Perseguição dos guardas-republicanos
Nos
primeiros anos da República ocorreram na Póvoa dois atentados, o primeiro, a
que já nos referimos, contra a residência do administrador Sebastião Tomás dos
Santos, com vários disparos[1], e um
segundo, no começo de 1919, que destruiu a redacção d’A Estrela Povoense e por pouco não vitimou o seu director.
Não
pareça por isso exagerado o temor que a Alexandrina vai mostrar frente aos
guardas, pois a GNR, criação do regime republicano, deveria simbolizar todas as
prepotências que vinham a ser cometidas contra a Igreja: casas religiosas
fechadas, bispos exilados, padres perseguidos, edifícios religiosos
nacionalizados... Na Póvoa o colégio das Doroteias foi adaptado a quartel, as
obras da Basílica do Sagrado Coração de Jesus foram suspensas, religiosos foram
humilhados…[2]
Depois de umas férias, íamos para a Póvoa de Varzim, eu e a minha irmã; tínhamos quem nos acompanhasse, mas só depois de atravessarmos a freguesia. Íamos pelo caminho-de-ferro e avistámos, ao longe, dois guardas-republicanos. Tivemos medo deles, e refugiámo-nos na volta de um caminho. Como minha irmã levasse um cestinho com linho, eles imaginaram que ela levava fósforos, proibidos naquele tempo (espera-galegos), e perseguiram-nos.Não fugimos e gritámos muito. Aos nossos gritos acudiram várias pessoas. Já estavam para fazer fogo, quando compreenderam que não éramos portadoras de tal contrabando. Felizmente que, desta vez, escapámos à morte.
[1] A
casa de Sebastião Tomás dos Santos ficava em Regufe, com certeza face à rua da Escola Mónica Cardia, pelo que a Alexandrina, que devia o conhecer de
vista o administrador, também terá ido ver o resultado dos disparos contra a
sua casa.
[2] Sobre
a expulsão dos Jesuítas poveiros, veja-se Manuel Amorim, «A Companhia de Jesus
na Póvoa de Varzim», no Boletim Cultural da Póvoa de Varzim, n.º XXXIII,
1996-1997, pp. 129 e seguintes; sobre as Doroteias, consulte-se o opúsculo de
António Freire, S.J., A Madre Sá, Glória
da Póvoa de Varzim, Braga, 1982.
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