terça-feira, 30 de abril de 2013

A Santa Cruz numa acta camarária


A acta camarária de 13 de Janeiro de 1838 contém, já depois das assinaturas, uma adição sobre um terreno pedido pela Junta de Paróquia para a Santa Cruz. Reza assim:
Adição
Nesta (sessão) se deu o despacho ao Presidente e mais membros da Junta de Paróquia da freguesia de Balasar em que pediu a esta Câmara um pedaço de terreno maninho que existe em torno da Santa Cruz da mesma freguesia, visto este ser pequeno e acanhado em consequência dos devotos que ali concorrem. Mas porque talvez desejam aforá-lo certos indivíduos, por isso requeriam que lhes demarcasse o dito terreno para ficar solto assim como se acha. E deferiu-se-lhes que em tempo oportuno se ia demarcar.
Como a Junta só existia desde o ano anterior, parece que depressa se assenhoreou dos destinos da Santa Cruz, pondo de lado o Custódio José da Costa.

domingo, 28 de abril de 2013

O evangelista S. Lucas - palestra na Tuitio Fidei


O evangelista S. Lucas não foi apóstolo, mas deve ter sido um convertido dos primeiros tempos da Igreja, certamente um helenista. Possuía uma cultura diversificada. Além de autor do terceiro evangelho, é também autor dos Actos dos Apóstolos.
Ele é o principal evangelista do Espírito Santo e de Nossa Senhora. A maior parte do que sabemos da Mãe de Deus chegou-nos através dele. Isto já o valoriza no contexto da devoção à Beata Alexandrina, que se distinguiu por uma muito terna e grande devoção à Mãe de Jesus.
A seguir à Páscoa, nas leituras das eucaristias, ouvimos muitas vezes trechos dos Actos dos Apóstolos, mas no actual ano litúrgico ouvimos quase sempre o Evangelho de S. Lucas.
Os Actos dos Apóstolos são um livro importantíssimo. É por ele que conhecemos como viviam as primeiras comunidades (muitos dos membros delas tinham conhecido Jesus na vida terrena), que conhecemos como actuaram os apóstolos nos primeiros tempos, como se converteu S. Paulo, as suas viagens apostólicas, a propagação da Igreja na Síria, na Ásia Menor (Turquia), na Grécia.
Foi como resposta às necessidades destas comunidades que se redigiram os Evangelhos.
Eu vou comentar alguns passos do Evangelho de S. Lucas; para poder dizer alguma coisa menos vaga sobre ele, deixo de lado os Actos.


A Anunciação (Lc 1 26-38)

Consideremos os primeiros parágrafos:

Quando Isabel estava no sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia, chamada Nazaré, a uma virgem prometida em casamento a um homem de nome José, da casa de David. A virgem chamava-se Maria.
O anjo entrou onde ela estava e disse:
- Ave, ó cheia de graça! O Senhor está contigo!
Ela perturbou-se com estas palavras e começou a pensar qual seria o significado da saudação.

Convém dizer que o nome comum virgem (palavra de origem latina que corresponde à grega partenos) significava rapariga, jovem solteira.
Sobre a saudação do Anjo, é possível que o ave da tradução portuguesa (ave é uma palavra latina) corresponde ao shalom hebraico.
Pelos vistos, na rua um homem não saudava uma mulher. Ora Maria é saudada por um anjo, que parece mais um ser masculino que feminino. E ao chamar-lhe cheia de graça dá-lhe um elogio muito grande. Ela perturbou-se.
A expressão O Senhor está contigo! lembra outras expressões semelhantes do texto bíblico antigo e significa que Deus A escolhera para uma missão e Lhe prometia auxílio para esse fim.
José é da casa de David, para garantir a filiação davídica de Jesus, o Messias anunciado.

O anjo, então, disse:
- Não tenhas medo, Maria! Encontraste graça junto a Deus!
Conceberás e darás à luz um filho e pôr-lhe-ás o nome de Jesus.
Ele será grande: será chamado Filho do Altíssimo e o Senhor Deus lhe dará o trono de David, seu pai. Ele reinará para sempre sobre a descendência de Jacob e o seu reino não terá fim.

