segunda-feira, 11 de julho de 2011

Dr. Alexandrino Fernandes dos Santos

Professor no Seminário Conciliar e Director da revista "Acção Católica"

Nós tínhamos uma vaga ideia de que havia um sacerdote de Bagunte (esta freguesia confina com Balasar) que interviera de algum modo no caso da Beata Alexandrina. Agora temos a certeza: trata-se do P.e Dr. Alexandrino Fernandes dos Santos. 

Alguém escreveu que a simplicidade é a igno­rância do próprio méri­to. Todavia, as almas grandes, conforme ensi­na Santa Teresa, reconhe­cendo em si méritos, fazem deles entrega a Deus.
É assim que eu vejo o Dr. Alexandrino Fernan­des dos Santos: tudo re­ferindo a Deus, já que reconhecia que "tudo" quanto tinha do Senhor o havia recebido.
«A humildade é o al­tar sobre o qual Deus quer que Lhe ofereçamos sacrifícios»... e o Doutor Alexandrino "celebrou" neste altar.
Tenho a firme convic­ção que todos os antigos alunos do prestigiado mestre, que nasceu em Santagões, antiga fregue­sia e hoje lugar da fre­guesia de Bagunte, con­celho de Vila do Conde, em 3 de Abril de 1908, dele têm esta viva ima­gem: a simplicidade e humildade em pessoa.
Terminado o Curso Filosófico e após o primeiro ano de Teologia, concluído com distinção, foi escolhido para com­pletar na Universidade Gregoriano, em Roma, o Curso teológico, matri­culando-se em 1928.
Em 26 de Março de 1932 recebeu em Roma a ordenação sacerdotal e, concluído o doutora­mento em Teologia, ini­ciou o magistério no Se­minário Conciliar de Braga, em Outubro de 1932, sendo um grande obreiro da formação in­telectual dos seminaris­tas pelo espaço de qua­renta anos.
Foi um distinto professor, admirado e estima­do por todos os alunos embora só o vissem nas aulas e na capela onde, di­ariamente, celebrava a Santa Missa... De resto, passava o dia-a-dia no seu quarto a estudar, a ler, a escrever.
Era uma pessoa doente e o seu mal estava nos pul­mões; por esta razão pas­sou meses nos Sanatórios da Guarda e do Caramulo e ainda em Casas de Saúde de Braga e do Porto.
A doença complexava­-o, de tal modo que se dizia incapaz de leccionar e foi necessário, muitas vezes, que o Reitor do Seminário e os colegas o "forças­sem"...
Sendo competentíssi­mo, escrevia todas as lições... falava muito depres­sa e verificava-se o seu cansaço em cada aula. Dizia ele que ficava completamente arrasado.
Muitas vezes quis de­sistir do magistério, dizen­do que se sentia incapaz de comunicar fosse com quem fosse, afirmando que as suas lições faziam dormir os alunos: o que não era verdade. Tinha receio de falar em público e, quantas vezes, por esta razão, o Arcebispo D. António Ben­to Martins Júnior o quis encarregar de missões es­peciais, mas nada conse­guiu.
Pela sua capacidade te­ológica, cultura humanís­tica e o gosto pelas letras, foi nomeado Director da re­vista "Acção Católica" - cargo que abandonou de­corridos seis meses, ape­lando para o seu estado de saúde.
Sempre desempenhou o cargo de examinador do Clero e de Juiz do Tribunal Eclesiástico, sendo exí­mio nas sentenças profe­ridas e na redacção das mesmas, quando em latim.
Não posso esquecer o trabalho que o Doutor Alexandrino realizou como Juiz na condução do Processo de beatifica­ção de Alexandrina Ma­ria da Costa - terça-fei­ra, dia 30 de Março, co­memorou-se o centená­rio do nascimento da Ve­nerável de Balasar, Pó­voa de Varzim.
O seu nome está pro­fundamente unido ao da Serva de Deus... Jamais se esquivou a qualquer trabalho, mesmo árduo, dizendo sempre que a Alexandrina tudo lhe merecia.
Quanto mais se poderia escrever sobre este mestre!
Na tarde de 2 de Ja­neiro de 1974, faleceu no Hospital do Carmo, no Porto, e foi sepultado em Bagunte, terra de sua naturalidade.
Recordo que presi­diu ao funeral e nos deu a "imagem perfeita do Doutor Alexandrino" o Senhor Arcebispo D. Francisco Maria da Silva - seu condiscípulo, em Roma, desde a primeira hora... Citou um pensa­mento do célebre Bour­daloue, cuja ideia central retive: muitos se têm perdido pelo fulgor dos seus talentos, dos seus triunfos... jamais se perdeu alguém pelos sen­timentos de uma ver­dadeira e sólida humil­dade.
O Doutor Alexandri­no está na glória!

Cónego Eduardo de Melo Peixoto, Diário do Minho, 4/4/2004

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