segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

A mais antiga notícia sobre a Santa Cruz de Balasar


A mais antiga notícia sobre a Santa Cruz de Balasar data de 6 de Agosto de 1832, isto é, mês e meio após a sua aparição, e encontra-se numa exposição dirigida pelo Pároco da freguesia à autoridade eclesiástica de Braga. Dividimo-la aqui em quatro partes:

Notícia do aparecimento

Excelentíssimo e Reverendíssimo Senhor
Dou parte a Vossa Excelência de um caso raro acontecido nesta freguesia de Santa Eulália de Balasar.
No dia de Corpo de Deus próximo pretérito, indo o povo da missa de manhã em um caminho que passa no monte Calvário, divisaram uma cruz descrita na terra: a terra que demonstrava esta cruz era de cor mais branca que a outra: e parecia que, tendo caído orvalho em toda a mais terra, naquele sítio que de­monstrava a forma da cruz não tinha caído orvalho algum.
Mandei eu varrer todo o pó e terra solta que estava naquele sítio; e continuou a aparecer como antes no mesmo sítio a forma da cruz. Mandei depois lan­çar água com abundância tanto na cruz como na mais terra em volta; e então a terra que demonstrava a forma da cruz apareceu de uma cor preta, que até ao presente tem conservado.
A haste desta cruz tem quinze palmos de comprido e a travessa oito; nos dias turvos divisa-se com clareza a forma da cruz em qualquer hora do dia e nos dias de sol claro vê-se muito bem a forma da cruz de manhã até as nove horas e de tarde quando o Sol declina mais para o ocidente, e no mais espaço do dia não é bem visível.

Reacção popular e milagres

Divulgada a notícia do aparecimento desta cruz, começou a concorrer o povo a vê-la e venerá-la; adornavam-na com flores e davam-lhe algumas esmolas; e dizem que algu­mas pessoas por meio dela têm implorado o auxílio de Deus nas suas necessidades e que têm alcançado o efeito desejado, bem como: sararem em poucos dias alguns animais doentes; acharem quase como por milagroso animais que julgavam perdidos ou roubados e até algumas pessoas terem obtido em poucos dias a saúde em algumas enfermidades que há muito padeciam. E uma mulher da freguesia da Apúlia, que tinha um dedo da mão aleijado, efeito de um penando que nela teve, tocando a Cruz com o dito dedo, repentinamente ficou sã, movendo e endireitando o dedo como os outros da mesma mão, cujo facto eu não presenciei, mas o atestam pessoas fidedignas que viram.
Enfim, é tão grande a devoção que o povo tem com a dita cruz que nos domingos e dias santos de guarda concorre povo de muito longe a vê-la e venerá-la, fazem romarias ora de pé ora de joelhos em volta dela e lhe deixam esmolas; e eu nomeei um homem fiel e virtuoso para guardar as esmolas.

Projecto de oratório

Querem agora alguns moradores desta freguesia com o dinheiro das esmolas se faça, no sítio onde está a cruz, como uma espécie de capela cujo tecto, coberto de tabuado, seja firmado em colunas de madeira e em volta cercado de grades também de madeira, para resguardo e decência da mesma cruz e, dentro e defronte da cruz descrita na terra, pôr e levan­tar outra cruz feita de madeira, bem pintada, com a Imagem de Jesus Crucificado pintada na mesma cruz.

Opinião do signatário

Eu não tenho querido anuir a isto sem dar a Vossa Excelência parte do acontecido e mesmo em fazer a sobredita obra sem licença de Vossa Excelência, per­suadido que nem eu nem os moradores da freguesia temos autoridade para dispor a nosso arbítrio do di­nheiro das esmolas, que por agora ainda é pouco e não chega para se fazer obra mais dispendiosa e decente à proporção do objecto.
Agora sirva-se Vossa Excelência determinar o que lhe parecer e o que eu devo praticar a este respeito.
Santa Eulália de Balasar, aos seis dias do mês de Agosto de mil oito centos trinta e dois.
De Vossa Excelência súbdito o mais reverente,
O Reitor António José de Azevedo.

