Documentos da autoridade
bracarense legítima
Circular de apoio a D. Miguel
D. Miguel assumira poucos meses
antes plenamente o governo do país.
O Vigário Capitular apela
vigorosamente a que o Clero da diocese seja generoso no auxílio monetário ao Rei,
de quem faz um elogio exagerado. Associa as intenções dos liberais
aos ataques à Igreja no tempo da Revolução Francesa.
Manuel Ramos de Sá, Chantre da Sé
Primaz, Vigário Capitular nesta Corte e Arcebispado de Braga pelo Ilustríssimo
e Reverendíssimo Cabido dela, sede vacante
Sendo bem patente a todos os Rev. Párocos e mais Eclesiásticos deste
Arcebispado Primaz o actual empenho da Monarquia prodigiosamente levantada do
último abatimento a que a tinham levado as violências e ataques dos mais
pérfidos inimigos que no seio da pátria e no tenebroso antro das cavernas
preparavam a total dissolução do vínculo sociável (sic) e da ordem pública estabelecida pelo primeiro monarca
português com alta sabedoria, ligando-se com o soberano interesse da augusta Religião
de Jesus Cristo e com a propriedade externa da sua Igreja; sendo a todos bem
notórias as inevitáveis e importantíssimas despesas que tem feito a Real
Fazenda para o salvamento da Religião e do Trono, que felizmente se acha a
salvo da rigorosa tribulação e do naufrágio pelas sublimes virtudes, superior
constância, alta sabedora e ânimo verdadeiramente real de um Rei em tudo o
primeiro, é de rigorosa justiça que todos os bons portugueses e particularmente
o corpo eclesiástico se una aos pés do Trono e coadjuve o excelso monarca não
só com as lições e exemplo de lealdade, mas igualmente contribuindo para as
importantíssimas despesas que se têm feito e continuam a fazer, com os
generosos donativos que couberem nos limites da sua possibilidade imitando a bondade
e generosidade dos seus maiores noutras épocas da monarquia que porventura não
foram tão perigosas.
O Clero da Corte e de outros bispados já segue os seus passos e o Rev.
Cabido desta Santa Sé Primaz, não menos zeloso e igualmente interessado, abriu
exemplo no corpo eclesiástico deste Arcebispado oferecendo a quantia que o
estado das suas rendas permitia.
Confio portanto das virtudes religiosas, morais e públicas de todos os Rev.
Párocos e mais Clero deste Arcebispado Primaz que pronta e generosamente se
prestarão a concorrer para um donativo que o interesse comum exige e a
utilidade particular imperiosamente pede não só porque o corpo eclesiástico
deve abrir exemplo no rebanho que lhe está confiado e interessar-se
decididamente na conservação da antiga ordem pública, mas porque, se a
detestável facção conseguisse levar a cabo seu plano destruidor, nem a fazenda
nem a liberdade nem mesmo a vida lhe pouparia.
D. Miguel |
Os erros alheios servem para melhorar a nossa conduta. Se todo o Clero da
França se unisse ao Trono e sacrificasse por algum tempo o seu particular
interesse, talvez não perderia em pouco tempo todos os seus bens e a sua
consideração até finalmente ser exterminado e barbaramente assassinado.
Por tão ponderosos motivos e outros que a todos são óbvios, espero que os
Rev. Párocos e mais Eclesiásticos que ainda não tiverem contribuído para o
donativo o farão segundo as suas posses por respectivos distritos, desejando
muito ver escritos seus nomes nas listas que se forem publicando na gazeta
ministerial.
O Rev. Desembargador Vigário Geral desta Corte, servindo de Provisor,
mandará passar as ordens necessárias para que esta circular chegue à notícia de
todos.
Braga, 11 de Setembro de 1828.
Manuel Ramos de Sá, Chantre e Vigário Capitular
Sem comentários:
Enviar um comentário