A perturbação de Maria foi muito grande, por isso o Anjo quis sossegá-La. Depois acrescentou mais um elemento da mensagem: Encontraste graça junto a Deus!
Dizer a uma jovem solteira que ela vai conceber e dar à luz um filho devia fazer estremecer: espera-se que uma jovem solteira tenha uma palavra a dizer sobre o fruto do seu ventre, que lhe compromete o futuro. O que vale é que o Senhor estava com Ela… E Ele ia ser rei…
Maria rapidamente deve ter percebido que estava em causa o cumprimento duma profecia messiânica muito antiga, o que o Anjo confirma e explica: vai nascer dela o Filho de Deus, o Messias, Filho de David.
Isto mostra que Deus tem grande plano para Ela, está mesmo com Ela.

Maria, então, perguntou ao anjo:
- Como acontecerá isso, se eu não conheço homem?
O anjo respondeu:
- O Espírito Santo descerá sobre ti e o poder do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra.
Por isso, aquele que vai nascer será chamado santo, Filho de Deus.
Também Isabel, tua parenta, concebeu um filho na sua velhice. Este já é o sexto mês daquela que era chamada estéril, pois a Deus nada é impossível.

Aqui trata-se o tema da concepção virginal do Redentor, pelo poder do Espírito Santo, anunciada há séculos. O filho desta jovem Maria (Mariame) será Filho de Deus…
Qual poderia ser a reacção duma mulher comum a um anúncio destes?

Maria disse:
- Eis aqui a escrava do Senhor! Faça-se em mim segundo a tua palavra.
E o anjo retirou-se.

A expressão Eis aqui a escrava do Senhor! deve-nos faz-nos estremecer a nós. Ser escrava é coisa muito séria.
A Beata Alexandrina ofereceu-se como vítima, que é quase o mesmo. Mas ainda assim, escrava…
A jovem Maria, Nossa Senhora, teria então 14/15 anos, como a Alexandrina por altura do Salto.
O sentido desta escravidão já se vai esclarecer.


A visita à prima Isabel e o Magnificat (Lc 1 29-56)

Ir de Nazaré a Judá implica andar lá para uns 130 km. Ousada ou curiosa esta jovem? Sobretudo santa.

- Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre!
Donde me vem esta honra de vir a mim a mãe de meu Senhor?

A Ave-Maria está-se a construir.
Se a jovem Maria é a “a mãe de meu Senhor”, Ela é a Mãe de Deus… Que honra recebê-La!
Agora o canto de Nossa Senhora: Ela tem veia poética (a Beata também a tinha…) Mas sobretudo era agradecida.

- A minha alma glorifica ao Senhor e o meu espírito exulta de alegria em Deus, meu Salvador, porque olhou para sua pobre escrava!
Por isto, desde agora, me proclamarão bem-aventurada todas as gerações, porque realizou em mim maravilhas o Poderoso e o seu nome é Santo.

“Desde agora, me proclamarão bem-aventurada todas as gerações”: nós não podemos falhar nesta proclamação.
Afinal, a “escrava do Senhor” não se sente de mãos atadas. Como diz um salmo, “o Senhor é meu pastor, nada me pode faltar”. Ela confia nele inteiramente.
Daqui para a frente está sobretudo no poema a realização das promessas messiânicas.
O Magnificat e o Canto de Ana no Livro de Samuel.


Jesus no começo da vida pública em Nazaré (Lc 4 16-30)

O episódio tem duas partes: na primeira, Jesus afirma-Se como Aquele que vem cumprir os anúncios de Isaías, como o Messias, e todos Lhe dão crédito; na segunda, há a rejeição.

Jesus então ensinava nas sinagogas e era aclamado por todos. Dirigiu-se a Nazaré, onde se havia criado. Entrou na sinagoga em dia de sábado, segundo o seu costume, e levantou-se para ler. Foi-lhe dado o livro do profeta Isaías. Desenrolando o livro, escolheu a passagem onde está escrito (61,1s.):
- O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu; e enviou-me para anunciar a boa nova aos pobres, para sarar os contritos de coração, para anunciar aos cativos a redenção, aos cegos a restauração da vista, para pôr em liberdade os cativos, para publicar o ano da graça do Senhor.
E enrolando o livro, deu-o ao ministro e sentou-se; todos quantos estavam na sinagoga tinham os olhos fixos nele. Ele começou a dizer-lhes:
- Hoje cumpriu-se este oráculo que vós acabais de ouvir.

