quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Um soneto que retrata a Beata Alexandrina

Alexandrina

Um lírio de pureza… castidade
Que tanto amou, e só de amor vivia…
O bom Jesus na santa Eucaristia
Era a sua paixão e ansiedade!...

Levar a fé a toda a humanidade,
Um tal desejo ardente ela sentia…
Do seu leito de dor, lenta agonia,
Com tal resignação e humildade!

Pedindo ao Senhor mais sofrimento
Pelas almas… e Deus ouviu-lhe a voz…
Tantos anos sofreu, sem um lamento!

Ai, quantas vezes com Jesus a sós
Na Hóstia Santa… único alimento!...
Eleita do Senhor, roga por nós!

Deolinda Rodrigues, 6/8/1977
(Boletim de Graças de Dezembro de 1977)

domingo, 24 de fevereiro de 2013

A pequena Alexandrina em Gresufes - texto

Eu vou falar sobre o nascimento, sobre a família e sobre os primeiros anos da vida da Alexandrina em Gresufes; mas, para que, desde o começo, os meus ouvintes formem uma ideia de como ela é excepcional e merecedora das nossas atenções, citarei agora umas frases que Jesus lhe dirigiu em 15 de Abril de 1949 e onde a definiu como escola:

Minha filha, escola de toda a humanidade!...
Quanto deve ela aprender nesta escola – escola da vida de Cristo, escola da ciência do Altíssimo!
É aqui que aprendem os pequenos, os grandes, os ignorantes e os sábios.
É nesta escola que se aprende a sofrer e a amar.

Perante estas afirmações, em primeiro lugar, é natural que sintamos uma forte vontade de aprender na escola da Alexandrina e, depois, devemos procurar que outros a frequentem: devemos divulgá-la.
Eu entendo que as palavras de Jesus são também proféticas: se ela é “escola de toda a humanidade”, é porque o vai ser… porque neste momento ainda não é…
Há muitas outras declarações deste género. Jesus pedia-lhe muito, mas era divinamente generoso com ela, exaltando-a, privilegiando-a com um papel de destaque na Igreja e no mundo.
Beata Alexandrina
Nascimento
A Alexandrina nasceu aqui perto, em Gresufes, na casa dos avós, no dia 30 de Março de 1904 (100 anos depois, foi beatificada).
Era quarta-feira da Semana Santa e ela foi baptizada no Sábado de Aleluia. O padrinho foi o Tio Joaquim, que muito mais tarde irá morar na Casa do Calvário.
A vida mística da Alexandrina vai girar quase toda em volta da semana da Paixão.

Os Vicentes
Os Vicentes – a família materna da Alexandrina – não eram pobres; eram certamente uns lavradores remediados, embora isso não equivalha ao que actualmente consideramos uma família de remediados. Uma família remediada de hoje vive melhor do que gente muito rica do tempo, que não tinha energia eléctrica, não tinha aquelas máquinas que agora há em todas as casas, água quente, televisão, telefone e Internet, que tinha uma alimentação pouco diversificada, um vestuário pouco variado, meios de deslocação rudimentares, etc.
Ser remediado no tempo, nos meios rurais, era trabalhar alguns campos seus, sem depender da oferta de trabalho alheia, muitas vezes sazonal. Era ter casa própria, dispor de pão e vinho para todo o ano, de lenha sua, era poder criar um cevado, dispor dum vestuário que não se ficasse pelo estritamente utilitário e pouco mais.
A mãe da Alexandrina, que se chamava Maria Ana da Costa, tinha 27 anos em 1904 e era já uma mãe solteira: tinha outra menina, a Deolinda.
Nisto não foi exemplar; mas depois havia de ser mesmo muito exemplar.
Além do Joaquim e outro irmão, Maria Ana da Costa tinha ainda duas ou três irmãs.
Março é tempo de frio, por isso a Alexandrina nasceu na cozinha, frente à lareira, sobre uma enxerga.
A casa dos Vicentes foi mais tarde à falência e arruinou-se, mas a cozinha não. Está lá, mas é particular.
A servir de banco de namoro, frente à casa, está o lintel do portal fronho, que data de 1764. Na residência paroquial, conserva-se um escudete de fechadura, isto é, uma das ferragens do portal.

Lareira da casa dos avós da Alexandrina: foi frente a ela que a pequena nasceu.

