sexta-feira, 11 de julho de 2014

Amigos do Sagrado Coração de Jesus (7)

Os Jesuítas sob ataque republicano

Os Jesuítas, os responsáveis do Mensageiro do Sagrado Coração de Jesus, foram a principal vítima dos republicanos, o que nem era bem novidade pois o anti-jesuitismo deles vinha de trás.
Recorde-se o que o padre balasarense António Gomes Ferreira escreveu n’O Liberal, em 20 de Maio de 1923 sob o título de “Coincidência”:

Os revolucionários por toda a parte perseguiam tudo o quer cheirasse a religião, espatifando tudo, arrastando tudo com uma fúria que dava a ideia que foram muitos manicómios que vomitaram para a rua os seus moradores. Tudo foi perseguido, mas nomeadamente os Jesuítas… Esses foram monteados como feras da pior espécie e passaram os trabalhos e as inclemências que se lêem com lágrimas nos Proscritos.

Considere-se agora este grave mas ridículo ataque à Companhia que saiu no jornal Republica em Vila do Conde em 8 de Janeiro de 1911. Tem como antetítulo “A República e a Religião” e como título “Os Jesuítas”. Saiu em forma de carta dirigida talvez ao director do periódico.

Meu Amigo
Deixe que lhe recorde ainda alguns depoimentos esmagadores acerca da conduta dos jesuítas, largamente justificativo da montaria geral que na Europa sofreram, e que decerto contribuirão, por sua insuspeita autoridade, para o fazerem adoptar o asserto que expendi de que eles só podem ser nocivos à religião.

Posto este intróito, que desde há tantos anos é desmentido ao longe e ao largo nos cinco continentes, vejamos como continua o anónimo articulista.

A Faculdade de Teologia de Paris, em 1554, classificou-os de “inimigos da piedade, perturbadores da paz da Igreja e do sossego público, sediciosos e usurpadores”.

Deve tratar-se apenas de um caso da frequente incompreensão no começo das grandes obras. Nessa data estavam activos ou tinham morrido havia pouco jesuítas como S. Inácio de Loiola, S. Francisco Xavier, S. Francisco de Borja… Não consta que merecessem nenhum destes epítetos.

Em 1599, a Universidade da mesma cidade chama-lhes cruamente “assassinos de reis, exortadores de parricidas, monstros, sacrílegos” e outros epítetos assim contundentes.

Desconhecemos as circunstâncias que motivaram tão cruéis afirmações, mas devem ter a ver com os Aforismos dos Confessores do vila-condense Manuel de Sá que aceitava que era legítimo afastar o príncipe tirano, como toda a gente hoje admite.

Representando a Pio IV, em 1564, o clero de Roma declarava-os “usurpadores de todos os direitos e maus mestres da mocidade”.

Estava-se em tempo do Concílio de Trento quando os sacerdotes precisavam duma urgente e “reverendíssima” reforma. Natural é que se sentissem incomodados por quem a promovia. Que diriam certos padres que então residiam em Vila do Conde com as suas mancebas…?

Aníbal Codreto, que foi da famigerada ordem, acusou-os de “corruptores da juventude, impostores e assassinos”.
O parlamento de Tolosa, em 1595, julgou-os “falsos profetas, envenenadores da mocidade, perturbadores.
O parlamento de Paris, em 1597, classificou-os de hipócritas, desmoralizadores e astuciosos.
O clero de Inglaterra dizia, em 1601, a Clemente VIII que eles eram “uma causa das desgraças dos católicos”.
Jerónimo de Lanusa, teólogo e bispo, qualificava-os perante Filipe II, em 1597, de “inimigos de Deus, comediantes, soldados iníquos de Jesus”.
A Universidade de Cracóvia, em 1622, chamava-lhes “envenenadores”.
E … outros depoimentos virão ainda a elucidá-lo concludentemente.

E podiam vir outros depoimentos (não se encontram na colecção em linha da biblioteca municipal). Podiam vir as falsidades que escreveu o Marquês de Pombal, por exemplo. 
Mas não veio nada sobre o Pe. António Vieira nem nada que afectasse os jesuítas portugueses que os republicanos tinham banido para sempre; era deles que se devia tratar. Não veio nem uma palavra menos conveniente que se encontrasse no Mensageiro ou que tivesse sido dita pelos jesuítas da vizinhança, que eram os da Póvoa.
O que está no artigo é o mesmo ódio que enchia o decreto de Afonso Costa que extinguiu as Ordens Religiosas (os Jesuítas tiveram nele este tratamento particular: Continua a vigorar como lei da República Portuguesa a de 3 de Setembro de 1750, promulgada sob o regime absoluto e pela qual os jesuítas foram havidos por desnaturalizados e proscritos, e se mandou que efectivamente fossem expulsos de todo o país e seus domínios “para neles mais não poderem entrar”) e talvez a leitura de alguma espécie de vade-mécum a que se recorreria para estes efeitos.
Naquele ano de 1911, em Outubro, o ex-administrador da Póvoa Sebastião Tomás dos Santos afinou por diapasão semelhante. Também veio com factos antigos ou distantes, esquecido de que, enquanto administrador, atacara com violência a igreja, principalmente os seus sacerdotes ou leigos activos; que, como o seu antecessor e sucessor, nada fez para repor a verdade a respeito do roubo republicano do Colégio do Sagrado Coração de Jesus; que, como o seu antecessor e sucessor, nada fez para defender o bom nome dos padres jesuítas da Póvoa, que nem mesmo eles ousaram denegrir porque sabiam que ninguém o toleraria; que, como o seu antecessor e sucessor, nada fez para impor alguma decência na imprensa republicana que denegria a imagem dos sacerdotes poveiros diocesanos.
Parcialidade e mais nada, ridícula parcialidade.
Em 1913, se não nos enganamos, os jesuítas portugueses na Bélgica quiseram retomar o Mensageiro e enviaram um número novo para Portugal: os republicanos escandalizaram-se a ponto de queimar exemplares da revista em público. Foi então que se alterou o nome dela para O Apóstolo, o que fez calar a vozearia.

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