quarta-feira, 25 de julho de 2012

O Caso de Balasar (1903-1904)


O caso de Balasar que se vai historiar não é o dos amores dos pais da Alexandrina e o nascimento desta, apesar de ser contemporâneo. É bem outro: é o da morte dum ex-regedor de Balasar por ocasião duma festa da Santa Cruz, a que já nos referimos. O julgamento deste assassínio fez correr muita tinta na imprensa poveira.
O Estrela Povoense foi o que mais espaço lhe dedicou. Da primeira vez, em 15 de Maio de 1904, foi quase uma página completa, em letra miudinha, sob o título: “Audiências Gerais, Julgamento importante, o Caso de Balasar”. Registam-se as conversas trocadas em duas sessões do julgamento entre o juiz e os advogados, por um lado, e as testemunhas, por outro. Na edição de 22, faz-se o mesmo para a sessão com que terminou o julgamento. Quase meia página com o título de “Ainda o Caso de Balasar”.
O julgamento pareceu uma completa farsa: as testemunhas, que antes acusavam o réu - Florentino Ferreira de Macedo Faria Gajo, de Gueral, de 22 anos -, em tribunal, ilibaram-no. O juiz bem tentou mostrar-lhe a incongruência em que se envolviam, mas elas, que aparentemente tinham sido bem preparadas, mantiveram-se firmes. E o réu foi absolvido.
“E assim terminou essa tragédia em que se vê morrer assassinado um homem em pleno dia, cercado de centenas de pessoas, sem que alguém pudesse descobrir o assassino!”, lamenta o jornal. E mais adiante: “Infelizmente parece que uma freguesia inteira era cúmplice nessa morte, tais foram os meios que se empregaram para escurecer a verdade”.
O Liberal, no dia 15 de Maio, também dedicou mais de meia página ao caso, intitulando-a “Julgamento importante (o crime de Balasar)”, mostrando-se mais favorável ao réu. No dia 29, insurgiu-se contra o Estrela Povoense: se levantava suspeitas sobre o comportamento das testemunhas, devia prová-las. O Estrela lembrou então o que se tinha passado noutros julgamentos em que o réu era pobre e foi condenado.
O Comércio da Póvoa de Varzim dedicou  este julgamento, de uma vez só, quase uma página com o título de "Crime de Balasar".
A injustiça era muito evidente. Por trás das duas atitudes opostas do Estrela e do Liberal face ao julgamento deviam estar interesses políticos, eleiçoeiros.
No decorrer do julgamento é assinalada, pela sua respeitabilidade, uma testemunha de defesa do réu de nome Manuel Gonçalves Xavier, de Vila Pouca. Deve tratar-se de um tio, pelo pai, da Beata Alexandrina.

Isto lembra-nos aquele caso ocorrido em Lisboa, na década de trinta do século passado: um empregado duma loja tomara-se de amores pela esposa do patrão. Este despejou-lhe seis balas de revólver no corpo, provocando-lhe naturalmente a morte. No julgamento foi ilibado - por não se provar que tivera intenção de matar o empregado. 

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