O pai da Alexandrina
Quando nasce um filho, há sempre uma mãe, mas há também um pai. O pai da recém-nascida chamava-se António Xavier, era duma casa do lugar em que nos encontramos, Vila Pouca; era brasileiro e prometia casamento à Maria Ana da Costa. Os Xavieres eram padeiros.
Ele prometia casamento, mas falhou cobardemente: ainda a menina não devia ter nascido e já António Xavier tinha casado com outra, na Póvoa.
Foi uma decisão muito errada: rejeitou as filhas, deixou à mãe todos os cuidados delas e perdeu uma grande mulher: se ele tivesse casado com a Ana da Costa, ela faria dele um homem respeitável. A ela sobrava-lhe energia para trabalhar, era boa figura e uma pessoa apaixonada.
Inscrição do lintel do portal fronho da casa dos avós da Alexandrina.

Na sua cegueira, António Xavier trocou-a por uma mulherzinha: chegou a ter de pedir auxílio económico… à acamada Alexandrina, a filha que ele rejeitara.

Como era então Gresufes?
Gresufes era um beco, um fim do mundo: a esta aldeia ia-se e voltava-se: não se passava ali para lado nenhum (hoje já não é bem assim). Os acessos eram fraquíssimos e até a igreja ficava longe.
Ao tempo da infância da Alexandrina, deviam viver lá umas 50 pessoas, algumas abastadas: os Machados, os Torres, os Farias, os Santos, os Boucinhas.
No ano em que ela nasceu, morreu Manuel Boucinhas, um político local tão considerado que da Póvoa veio um comboio especial com gente para participar no enterro.
Durante séculos, na Idade Média, Gresufes foi sede de paróquia e pertenceu a uma importante família nobre.
Em tempos muito mais recuados, de antes de Cristo, próximo de Gresufes e de Vila Pouca, houve um outeiro, um local celta de qualquer actividade religiosa; cerca dum quilómetro a norte, existiu um castro, o Castro de Penices. Mas muito antes, lá para 2.000 anos antes de Cristo, ao pé de onde depois se construiu o castro, houve um monumento megalítico, uma mamoa.
Próximas da aldeia da Alexandrina, ficavam as aldeias de Vila Pouca (onde estamos) e Além. Em Além, também havia alguns lavradores grandes, em Vila Pouca nem tanto.
Os nomes Vila Pouca, como Vila Nova, que ficava mais para sul, vêm do tempo visigótico.
Em certos períodos do ano Gresufes deve ser um local muito bonito: a aldeia fica ao fundo de dois vales, o Vale do Painho e o Vale Grande, e tem água com abundância: até houve lá um moinho. Quando a Primavera enchesse o lugar de verdura ele devia ser um recanto encantador.


EPISÓDIOS EM GRESUFES

Os episódios que a Beata Alexandrina conta na Autobiografia e que decorreram em Gresufes são poucos, talvez meia dúzia. Vou contar alguns:

A ferida ao canto da boca
Como era desinquieta e, enquanto minha mãe descansava um pouco, tendo-me deitado junto dela, eu não quis dormir e, levantando-me, subi à parte de cima da cama para chegar a uma malga que continha gordura de aplicar no cabelo – conforme era uso da terra – e, por ter visto alguém fazê-lo, principiei também a aplicá-la nos meus cabelos. Minha mãe deu por isso, falou-me e eu assustei-me. Com o susto, deitei a malga ao chão, caí em cima dela e feri-me muito no rosto.
Foi preciso recorrer imediatamente ao médico que, vendo o meu estado, recusou-se a tratar-me, julgando-se incapaz.
Minha mãe levou-me a Viatodos, a um farmacêutico de grande fama, que me tratou, embora com muito custo, porque foi preciso coser a cara por três vezes e levou bastante tempo a cicatrizar a ferida. O sofrimento foi doloroso.
Ah, se desta idade soubesse já aproveitar-me dele!... Mas não.
Depois de um curativo, fiquei muito zangada com o farmacêutico; este ofereceu-me alguns biscoitos e vinho, que depois de amolecidos no vinho queria que os comesse. Eu tinha fome e, às vezes, até chegava a chorar porque não podia mexer os queixos. Não aceitei a oferta e ainda maltratei o farmacêutico.
Ora aqui está a minha primeira maldade.

