intrusos, que então tinham sido colocados à frente da diocese. Isto é, ele era “cismático” segundo o P.e Silos… por não ser cismático, como o mesmo P.e Silos.
O P.e Manuel José Gonçalves da Silva sofreu então o vexame de estar expulso da sua paróquia durante sete anos por se ter colocado do lado certo.
E que se sabe do P.e Domingos José de Abreu? Terá sido ele um oportunista ou um liberal convicto? O mesmo P.e Silos dirá dele que tinha a sua política do catavento: “a sua conduta moral e civil [em 1845] é boa ou menos má, e a política é de catavento”. Talvez seja mais uma apreciação injusta, mas deve ter alguma coisa de verdade: algum oportunismo.
Durante os anos da ausência do reitor Manuel José Gonçalves da Silva, aconteceu muita coisa em Balasar, relacionada com a nova devoção à Santa Cruz. O P.e Leopoldino Mateus dá-nos conta disso no importante artigo que publicou no Boletim Cultural Póvoa de Varzim em 1959.
Que fontes utiliza este antigo pároco de Balsar?
A “Carta de Sentença Cível de Património da Capela da Santa Cruz de Jesus Cristo colocada na freguesia de Santa Eulália de Balasar”, os “Estatutos da Confraria do Senhor da Cruz”, com as anotações de Custódio José da Costa, e as actas da Junta de Paróquia.
E conta alguma coisa sobre esta mudança de párocos? Não. Provavelmente, saberia até pouco sobre a história do dificílimo período que Portugal então viveu.
Como podemos conhecer o que então se passou? Para um conhecimento genérico, há que recorrer a uma boa história do país (costuma-se citar com alguma frequência a História Concisa de Portugal, de Hermano José Saraiva) e a uma história da Igreja (a mais conhecida é a História da Igreja em Portugal, de Fortunato de Almeida). O Mons. José Augusto Ferreira, que foi pároco de Vila do Conde, escreveu uns Fastos Episcopais da Igreja Primacial de Braga, em três volumes, que também convém consultar.
Para avançar num sentido mais local e preciso, é indispensável ler, embora com todas as reservas, os Inquéritos Paroquiais feitos pelo arcipreste P.e Silos, em 1845. Os do concelho de Vila do Conde existem publicados em livro, os da Póvoa de Varzim foram publicados no Boletim Cultural Póvoa de Varzim. Nos dois casos a publicação foi promovida pelo P.e Franquelim Neiva Soares.
A partir daqui, haverá que recorrer aos livros paroquiais, como os registos, que actualmente, em parte estão em linha, aos livros das visitações (não se conservam, os de Balsar), às actas da Junta de Paróquia (embora o P.e Leopoldino as cite, hoje desconhece-se o seu paradeiro, tendo-se porventura perdido definitivamente). Para Balasar, há ainda o Tombo da Comenda, que é dos anos de 1830-33.

Nota - Nós estudámos a história deste período das lutas liberais relativa à nossa terra natal, que era sede dum pequeno concelho e fica a uns 12 km de Balasar, hoje Barcelos. Lá, dispusemos das actas da Câmara, das da Junta de Paróquia (a partir de 1838) e dos Livros das Visitações. Um dossiê bastante completo. O concelho era constituído por duas paróquias e os seus párocos seguiram caminhos opostos, o da nossa terra manteve-se fiel às autoridades legítimas da diocese e o outro foi um liberal assanhado, que chegou a ser preso ao tempo em que D. Miguel se assumiu como rei. Em 1834, o da nossa terá foi expulso e a freguesia anexada à sua vizinha. Em 1838, o tal pároco liberal foi assassinado e a legalidade foi então reposta na nossa terra.
O conhecimento mais pormenorizado deste período da história de Portugal ajuda, por exemplo, um professor de Português, como nós somos, a ter uma atitude mais rigorosa face a obras literárias como Viagens na Minha Terra, Os Maias ou Felizmente Há Luar! Esta última, em particular, justifica uma perspectiva muito crítica.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Assento de baptismo de Custódio José da Costa