Um mês antes de o reitor António José de Azevedo redigir a sua exposição, ocorrera o desembarque do Mindelo, precedido pela tentativa de desembarcar em Vila do Conde.
Antes do final do mesmo mês de Agosto, este reitor de Balasar desaparece da cena ou por morte ou por expulsão imposta pelos adeptos das ideias liberais.
A aparição da Santa Cruz de Balasar não é um acontecimento lendário ou envolto na névoa do diz-se ou conta-se.

domingo, 29 de janeiro de 2012

Faleceu um ilustre admirador da Beata Alexandrina

Faleceu um ilustre admirador da Beata Alexandrina, Óscar Luigi Scálfaro. De acordo com Gabriele Amorth:
E também sobre ela escreveu o actual Presidente da República da Itália, então deputado Óscar Luigi Scalfaro.
Vimos num número recente da Cruzada esta cura obtida pela intercessão da mesma Beata Alexandrina:

Um meu filho de 53 anos foi atingido por um AVC. Os médicos, após vários exames, declararam que ele não teria mais que três dias de vida.
Recorremos à mediação da Beata Alexandrina junto de Deus, para que curasse o meu filho.
Graças a Deus a cura foi alcançada.

sábado, 28 de janeiro de 2012

Estudar a história de Balasar

O texto seguinte é a parte principal duma breve exposição a ser passada hoje na Rádio Onda Viva, daí o modo da sua apresentação não ser o comum:

Uma vez, uma conceituada professora de História do ensino secundário perguntou-me como é que se estudava a história duma freguesia. Curiosa a pergunta vinda de quem veio. Eu vou hoje falar dos caminhos que segui para estudar a história de Balasar, dos passos precisei de dar para esse efeito.
Antes de mais, é preciso conhecer Balasar, a sua geografia, digamos assim. É preciso conhecer os seus lugares, as suas casas principais, os seus caminhos, em especial os mais antigos, as suas estradas, o traçado da linha férrea, o relevo da freguesia, os hábitos do rio Este, etc. Isto ainda não é história, mas é condição prévia e imprescindível. O seu conhecimento vai-se naturalmente alargando à medida que se contacta com a realidade local.
Que fontes é que há disponíveis? Esta é que parece ter sido a questão da tal professora.
Há fontes mais gerais e outras mais particulares.
Nas primeiras, incluem-se documentos como o Censual do Bispo D. Pedro, do século XI (Portugal ainda não era reino independente...), que dá algumas informações muito antigas sobre as freguesias; as Inquirições dos reis Afonso II, III e IV, respectivamente de 1220, 1258 e 1343. A partir de 1623, para Balasar, há os assentos ou registos paroquiais, disponíveis na Internet até cerca de 1900, que são uma fonte de informação abundante; depois temos as Memórias Paroquiais de 1736 e 1758 e a informação da Corografia Portuguesa, dos primeiros anos de 1700. De 1845, há os Inquéritos Paroquiais. Estas as fontes mais gerais.
Em termos de fontes mais particulares para Balasar, há na Internet o Tombo da Comenda, de 1831 (quase duas centenas de páginas), há os estudos publicados no Boletim Cultural sobre temas como a anexação de Gresufes, o Roteiro dos Culpados, os Grã-Magriços, aspectos etnográficos da freguesia e os estudos pioneiros do P.e Leopoldino e os seus noticiários; e há os livros paroquiais (entre eles os da Santa Cruz). Para tempos recentes, existe ainda a informação do Arquivo Municipal, a da imprensa poveira, etc.
Há também os livros sobre a Beata Alexandrina, os livros de poesia do pároco P.e António Martins de Faria, um livro dum poeta balasarense, um livro sobre marcos do concelho que naturalmente interessa a Balasar, um outro sobre património construído em Laundos, Rates e Balasar, etc. E devem-se explorar as fontes orais e a toponímia, as datas dos lintéis e cartelas das frentes das casas, as das ferragens das portas, sem esquecer de estar atento à dezena e meia de nichos de Alminhas ou outros, distribuídos por vários lugares, e às pontes (tão importantes para as populações).
Estudar a história de Balasar é então conhecer a freguesia tão bem quanto possível, explorar e ordenar tudo o que estas fontes podem oferecer, tendo sempre em conta os lugares, as casas e as pessoas que os habitaram, verificar as transformações operadas ao longo do tempo…
Quanto mais culta for a pessoa que se abalança a um estudo destes, mais sugestões descobre na documentação que lhe chega às mãos, porque a relaciona com os mais diversos acontecimentos.
É possível fazer apaixonantes descobertas neste campo de investigação ainda pouco explorado.
A professora que fez a pergunta sabia muitas coisas do país, da Europa, da Ásia, da África, das Américas, o que parece é que sabia pouco do que lhe era mais vizinho. E a verdade é que a escola não presta atenção a isto, com grave prejuízo para a cultura dos seus alunos, que se convencem que as suas terras não têm qualquer valor para a cultura. Se o tivessem, a escola falava-lhes disso, supõem eles.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Lintéis