Por causa deste ferimento, a Alexandrina ficou sempre com uma marca ao lado da boca.
A minha terra é pegada a Viatodos e por isso eu sei várias coisas sobre o farmacêutico de que a Alexandrina falou. A farmácia ficava no rés-do-chão dum óptimo palacete que ele mandou construir poucos anos antes de ela lá ir. Ainda conheci essa casa. Depois, ela foi comprada por um brasileiro que a restaurou radicalmente. Mais tarde, sofreu um incêndio. Hoje ainda existe, mas é muito diferente da original.
O farmacêutico era o Sr. Oliveira. Um dia enviuvou e casou com uma familiar dum médico que foi presidente da Câmara da Póvoa e médico da Alexandrina, o Dr. Abílio Garcia de Carvalho.

Escudete do portal fronho da casa dos avós da Alexandrina.

Maria-rapaz, mas briosa
Era viva e tão viva que até me chamavam maria-rapaz. Dominava as companheiras da minha idade e até as mais velhas do que eu. Trepava às árvores, aos muros e até preferia estes para caminhar em vez das estradas.
Gostava muito de trabalhar: arrumava a casa, acarretava a lenha e fazia outros serviços caseiros. Tinha gosto que o trabalho fosse bem feito e gostava de andar asseadinha. Também lavava roupa e, quando mais não tinha, era o meu aventalinho que trazia à cinta. Quando não sabiam de mim, era quase certo encontrarem-me a lavar num ribeiro que corria perto de casa.

A Alexandrina era uma pequena saudável e activa.
O ribeiro ainda não saiu do sítio, está ali.

A brincadeira da égua
Um dia, fui com a minha irmã e uma prima apascentar o gado, entre ele uma égua. A certa altura, a égua fugia para o lado do campo que estava cultivado e, como a fosse tornar, ela atirou-me ao chão, dando-me com a cabeça, e depois colocou-se sobre mim; de vez em quando raspava-me o peito com uma pata sobre o meu coração, como quem brinca. Levantava-se, relinchava e voltava a fazer o mesmo. Fez assim algumas vezes, mas não me magoou.
As minhas companheiras gritaram e acudiram várias pessoas que ficaram admiradas de eu sair ilesa da brincadeira do animal.

A égua podia ser da casa Machado ou da Torres. As casas ricas tinham charrete para as deslocações.

A chuva de flores
Tinha eu 6 anos quando, de noite, me entretinha, por muito tempo, a ver cair sobre mim inúmeras pétalas de flores de todas as cores, parecendo chuva miudinha. Isto repetiu-se várias vezes. Eu via cair estas pétalas, mas não compreendia; talvez fosse Jesus a convidar-me à contemplação das suas grandezas.

Isto se calhar isto era apenas sonho, mas é poético e talvez premonitório: um dia Jesus vai-lhe dizer que pretende fazer nela “grandes cosias”. Seria o que lhe estava a anunciar desde muito longe.
É ela vai para a Póvoa quando tem quase sete anos e, quando volta, tem oito, e passa a morar no Calvário.

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Genealogia da Beata Alexandrina


uma vez aqui nos referimos à genealogia da Beata Alexandrina, seguindo informação de Mário Joaquim Nogueira de Azevedo.
Este genealogista, que descendia da Casa de Além, em Além, Balasar, colocou em linha a sua árvore genealógica onde se encontra a da Beata Alexandrina (procure-se Beata Alexandrina).
Apurou este autor que é possível recuar nos antepassados dela até ao morgado Pedro Carneiro da Grã. Mas depois pode-se recuar até ao abade Manuel Gonçalves, pai de Margarida Álvares.
Até ao morgado, é assim:
O Morgado Pedro Carneiro da Grã – Pai de – Maria da Costa Carneira – Mãe de – Maria da Costa Carneira – Mãe de – Tereza Maria da Costa Carneira – Mãe de – Custódio da Costa Baeta – Pai de – António José da Costa Baeta – Pai de – Joaquina Maria de Freitas da Silva – Mãe de – José António da Costa – Pai de – Maria Ana da Costa – Mãe de  - Alexandrina Maria da Costa (Beata Alexandrina).
Na biografia da Wikipédia, Pedro Carneiro da Grã já aparece como antepassado da Beata.
Coloca-se abaixo um fragmento dum documento de Pedro Carneiro da Grã, cidadão da cidade do Porto, mas morador na Quinta de Balasar, que é uma doação que faz, em 1668, a seu filho Manuel Carneiro.

A pequena Alexandrina em Gresufes

Amanhã, com início às 15h30, em Vila Pouca, Balasar, na casa da Tuitio Fidei, faremos uma palestra sobre o nascimento e a infância da Alexandrina em Gresufes.