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O fundador da capela do Senhor da Cruz de Balasar, Custódio José da Costa, afirma que nasceu em 1788. Procurando nos registos paroquiais desse ano, só encontrámos um assento de baptismo dum Custódio, pelo que é necessariamente o seu.  
Pelos vistos era natural de Gresufes, como a Beata Alexandrina. Mas mais, testemunhou o acto um homem que com muitas probabilidades era antepassado da mesma Alexandrina, de nome António Domingos Vicente da Costa. De facto a casa paterna da Alexandrina era a dos Vicentes; ela mesma era conhecida também como Alexandrina Vicente. E a testemunha também é Costa como ela.
O nome Custódio era então muito popular (em honra do Anjo da Guarda ou Anjo Custódio), como o próprio assento testemunha.

Custódio, filho legítimo de Custódio da Costa Reis e de sua mulher Rosa Francisca, da aldeia de Gresufes desta freguesia de Santa Eulália de Balsar, neto pela parte paterna de Manuel da Costa Reis e de sua mulher Custódia Francisca, da mesma aldeia de Gresufes, e pela parte materna neto de Manuel Gonçalves e de sua mulher Maria Francisca, da freguesia de S. Miguel de Arcos, nasceu aos 16 dias do mês de Março do ano de 1788 e foi baptizado por mim, António da Silva e Sousa, reitor desta freguesia aos 19 dias do mesmo mês e ano. Foram seus padrinhos Custódio, solteiro, filho de Custódio da Costa, de Vila Pouca, e Ana, solteira, filha de Manuel Gonçalves, da freguesia de S. Miguel de Arcos, estando presentes testemunhas António Domingues Vicente da Costa, ambos de Gresufes, e Custódio, solteiro, seu padrinho. E por assim [ser] verdade, fiz este ermo, que assino. Era ut supra.
O Reitor António de Sousa e Silva
António Domingos Vicente da Costa
Custódio, solteiro

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Santa Cruz de Balasar

Continuamos a estudar a história da Santa Cruz. Hoje fizemos uma consulta ao volume terceiro da História da Igreja em Portugal, de Fortunato de Almeida, sobre o período que vai do desembarque do Mindelo até aos anos quarenta e tantos, durante os quais os liberais impuseram ao país um corte cismático com Roma. São páginas importantes para se perceber o contexto em que decorreram em Balasar os primeiros anos da nova devoção.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