Isto como que continua a Anunciação (referência ao Espírito Santo) e parece Evangelho de S. João, onde Jesus constantemente afirma a sua filiação divina do modo mais declarado. Aqui não o declara taxativamente, mas pouco menos. Mas na sua terra.
S. Lucas é o único evangelista que narra este episódio.

Ele, porém, passou por entre eles e retirou-se.

Esta frase significa que Jesus é que decide quando há-de começar a caminhada para a morte, quando é chegada a sua hora.


A Parábola do Filho Pródigo (Lc 15 11-32)

Resumir.
O pai liberal.
Em qual dos filhos nos reconhecemos?
A festa pelo que regressou.
Uma imensa fortuna para o que permaneceu: Tudo o que é meu é teu. Liberalidade mais uma vez.
Isto lembra aquela parábola dos homens que foram trabalhar para a vinha em diferentes horas do dia e receberam todos a recompensa generosa dum dia inteiro.

O bom ladrão (Lc 23 39-43)

Resumir.
Isto não é uma parábola, mas um episódio acontecido. Comenta a parábola do filho pródigo.
Alguém imagina um bom ladrão?
Um ladrão é sempre mau, até porque nunca se sabe se um roubo não acaba em mortes.
E este bom ladrão não devolveu o furto. Como é que pode entrar no Céu, ainda por cima “hoje mesmo”? Que sacerdote é que o poderia absolver?
Isto passou-se no momento mais alto da redenção, na cruz…
Jesus, que como o seu Pai, é muito rico, deve-se comprometer a compensar os que haviam sido roubados.
Mas o ladrão praticou alguma obra sublime? Fez alguma coisa…
Isto desorganiza as nossas ideias.


“Amai-O! Amai-O! Ele é tão bom!”

O primeiro mandamento ordena-nos que amemos a Deus. Será que algum de nós considera que tem investido no cumprimento dele? Pode-se dizer: pelas minhas obras eu demonstro que O amo. Mas amor implica um sentimento caloroso, alegria, como diz Nossa Senhora no Magnificat. Será que nos ensinam a amar a Deus?
O amor parece ser sobretudo o prazer do convívio. Eu sei que amo alguém se sinto prazer em colaborar com essa pessoa, em estar na sua presença. Penso que o Evangelho de S. Lucas nos ensina de um modo muito original e convincente a amar a Deus. Na parábola do filho pródigo Deus é um pai que dá abraços. Não pede muito e oferece quase tudo. E dá uma festa, com música, para assinalar o regresso do filho, que se comportara mal. Na Cruz, Jesus oferece gratuitamente e imediatamente o Céu àquele ladrão que nós mandaríamos, no mínimo, para um longo purgatório.
Nós devemos descobrir a alegria, a gratidão da oração de Nossa Senhora:

Minha alma glorifica ao Senhor, meu espírito exulta de alegria em Deus, meu Salvador, porque olhou para sua pobre escrava!
Por isto, desde agora, me proclamarão bem-aventurada todas as gerações, porque realizou em mim maravilhas aquele que é poderoso e o seu nome é Santo.

Isto é amor a Deus.
No túmulo da Beata Alexandrina, diz-se de Jesus: “Amai-O! Amai-O! Ele é tão bom!”
Isto vale para o Filho, para o Pai e para o Espírito Santo: “tudo o que o Pai faz, o Filho o faz também”. Tudo o que o Filho faz, o Pai e o Espírito Santo o fazem também.

Livro do Peregrino


Já possuímos o nosso exemplar do Livro do Peregrino publicado em Balasar. Tem um conteúdo diversificado e útil. 

sábado, 27 de abril de 2013

Afinal…


Já aqui o dissemos, Balasar, muito antes da Beata Alexandrina, foi terra de romagem. Houve os romeiros da Santa Cruz, os de Nossa Senhora da Piedade e certamente também os de S. Pedro de Rates. Vamos acrescentar alguma coisa sobre S. Pedro de Rates.
Penso que este “problemático santo” foi definitivamente arrumado para o mundo da lenda. Tudo bem. Mas porque havia a lenda de ter surgido em Rates (e depois aproveitar a fonte de Balasar)?
Existiu em Rates, desde há uns mil anos, uma estátua dum bispo. Redescoberta há algumas décadas, só a conhecemos há semanas. Mas uma coisa é certa, sempre houve algum fogo que produzisse o fumo da lenda.
Tem todo o ar de ser um bispo e até de não ser S. Pedro Apóstolo, primeiro Papa. Primitiva, rude? Sem dúvida.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Balasar celebra 9.º aniversário da beatificação de Alexandrina


No Mais Semanário encontrámos o programa abaixo para o dia 25. A edição impressa do último número trazia informação variada, como por exemplo indicações sobre obras que se pretendem realizar.

