A
narrativa do Salto contada pela Rosalina
Rosalina Gonçalves de Almeida era aprendiz de costureira na sala da casa de D. Ana no momento do Salto. Das três jovens, era a de mais idade. Um dia contou o episódio ao P.e Humberto.
Teria eu os meus
19 anos, encontrei-me com a Deolinda e a Alexandrina nesta sala. A Deolinda costurava
à máquina, a Alexandrina passava a ferro e eu costurava à mão.
A certa
altura, a Deolinda notou a presença de três homens na estrada. Estavam parados
e pelos gestos deles a Deolinda ficou preocupada e levantou-se imediatamente e
foi fechar a porta da casa, uma vez que já não tinha tempo de ir fechar a do
caminho.
Meu dito, meu
feito: um dos homens, bateu à porta e à pergunta da Deolinda – Quem está aí? –
respondeu:
- Seu criado,
faz favor.
E Deolinda:
- A porta não
se abre. Você não tem cá obra.
E a Deolinda
retomou o trabalho.
Momentos
depois, o mesmo, que conhecia bem o interior da casa por morar pertinho, tentou
entrar pelo alçapão que dá para esta sala.
Ao sentir
gente lá debaixo, a Deolinda puxou a máquina sobre o alçapão. Então o atrevido
pegou num maço e começou a bater até arrebentar as tábuas do alçapão. Ao tentar
segurar a máquina para ela não cair no buraco aberto, a Deolinda foi agarrada pelas
saias e o assaltante, não a querendo deixar, foi arrastado pela Deolinda até perto
da porta e só a largou ao magoar-se no braço. A Deolinda abriu a porta (para fugir) e
entraram então os outros dois. De nada valeram os protestos da Deolinda, como
mestra da costura que era.
O outro, o
solteiro, veio direito a mim e obrigou-me a sentar-me nos seus joelhos – havia
aqui na sala uma cama de ferro.
Ao ver isto, a
Alexandrina, num rápido, saltou pela janela. A Deolinda deu um grito e saiu
pela porta fora. Entretanto, a Alexandrina veio de volta com um arejão na mão e
a chorar, protestando que lhe tinham feito perder uma aliança. Chamou-lhe cães
e ameaçou que gritaria se não se fossem embora. Um deles mostrou-lhe a mão cheia
de anéis e disse-lhe:
- Perdeste o
anel? Escolhe aqui um.
A Alexandrina
recusou desdenhosamente e então eles foram-se embora.
O homem solteiro
era o Camilo da Costa Faria, o casado, certamente o dos anéis, chamava-se
António da Costa Faria e devia ser irmão.
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