P.e Domingos da Soledade Silos


O P.e Domingos da Soledade Silos, o sacerdote que lavrou o registo de baptismo de Eça de Queirós, tem um lugar de importância na história do Arciprestado de Vila do Conde e Póvoa de Varzim e o percurso da sua vida ajuda a perceber alguns aspectos da história da Santa Cruz de Balasar.
Domingos da Soledade Silos nasceu em Braga, a 17-12-1805, e morreu em Guimarães, a 22-7-1855. Em 1824, fez-se religioso franciscano. Frequentou então um curso de ciências positivas e reveladas, em que se graduou, tendo exercido o magistério na sua ordem. Leu ainda Teologia e Filosofia no Colégio de Santo António de Castelo Branco, em 1832. Ao que parece, devido às suas simpatias pelos novos ventos liberais, foi expulso da ordem.
Desde 1839, foi prior da Matriz de Vila do Conde, depois de ter tido já duas experiências de pároco, uma em Gémeos (Guimarães) e outra em Touguinhó (Vila do Conde).
Granjeou fama de bom orador sagrado e foi agraciado com as honras de pregador régio e cavaleiro da Ordem de Cristo. Publicou os seguintes sermões:
Sermão recitado em 4 de Abril de 1842 na festividade que mandou fazer a Câmara e autoridades de Vila Nova de Famalicão, etc., Braga. 1842; Oração fúnebre que nas exéquias aniversárias pela infausta morte de S. M. I. o Sr. D. Pedro IV recitou na real capela de N. S. da Lapa em 24 de Setembro de 1843, Porto, 1843; Oração fúnebre nas exéquias … pela morte de S. M. I. o Sr. D. Pedro de Alcântara, etc., tributada à sua memória pela segunda vez em 24 de Setembro de 1844, Porto, 1844; Oração fúnebre tributada no terceiro e sucessivo ano, à morte de S. M. I. o Sr. D. Pedro de Alcântara, etc., Porto, 1845; Oração recitada na real capela de N. S. da Lapa da cidade do Porto por ocasião do solene Te Deum Laudamus que a Ex.ma Câmara mandou cantar no dia aniversário 27 de Janeiro de 1845, etc., Porto, 1845.
Publicou mais: Vida preciosa e glorioso martírio de S. Torquato, Arcebispo de Braga. extraída das melhores autores tanto sagrados como profanos. Lisboa, 1845
Escreveu ainda vários artigos para jornais de Braga e do Porto.
Um dos sermões que dele conhecemos, achamo-lo uma verdadeira lástima, pela atitude bajuladora frente à corte e mesmo pelo tradicional aproveitamento abusivo do texto bíblico. Já o estudo sobre S. Torcato parece-nos aproveitável.
Em 1845, procedeu a arquidiocese bracarense a «Inquéritos Paroquiais», como nos dá conta A. Franquelim S. Neiva Soares no seu livro O concelho de Vila do Conde e os inquéritos paroquiais de 1825 e 1845. O P.e Domingos da Soledade Silos, que era então arcipreste, foi quem por cá pôs em marcha o processo.
Os tempos eram difíceis. A Maria da Fonte e a Patuleia estavam prestes a estalar e as feridas deixadas pela ascensão dos liberais ao poder ainda sangravam. O impacto de medidas como a extinção das Ordens Religiosas não podia deixar de ter o efeito de hecatombe, num país marcadamente religioso e inculto e por isso muito dependente da hierarquia religiosa. Depois, viera o cisma. Por iniciativa ou conivência do novo poder, a direcção das dioceses portuguesas foi ter às mãos de responsáveis não sancionados por Roma e adeptos incondicionais do regime. A Cristandade portuguesa esfacelava-se em grupos rivais e querelas inúteis.
Dum homem como o P.e Domingos da Soledade Silos, detentor de um nível cultural acima do comum, seria de esperar uma atitude conciliadora, que abrisse caminhos e se não enredasse nas questiúnculas do momento. Mas aconteceu o inverso. Colado à ideologia liberal, «exaltado e cismático ferrenho, não podia deixar de acusar os outros de miguelinos e cismáticos, até de inábeis» (op. cit., p. 17). Veja-se como se pronunciou a respeito dum colega seu duma paróquia rural vilacondense:
Frequentou Filosofia e Retórica, porém com pouco proveito. Foi um cismático acérrimo, e um realista atrevido - hoje é bom por não poder ser mau; da sua conduta moral, pouco poderei informar, contudo nada me consta; tem forças e aptidão para ser pároco, se por desgraça o nomearem. (ibidem, p. 65).
Foi este seu entusiasmo liberal que lhe trouxe à paróquia o jovem pai de Eça, também ele defensor apaixonado da mesma ideologia. Ainda solteiro e funcionário público, as coisas tornar-se-lhe-iam difíceis se o caso da sua paternidade fosse demasiado badalado. Ora, como o pároco poveiro era muito conservador, recorreu ele ao correligionário “exalta­do”, que naturalmente se prontificou a dar seguimento compreensivo ao apuro.

Registo de baptismo de Eça de Queirós em linha.

