Há mais de um século que mostrei a cruz a esta terra amada, cruz que veio esperar a vítima.
Tudo são provas de amor!
Palavras de Jesus à Beata Alexandrina em 21/1/1955
Transcrevemos abaixo o primeiro artigo, duma série de treze, saída entre 1933 e 1935, no jornal poveiro A Propaganda. Pensamos que o autor dela foi o P.e Leopoldino Mateus, apesar de o escrito insinuar o contrário, despistando o leitor. Saiu em 14/10/33 e deu início ao estudo da história da Santa Cruz de Balasar.
Junto da Igreja paroquial de Santa Eulália de Balsar, deste concelho, hoje zelosamente pastoreada pelo nosso querido amigo e conterrâneo Sr. P.e Leopoldino Rodrigues Mateus, existe uma capela dedicada ao Senhor da Cruz. Esta capela, levantada há cerca de 100 anos em memória de um acontecimento extraordinário, singular, dado dois anos antes, foi em tempo muito frequentada pelo povo crente, especialmente pela classe piscatória desta vila, que deixou gravados alguns siglos ou marcas na porta da mesma.
Esse facto extraordinário da aparição duma cruz de terra é suficientemente narrado numa representação dirigida pelo pároco de então ao Sr. Dr. António Pires de Azevedo Loureiro, desembargador provisor e, por ausência do governador, Vigário Capitular, sede vacante, encarregado inteiramente do governo temporal e espiritual do Arcebispado de Braga. Eis o teor da representação:
Excelentíssimo e Reverendíssimo Senhor
Dou parte a Vossa Excelência de um caso raro acontecido nesta freguesia de Santa Eulália de Balasar.
No dia de Corpo de Deus próximo pretérito, indo o povo da missa de manhã em um caminho que passa no monte Calvário, divisaram uma cruz descrita na terra: a terra que demonstrava esta cruz era de cor mais branca que a outra: e parecia que, tendo caído orvalho em toda a mais terra, naquele sítio que demonstrava a forma da cruz não tinha caído orvalho algum.
Mandei eu varrer todo o pó e terra solta que estava naquele sítio; e continuou a aparecer como antes no mesmo sítio a forma da cruz. Mandei depois lançar água com abundância tanto na cruz como na mais terra em volta; e então a terra que demonstrava a forma da cruz apareceu de uma cor preta, que até ao presente tem conservado.
A haste desta cruz tem quinze palmos de comprido e a travessa oito; nos dias turvos divisa-se com clareza a forma da cruz em qualquer hora do dia e nos dias de sol claro vê-se muito bem a forma da cruz de manhã até as nove horas e de tarde quando o Sol declina mais para o ocidente, e no mais espaço do dia não é bem visível.
Divulgada a notícia do aparecimento desta cruz, começou a concorrer o povo a vê-la e venerá-la; adornavam-na com flores e davam-lhe algumas esmolas; e dizem que algumas pessoas por meio dela têm implorado o auxílio de Deus nas suas necessidades e que têm alcançado o efeito desejado, bem como: sararem em poucos dias alguns animais doentes; acharem quase como por milagroso animais que julgavam perdidos ou roubados e até algumas pessoas terem obtido em poucos dias a saúde em algumas enfermidades que há muito padeciam. E uma mulher da freguesia da Apúlia, que tinha um dedo da mão aleijado, efeito de um penando que nela teve, tocando a Cruz com o dito dedo, repentinamente ficou sã, movendo e endireitando o dedo como os outros da mesma mão, cujo facto eu não presenciei, mas o atestam pessoas fidedignas que viram.
Enfim, é tão grande a devoção que o povo tem com a dita cruz que nos domingos e dias santos de guarda concorre povo de muito longe a vê-la e venerá-la, fazem romarias ora de pé ora de joelhos em volta dela e lhe deixam esmolas; e eu nomeei um homem fiel e virtuoso para guardar as esmolas.
Querem agora alguns moradores desta freguesia com o dinheiro das esmolas se faça, no sítio onde está a cruz, como uma espécie de capela cujo tecto, coberto de tabuado, seja firmado em colunas de madeira e em volta cercado de grades também de madeira, para resguardo e decência da mesma cruz e, dentro e defronte da cruz descrita na terra, pôr e levantar outra cruz feita de madeira, bem pintada com a Imagem de Jesus Crucificado pintada, na mesma cruz.
Eu não tenho querido anuir a isto sem dar a Vossa Excelência parte do acontecido e mesmo em fazer a sobredita obra sem licença de Vossa Excelência, persuadido que nem eu nem os moradores da freguesia temos autoridade para dispor a nosso arbítrio do dinheiro das esmolas, que por agora ainda é pouco e não chega para se fazer obra mais dispendiosa e decente à proporção do objecto.
Agora sirva-se Vossa Excelência determinar o que lhe parecer e o que eu devo praticar a este respeito.
Santa Eulália de Balasar, aos 6 dias do mês de Agosto de 1832.
De Vossa Excelência súbdito o mais reverente,
O Reitor António José de Azevedo
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