segunda-feira, 1 de julho de 2013

Poesia do reitor que baptizou os pais da Beata Alexandrina (1)

O P.e António Martins de Faria, que baptizou os pais da Beata Alexandrina, nasceu em Barcelos em 28 de Setembro de 1837 e foi ordenado sacerdote em 1860.
Começou por servir como pároco encomendado em Martim e Mariz, no concelho de Barcelos, antes de ser colado em Balasar em 1873; daí transitou, em Novembro de 1882, para Beiriz, onde sucedeu ao conselheiro Carlos Felizardo da Fonseca Moniz.
Faleceu na Póvoa de Varzim, em casa de um irmão, na Praça do Almada, em 16 de Outubro de 1913. Foi arcipreste do distrito eclesiástico de Vila do Conde.
Juntamente com outros escritores, fundou vários jornais na sua terra natal, nomeadamente Lei e Ordem; colaborou no Almanaque de Lembranças Luso-Brasileiro, na Voz da Verdade, etc. e em dois poveiros, principalmente a Estrela Povoense.
Publicou um opúsculo sobre Santa Eulália de Mérida, em 1895, e dois pequenos livros de poemas, Vozes de Alma (1908, com reedição aumentada em 1910) e Últimas Vozes (1913). Nas Vozes de Alma, republica o poema sobre Santa Eulália.
Ultimamente, reunimos uma colecção significativa da produção poética do P.e António Martins de Faria, que começou a interessar-nos pelo seu aspecto místico, por uma vivência pouco comum intimidade com Deus e Nossa Senhora. Vamos colocar aqui parte dela.


Virgem da Conceição

Salve Virgem sempre pura,
Há muito vaticinada,
Que da culpa primitiva
Foste por Deus preservada!
Salve Virgem sempre pura,
Virgem santa, Imaculada!

Na tua coroa, Senhora,
Na tua coroa real,
Não há jóia mais brilhante
Que essa jóia original.
Na tua coroa, Senhora,
Não há jóia a ela igual.

És Mãe de Deus, bem o sei,
E também Esposa sua.
Mas nada disso serias
Se outra fosse a sorte tua.
És Mãe de Deus, bem o sei;
Mas do sol depende a lua.

Ser de Deus Esposa e Mãe,
Sem de culpa ser isenta,
Fora o mesmo que sem base
Tentar uma torre erguer.
Ser de Deus Esposa e Mãe
É todas as graças ter.

É pura ser; é ser casta;
É ser cecém de Jessé;
É pomba ser; é ser anjo;
É ser luz de Nazaré.
E pura ser, é ser casta;
É ser tudo; é ser quem é.

Dotada de tantas graças,
Como tu, quem haverá?
Tu és a mais bem prendada
Dentre as filhas de Judá.
Dotada de tantas graças,
Como tu outra não há.

A mesma Ester, tão formosa,
Não é nada ao pé de ti;
Ao pé de ti nada valem
Sara, Suzana e Judite.
A mesma Ester, tão formosa,
É pó ao pé do rubi.

Tua grandeza é tamanha,
É tamanho o teu poder
Que, depois de Deus, não há
Quem maior o possa ter.
Tua grandeza é tamanha
Que maior não pode ser.

Salve, pois, ó Virgem pura,
Há muito vaticinada,
Que da culpa primitiva
Foste por Deus preservada!
Salve, pois, ó Virgem pura,
Virgem santa, imaculada!


Imaculada

Nondum erant abyssi, et ego jam concepta eram[1].
Provérbios, C. 8

Inda o céu não tinha sol,
Nem tinha a terra luar;
Ondas não tinha o mar,
Nem trinos o rouxinol;

Inda o murmúrio das fontes
Nas cercas não ressoava,
Nem a neve inda toucava
De branco as cristas dos montes;

Inda a luz não espargia
Seus raios sobre a campina,
Nem tão pouco inda a bonina
De enfeite aos prados servia;

Inda não era criado –
Nem terra, nem mar, nem céus –
E já, na mente de Deus,
Era a Virgem sem pecado.




[1] Ainda não havia os abismos e já eu tinha sido criada.

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