O P.e Humberto conta um episódio
relacionado com a Beata Alexandrina onde se fala d’O Crime do Padre Amaro,
de Eça de Queirós. Fá-lo na biografia propriamente dita e volta ao assunto em Cristo Gesù in Alexandrina (páginas
816-7), aqui pelas palavras de Júlio Cerejeira, irmão do Cardeal Cerejeira, que
lho contou em carta de 18 de Novembro de 1965.
Sabendo que a Alexandrina tinha o hábito
de oferecer parte dos seus sofrimentos pelos sacerdotes, Júlio Cerejeira
recomendou-lhe alguns padres.
Posso testemunhar uma graça extraordinária obtida para um deles, o mais distante de Deus por uma vida de pecados e de escândalos.
O interessado tinha-me confiado que já no seminário o seu livro de orações (?!) era o romance O Crime do Padre Amaro…
Viveu muitos anos como missionário nas colónias. Com a chegada da República, passou para as missões laicas. Casou-se lá civilmente com uma senhora e por motivos políticos foi para a Espanha.
Mais tarde voltou e fixou residência no seu distrito fazendo comícios sobre ideias de esquerda e ultimamente de sabor marxista…
Certo dia veio a minha casa e chorando declarou-se arrependido dizendo que, tendo dado escândalo durante toda a sua vida, queria, ao menos nos últimos anos, regressar à Igreja e fazer penitência pelo mal praticado…
Escutei-o comovido e ao mesmo tempo feliz e disse-lhe:
- Beijo neste momento, em espírito, as mãos duma jovem que há muito sofre por si para obter esta graça.
(A Alexandrina tinha dito à minha esposa que oferecia por ele todos os dias uma hora do seu sofrimento).
Logo que ele saiu, fui cheiro de alegria dar a consoladora notícia ao seminário local. Depois disto, ajudado e seguido por todos, separou-se da mulher com que vivia e começou a frequentar a igreja, já que o seu desejo de celebrar Missa (por causa dos precedentes) não era coisa de fácil solução.
Algum tempo depois, foi acometido de grave doença (linfogranulamatose) que o levou a um hospital de Lisboa e em seguida ao hospital distrital; bem preparado, morreu. Deus seja louvado!
Coloca-se aqui esta narrativa na
sequência da mensagem anterior que chamava a atenção para os erros contidos em
muitas obras literárias. Remetemos o leitor para esta nossa página (veja-se também esta) onde, pelas palavras do próprio Eça de Queirós, fica bastante
claro que O Crime do Padre Amaro,
escrito num rasgo de instinto, é mais
uma obra satânica. Ele abraçou o satanismo na juventude e é
possível rastrear-lhe toda uma linhagem de personagens satânicas ao longo da obra. Lembrem-se o Raposão, d’A Relíquia
(que chega a dirigir palavras de consolação ao Diabo), o protagonista d’O Mandarim (que, a partir duns versos de Baudelaire, no final da
história, arregimenta os leitores para o seu campo de depravado), o destravado, incorrigível Ega
d’Os Maias, etc., etc.
Pelas páginas da literatura campeia muita miséria. E alguém faz ver isto à juventude?
Nós fomos uma vez chamado à direcção por escrevermos que Saramago era blasfemo...
Nós fomos uma vez chamado à direcção por escrevermos que Saramago era blasfemo...
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