Noutros tempos, os lintéis com inscrições deviam ser muito frequentes nos portais das casas de lavoura em geral e por isso também nas balasarenses; hoje ainda se conservam alguns.
O primeiro que aqui se vê é o do portal da casa onde a Beata Alexandrina nasceu. Tem a cruz ao centro!... O resto tanto pode ser português como latim, mas diz mais ou menos o mesmo. Este lintel, de que só se vê a parte da inscrição, como nos restantes, está hoje despromovido a banco de namoro.
De data próxima é o duma casa do Matinho, de 1752, o terceiro. Aquele a significa anos e é um arroba.
Estes dois lintéis devem ter tido origem na emigração do Brasil.
O terceiro lintel, de 1861, do lugar do Telo, deve ter origem diferente. Por essa altura, com o fim dos foros, as casas de lavoura tornaram-se mais rentáveis e isso levou os lavradores a ostentarem sinais de bem-estar económico. Essa deve ser a explicação para a origem dele.


Juntamos mais três outros lintéis, da nossa terra natal, para que fique claro que o fenómeno dos lintéis com inscrições era popular e que a presença da cruz e até do arroba era bastante comum.
No primeiro, de 1768, a cruz pousa sobre o monograma IHS (Iesus Hominum Salvator - Jesus Salvador dos Homens); no segundo, que é de 1726, a mesma cruz está ladeada por duas pombas e duas rosas (?); o terceiro tem a particularidade de ostentar um arroba muito bem desenhado.



quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Filme sobre Kateri Tekakwitha

As Mary's Dowry Productions produziram um filme sobre a vida de Kateri Tekakwitha; ele segue a vida de certa mulher jovem Mohawk que foi baptizada por missionários jesuítas franceses no século XVII. Filmado em locais que incluem sequóias deslumbrantes, riachos, cachoeiras e florestas, combinando com pinturas nativas americanas e uma narrativa que segue o ponto de vista Kateri Tekakwitha, sintetiza os 24 anos de vida dessa mulher num documentário de 50 minutos originais tornando-a acessível a todos.
Kateri Tekakwitha vai ser canonizada pelo Papa Bento XVI em Outubro de 2012.
O DVD tem um tempo de execução de 50 minutos e está disponível mundialmente em todos os formatos regionais.
Como é sabido, as Mary Dowry's Productions fizeram um filme sobre a Beata Alexandrina.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Divulgação da Beata Alexandrina


Foi adquirida uma casa espaçosa em Balasar, próximo de Gresufes, destinada à divulgação da Beata Alexandrina. Vai ter salas, quartos, etc.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Da Santa Cruz à Beata Alexandrina

