O caso de Balasar que se vai historiar
não é o dos amores dos pais da Alexandrina e o nascimento desta, apesar de ser contemporâneo.
É bem outro: é o da morte dum ex-regedor de Balasar por ocasião duma festa da Santa
Cruz, a que já nos referimos. O julgamento deste assassínio fez correr muita tinta na imprensa
poveira.
O Estrela
Povoense foi o que mais espaço lhe dedicou. Da primeira vez, em 15 de Maio
de 1904, foi quase uma página completa, em letra miudinha, sob o título: “Audiências
Gerais, Julgamento importante, o Caso de Balasar”. Registam-se as conversas trocadas
em duas sessões do julgamento entre o juiz e os advogados, por um lado, e as testemunhas, por outro. Na
edição de 22, faz-se o mesmo para a sessão com que terminou o julgamento. Quase
meia página com o título de “Ainda o Caso de Balasar”.
O julgamento pareceu uma completa farsa:
as testemunhas, que antes acusavam o réu - Florentino Ferreira de Macedo Faria Gajo, de Gueral, de 22 anos -, em tribunal, ilibaram-no. O juiz bem tentou
mostrar-lhe a incongruência em que se envolviam, mas elas, que aparentemente tinham
sido bem preparadas, mantiveram-se firmes. E o réu foi absolvido.
“E assim terminou essa tragédia em que
se vê morrer assassinado um homem em pleno dia, cercado de centenas de pessoas,
sem que alguém pudesse descobrir o assassino!”, lamenta o jornal. E mais
adiante: “Infelizmente parece que uma freguesia inteira era cúmplice nessa
morte, tais foram os meios que se empregaram para escurecer a verdade”.
O
Liberal,
no dia 15 de Maio, também dedicou mais de meia página ao caso, intitulando-a “Julgamento
importante (o crime de Balasar)”, mostrando-se mais favorável ao réu. No dia
29, insurgiu-se contra o Estrela Povoense: se levantava suspeitas sobre o comportamento das testemunhas, devia prová-las.
O Estrela lembrou então o que se
tinha passado noutros julgamentos em que o réu era pobre e foi condenado.
O Comércio da Póvoa de Varzim dedicou este julgamento, de uma vez só, quase uma página com o título de "Crime de Balasar".
O Comércio da Póvoa de Varzim dedicou este julgamento, de uma vez só, quase uma página com o título de "Crime de Balasar".
A injustiça era muito evidente. Por trás das duas atitudes opostas do Estrela e do Liberal face ao julgamento deviam estar interesses políticos, eleiçoeiros.
No decorrer do julgamento é assinalada, pela sua respeitabilidade, uma testemunha de defesa do réu de nome Manuel Gonçalves Xavier, de Vila Pouca. Deve tratar-se de um tio, pelo pai, da Beata Alexandrina.
No decorrer do julgamento é assinalada, pela sua respeitabilidade, uma testemunha de defesa do réu de nome Manuel Gonçalves Xavier, de Vila Pouca. Deve tratar-se de um tio, pelo pai, da Beata Alexandrina.
Isto lembra-nos aquele caso ocorrido
em Lisboa, na década de trinta do século passado: um empregado duma loja
tomara-se de amores pela esposa do patrão. Este despejou-lhe seis balas de revólver
no corpo, provocando-lhe naturalmente a morte. No julgamento foi ilibado - por
não se provar que tivera intenção de matar o empregado.
Sem comentários:
Enviar um comentário