Relatório
do Administrador do Concelho para o Governo Civil
A
propósito da ida da pequena Alexandrina para a Póvoa, para estudar, coloca-se
aqui este relatório.
Como
estava a educação naquele tempo! E alguma vez teria estado melhor?
Mas
nos 50 anos seguintes muita coisa ia mudar: as escolas, ao menos as masculinas,
iriam generalizar-se nas freguesias rurais, num esforço enorme dos governos da
Regeneração e posteriores.
Ilustríssimo e excelentíssimo Senhor
Em cumprimento da Circular n.º 3 enviada
pela 2.ª Repartição desse Governo Civil, em data de 23 de Agosto pretérito,
tenho a honra de enviar a V. Senhoria o Mapa Estatístico do número das Escolas
Régias e Particulares de Ensino Primário e Secundário existente neste concelho
em 31 de Julho do corrente ano, pelo qual se mostra que neste concelho há
apenas um mestre régio, na freguesia de Rates, com carta régia de 26 de
Fevereiro de 1839, cuja aptidão, zelo e assiduidade e comportamento moral e
político é sofrível (e no mesmo grau o aproveitamento dos seus discípulos), de
idade de 55 anos, solteiro, sem família e sendo filho de lavradores que o
sustentam, natural da freguesia de Gueral, concelho de Barcelos, meia légua
distante da freguesia de Rates onde tem estabelecida a sua escola em casa de
aluguer e aonde acorre com prontidão e a horas próprias de principiar e
continuar as suas lições, sem a menor falta. Está no centro do concelho e lugar
sadio ou salubre, com a capacidade necessária para o número de 60 discípulos,
sendo que destes não frequentam no tempo senão a metade por serem ocupados nos
trabalhos agrícolas com seus pais.
Nesta vila não há mestre régio nem de
ensino primário nem secundário: esta cadeira foi suprimida pelo Conselho
Director da Instrução Pública a título da proximidade desta vila com Vila do
Conde, no que tem experimentado uma falta notável e digna de contemplação do
Governo, enquanto a primeira de Ensino Primário se acha vaga desde a morte do
último professor Tomás Martins Mouta, em 28 de Dezembro de 1845, havendo apenas
dois professores particulares do dito ensino, que recebem salários dos mesmos
discípulos, cuja aptidão, zelo e comportamento social, moral e político não
pode notar-se defeito algum, não sendo (a
não ser?) a falta de método e utensílios necessários para uma boa escola
normal, ensinado apenas a conhecer e juntar as letras, nomes e as quatro
operações aritméticas pelo método antigo que aprenderam.
Não há escolas do sexo feminino, nem
régia nem particular, e apenas algumas mestras de costura e meia ensinam o que
sabem (às suas discípulas) de ler e escrever.
É quanto se me oferece dizer a V.
Senhoria a semelhante respeito, resumindo uma matéria que tanto tem que dizer
sobre a necessidade que há de mestres e mestras que não somente sejam hábeis para
o ensino, mas mesmo para a educação física, moral e política de que tanto se
carece.
Deus guarde V. Senhoria.
Administração do Concelho da Póvoa de
Varzim, 25 de Setembro de 1848.
O Administrador do Concelho, Filipe
António Pereira da Silva
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