sexta-feira, 8 de julho de 2011

Ida a Gondifelos

Foi aos nove anos que fiz pela primeira vez a minha confissão geral e foi com o Sr. P.e Manuel das Chagas.
Fomos, a Deolinda, eu e a minha prima Olívia, a Gondifelos, onde Sua Reverência se encontrava, e lá nos confessámos todas três. Levámos merenda e ficámos para a tarde, à espera do sermão.
Esperámos algumas horas e recorda-me que não saímos da igreja para brincar. Tomámos nosso lugar junto do altar do Sagrado Coração de Jesus e eu pus os meus soquinhos dentro das grades do altar.
A pregação dessa tarde foi sobre o inferno. Escutei com muita atenção todas as palavras de Sua Reverência, mas, a certa altura, ele convidou-nos a ir ao inferno em espírito. Para mim mesma disse: “Ao inferno é que eu não vou! Quando todos se dirigirem para lá, eu vou-me embora!”, e tratei de pegar nos soquinhos. Como não vi ninguém sair, fiquei também, não largando mais os soquinhos. Autobiografia

Frei Manuel das Chagas

Nascido a 17 de Novembro de 1850, no lugar da Borralha, perto de Águeda, Frei Manuel das Chagas entrou na Ordem Franciscana a 22 de Maio de 1868, professou no ano seguinte, a 22 de Maio de 1869 e foi ordenado presbítero a 27 de Agosto de 1873.
Foi um pregador de grande valor, muito prolífico.
Vejamos:
Pregou o seu primeiro sermão durante a Quaresma de 1875, e o seu último a 15 de Abril de 1923, antes de falecer em Tui, na Espanha, com 72 anos, a 17 de Maio de 1923. Durante estes quarenta e oito anos de apostolado intenso, pregou 8.140 sermões.

Se a Alexandrina foi a Gondifelos, que é vizinha de Balasar, com 9 anos, estava-se em 1913, em tempo da extinção republicana das Ordens Religiosas. Deve ser por isso que ela fala de padre e não de frei. Deve ser ainda em razão da República que Fr. Manuel das Chagas morre em Tui, na Galiza, junto à fronteira norte de Portugal.
Aí pelos anos 60 do século passado, a nossa mãe, nascida em 1913, ainda recordava o nome de Fr. Manuel das Chagas, pelo que ele deve ter pregado por cá até perto do falecimento.

Confissão geral é coisa que hoje não existe.
A Alexandrina fala no altar do Sagrado Coração de Jesus. De facto era então muito divulgada esta devoção (que Jesus há-de recomendar à mesma Alexandrina).
A Igreja de Gondifelos foi profundamente remodelada, de modo que não restará muito do que a pequena viu.

Não é só aqui que são mencionados os soquinhos que tanto envaideciam a pequena Alexandrina. Os da nossa imagem podem não corresponder de todo aos dela.

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