Senhoras e Senhores Peregrinos pela Paz

Nas suas comunicações à Beata Alexandrina, Jesus chama-lhe doutora das ciências divinas, escola de toda a humanidade, luz e farol do mundo, etc., etc. Por isso, é preciso que quem vem a Balasar vá daqui mais informado, conheça melhor a mensagem dela, que é também a do Evangelho. Se ela é luz e farol do mundo, escola de toda a humanidade, ela convida à esperança.
É certo que muita gente se afasta da Igreja, que a juventude é incitada pelos mais diversos meios a abandoná-la, mas a vitória está do lado dos que permanecem, daqueles que, como a Beata, lhe são fiéis contra ventos e marés.
Jesus disse uma vez à Alexandrina: 
A tua vida é semelhante à da Santa Igreja: a Igreja sempre combatida, nunca vencida até ao fim dos séculos.
Eu não conheço santos que tenham sido antecipadamente anunciados, mas a Beata de Balasar foi. Isto é extraordinário! Ela foi misteriosamente anunciada pela Santa Cruz.
A aparição da Santa Cruz em 21 de Junho de 1832 não foi um fenómeno muito vistoso: na encosta duma pequena elevação a menos de 200 metros do rio, apareceu desenhada no chão uma cruz, em tamanho que podia corresponder ao do instrumento de suplício original: 3,3×1,76 m[1]. Mas impressionou as pessoas.
O pároco, o reitor António José de Azevedo, mês e meio depois, no dia 6 de Agosto, achou por bem informar as autoridades eclesiásticas da diocese de Braga sobre “um caso raro acontecido nesta freguesia de Santa Eulália de Balasar”. Fê-lo numa exposição rigorosa, objectiva, sóbria, sem tomar partido: indicou a data da aparição, o tamanho da cruz e terminou pedindo instruções sobre como lidar com a devoção entretanto surgida e sobre uma medida que disse que tomara: nomeara “um homem fiel e virtuoso para guardar as esmolas”. Esse homem era Custódio José da Costa.
Esta medida foi a mais oportuna, pois ele, reitor, ainda antes do fim daquele mês, cessava a actividade em Balasar. Desconhecemos se morreu ou se foi vítima das circunstâncias revolucionárias do momento. Efectivamente, em 8 de Julho de 1832 aconteceu um episódio que iria mudar radicalmente o país e que teve as mais graves consequências para a Igreja: vinda de Inglaterra, via Açores, uma esquadra de liberais desembarcou perto do Porto e dois anos depois punham termo ao absolutismo em Portugal. Em Balasar, na Diocese de Braga, como de resto no país todo, seguiu-se uma década terrível, inclusive com um corte de relações com a Santa Sé de quase dez anos.
Em finais de 1833, será colocado um jovem reitor em Balasar, mas poucos meses depois foi expulso, só regressando oito anos mais tarde (mas houve sempre um sacerdote para ministrar os sacramentos).
No meio da tempestade, Custódio José da Costa resistiu, com a sua determinação e mesmo com o seu dinheiro, que não hesitou em aplicar em favor da nova devoção. Apesar das dificuldades, conseguiu divulgar e fazer respeitar essa devoção ao longe e ao largo, como é testemunhado pelos ex-votos.
Há na paróquia de Balasar um importante documento, de 1834, sobre a Santa Cruz: é uma sentença do tribunal eclesiástico de Braga. Na sua origem, está uma investigação exigente sobre a aparição e sobre se havia ou não condições para criar e manter aberta ao culto a capela da Santa Cruz.
Além da capela actual, com a sua cruz pintada, houve uma outra, muito próxima, a nascente, e certamente bastante mais ampla. ambas foram devidas à determinação de Custódio José da Costa.
Aquela grande cruz, com a imagem de Nossa Senhora das Dores ao pé, que se vê à esquerda da entrada da Igreja Paroquial, devia pertencer à segunda dessas capelas.
Ouçamos agora como em 21 de Janeiro de 1955 Jesus falou à Beata Alexandrina sobre a Santa Cruz:
Há mais de um século que mostrei a cruz a esta terra amada, cruz que veio esperar a vítima. Tudo são provas de amor!
Ó Balasar, se me não correspondes!...
Cruz de terra para a vítima que do nada foi tirada, vítima escolhida por Deus e que sempre existiu nos olhares de Deus!
Vítima do mundo, mas tão enriquecida das riquezas celestes que ao Céu dá tudo e por amor às almas aceita tudo!
Em 21 de Junho próximo faz 180 anos que a Santa Cruz apareceu. Hoje nós podemos avaliar melhor o sentido dela e sabemos que é do maior alcance. Ela sozinha merecia uma basílica…


[1] Curiosamente, a altura da cruz aparecida é igual à da altura da janela por onde a Beata saltou.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Outros nichos e alminhas