Gresufes, o lugar balasarense onde a Alexandrina nasceu e passou os primeiros anos da infância.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Os receios de Custódio José da Costa e os de outros balasarenses do tempo


Custódio José da Costa ofereceu o seu retrato como ex-voto à Santa Cruz em agradecimento por esta lhe ter permitido que as obras da capela decorressem “sem perigos nem assaltos de ladrões”. Noutra ocasião escreveu que “administrou aquela capela, morada daquela Santa Cruz, cinco anos e sete meses, em cujo tempo arrecadou as esmo­las que não podia ter em sua casa com susto de que os ladrões o roubassem, vendo-se em muitíssimas vezes na precisão de não dormir na sua própria casa a fim de salvar o resultado das muitas esmolas”.
Sabemos agora melhor que estas referências aos ladrões faziam sentido.
Em 20 de Setembro de 1841, o regedor de Balasar Luís João Ferreira escrevia assim ao administrador: 
Em virtude do ofício que acabo de receber de V. Senhoria, em consequência dos roubos, eu, do primeiro roubo que aconteceu, dei um tiro em Augusto Fernandes, da freguesia de Arcos. Eu, deste acontecimento, dei parte para a sua administração por escrita e até a entreguei com minha mão; e dos outros roubos que têm acontecido agora de pouco ainda não dei parte porque foram feitos entre os limites de Macieira e Rates e me consta o ser verdade o ter roubado por várias vezes, mas não se lhe pode fazer nada, só se for a matar, porque andam destemidos. Consta que os roubos têm sido feitos desde a Serra de Rates até ao Muinho do Cubo. É a notícia que tenho e o que posso informar a V. Senhoria. 
Em 18 de Outubro de 1841, foi já o regedor José António Furtado que enviou esta mensagem ao mesmo destinatário: 
Dou parte a V. Senhoria de que nesta freguesia, nesta noite passada, das onze horas para a meia-noite, aconteceu um assalto de ladrões à força em casa de Miguel João Furtado, na Gandra, em que houve muito aqui d’El-Rei e rebate do sino e alguns tiros, porém não morreu ninguém nem puderam efectuar o roubo. É a parte que dou a V. Senhoria. 
O mesmo regedor, em 18 de Janeiro de 1842, expediu esta mensagem também para a autoridade poveira: 
Participo a V. Senhoria que no dia 16 do corrente, pelas onze horas da noite, foi acometida a residência do nosso Reitor por um bando de salteadores assassinos, quebrando-lhe as vidraças de uma janela com pedras e depois disparando-lhe um tiro na janela do quarto onde dormia, passando-lhe três balas a dita janela, o que comunico a V. senhoria para dar as providências que tais factos exigem.
Nem o pároco era poupado.
Em 8 de Agosto de 1842, coube ao regedor Joaquim Domingues Furtado voltar a comunicar um assalto:
Participo a V. Senhoria que na noite do dia 5 de Agosto próximo, pelas 8 horas, houve um encontro de ladrões no caminho que vem do lugar da Gandra para esta freguesia com um homem que vinha passando a cavalo – e este da freguesia de Negreiros. Houve, pelo que me consta, algum fogo e, fugindo ele, no dia seguinte veio ao sítio com mais alguns homens, onde achou uma faca que eles deixaram, a qual ele acometido levou para casa. E mais sussurro não houve, só pelo que se desconfia e o sítio onde foi, será um desertor que nesta freguesia há juntamente com os irmãos e outros mais que se juntaram.
É o que tenho a participar a V. Senhoria. 
E, ainda no mesmo mês, a 16 de Agosto, mas já outro regedor, Joaquim Domingues Leitão, volta a falar de roubos:
Dou parte a V. Senhoria de que no dia 15 de Agosto de 1842 me pediu auxílios para o efeito de prender várias pessoas, as quais se prenderam algumas pelos roubos que se lhe acharam, o qual o dito Juiz Eleito formou auto e o remeteu ao Sr. Juiz Ordinário, junto com os presos, sendo eles Josefa, mulher de Francisco Manuel de Oliveira, desta freguesia, do lugar da Gandra, e sua filha Maria e seu filho Constantino e seu filho Lino, os quais são quatro presos, e ficou o Luís, que este é desertor, não apareceu.
Deus guarde V. Senhoria. 
Como havia muitos homens desmobilizados que tinham servido nas lutas fratricidas de miguelistas e liberais e como essas lutas deviam ter deixado a economia num fosso fundíssimo, a violência ter-se-á banalizado.
Em 1841 e 1842, administrava o concelho António José dos Santos que, cremos, era um balasarense adoptivo com residência no Casal. 

