quinta-feira, 26 de julho de 2012

Um documento histórico de Balasar

Em 1542, Balasar fez tombo paroquial. Como o pároco era também abade de Gondifelos e (Santa Marinha de) Vicente, o tombo é de Balasar, Gresufes, Gondifelos e Vicente[1].
Na altura de se constituírem as paróquias, os nobres do tempo hão-de ter tido o cuidado de dotarem os párocos de rendimentos que lhes permitissem viver sem dificuldades de maior: as pessoas comuns seriam tão pobres que pouco poderiam contribuir para o seu sustento.
Tombo de Santa Obaya (Eulália) de Balasar e Gundifelos e Sam Salvador de Grisufe, enexa (anexa)


O Casal da Igreja de Balasar, que teria com certeza essa origem, era constituído por muitas propriedades, mas era só ele a pagar rendas ao pároco, os outros pagavam apenas o dízimo. Mas não era assim em Gresufes: aí, além do Casal da Igreja propriamente dito, de Gresufes, mais três casais que pagavam tais rendas, o de Vila Pouca, o de Além e ainda um terceiro de fora da freguesia, o Casal de Crujes, em Santa Marinha de Vicente. Era muita renda!
Pelo que percebemos, a antiga Igreja de S. Salvador de Gresufes deveria ficar perto donde muito mais tarde ficaria a casa onde nasceu a Alexandrina.
Em 1542, a Igreja de Balasar parece que já estava no Matinho. Aparentemente, o conjunto principal das propriedades da paróquia nunca estivera nem no Lousadelo nem no Casal, onde se havia construído as igrejas anteriores, mas ali no Matinho. Isso teria facilitado a localização da nova igreja, que precisava de ficar próxima de Gresufes.
Um aspecto interessante do Tombo de Balasar de 1542 é o registo dos limites da freguesia. É muito diferente do dos dois tombos da Comenda: começa no sítio certo, na delimitação de Balasar com Gondifelos. Fora ali que noutros tempos a freguesia mais estreitamente contactara com o exterior. Depois passa a S. Marinha de Vicente, hoje Gondifelos, a S. Veríssimo de Pedrafita, hoje lugar de Cavalões, a Vilarinho, Fradelos, S. Martinho do Outeiro, Bagunte, Arcos, Rates, Macieira e finalmente Negreiros. Balasar é uma freguesia muito grande.
Esta delimitação identifica dois monumentos megalíticos, duas mamoas: uma nos limites de Balasar com S. Marinha de Vicente, próxima portanto do Castro de Penices, e outra que ficava próxima do ponto onde se encontram Balasar, Rates e Macieira. Tais monumentos vinham no mínimo de 2000 a.C.
Veja-se como era constituída parte habitada do Casal da Igreja de Santa Obaya de Balasar:
“Primeiramente, uma casa sobradada, que tem uma sala e duas câmaras (quartos) e uma cozinha, todas telhadas. Outra casa telhada que serve de câmara. Pegado com o cabido (alpendre) da dita igreja, quatro casas térreas telhadas e uma delas colmaça (casas telhadas deveriam ser a residência e celeiros do pároco, a colmaça podia ser estábulo).
Uma casa colmaça (coberta a colmo) em que vive o caseiro. Um eido com duas cortes. Mais duas cortes de gado colmaças. Um pombal pegado com as casas. Um tapado que levará um quarto de semeadura, que serve de colmeias. Uma eira pegada com o adro e abaixo da eira um cortelho tapado sobre si que levará de semeadura um alqueire e meio”.
Este é um documento do tempo da juventude de Camões.

[1] A família da mãe da Alexandrina eram os Vicentes. Este apelido deriva certamente do nome desta antiga paróquia.

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