A fé católica afirma o Purgatório como um período de purificação, transitório e nem sempre indispensável, que precede a entrada no Céu. A sua existência, que tem fundamento mesmo no Antigo Testamento, é essencial uma vez que as pessoas se não dividem entre as que fazem tudo bem e as que fazem tudo mal: ficam quase todas num meio-termo. Daí a necessidade de purificação.
Essa doutrina era tomada muito a sério no séc. XVIII em Balasar: sacerdotes rezavam ofícios pelos falecidos, celebravam-se missas de sufrágio, deixavam-se legados e davam-se esmolas com a mesma intenção, etc. Havia até a Confraria das Almas.
Os nichos das alminhas visam o objectivo do sufrágio: são um apelo aos transeuntes para que lembrem na sua oração as almas do Purgatório.
Portugal é o único país do mundo que possui no seu património cultural, localizadas habitualmente à beira de caminhos rurais e em encruzilhadas, as alminhas, representações populares das almas do Purgatório que suplicam rezas e esmolas.
A palavra nicho, em arquitectura, designa uma cavidade, normalmente numa parede, onde se coloca uma estátua, que assim fica ao mesmo tempo protegida e visível. Os nichos de alminhas e outros que há em Balasar ficam alguns em paredes, mas em muitos casos são uma pequena construção quadrangular mais ou menos autónoma.
De facto, estes nichos constituem pequenos oratórios públicos, que nem são estruturalmente muito diferentes dos tradicionais oratórios particulares; o que não são é todos alminhas. Há-os muito simples e há-os bastante elaborados em termos artísticos.
Alguns devem ser tão antigos como o Nicho do Senhor dos Aflitos.
Só no Telo há três, dedicados um à Senhora do Carmo e outro às Almas do Purgatório; o terceiro, que seria certamente o mais vistoso, tem o quadro em reparação.
Outros nichos ficam: em Gresufes, na Casa Santos, ao Senhor do Bom-Fim; na Casa Cancela, à Senhora do Carmo; na Casa de S. José, no Calvário, às Almas do Purgatório; na Casa Miguel Carvalho, em Bouça-Velha, a Santa Luzia; na Casa Joaquim Leitão, no Casal, a Santo António; na Casa Mariano, no mesmo lugar, a S. Bento; na Casa Junqueiro, ao Senhor da Cruz; na Casa Alexandre, Monte-Tapado (abandonadas); e na Casa Machado, Lousadelo, à Beata Alexandrina.

Nichos recentes

Os nichos mais recentes de Balasar não são alminhas.
O que é dedicado a S. Luzia, em Bouça-Velha, há-de ser contemporâneo da construção da Casa do Carvalho; guarda por isso memória da antiga devoção a S. Luzia que se desenvolvia na capela que fora a antiga igreja paroquial do Casal. É um nicho que segue o modelo tradicional, mas sujeito a uma execução artística muito diferente e que condiz com certa opulência que a casa pretendeu aparentar. 
Muito mais recente é o de Nossa Senhora dos Caminhos, na Quinta. Curiosa a sua localização, na saída para Fiães pela antiga estrada. Um também dedicado a Nossa Senhora é o das Fontainhas, inaugurado em 2007. Pouco anterior há-de ser o do adro, ao Imaculado Coração.
Recentes também são o de Fontela, a S. José, e o de Lousadelo.

Alminhas e outros nichos em Balasar, de cima para baixo:
Aminhas no Telo
Alminhas no Caminho Largo
Nicho a S. Bento, no Casal
Alminhas sem painel no Telo
Nicho a S. Luzia em Bouça-Velha, sem a imagem
Nicho a S. José em Fontela
Nicho a Nossa Senhora de Fátima nas Fontainhas.
Há ainda várias outras alminhas e nichos na freguesia.

domingo, 15 de janeiro de 2012

Duas datas para comemorar

Este ano completam-se 180 anos sobre a data da aparição da Santa Cruz, que ocorreu no dia do Corpo de Deus de 1832, e 70 anos sobre a da Consagração do mundo ao Imaculado Coração de Maria, proclamada em 31 de Outubro de 1942.
Datas para comemorar.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

O Reitor António da Silva e Sousa, a nova Igreja do Matinho e a Comenda


O Reitor António da Silva e Sousa não foi só o reitor que mais tempo paroquiou Balasar: 1736-1792. Foi ele que redigiu as memórias paroquiais, que meteu mãos à obra para reconstruir a Igreja Paroquial e construir a Residência, que casou a D. Benta, que teve problemas com Manuel Nunes Rodrigues e o enterrou, que viu a construção da Capela da Senhora da Lapa e a da nova ponte sobre o Este, a do Nicho do Senhor dos Aflitos e com certeza a de outros.
Para a Igreja (para a Capela-Mor) deve ter sido obrigado a levar o Comendador a tribunal, já que foi Tribunal da Mesa da Consciência que impôs que ele a reconstruísse.
O corpo da Igreja era mais à antiga, com três naves; ele reduziu-as a uma.

A Igreja em 1830

Em 1830, a Igreja tinha 100 anos. O Tombo da Comenda mede-a, mas daí resulta quase uma descrição. Aparentemente, ela ficava num montículo, pois para sul descia uma funda escada e outro tanto acontecia com certeza para norte (ou a escada para sul seria a subir?)

