Em Sábado Santo de 1918, a Beata Alexandrina, com catorze anos, foi vítima do desregramento de três seus conterrâneos e isso veio a prostrá-la no leito de doente durante três décadas. Que horror!
Mas antes de nascer já fora vítima do desregramento
dos pais e, em particular, do pai, que nunca assumiu a tarefa da sua
paternidade, antes cobardemente se apressou a casar com outra mulher.
Do estudo que andamos a fazer da freguesia,
verificamos que o desrespeito pontual pelas normas cristãs da sexualidade vem
de muito longe (noutras terras não seria muito diferente).
No começo do séc. XVIII, nos quase 200
baptismos efectuados em duas décadas, perto de um décimo das crianças baptizadas
eram filhas de mães solteiras. E essa chaga, embora viesse a diminuir, manteve-se.
Mas mais, não eram só os comuns fiéis a
desrespeitar tais normas. Como se sabe, na origem da casa de D. Benta está a
filha dum pároco; e conhecem-se os nomes de mais dois párocos da freguesia que
também tiveram filhos.
Estas fraquezas humanas, especialmente
entre aqueles que a gente gostava de ver como modelos de vida cristã, nem devem
causar-nos um espanto muito grande. Basta recordar o que se passou com os apóstolos:
um traiu Jesus, vendendo-O, Pedro negou que O conhecia num momento em que isso lhe
podia ser de grave ameaça e os outros, na mesma hora de dificuldade, fugiram (certo
é contudo que, à parte Judas, os restantes acabaram perder o receio e foram
mártires, isto é, deram a vida na defesa da verdade).
Honra portanto àqueles e àquelas que,
como a Alexandrina, saem vencedores das dificuldades e também aos que, se
alguma vez fraquejaram, depois se levantaram para não voltar a cair.
A violência que se pretendia cometer
contra a Alexandrina e as suas companheiras tem alguma coisa a ver com os
tempos da República, que parece ter dado origem a um grupo de notória
libertinagem na freguesia, a que creio que chamavam o Grupo da Vermelhinha. Não
é por acaso que um homem de uma malvadez tão entranhada como o Lino Ferreira se
torna Presidente da Junta logo após a Monarquia do Norte (presidiu de 2 de
Fevereiro de 1919 a 26 de Novembro de 1923). António da Costa Faria, outro do
grupo dos energúmenos, em meados de Outubro de 1919 foi a Lisboa assistir ao
Congresso do Partido Republicano Português, na companhia de Carlos da Costa
Reis, de má memória, e desse “pardal” que foi Cândido dos Santos.
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