Para este grande dia, em que centenas de pessoas peregrinam ao Santuário de Balasar, foram programadas várias celebrações. A manhã desta quinta-feira será dedicada ao especial louvor à Beata Alexandrina e a tarde, a Jesus Eucaristia.

Programa

Manhã de Louvor em honra da Beata Alexandrina

8h00: Acolhimento

8h30: Oração de Laudes

9h00: Tema: “Alexandrina, mulher de Fé”

Pe. Dário Pedroso, S.J.

Cânticos e poemas em honra da Beata Alexandrina

10h30: Eucaristia dos doentes

11h30: Exposição do Santíssimo



Tarde de louvor a Jesus Eucaristia

14h30: Tema: “Alexandrina, modelo de Fé a Jesus Eucaristia”

Cânticos e orações em honra de Jesus Eucaristia

16h00: Oração de Vésperas

16h30: Bênção do Santíssimo

17h00: Eucaristia festiva, presidida por D. Manuel Linda, Bispo Auxiliar de Braga

Ainda na parte de manhã, serão apresentados o CD musical “Florinha da Eucaristia” que reúne 9 faixas musicais dedicadas à Beata Alexandrina, o “Livro do Peregrino”, um livro pensado para servir os peregrinos, e uma pintura a óleo de Fernando Rosário, uma obra de arte dedicada à vida e mensagem da Beata Alexandrina.