Tem de comprido, do nascente ao poente, vinte e uma varas por cada um dos lados (cerca de 23 m); e de largo, na testa do nascente, onde é a fronteira da mesma Igreja, tem sete varas e um quarto (cerca de 8 m); e na testa do poente, nas costas da capela-mor, tem cinco varas (cerca de 5,5 m).
Tem um torreão de duas empenas e duas sineiras, à face com a fronteira, e para a parte do sul tem uma escada de pedra com quinze degraus. Tem a porta principal para o nascente e mais duas portas travessas, uma virada ao norte e outra ao sul.
Tem duas sacristias para o lado do norte, uma das quais tem uma porta para o nascente e a outra tem uma servidão por dentro da Igreja.
Tem uma capela de S. António e no corpo da Igreja duas frestas para cada um dos lados e uma na fronteira; e na capela-mor tem uma fresta de cada lado. Tem o altar-mor e mais três altares no corpo da igreja e outro na capela de S. António. Tem seu coro com escadas pelo lado norte.

Medição do adro

O adro da referida Igreja, que, principiando a medir do nascente a poente, na entrada dela, indo a medição pelo lado norte, por cima do capeado da parede do mesmo adro, em toda a volta, até chegar às casas da residência do Reverendo Reitor, tem setenta varas (cerca de 75 m); e aí, em volta de duas chaves que faz a dita casa da residência para dentro do mesmo adro, até à fronteira e entrada do referido adro, tem dezassete varas e três quartas (cerca de 19 m); e tem de largo, na entrada, cinco varas (cerca de 5,5 m). Tem um fojo com quatro degraus.
Parte do nascente com baldio, do norte e poente com terra do prazo do assento da igreja desta Comenda, do enfiteuta José António de Miranda, de Barcelos, que possui António João Furtado; e do sul parte com o mesmo e com horta do passal da Igreja e casas da residência do Reverendo Reitor. Dentro do mesmo adro há três oliveiras.

Residência e assento paroquial

Ao contrário do Adro, que devia ser acanhado para os enterros duma freguesia tão grande (fizeram-se enterros na demolida Capela do Senhor da Cruz), a Residência parece espaçosa: poderia com certeza albergar também o cura.

As casas da residência do Reverendo Reitor (…) têm de comprido, de nascente a poente, trinta e duas varas (cerca de 35 m), partindo com o adro da igreja e com baldio; pelo sul, até chegar à horta onde faz a chave, tem vinte e sete varas (cerca de 28 m), partindo com os eirados e cortes do prazo do assento desta Comenda, do enfiteuta José António Miranda, de Barcelos, que possui António José Furtado; curvando ao sul, a partir com o mesmo prazo, tem a chave de largo, pelo nascente, cinco varas; e torna a virar ao poente, a partir do sul com terra do referido prazo, tem quinze varas e meia; e virando ao norte, a partir do poente, com a mesma terra do dito prazo, tem dez varas; pelo nascente tem de largo dezassete varas e uma quarta, partindo com o mesmo. Dentro desta medição ficam as casas da Residência do Reverendo Reitor, e vem a ser uma morada de casas-torres, com sua cozinha também torre, e no meio tem dois andares com quatro salas e seus quartos, uma varanda para o sul, com duas entradas para o nascente e um para o poente, para a servidão da igreja, com três escadas de pedra com seus pátios, quatro janelas para o norte, duas para o poente e três para o nascente, com suas competentes frestas; e outra casa térrea, que serve de despejo, com entrada de um portal fronho; e na horta, que também fica incluída, tem uma lata e mais árvores de fruto, e tudo levará de semeadura dois alqueires de centeio.

Reconhecimento e descrição dos ornamentos e alfaias que se acham na Fábrica da Igreja e que pertencem à Comenda (e obrigações desta)

