Custódio
José da Costa ofereceu o seu retrato como ex-voto à Santa Cruz em agradecimento
por esta lhe ter permitido que as obras da capela decorressem “sem perigos nem
assaltos de ladrões”. Noutra ocasião escreveu que “administrou aquela capela,
morada daquela Santa Cruz, cinco anos e sete meses, em cujo tempo arrecadou as
esmolas que não podia ter em sua casa com susto de que os ladrões o roubassem,
vendo-se em muitíssimas vezes na precisão de não dormir na sua própria casa a fim
de salvar o resultado das muitas esmolas”.
Sabemos
agora melhor que estas referências aos ladrões faziam sentido.
Em
20 de Setembro de 1841, o regedor de Balasar Luís João Ferreira escrevia assim ao
administrador:
Em virtude do ofício que acabo de receber de V. Senhoria, em consequência dos roubos, eu, do primeiro roubo que aconteceu, dei um tiro em Augusto Fernandes, da freguesia de Arcos. Eu, deste acontecimento, dei parte para a sua administração por escrita e até a entreguei com minha mão; e dos outros roubos que têm acontecido agora de pouco ainda não dei parte porque foram feitos entre os limites de Macieira e Rates e me consta o ser verdade o ter roubado por várias vezes, mas não se lhe pode fazer nada, só se for a matar, porque andam destemidos. Consta que os roubos têm sido feitos desde a Serra de Rates até ao Muinho do Cubo. É a notícia que tenho e o que posso informar a V. Senhoria.
Em 18 de Outubro de 1841, foi já o
regedor José António Furtado que enviou esta mensagem ao mesmo destinatário:
Dou parte a V. Senhoria de que nesta freguesia, nesta noite passada, das onze horas para a meia-noite, aconteceu um assalto de ladrões à força em casa de Miguel João Furtado, na Gandra, em que houve muito aqui d’El-Rei e rebate do sino e alguns tiros, porém não morreu ninguém nem puderam efectuar o roubo. É a parte que dou a V. Senhoria.
O
mesmo regedor, em 18 de Janeiro de 1842, expediu esta mensagem também para a
autoridade poveira:
Participo a V. Senhoria que no dia 16 do corrente, pelas onze horas da noite, foi acometida a residência do nosso Reitor por um bando de salteadores assassinos, quebrando-lhe as vidraças de uma janela com pedras e depois disparando-lhe um tiro na janela do quarto onde dormia, passando-lhe três balas a dita janela, o que comunico a V. senhoria para dar as providências que tais factos exigem.
Nem o pároco era poupado.
Em 8 de Agosto de 1842, coube ao regedor
Joaquim Domingues Furtado voltar a comunicar um assalto:
Participo a V. Senhoria que na noite do dia 5 de Agosto próximo, pelas 8 horas, houve um encontro de ladrões no caminho que vem do lugar da Gandra para esta freguesia com um homem que vinha passando a cavalo – e este da freguesia de Negreiros. Houve, pelo que me consta, algum fogo e, fugindo ele, no dia seguinte veio ao sítio com mais alguns homens, onde achou uma faca que eles deixaram, a qual ele acometido levou para casa. E mais sussurro não houve, só pelo que se desconfia e o sítio onde foi, será um desertor que nesta freguesia há juntamente com os irmãos e outros mais que se juntaram.
É o que tenho a participar a V. Senhoria.
E, ainda no mesmo mês, a 16 de Agosto, mas
já outro regedor, Joaquim Domingues Leitão, volta a falar de roubos:
Dou parte a V. Senhoria de que no dia 15 de Agosto de 1842 me pediu auxílios para o efeito de prender várias pessoas, as quais se prenderam algumas pelos roubos que se lhe acharam, o qual o dito Juiz Eleito formou auto e o remeteu ao Sr. Juiz Ordinário, junto com os presos, sendo eles Josefa, mulher de Francisco Manuel de Oliveira, desta freguesia, do lugar da Gandra, e sua filha Maria e seu filho Constantino e seu filho Lino, os quais são quatro presos, e ficou o Luís, que este é desertor, não apareceu.
Deus guarde V. Senhoria.
Como
havia muitos homens desmobilizados que tinham servido nas lutas fratricidas de
miguelistas e liberais e como essas lutas deviam ter deixado a economia num fosso
fundíssimo, a violência ter-se-á banalizado.
Em
1841 e 1842, administrava o concelho António José dos Santos que, cremos, era
um balasarense adoptivo com residência no Casal.
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