domingo, 17 de fevereiro de 2013

De novo o P.e Gabriele Amorth


Como é sabido, o P.e Gabriele Amorth escreveu a biografia Dietro un Sorriso Beata. Alexandrina Maria da Costa, em português, Por detrás de um Sorriso. Alexandrina Maria da Costa.
Mas este sacerdote é um importante exorcista: veja-se aqui em português ou aqui em inglês.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Uma mensagem do Regedor de Paróquia

Temos andado a recolher informação sobre os regedores de Balasar. Eles comunicavam frequentemente ao administrador do concelho (no tempo em que o havia) acontecimentos ocorridos na freguesia. Nesse sentido, as suas missivas assemelham-se um pouco aos noticiários do P.e Leopoldino.
Houve regedores severos, ao menos tão papistas como o papa – e o papa aqui era o administrador. Manuel José de Faria foi sem dúvida um deles, como se pode verificar neste pedido duma escolta para a festa do Senhor da Cruz de 1847.
Ele propunha-se aproveitar a presença da tropa para “prender alguns mancebos”, isto é, alguns rapazes em idade de ir para o serviço militar, que muitas vezes se punham a monte quando sabiam que os queriam levar.
Os cabos de que fala o regedor são os cabos da polícia, balasarenses que a autoridade indicava para auxiliarem permanentemente o regedor.
Não entendemos o caminho que Manuel José de Faria propôs para a vinda da tropa, mas é fácil de ver que pretendia que a chegada dela fosse surpresa.
Era proverbial a liberdade ortográfica dos regedores, o que no original também se verifica.
Regedoria de Balasar

Ilustríssimo Senhor 
Incluso participo a V. Senhoria que é de costume fazer-se uma romaria no dia do Corpo de Deus, que é a 3 de Junho; e por isso peço a V. Senhoria que mande uma escolta para guardar a mesma romaria, que é de costume até aqui ela vir. E na mesma ocasião pode-se prender alguns mancebos.
Insisto me fará o maior favor.
Eu não posso fazer execuções porque me não fio no segredo dos cabos. V. Senhoria mande-me resposta se manda vir a escolta para eu formar a minha ideia. Se ela vier, pode vir em direitura pelo (?) a esta freguesia.
É preciso que V. Senhoria mande pedir vinte e cinco até trinta praças. Eu cá os espero no dia 2 de Junho pelas 5 horas da tarde.
Deus guarde V. Senhoria.
Balasar, 25 de Maio de 1847.
O Regedor Manuel José de Faria

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Os Espiritanos nos noticiários do P.e Leopoldino


São cerca de 200 os noticiários semanais que o P.e Leopoldino enviou para a imprensa poveira durante os anos em que paroquiou Balasar (1933-1956). Mas nem de longe eles correspondem a todas as semanas desse período.
Os Espiritanos são mencionados em Agosto de 1939: o missionário José Maria de Figueiredo prega com sucesso na Solenidade do Coração de Jesus. Pode ter sido ele que deu a conhecer a Alexandrina ao P.e Terças.
Não é noticiada a vinda deste padre quando recolhe a reportagem para a sua publicação.
A missão de Novembro de 1950 foi antecipadamente anunciada e referida depois em três noticiários. Foram mencionados o P.e Olavo (4/11), os P.es Olavo, Meira e Oliveira (11/11) e os P.es Felício Duarte e Meira (18/11). A missão desse ano foi um êxito enorme.
O P.e Olavo foi mencionado de novo em 19/10/1951 e em 26/3/1953.
Em 12/6/1954, foi noticiada a vinda a Balasar do P.e José Pereira de Oliveira.
Em 27/11/1954, escreveu o P.e Leopoldino: 
Terminou a Missão Religiosa. Durante 15 dias três sacerdotes da Congregação do Espírito Santo espalharam a semente da palavra divina ouvida por numerosos fiéis, muitos dos quais fizeram a reforma das suas consciências. Oxalá que os ensinamentos dos apostólicos missionários se conservem no espírito dos crentes por muitos anos para bem das suas almas.
Durante a Santa Missão realizaram-se quatro procissões, duas nocturnas e duas diurnas. As nocturnas foram em honra de Nossa Senhora de Fátima e da Santa Cruz da Missão, ambas acompanhadas de muito povo com cânticos, orações e lanternas acesas, símbolo da fé.
As diurnas foram em honra de Nossa Senhora da Conceição e da divina Eucaristia. A da Senhora foi precedida das cinco procissões com imagens de diversos títulos da Virgem, vindas dos lugares mais longínquos da freguesia e acompanhadas de sacerdotes e de muito povo cantado e rezando e fechada com a entusiástica cerimónia da coroação da imagem pelo Rev. Abade.
A do SS. Sacramento foi precedida de actos de adoração durante toda a noite de sábado para domingo presididos por sacerdotes, seguidos da missa rezada, prática e comunhão geral às sete horas e missa solene às onze. À tarde foi rezado o terço seguido com sermão, procissão e bênção eucarística, a que assistiu muito povo. Tanto na coroação da Senhora como na apoteose à Eucaristia foi queimado muito fogo.
Que Deus abençoe o nosso Rev. Abade e os seus paroquianos que tanto o estimam e respeitam.
Entre os pregadores estiveram os P.es José Pereira de Oliveira e José Maria de Sousa. Um deles ficou hospedado na casa da Alexandrina durante os quinze dias da missão.

