Os balasarenses têm razão para se orgulhar do seu Cruzeiro Paroquial: ele é um dos monumentos mais artísticos da terra. Houve até o cuidado de o aproximar, por certo preciosismo setecentista, ao estilo da Capela da Senhora da Lapa, da Casa da Quinta.
O P.e Leopoldino, quase a terminar o segundo dos artigos publicados no Boletim Cultural, fala dos cruzeiros. Depois de afirmar que a dada altura não existia nenhum, continua:
Por este motivo, paroquiando nós a freguesia, organizou-se uma comissão de homens bons para promover a construção de um cruzeiro paroquial, com o produto de uma subscrição aberta entre os paroquianos. O artístico cruzeiro, réplica de um existente na freguesia de Vairão, foi erguido em 1955, no lugar da Quinta, aonde costumavam e ainda costumam ir a s procissões.
O povo da freguesia, como reconhecimento pela feliz iniciativa, mandou colocar na sacristia da Igreja Paroquial uma fotografia do novo cruzeiro com a comissão.
Salvo melhor opinião, um cruzeiro paroquial é da Paróquia e destina-se a marcar o termo até onde vão as procissões, para iniciarem depois o regresso à igreja. Isto está implícito ou afirmado na citação. Não vale dizer que o Cemitério Paroquial, apesar da qualificação de paroquial, não é da Paróquia: os tempos republicanos da sua construção não se podem confundir com os de 1955 – embora o cemitério tenha sido colocado no lugar da antiga igreja e do seu adro… Ao tempo do P.e Leopoldino, o entendimento entre o poder religioso e o civil era muito diferente.
Na Internet, há uma descrição do cruzeiro típico que se aplica com poucos ajustes ao de Balasar:
A maioria dos Cruzeiros possui plataforma, que pode ter dois, três, quatro ou mais degraus.
Além da plataforma, têm ainda o pedestal, a coluna, o capitel e a cruz.
O pedestal é composto pelo soco, dado e cornija. É no dado que normalmente aparecem as inscrições ou outros elementos relacionados com a origem do Cruzeiro. O dado costuma ter forma cúbica ou cilíndrica.
A coluna é composta pelo fuste e capitel. O fuste pode ser diminuído ou pançudo, conforme o seu diâmetro vai diminuindo de baixo para cima. Pode ter forma cilíndrica lisa ou estriada.
O capitel é a parte superior, normalmente mais ou menos cónica, invertida, com ou sem adornos. Consta de formas variadas, com predomínio da troncopiramidal.
O capitel pode ser da ordem jónica, dórica ou coríntia.
Os Cruzeiros que possuem uma legenda, normalmente no dado, explicam os motivos que estiveram na origem da sua edificação.
A cruz pode ser constituída de formas muito diferentes: nodosa, cilíndrica, florejada.
O cruzeiro de Balasar singulariza-se por certa “gordura” ainda barroca do pedestal, por aquele adorno do fuste que divide a parte estriada inferior da lisa, superior, e pelo capitel coríntio. O fuste é de um tipo toscano (florentino), frequente em muitos retábulos de talha. A cruz eleva-se acima duma espécie de globo (que representa a Terra) e não é nodosa nem cilíndrica, mas mais ou menos quadrada. As suas extremidades serão talvez “florejadas”, de acordo com a citação.
Deve-se reter que este cruzeiro foi erguido no último ano de vida da Alexandrina, a vítima do Calvário. Mais, a sua inauguração, se a houve, deve ter coincidido praticamente com a morte dela.
Vejam-se duas referências que o P.e Leopoldino faz ao cruzeiro da sua Paróquia nos noticiários para o Ala Arriba. Em 7 de Fevereiro de 1955 escreveu:
A Junta de Freguesia, auxiliada por alguns amigos, vai erigir, no lugar da Quinta, um cruzeiro paroquial porque os antigos desapareceram há muito. Postas as obras a concurso, foi adjudicada ao canteiro Rafael Vasco Leite, mestre-de-obras de pedreiro, de Laundos, porque dos concorrentes foi o que apresentou proposta mais razoável. Serve de modelo o cruzeiro do lugar do Crasto, de Vairão, que é artístico.
A outra referência data do dia 10 de Outubro (a Beata falece a 13, recorde-se) e diz que:
Está concluído o Cruzeiro que a freguesia, de acordo com o Rev. Abade, mandou construir no lugar da Quinta. É uma obra de arte que tem sido muito elogiada por entendidos e revela o mérito artístico do construtor – humilde pedreiro de aldeia. Mais uma vez endereçamos sinceros parabéns à digna comissão, presidida pelo Sr. Joaquim Machado.
Ao cimo: Comissão promotora da construção do Cruzeiro Paroquial: primeiro plano – Joaquim António Machado, P.e Leopoldino Mateus, José António de Sousa Ferreira e João Domingues de Azevedo; segundo plano – António Alves da Costa, Manuel Murado Torres, Laurentino da Silva Malta e José Ferreira da Silva e Sá.
Mais abaixo: duas vistas de pormenor do mesmo cruzeiro em fotografias recentes.
Sem comentários:
Enviar um comentário