sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Um Soneto

Nós sabíamos que José Régio tinha publicado uma antologia de poesia religiosa, mas só agora tomamos conhecimento dela. Tem por título Na Mão de Deus e por subtítulo Antologia da Poesia Religiosa Portuguesa. Na organização da recolha colaborou Alberto Serpa.
É um trabalho de autores conhecedores da matéria e só é pena que há muito esteja fora do mercado.
Colocamos aqui um soneto, de lá transcrito, de que é autora uma poetisa anónima do séc. XVII; a nossa Beata ficaria radiante se o lesse.


A vós correndo estou, Braços sagrados,
Nessa cruz sacrossanta descobertos,
Que para receber-me estais abertos
E por não castigar-me estais cravados.

A vós, divinos Olhos, eclipsados,
De tanto sangue e lágrimas cobertos,
Que para perdoar-me estais despertos
E para não devassar-me estais fechados.

A vós, pregados Pés, por não fugir-me,
A vós, Cabeça baixa, por chamar-me,
A vós, Sangue vertido, para ungir-me,

A vós Lado patente, quero unir-me,
A vós, preciosos pregos, quero atar-me,
Para ficar unida, atada e firme.

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