domingo, 1 de julho de 2012

De novo o Lino Ferreira (2)


No dia 31 de Janeiro de 1914, saiu n’O Comércio da Póvoa de Varzim uma correspondência jornalística de Balasar assinada por L. F. Era certamente de Lino Ferreira. Vamos transcrevê-la tal qual foi lida, sem nenhuma correcção ortográfica ou outra:
Balazar, 27-1-1914
O clericalismo – No dia 22 do corrente deu-se nesta freguezia um facto que muito depõe contra o prestigio de certos padres que trazem Deus na boca e o diabo no coração!
Relatemos: Realizou-se naquele dia o saimento funebre da mãi do sr. Antonio Ferreira de Souza, que no dia anterior tinha sucumbido. Para acompanhar o cadaver, foram por aquele senhor convidados dez padres, reservando este nosso amigo o direito de nada pagar aqueles que não acompanhassem o funeral. Ora um quatro ou cinco padres só apareceram na igreja para cantar os ofícios funebres e então o nosso particular amigo sr. José Fernandes Campos Fontinha encarregado de fazer o respectivo pagamento dirigiu-se aos cinco padres que não cumpriram as ordens do dorido e em termos correctos e delicados avisou-os a que se retirassem visto não cumprirem o que se tinha determinado.
Duma maneira atrevida e imprudente os visados exaltam-se e os colegas que nada tinham com o caso, protestam fazendo unisonos nos protestos, dizendo que nada faziam sem que os seus colegas fossem admitidos. Depois de jutarem e discutirem o caso, tratam de enxovalhar por meio de palavras ofensivas, o respeitavel cidadão Antonio Ferreira de Souza.
Durante este tumulto ao qual se juntou diversas pessoas que vão fazendo partido por um e outros, dão-se varias peripecias que nos abstemos de relativo. Nesta ocasião aparece na igreja o digno arcipreste deste concelho sr. Abade de Terroso que por processos justos pede para todos se calarem e não fazerem a grève em projecto, mas nada consegue.
Em virtude destes factos anormais o sr. Abade desta freguesia declara que em virtude dos seus colegas se recusassem a fazer os responsos, iria rezar uma missa de corpo presente e em seguida seria trasladado o corpo da inditosa senhora para o cemitério, o que assim se fez. Por estes factos se vê a incorencia dos nossos padres que só procuram ódios e vinganças para servirem as suas algibeiras.
Ao nosso prezado amigo sr. Ferreira de Souza, apresentamos os nossos pezamos e elogiamos o seu representante sr. Fontinha pela maneira inergica como se conduziu. – L. F.

L. F. escandalizou-se com o comportamento de quatro ou cinco padres, em dez. Não incluindo nos culposos o Abade de Balasar nem o Arcipreste, natural também da freguesia, no final alarga a sua crítica aos “nossos padres que só procuram ódios e vinganças para servirem as suas algibeiras”; isto é, generaliza. Incoerência elementar.
O escrito há-de ter dado azo a troça. Escrevera “pêsamos” por pêsames, “inérgica” por enérgica, usou repetições despropositadas, várias impropriedades vocabulares e erros de sintaxe, fez um raciocínio ilógico e tendencioso. Deve-lhe ter servido de lição.
A Alexandrina estava quase a completar 10 anos.


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