D. Pedro, o filho de D. João VI e irmão
de D. Miguel, era maçónico. Antes de vir para Portugal e vencer o irmão em
1834, já ameaçara o Papa de lançar o país no cisma. E se não pôde concretizar a
ameaça, pois morreu entretanto, concretizaram-na os seus seguidores.
Por perfídia, porém, estes passaram a
tratar de cismáticos as pessoas que queriam ser fiéis às autoridades legítimas.
E eram muito severos com quem não se vergasse às suas veleidades.
Encontrámos um documento no Arquivo Municipal
da Póvoa de Varzim que mostra como acusaram, em 1838, de “crime de cisma” o Regedor da freguesia de
S. Pedro de Rates (vizinha de Balasar) .
Administração
Geral do Distrito do Porto
Ilustríssimo Sr.
Administrador do Concelho da Póvoa de Varzim
Ilustríssimo Senhor
Constando nesta Administração Geral que
o Regedor de Paróquia de S. Pedro de Rates, António Francisco Lopes, se acha
iniciado (sic) no crime de cisma no
Juízo Ordinário desse julgado, torna-se necessário que V. Senhoria, logo que
este receba, faça suspender o dito regedor e substituir o emprego, pelo modo
que determina o artigo 213 do Código Administrativo, e, para que ele se não
evada à pena merecida, V. Senhoria fará que logo em seguida seja capturado e
entregue ao Juiz Ordinário desse julgado, do que dará conhecimento a esta
Repartição.
Por esta ocasião, lembro a V. Senhoria a
necessidade de participar que cumprimento deu ao ofício confidencial que em 15
de Maio último foi expedido por esta Repartição, a fim de ser preso o P.e
Cipriano, da freguesia de Refontoura e residente em Rates.
Deus Guarde V. Senhoria.
Administração Geral do Porto, 30 de Junho
de 1838.
Joaquim Veloso da Cruz.
A que propósito vem isto aqui?
À data em que a Administração Geral do
Porto se encarniçava contra o Regedor de Rates, cuidava Custódio José da Costa que
fosse tratada com toda a dignidade a Santa Cruz aparecida em Balasar, aquela
Santa Cruz que anunciava a Beata Alexandrina. E já tinha visto o seu jovem pároco
ser expulso.
O que ele há-de ter passado!
O documento da autoridade portuense tem
tudo de inquisitorial, assenta num puro abuso de autoridade. Quem a mandou
imiscuir-se em assuntos de religião?
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