sábado, 20 de abril de 2013

A caminho do 9º aniversário da Beatificação

Já vimos, mas não lemos, alguns cartazes a anunciar as celebrações comemorativas do 9º aniversário da beatificação da Alexandrina. Presumimos que não difiram muito dos dos anos anteriores. Mas sabemos que vai ser publicado um opúsculo, sem dúvida interessante.
Colocamos a seguir as elogiosíssimas palavras que Jesus dirigiu à Beata Alexandrina em 16 de Fevereiro de 1945 e algumas que ela com Ele trocou. Deve-se reparar no carácter poético e também profético da linguagem de Jesus:
- Minha filha, loucura de amor pelas almas, loucura de amor por Mim: és louca pelas almas à minha semelhança. Assemelhei o teu calvário ao meu.
A tua vida é vida de Cristo: vive Cristo transformado em ti.
Sobes o calvário, porque não posso subi-lo Eu agora. Levas a cruz, porque não posso levá-la Eu também. És o cordeirinho sacrificado e imolado, dás a vida na maior das agonias, porque agora não posso Eu sofrer assim. É revestida de Mim que sofres, é comigo que levas a cruz, é comigo que nela expirarás.
Por um grande intervalo de tempo, vi Jesus com a cruz aos ombros. Não O senti, vi-O. Mas eu era Jesus e era a cruz. Que cruz tão grande! E Jesus tão curvado debaixo dela; o Seu santíssimo rosto quase chegava ao chão.
- Minha filha, assim me obrigam os pecados do mundo, assim me obriga o meu amor às almas. São os crimes, é o amor a causa de caminhar quase de rosto em terra.
Sofre, minha amada querida, sofre à minha semelhança, és vítima escolhida por Mim.
Minha filha, fonte de salvação, fonte de toda a humanidade, és fonte que não seca, és água que sacia todo o mundo: todo em ti pode beber, todos nesta água se podem purificar.
Minha filha, língua de louvor. Pela tua língua sagrada toda a terra Me louvará até ao fim do mundo. E já no Céu os anjos e santos Me louvam ao verem o teu sofrimento e a glória que Me dás.
Minha filha, coração de fogo de amor, fogo que se estenderá e abrasará milhares e milhares de corações!
Minha filha, corpo de pureza, pureza angélica, assaltada sempre e sempre guardada no meio dos mais agudos e penetrantes espinhos: o teu corpo de pureza, adornado de todas as virtudes, as mais ricas e preciosas, estende as suas pétalas de lírio com toda a sua alvura e perfume. Crescem açucenas tenras e viçosas, abrem as suas pétalas e com a aragem que passa estendem ao longe o seu perfume, vicejam em prado mimoso. Fazem sombra ao mundo que te confiei. Ditosos todos aqueles que estão à sua sombra, ao teu abrigo se colocaram.
Causa espanto a tua vida, as minhas maravilhas em ti. Não há igual, porque igual não há ao teu sofrimento.Tu partes para o Céu. Coragem, ele aproxima-se! Tantos te verão partir com amor e saudade e quantos com remorso e dor por terem sido causa do teu martírio, por terem servido de estorvo à minha divina causa, por tentarem encobrir ao mundo as minhas maravilhas em ti!
Rastejam pela terra, não olham ao alto, não compreendem, nem procuram compreender a minha vida divina, apesar de Eu em todos os caminhos lhes pôr um guia e uma luz. Fecham os olhos, deixam os guias, seguem caminhos errados.
Que mágoa para o meu divino coração e que mal para as almas! Dou todas as graças, dou todo o remédio para as salvar, e tudo é desprezado, não olham à minha dor nem à minha divina vontade.
- Meu Jesus, não estejais triste, dai-me a Vossa tristeza, dai-me toda a dor do Vosso divino Coração! Não posso consentir no Vosso sofrimento. Conheço a loucura do Vosso amor pelas almas; aqui me tendes pronta a sofrer por elas, a dar a vida por elas.
Ficais assim consolado, meu Jesus? Deixai os homens ferir o meu coração para assim Vos poder salvar mais almas. Mas não consintais que o Vosso seja ferido.
- Não, não, minha filha, não, não, minha amada, não posso consentir que esta cegueira se prolongue. A luz vai brilhar, a minha divina causa triunfa estrondosa e brilhante. É necessário, é urgente, as almas necessitam de conhecer as minhas maravilhas e de aprender em ti a amarem o meu divino coração, a amarem tudo o que é meu, amarem a dor e a cruz que lhes dou.
Filhinha, filhinha, dor e amor sem igual, descansa em meu coração como Eu descansei no teu. Descansou o Rei no seu trono, no palácio da sua Alexandrina. Descansa a rainha no trono do seu Rei, no palácio do seu Jesus.
Jesus abriu-me o Seu divino Coração, eu entrei e inclinei-me a Ele, nele descansei. O meu Jesus cobriu-me de beijos e carícias e apertou-me com tanta força e com tanto amor que me parecia perder-me nesse amor e nesse amor morrer.
Ai, que dita a minha morrer de amor e dentro do Coração do meu amado Jesus! Como será a morte que me dá a vida eterna?
Ó meu Jesus, fazei que seja de amor, só de amor!

História de Balasar

Dois marcos

Conseguimos agora fotografias sofríveis de dois importantes marcos delimitadores da freguesia de Balasar e por isso queremos tecer sobre eles algumas considerações.
Ao mais vistoso, já uma vez fizemos alguma referência: é da Casa de Bragança, esteve algum tempo deitado no chão, mas foi recentemente colocado na vertical e com a face que tem a coroa e o escudo nacional voltada para Rates, o que nos parece certo, pois cremos que delimitava o reguengo de Agistrim (Gestrins), em Balasar.
O outro, menos vistoso sem dúvida, pode ser um monumento de rara importância. Em 1258 é mencionado como a Pedra Negra e a partir dele é feita a delimitação do reguengo. Também é mencionado com o mesmo nome de Pedra Negra em 1542.
Era nestas datas um marco do couto de Rates, mas o facto de ter a face voltada para Balasar, para o lado de onde nasce o sol, pode apenas ter a ver com a sua função original. Realmente, deve tratar-se de um menir e vir portanto do tempo das mamoas que existiram nos limites de Balasar com Macieira e com S. Marinha de Vicente, isto é, de cerca de 2000 antes de Cristo. A parte superior tem algum carácter antropomórfico.
A palavra menir tem em português como sinónimo a palavra pedrafita ou perafita. Ora, a nascente de Balasar, houve S. Veríssimo de Pedrafita.
Há razões para crer que este marco teve um papel histórico notável, já em tempo dos romanos e depois ao tempo dos visigodos. Não era por acaso que o Arcediagado de Vermoim terminava em Guardinhas... era com certeza por causa da Pedra Negra.

