Professor no Seminário Conciliar e Director da revista "Acção Católica"
Nós tínhamos uma vaga ideia de que havia um sacerdote de Bagunte (esta freguesia confina com Balasar) que interviera de algum modo no caso da Beata Alexandrina. Agora temos a certeza: trata-se do P.e Dr. Alexandrino Fernandes dos Santos.
Alguém escreveu que a simplicidade é a ignorância do próprio mérito. Todavia, as almas grandes, conforme ensina Santa Teresa, reconhecendo em si méritos, fazem deles entrega a Deus.
É assim que eu vejo o Dr. Alexandrino Fernandes dos Santos: tudo referindo a Deus, já que reconhecia que "tudo" quanto tinha do Senhor o havia recebido.
«A humildade é o altar sobre o qual Deus quer que Lhe ofereçamos sacrifícios»... e o Doutor Alexandrino "celebrou" neste altar.
Tenho a firme convicção que todos os antigos alunos do prestigiado mestre, que nasceu em Santagões, antiga freguesia e hoje lugar da freguesia de Bagunte, concelho de Vila do Conde, em 3 de Abril de 1908, dele têm esta viva imagem: a simplicidade e humildade em pessoa.
Terminado o Curso Filosófico e após o primeiro ano de Teologia, concluído com distinção, foi escolhido para completar na Universidade Gregoriano, em Roma, o Curso teológico, matriculando-se em 1928.
Em 26 de Março de 1932 recebeu em Roma a ordenação sacerdotal e, concluído o doutoramento em Teologia, iniciou o magistério no Seminário Conciliar de Braga, em Outubro de 1932, sendo um grande obreiro da formação intelectual dos seminaristas pelo espaço de quarenta anos.
Foi um distinto professor, admirado e estimado por todos os alunos embora só o vissem nas aulas e na capela onde, diariamente, celebrava a Santa Missa... De resto, passava o dia-a-dia no seu quarto a estudar, a ler, a escrever.
Era uma pessoa doente e o seu mal estava nos pulmões; por esta razão passou meses nos Sanatórios da Guarda e do Caramulo e ainda em Casas de Saúde de Braga e do Porto.
A doença complexava-o, de tal modo que se dizia incapaz de leccionar e foi necessário, muitas vezes, que o Reitor do Seminário e os colegas o "forçassem"...
Sendo competentíssimo, escrevia todas as lições... falava muito depressa e verificava-se o seu cansaço em cada aula. Dizia ele que ficava completamente arrasado.
Muitas vezes quis desistir do magistério, dizendo que se sentia incapaz de comunicar fosse com quem fosse, afirmando que as suas lições faziam dormir os alunos: o que não era verdade. Tinha receio de falar em público e, quantas vezes, por esta razão, o Arcebispo D. António Bento Martins Júnior o quis encarregar de missões especiais, mas nada conseguiu.
Pela sua capacidade teológica, cultura humanística e o gosto pelas letras, foi nomeado Director da revista "Acção Católica" - cargo que abandonou decorridos seis meses, apelando para o seu estado de saúde.
Sempre desempenhou o cargo de examinador do Clero e de Juiz do Tribunal Eclesiástico, sendo exímio nas sentenças proferidas e na redacção das mesmas, quando em latim.
Não posso esquecer o trabalho que o Doutor Alexandrino realizou como Juiz na condução do Processo de beatificação de Alexandrina Maria da Costa - terça-feira, dia 30 de Março, comemorou-se o centenário do nascimento da Venerável de Balasar, Póvoa de Varzim.
O seu nome está profundamente unido ao da Serva de Deus... Jamais se esquivou a qualquer trabalho, mesmo árduo, dizendo sempre que a Alexandrina tudo lhe merecia.
Quanto mais se poderia escrever sobre este mestre!
Na tarde de 2 de Janeiro de 1974, faleceu no Hospital do Carmo, no Porto, e foi sepultado em Bagunte, terra de sua naturalidade.
Recordo que presidiu ao funeral e nos deu a "imagem perfeita do Doutor Alexandrino" o Senhor Arcebispo D. Francisco Maria da Silva - seu condiscípulo, em Roma, desde a primeira hora... Citou um pensamento do célebre Bourdaloue, cuja ideia central retive: muitos se têm perdido pelo fulgor dos seus talentos, dos seus triunfos... jamais se perdeu alguém pelos sentimentos de uma verdadeira e sólida humildade.
O Doutor Alexandrino está na glória!
Cónego Eduardo de Melo Peixoto, Diário do Minho, 4/4/2004
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