O P.e António Martins de Faria, que baptizou os pais da Beata Alexandrina, nasceu em Barcelos em 28 de Setembro de 1837 e foi ordenado sacerdote em 1860.
Começou por servir como pároco
encomendado em Martim e Mariz, no concelho de Barcelos, antes de ser colado em
Balasar em 1873; daí transitou, em Novembro de 1882, para Beiriz, onde sucedeu
ao conselheiro Carlos Felizardo da Fonseca Moniz.
Faleceu na Póvoa de Varzim, em casa de
um irmão, na Praça do Almada, em 16 de Outubro de 1913. Foi arcipreste do
distrito eclesiástico de Vila do Conde.
Juntamente com outros escritores, fundou
vários jornais na sua terra natal, nomeadamente Lei e Ordem; colaborou no Almanaque
de Lembranças Luso-Brasileiro, na Voz
da Verdade, etc. e em dois poveiros, principalmente a Estrela Povoense.
Publicou um opúsculo sobre Santa Eulália de Mérida, em 1895, e
dois pequenos livros de poemas, Vozes de
Alma (1908, com reedição aumentada em 1910) e Últimas Vozes (1913). Nas Vozes
de Alma, republica o poema sobre Santa Eulália.
Ultimamente, reunimos uma colecção
significativa da produção poética do P.e António Martins de Faria, que começou a
interessar-nos pelo seu aspecto místico, por uma vivência pouco comum intimidade
com Deus e Nossa Senhora. Vamos colocar aqui parte dela.
Virgem da
Conceição
Salve
Virgem sempre pura,
Há
muito vaticinada,
Que
da culpa primitiva
Foste
por Deus preservada!
Salve
Virgem sempre pura,
Virgem
santa, Imaculada!
Na
tua coroa, Senhora,
Na
tua coroa real,
Não
há jóia mais brilhante
Que
essa jóia original.
Na
tua coroa, Senhora,
Não
há jóia a ela igual.
És
Mãe de Deus, bem o sei,
E
também Esposa sua.
Mas
nada disso serias
Se
outra fosse a sorte tua.
És
Mãe de Deus, bem o sei;
Mas
do sol depende a lua.
Ser
de Deus Esposa e Mãe,
Sem
de culpa ser isenta,
Fora
o mesmo que sem base
Tentar
uma torre erguer.
Ser
de Deus Esposa e Mãe
É
todas as graças ter.
É
pura ser; é ser casta;
É
ser cecém de Jessé;
É
pomba ser; é ser anjo;
É
ser luz de Nazaré.
E
pura ser, é ser casta;
É
ser tudo; é ser quem é.
Dotada
de tantas graças,
Como
tu, quem haverá?
Tu
és a mais bem prendada
Dentre
as filhas de Judá.
Dotada
de tantas graças,
Como
tu outra não há.
A
mesma Ester, tão formosa,
Não
é nada ao pé de ti;
Ao
pé de ti nada valem
Sara,
Suzana e Judite.
A
mesma Ester, tão formosa,
É
pó ao pé do rubi.
Tua
grandeza é tamanha,
É
tamanho o teu poder
Que,
depois de Deus, não há
Quem
maior o possa ter.
Tua
grandeza é tamanha
Que
maior não pode ser.
Salve,
pois, ó Virgem pura,
Há
muito vaticinada,
Que
da culpa primitiva
Foste
por Deus preservada!
Salve,
pois, ó Virgem pura,
Virgem
santa, imaculada!
Imaculada
Nondum erant
abyssi, et ego jam concepta eram[1].
Provérbios, C. 8
Inda
o céu não tinha sol,
Nem
tinha a terra luar;
Ondas
não tinha o mar,
Nem
trinos o rouxinol;
Inda
o murmúrio das fontes
Nas
cercas não ressoava,
Nem
a neve inda toucava
De
branco as cristas dos montes;
Inda
a luz não espargia
Seus
raios sobre a campina,
Nem
tão pouco inda a bonina
De
enfeite aos prados servia;
Inda
não era criado –
Nem
terra, nem mar, nem céus –
E
já, na mente de Deus,
Era
a Virgem sem pecado.
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