Clique sobre as imagens para as ver em tamanho maior.

sexta-feira, 19 de abril de 2013

A IGREJA PAROQUIAL DE BALASAR (6)


Em 1839, o regedor de Balasar expôs ao administrador do concelho um rol de necessidades que se verificavam na paróquia. Não se vê bem porque é que isso devia passar pelo administrador e, ainda mais, pelo administrador geral do distrito.
A redacção da exposição é bastante deficiente.
Paroquiava Balasar ainda o P.e Domingos José de Abreu e era administrador António José dos Santos, de Vila Nova.
A igreja estava mal, mas as obras não se devem ter realizado.

Ilustríssimo Sr. Administrador do Concelho da Póvoa de Varzim
(para constar ao Ilustríssimo Sr. Administrador Geral do Distrito)

Ilustríssimo Senhor
Por ordem que recebi de 26 de Janeiro deste corrente ano para fazer o orçamento da receita e da despesa que pertence pagar aos paroquianos neste corrente ano, é de maior e de mais extrema necessidade o seguinte:
Em primeiro lugar têm obrigação os paroquianos de pagar a cera que é para administrar os sacramentos aos enfermos e a que gasta cada um quando falece e mais funções da igreja, que costuma regular em cada ano, uns por outros, de cinco até sete mil réis pouco mais ou menos.
E também é da maior necessidade rebocar os telhados da igreja, porque chove muito nas madeiras e dentro nela, e compor o solho, que está todo podre, que já o ano passado se quis lançar e se louvou por um trolha e um carpinteiro, que dizem que são precisos seis ou sete sacas de cal e doze centos (?) de telhas novas e telheiras para o cume e de mais ou menos doze mil réis para compor o solho, pelo maior, e pregadura, mãos e madeiras ao menos seis mil réis, que isto é da maior necessidade.
E mais são obrigados por não haver rendimentos na paróquia a pagar ao secretário e tesoureiro, que sempre se lhe tem julgado ao secretário pelo seu trabalho mil réis por mês e ao tesoureiro trezentos réis por mês.
E são estas as despesas que de necessidade se devem pagar neste corrente anos por serem as de mais necessidade.
É o que posso informar a V. Senhoria.
Deus guarde V. Senhoria.

Balasar, 27 de Fevereiro de 1839.
Do Regedor de Balasar
José da Costa Reis

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Um bandoleiro balasarense


Este blogue está ao serviço da Beata Alexandrina. Em consequência disso deve também estudar e divulgar a Santa Cruz. O que vamos escrever a seguir, como outras mensagens que já aqui colocámos e que falam do tempo de Custódio José da Costa, têm relação com os anos que se seguiram à aparição da Santa Cruz e ajudam a perceber o contexto da sua atribulada divulgação inicial.
Em Agosto de 1842, havia um desertor balasarense que degenerara em bandido, era o Luís Saramago. Os desertores como ele queriam evitar o serviço militar e quando chegava a hora de serem chamados fugiam para os montes, para terras distantes ou até embarcavam, se pudessem, para o Brasil. A tropa não tinha boa fama. Além disso, eram principalmente os muito pobres que eram convocados.
O Luís parece ter refinado no banditismo: pelo menos é o que se deduz desta mensagem que o administrador da Póvoa enviou ao seu colega de Vila do Conde em 29 de Agosto:
Tendo agora a notícia de que o desertor de Balasar Luís, por apelido o Saramago, que tanto trabalho tem dado, tendo esperado nas estradas deste concelho, achava-se ontem próximo, à noite, na Estalagem do Galego, do Casal de Pedro, e também me consta que frequenta a de Joaquim Pito e outras mais tabernas daquele lugar, rogava a V. Senhoria se dignasse mandar ordem imediatamente ao Regedor daquela freguesia a fim de ver se o captura, ao que V. Senhoria fará um serviço muito grande aos povos do seu Concelho.
Os sinais são os seguintes: altura regular, cor pálida, cabelos castanhos, barba cerrada com passa-perolhos (?).
Este Saramago era perigoso! Em breve deve ter sido apanhado.
A Estalagem do Galego, do Casal de Pedro, deve ser a que depois, em virtude duma novela de Camilo, ficou conhecida como Estalagem das Pulgas.