Sobre a Santa Missão de 1950, pode-se ler aqui:

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Manuel Gonçalves, um padre que mudou a história de Balasar

Não tem relação directa com a Beata Alexandrina, sabe-se pouco dele e nem foi exemplar, mas o padre Manuel Gonçalves mudou a história da freguesia onde a Beata havia de nascer e viver.
Até há pouco só se sabia que tinha sido o pai da fundadora da casa que um dia viria a ser de D. Benta, mas hoje sabe-se já um pouco mais.
Em 1542, quando mandou renovar o tombo paroquial, ele era abade de Balasar (S. Eulália e S. Salvador) e de Gondifelos (S. Félix e S. Marinha de Vicente). Mas não era por escassearem os sacerdotes… Ele residia em Vila do Conde, onde celebrou vários baptismos entre 1536 e 1545. Abade rico, tinha com certeza outros sacerdotes a cuidar do múnus paroquial.
Os tempos eram maus: em 1542, o arcebispo de Braga, D. Duarte, era filho bastardo do rei e tinha 22 anos… Daí a urgência do Concílio de Trento que em breve se iria reunir e onde um arcebispo santo, D. Fr. Bartolomeu dos Mártires, iria ter um papel cimeiro.
No tempo da origem das paróquias, os nobres dotavam as igrejas para que os seus párocos pudessem ter uma vida sem indigência. As propriedades que em S. Eulália de Balasar tinham esse destino eram bastantes, mas não muitas. Foi a partir delas que o abade Manuel Gonçalves criou a casa da Quinta de Balasar, o que nem deveria prejudicar os seus sucessores.
Entre os donos da Quinta de Balasar, um criou aquela rica capela barroca de Nossa Senhora da Lapa, outro foi vereador da Câmara Municipal da Póvoa de Varzim quando se decidiu construir a actual Domus Municipalis e um outro, o Visconde de Azevedo, tem um lugar de relevo na cultura nacional.

Imagem - fachada principal da Capela de Nossa Senhora da Lapa, na Casa da Quinta de Balasar. É uma óptima construção barroca anterior às igrejas da Lapa de Vila do Conde e da Póvoa de Varzim.

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Ensino primário em Balasar


Quando a mãe da Beata Alexandrina enviou as filhas a estudar para a Póvoa, na freguesia já havia escola primária masculina desde há quase 40 anos. De facto, em 1867, a Junta de Freguesia pediu ao governo “uma cadeira de instrução primária”.
O primeiro professor foi com certeza o padre balasarense Manuel Lopes da Costa. Mas o ensino não era obrigatório, pelo que muito poucos miúdos o frequentavam.
A construção do primeiro edifício escolar na freguesia remonta a 1878.
A escola feminina vem dos tempos da Ditadura Nacional e foi iniciativa da câmara, secundada pela junta. Começou-se a tratar do assunto em Novembro de 1930, mas parece que só no ano lectivo de 1932 é que as aulas tiveram início, alugando-se para o efeito uma sala na Casa Faria, junto da igreja.
A escola em uso frente à Quinta é uma construção do programa dos Centenários e vem de 1944; a das Fontainhas foi inaugurada em Outubro de 1952, no mesmo dia da inauguração do edifício do liceu poveiro. No sessão da inauguração nas Fontainhas, foi pedida a criação duma escola em Vila Pouca.
Imagens: Escola da Quinta e Escola das Fontainhas.