Imagens:
Ao cimo, retrato do P.e Domingos da Soledade Silos; ao fundo, fragmento do registo de baptismo de Eça de Queirós. A fotocópia donde ele se digitalizou foi feita a partir do original. Apesar de bastante apagada, ainda se lê nela: "José Maria, filho natural de José Maria de Almeida da Teixeira de Queirós e de mãe incógnita..." Por cima do registo, está a assinatura do Prior vilacondense.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Santa Cruz de Balasar - II


É muito pouco o que sabemos (o que sabe o autor deste texto) sobre o período terrível que a Arquidiocese de Braga e a Paróquia de Balasar viveram ao longo das décadas de vinte e trinta do século XIX. Mas terá sido, quer num caso quer noutro, um dos mais difíceis períodos da sua história.
Entre 1827 e 1843, Braga não teve arcebispo ou, segundo a terminologia eclesiástica própria, esteve sede vacante. O clero diocesano dividiu-se entre apoiantes de D. Miguel e de D. Pedro. A Igreja em Portugal viveu nesses anos em cisma, isto é, sem bispos aprovados por Roma.
Em Balasar, sucederam-se estes párocos:
António José de Azevedo – 1824-1832. Em finais de 1832, deixa de paroquiar a freguesia, não sabemos se por morte natural, se por morte violenta, se por expulsão. Foi ainda em seu tempo que ocorreu a aparição da Santa Cruz: 21 de Junho de 1832, dia do Corpo de Deus.
Manuel José Gonçalves da Silva – 1833-1860. Foi expulso da paróquia em 1834, o que era comum no agitado momento político que então o país vivia. Durante os cerca de oito anos em que esteve fora (regressou em 1841), substituiu-o o P.e Domingos José de Abreu.
Em 1845, o P.e Domingos da Soledade Silos informou sobre ele:
“O pároco chama-se Manuel José Gonçalves da Silva, de idade de trinta e sete anos; tem o título de reitor; foi provido por concurso em mil oitocentos e trinta e três e expulso em mil oitocentos e trinta e quatro, dando-se-lhe por motivo ter sido mercê no tempo da usurpação e depois foi reintegrado em mil oitocentos e quarenta e um. Nunca exerceu outros empregos eclesiásticos, só, sim, em Braga, antes de provido, mestre de Moral. Frequentou Filosofia, Retórica e Teologia Dogmática e Moral.
Quanto à sua conduta religiosa e política, agora é boa, mas antes foi cismático-miguelina; a moral é menos má. Tem aptidão para continuar a ser pároco e desempenha bem as suas obrigações; tem os livros todos com legalidade”.
Por norma, quando o P.e Domingos da Soledade Silos diz mal dum pároco, isso deve ser entendido como um elogio, sabido como é que ele foi um cismático ferrenho, adepto cego do liberalismo.
O relatório (representação) sobre a aparição da Santa Cruz enviado pelo P.e António José de Azevedo ao Vigário Capitular da Arquidiocese data de 6 de Agosto de 1832; é pois apenas mês e meio posterior ao acontecimento; o seu conteúdo foi a seguir confirmado no essencial por outros relatórios dos párocos de Gondifelos e de Macieira.
De notar também que o desembarque do Mindelo data de 8 de Julho desse ano.
A vitória liberal de Maio de 1834 iria ter consequências catastróficas para a Igreja. Neste sentido, a aparição era um sinal de alento à fé. E esta mensagem há-de ter sido claramente entendida, como o comprova o extraordinário afluxo de pessoas que lá vinham.
A autorização para construir a capela data de 1834, já após a Convenção de Évora-Monte, quando exercia as funções de pároco o P.e Domingos José de Abreu.
Durante os anos de 1830-33, Balasar teve repetidas visitas de funcionários régios, idos de Barcelos, que estavam a actualizar o Tombo da Comenda de Balasar. Alguma intervenção hão-de ter tido nos acontecimentos que então se desenrolavam na freguesia.