sábado, 13 de abril de 2013

A perseguição aos Padres Falperristas ao tempo de Custódio José da Costa


Como já foi dito, os liberais cortaram relações com Roma e colocaram à frente das dioceses pessoas da sua confiança e executoras das suas determinações. Depois, defendiam os seus pontos de vista como se eles fossem os únicos legítimos.
Na Diocese de Braga, entre os sacerdotes, houve aqueles que se colaram aos liberais, aqueles que adoptaram uma posição que rejeitava o principal, mas não excluía certa cooperação com a autoridade civil, e houve os que mais decididamente se opuseram à tirania que era o Estado mandar na Igreja e arrogar-se o direito de a dirigir. A estes sacerdotes chamavam falperristas (a palavra tem a ver com o monte da Falperra).
Dos anos de 1838 a 1840, há vários documentos do concelho da Póvoa que conservam recordação da perseguição que lhes movia a autoridade civil. Colocam-se a seguir dois:

Administração Geral do Distrito do Porto
1ª Repartição, nº 14

Ilustríssimo Sr. Administrador do Concelho da Póvoa de Varzim

Ilustríssimo Senhor
S. Ex.cia o Sr. Administrador Geral manda participar a V. Senhoria, em resposta ao seu ofício n.º 31 de 26 do corrente, expedido pela 4ª Repartição (devendo ser pela 1ª, em virtude de sua matéria pertencer a objecto de polícia preventiva), que muito recomenda a maior vigilância para desviar dentre o povo rude os falperristas que insidiosamente desvairam a tranquilidade das consciências com fins danados, não devendo V. Senhoria perder de vista também que os alucinados do seguimento das doutrinas perversas que receberam dos referidos falperristas, porquanto consta nesta Administração Geral que alguns recém-nascidos não têm sido apresentados ao respectivo pároco para receberem o sacramento do Baptismo e muitos adultos de um e outro sexo não assistem ao Santo Sacrifício da Missa na Igreja Paroquial.
S. Ex.cia confia que V. Senhoria empregará todos os meios legais para que acabem os males causados pela demora que entre o povo de Rates tiveram aqueles maus eclesiásticos, os quais abusando do seu augusto ministério, ensinaram doutrinas erróneas.
Deus guarde V. Senhoria.
Porto e Secretaria da Administração Geral, 30 de Abril de 1839.
António Luís de Abreu, Secretário-geral.


Ilustríssimo Sr. Administrador do Concelho da Póvoa de Varzim

Ilustríssimo Senhor
Manda S. Ex.cia o Sr. Administrador Geral participar a V. Senhoria, em resposta ao seu ofício n.º 96, por esta Repartição, de 23 do corrente, em que expôs a resistência que o minorista da freguesia de Rates, por nome Luís, e outros fizeram ao Regedor de Paróquia de Rio Mau quando, por ordem de V. Ex.cia, foi àquela freguesia para capturar os falperristas, que V. Senhoria, sem perda de tempo, faça proceder a um auto circunstanciado deste acontecimento, com expressa declaração dos nomes dos oficiais (?) empregados nesta diligência e das testemunhas presenciais, o qual remeterá ao Delegado do Procurador Régio dessa Câmara para fazer com que este insulto seja devidamente punido. E de assim o haver cumprido dará parte a esta Repartição.
Deus guarde V. Senhoria.

Porto e Administração Geral, 28 de Janeiro de 1840.
José Maria Ribeiro Vieira de Castro, Oficial maior (ilegível).

