sábado, 28 de janeiro de 2012

Estudar a história de Balasar

O texto seguinte é a parte principal duma breve exposição a ser passada hoje na Rádio Onda Viva, daí o modo da sua apresentação não ser o comum:

Uma vez, uma conceituada professora de História do ensino secundário perguntou-me como é que se estudava a história duma freguesia. Curiosa a pergunta vinda de quem veio. Eu vou hoje falar dos caminhos que segui para estudar a história de Balasar, dos passos precisei de dar para esse efeito.
Antes de mais, é preciso conhecer Balasar, a sua geografia, digamos assim. É preciso conhecer os seus lugares, as suas casas principais, os seus caminhos, em especial os mais antigos, as suas estradas, o traçado da linha férrea, o relevo da freguesia, os hábitos do rio Este, etc. Isto ainda não é história, mas é condição prévia e imprescindível. O seu conhecimento vai-se naturalmente alargando à medida que se contacta com a realidade local.
Que fontes é que há disponíveis? Esta é que parece ter sido a questão da tal professora.
Há fontes mais gerais e outras mais particulares.
Nas primeiras, incluem-se documentos como o Censual do Bispo D. Pedro, do século XI (Portugal ainda não era reino independente...), que dá algumas informações muito antigas sobre as freguesias; as Inquirições dos reis Afonso II, III e IV, respectivamente de 1220, 1258 e 1343. A partir de 1623, para Balasar, há os assentos ou registos paroquiais, disponíveis na Internet até cerca de 1900, que são uma fonte de informação abundante; depois temos as Memórias Paroquiais de 1736 e 1758 e a informação da Corografia Portuguesa, dos primeiros anos de 1700. De 1845, há os Inquéritos Paroquiais. Estas as fontes mais gerais.
Em termos de fontes mais particulares para Balasar, há na Internet o Tombo da Comenda, de 1831 (quase duas centenas de páginas), há os estudos publicados no Boletim Cultural sobre temas como a anexação de Gresufes, o Roteiro dos Culpados, os Grã-Magriços, aspectos etnográficos da freguesia e os estudos pioneiros do P.e Leopoldino e os seus noticiários; e há os livros paroquiais (entre eles os da Santa Cruz). Para tempos recentes, existe ainda a informação do Arquivo Municipal, a da imprensa poveira, etc.
Há também os livros sobre a Beata Alexandrina, os livros de poesia do pároco P.e António Martins de Faria, um livro dum poeta balasarense, um livro sobre marcos do concelho que naturalmente interessa a Balasar, um outro sobre património construído em Laundos, Rates e Balasar, etc. E devem-se explorar as fontes orais e a toponímia, as datas dos lintéis e cartelas das frentes das casas, as das ferragens das portas, sem esquecer de estar atento à dezena e meia de nichos de Alminhas ou outros, distribuídos por vários lugares, e às pontes (tão importantes para as populações).
Estudar a história de Balasar é então conhecer a freguesia tão bem quanto possível, explorar e ordenar tudo o que estas fontes podem oferecer, tendo sempre em conta os lugares, as casas e as pessoas que os habitaram, verificar as transformações operadas ao longo do tempo…
Quanto mais culta for a pessoa que se abalança a um estudo destes, mais sugestões descobre na documentação que lhe chega às mãos, porque a relaciona com os mais diversos acontecimentos.
É possível fazer apaixonantes descobertas neste campo de investigação ainda pouco explorado.
A professora que fez a pergunta sabia muitas coisas do país, da Europa, da Ásia, da África, das Américas, o que parece é que sabia pouco do que lhe era mais vizinho. E a verdade é que a escola não presta atenção a isto, com grave prejuízo para a cultura dos seus alunos, que se convencem que as suas terras não têm qualquer valor para a cultura. Se o tivessem, a escola falava-lhes disso, supõem eles.

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