Aos vinte e sete dias do mês de Junho de mil oitocentos e trinta e um anos, nesta freguesia de Balasar e casas da Residência do Reverendo Reitor dela, aonde estava o Doutor António de Paiva Ribeiro, Juiz de Fora e dos Órfãos com alçada na vila de Barcelos e seu termo e Juiz do Tombo da Comenda de Santa Eulália de Balasar do Mestrado e Cavalarias da Ordem de Nosso Senhor Jesus Cristo, por sua Majestade Fidelíssima que Deus guarde, etc., aí onde foi vindo o dito ministro comigo escrivão e com o Doutor Luís Martins Vilaça, Procurador do mesmo Tombo, estava presente o Reverendo António José de Azevedo, actual reitor da freguesia de Santa Eulália de Balasar e por ele foi dito que reconhecia ser a Igreja e mais propriedades de que trata a medição retro pertencente tudo à Comenda desta mesma freguesia e da administração dos reitores dela.
Que esta Igreja é reitoria de colação ordinária, provida por concurso, e assim mesmo foi provido e colado ele, Reverendo reconhecente e seus predecessores.
Que a Comenda é obrigada a pagar ao Reitor a côngrua anual concedida por alvará régio, cuja côngrua consiste actualmente em cem mil réis em dinheiro e em espécie setenta rasas de trigo, trinta ditas de centeio, trinta ditas de milho e três almudes de azeite e mais três livras de cera branca, dois almudes de vinho para as missas e duas rasas de trigo para as hóstias e mais oitocentos réis em dinheiro para a pessoa que lavar a roupa da fábrica.
Que mais costuma dar a Comenda ao fabriqueiro quatro mil e oitocentos réis cada ano para as despesas miúdas que forem necessárias na fábrica da capela-mor, sacristia, residência e passal, de que o mesmo fabriqueiro dá contas anualmente ao Provedor da Comarca.
Que outrossim é obrigada a Comenda à reedificação e reparos da capela-mor, sacristia da fábrica e retábulo do altar-mor; e é também obrigada à veneração do sacrário do Santíssimo Sacramento, dando todas as coisas precisas para o ornato e veneração dele, bem como três almudes de azeite cada ano para as lâmpadas; não é porém obrigada a dar a cera da banqueta, pois que essa é da Confraria do Santíssimo Sacramento.
Que finalmente é obrigada a dar a mesma Comenda todos os paramentos e ornatos precisos para a celebração das missas e administração dos Sacramentos que são do ofício paroquial.
Declarou mais ele Reverendo Reitor que esta Igreja tem um cura, que é da apresentação real, a quem a Comenda paga a côngrua anual que consta de alvarás régios e presentemente consiste em quarenta e dois mil réis em dinheiro e em espécie trinta rasas de milho e trinte ditas de centeio e um almude de azeite, e por esta côngrua tem o cura obrigação de ajudar o Pároco no ofício paroquial e dizer uma Missa ao Povo nos dias em que o mesmo Povo tem obrigação de a ouvir.

Não se pense logo que a Comenda tinha encargos muito dispendiosos com a Paróquia: pode-se até dizer que era o contrário, já que originalmente os rendimentos da Comenda eram da Paróquia. Foi o Rei que se apropriou deles para compensar pessoas com quem tinha obrigações. Em 1830, não havia comendador: os rendimentos da Comenda iam para a Coroa.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Nicho do Senhor dos Aflitos em Vila Pouca, Balasar


Datado de 1783, o Nicho do Senhor dos Aflitos em Vila Pouca vem ainda do tempo do P.e António da Silva e Sousa, que paroquiava a freguesia já quase desde há 50 anos.
Na sua frente, ao cimo, lêem-se três nomes de homens, certamente os que custearam a construção. As palavras estão aí quase todas em abreviatura, mas devem corresponder a João António Martins, Custódio da Costa e Custódio da Costa. Custódio era então um nome muito comum.
Percorrendo os assentos de baptismo do tempo, pensamos ter identificado os Custódios: um era de Gresufes e o outro de Vila Pouca. De facto, os dois ocorrem às vezes mesmo lado a lado.
O artista que gravou esses nomes deve tê-los copiado de qualquer papel, pois seria analfabeto como João António Martins e os Custódios. O pároco escrevia sempre Custódio com u na sílaba inicial e não com o. Deve ter sido alguém de Além que propôs a grafia errada.
As abreviaturas usadas eram comuns nos registos do Pároco.
No fragmento dos assentos de baptismo acima (final dum de 1782 e princípio de outro), na segunda linha lê-se o nome de Custódio da Costa, de Gresufes, e  na quinta o de Custódio da Costa, de Vila Pouca; assinaram de cruz. No segundo assento, António Martins baptiza uma filha. Como o pai dele se chamava João, pode ser este seja de facto o João António Martins do nicho.
No baptizado de outro filho de António Martins, ocorrem dois Custódios da Costa, ambos de Vila Pouca, sendo um da Costa Machado e o outro da Costa Raposo.
A representação icónica do Senhor Aflitos é Jesus Crucificado, o que ainda poderia evocar o padroeiro da antiga Gresufes. E é de facto o que se encontra no painel de azulejo do interior.
O nicho pode ter resultado de promessa feita em momento de dificuldade.
Ele fica a uns 200 metros da casa onde nasceu o pai da Beata Alexandrina e a menos de um quilómetro da casa da mãe. Em criança, a Alexandrina deve-o ter conhecido muito bem.