Ao tempo destes dois documentos era administrador do concelho da Póvoa o balasarense adoptivo António José dos Santos, que, dentro dos constrangimentos legais, se deve ter portado muito bem.
Pela mesma altura, preparava Custódio José dos Santos a criação da Confraria do Senhor da Cruz.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

A menina de Fradelos


Há uma breve história duma menina de Fradelos que um dia recorreu à Beata Alexandrina.
A pequena frequentava a escola, mas em Janeiro adoeceu e ficou de cama todo o trimestre. Quando voltou às aulas, a professora apressou-se a dizer-lhe que não iria passar de ano. Só que a pequena viu nisso uma grave injustiça pois não tinha culpa de ter estado doente.
Um dia, pediu autorização à mãe para ir brincar com as colegas, mas em vez disso desatou a correr até à casa da Alexandrina. Quando chegou, naturalmente esfalfada, ficou-se à porta do quarto. Então a Alexandrina chamou-a e a menina lá fez a sua queixa.
Foi dali sossegada: iria passar de ano. 
Se a Alexandrina o disse, lá tinha a sua certeza. 
E transitou mesmo.
Creio que ainda é viva.

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Novo número do Boletim da Beata Alexandrina


Saiu mais um número do Boletim da Beata Alexandrina: fala da Páscoa, fala já do 9.º aniversário da Beatificação e de outros temas. Anuncia a publicação do CD Florinha da Eucaristia, já disponível para o público, e duma obra, cremos que opúsculo, com o título de Livro do Peregrino, a sair no dia 25 de Abril e que aparenta vir a ser de grande utilidade.
Um dos pormenores mais interessantes do número é sem dúvida o fragmento da carta dum filipino a residir na Arábia Saudita, onde só pode rezar em privado, e que pede uma relíquia.
Quando será que os islamitas concedem aos outros liberdade que tanto defendem para si?
Como o jornal menciona uma peregrinação sul-coreana, apraz-nos dizer que, no exemplar que temos do Alexandrina. The Agony and the Glory, alguém escreveu a lápis: “translate to Korean and Taglog”. Taglog é língua das Filipinas. Será que o livro está traduzido para aqueles idiomas?
Recebemos ultimamente dois novos livros sobre a Beata Alexandrina, um em francês e outro em português, bem como uma carta da Austrália.

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Crime de cisma


D. Pedro, o filho de D. João VI e irmão de D. Miguel, era maçónico. Antes de vir para Portugal e vencer o irmão em 1834, já ameaçara o Papa de lançar o país no cisma. E se não pôde concretizar a ameaça, pois morreu entretanto, concretizaram-na os seus seguidores.
Por perfídia, porém, estes passaram a tratar de cismáticos as pessoas que queriam ser fiéis às autoridades legítimas. E eram muito severos com quem não se vergasse às suas veleidades.
Encontrámos um documento no Arquivo Municipal da Póvoa de Varzim que mostra como acusaram, em 1838, de “crime de cisma” o Regedor da freguesia de S. Pedro de Rates (vizinha de Balasar) .

Administração Geral do Distrito do Porto
Ilustríssimo Sr. Administrador do Concelho da Póvoa de Varzim

Ilustríssimo Senhor
Constando nesta Administração Geral que o Regedor de Paróquia de S. Pedro de Rates, António Francisco Lopes, se acha iniciado (sic) no crime de cisma no Juízo Ordinário desse julgado, torna-se necessário que V. Senhoria, logo que este receba, faça suspender o dito regedor e substituir o emprego, pelo modo que determina o artigo 213 do Código Administrativo, e, para que ele se não evada à pena merecida, V. Senhoria fará que logo em seguida seja capturado e entregue ao Juiz Ordinário desse julgado, do que dará conhecimento a esta Repartição.
Por esta ocasião, lembro a V. Senhoria a necessidade de participar que cumprimento deu ao ofício confidencial que em 15 de Maio último foi expedido por esta Repartição, a fim de ser preso o P.e Cipriano, da freguesia de Refontoura e residente em Rates.
Deus Guarde V. Senhoria.
Administração Geral do Porto, 30 de Junho de 1838.
Joaquim Veloso da Cruz.

A que propósito vem isto aqui?
À data em que a Administração Geral do Porto se encarniçava contra o Regedor de Rates, cuidava Custódio José da Costa que fosse tratada com toda a dignidade a Santa Cruz aparecida em Balasar, aquela Santa Cruz que anunciava a Beata Alexandrina. E já tinha visto o seu jovem pároco ser expulso.
O que ele há-de ter passado!
O documento da autoridade portuense tem tudo de inquisitorial, assenta num puro abuso de autoridade. Quem a mandou imiscuir-se em assuntos de religião?