Imagens de cima para baixo:
Nicho do Senhor dos Aflitos em Vila Pouca, Balasar.
Inscrição na fachada do mesmo nicho.
Assentos de baptismo de 1782 em que se mencionam nomes que podem corresponder aos da inscrição.
Painel do Senhor dos Aflitos.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Um novo livro?

A D. Eugénia Signorile está a preparar o último livro sobre a Beata Alexandrina. Aguardemos pois.
Não conhecemos mais ninguém que os escreva como ela.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Arcebispo português que escreveu sobre a Beata Alexandrina lidera tribunal do Vaticano


Natural de Guimarães e com 73 anos, D. Manuel Monteiro de Castro deve ter conhecido a Beata Alexandrina. De qualquer modo, escreveu o extenso prólogo de Alejandrina, alma de víctima y de apóstol.
Papa Bento XVI confirmou que D. Manuel Monteiro de Castro será Cardeal a 18 de Fevereiro
Notícia
Manuel Monteiro de Castro será ainda nomeado cardeal no consistório marcado para 18 e 19 de Fevereiro. O papa Bento XVI anunciou para 18 e 19 de Fevereiro a realização do quarto consistório do seu Pontificado para nomear 22 novos cardeais, entre os quais o português Manuel Monteiro de Castro.
Bento XVI fez o anúncio durante a missa do Angelus na Praça de S. Pedro.
Segundo a agência Ecclesia, Manuel Monteiro de Castro, de 73 anos, está no Vaticano desde Julho de 2009, quando assumiu o cargo de secretário da Congregação para os Bispos.
Depois foi nomeado por Bento XVI como consultor da Congregação para a Doutrina da Fé e secretário do Colégio Cardinalício e, na quinta-feira, foi escolhido para responsável da Penitenciário Apostólica, um dos três tribunais da Cúria Romana.
Natural de Santa Eufémia de Prazins, Guimarães, o novo e terceiro cardeal português foi ordenado padre em 1961 e bispo em 1985, indicou a Ecclesia.
Entre os 22 novos cardeais há quatro que têm mais de 80 anos, pelo que não poderão participar num eventual conclave para eleger um novo papa, embora possam ser eleitos.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Balasar, “privilegiada freguesia”

Jesus, falando da relação da Santa Cruz com a Alexandrina, declarou Balasar “privilegiada freguesia” (“quase um século era passado que eu mandei a esta privilegiada freguesia a cruz para sinal da tua crucifixão”) e “terra amada”.
Será possível encontrar algum sentido de particular privilégio em Balasar ainda antes da aparição da Santa Cruz?
Originalmente, na área desta paróquia havia duas freguesias: S. Salvador de Gresufes e Santa Eulália de Balasar. Como, segundo as memórias paroquiais, na igreja do Matinho (paroquial desde o séc. XVI), entre os cinco altares existentes, um era dedicado a Nosso Senhor Jesus Cristo (1736) ou ao Senhor Crucificado (1758), pensamos que com ele se guardava memória do padroeiro da extinta Gresufes.
Ao nicho do Senhor dos Aflitos, em Vila Pouca, terá sido atribuída idêntica função.
Até à anexação definitiva de Gresufes, a igreja paroquial de Balasar ficava no Casal; depois, despromovida esta igreja a capela, venerou-se nela Nossa Senhora da Piedade, que é a Mãe de Deus com o Filho morto sobre o colo.
Sendo assim, pode-se dizer que a aparição da Santa Cruz e a sua devoção foram longamente preparadas em Balasar e isso enquadrar-se-ia já no plano de privilégio atribuído à freguesia.
A aparição da Santa Cruz é um facto relevantíssimo. Não importa se outras alegadas aparições da mesma Cruz são mais fruto de lenda que de realidade: no caso de Balasar, a aparição está muito bem documentada.
Mas que o próprio Jesus tenha associado esta aparição à Alexandrina, isso eleva à maior altura a importância que o fenómeno já merecia e faz de Balasar uma “privilegiada freguesia”.

Na imagem: Nosssa Senhora da Piedade que se venerou no Casal.