sábado, 5 de julho de 2014

Amigos do Sagrado Coração de Jesus (3)

O abade Manuel Fernandes de Sousa Campos, criador da Associação do Coração de Jesus em Balasar

É pouco o que sabemos do abade Manuel Fernandes de Sousa Campos, o Pe. Sousa, mas em seu tempo, em 2 de Julho de 1893, foi criada em Balasar a Associação do Coração de Jesus. Certamente adquiriu então a pequena imagem do Sagrado Coração de Jesus que se encontra na igreja paroquial. A Sãozinha, a Deolinda e a Alexandrina viriam a ser membros da associação.
Quando, em 16 de Agosto de 1933, o Pe. Mariano Pinho veio pela primeira vez a Balasar, fê-lo no quadro duma festa em honra do Sagrado Coração de Jesus.
Foi o Pe. Sousa que baptizou a Beata Alexandrina. 
Vamos actualizar aqui a sua biografia, partindo do que sobre ele escreveu o Pe. Leopoldino.
O abade Manuel Fernandes de Sousa Campos era natural do lugar de Lousadelo, Balasar, onde nasceu em 27 de Janeiro de 1855. Seu pai foi o vereador António Fernandes Campos de Sousa.
Depois de ordenado, dedicou-se à vida paroquial.
Tendo sido nomeado pároco encomendado da vizinha freguesia de Macieira de Rates, foi elevado a Reitor de Balasar, tomando posse no dia 18 de Fevereiro de 1885, sendo a entrega feita por seu tio, Padre Miguel Campos; só passou a assinar como pároco em meados de 1888.
Paroquiou esta freguesia durante 35 anos e tão bons serviços à Igreja prestou, particularmente na distribuição das Bulas da Santa Cruzada, que o Arcebispo de Braga D. Manuel Baptista da Cunha o elevou à dignidade de abade.
Uma das suas maiores preocupações de pároco era a construção duma igreja paroquial, ampla e majestosa, porque a antiga, no lugar do Matinho, de uma só nave, pequena e escura, não tinha a capacidade bastante para conter o povo da freguesia que assistia apertado e contrafeito às cerimónias do culto, ficando uma boa parte de fora da Casa do Senhor.
O Rev. Abade Sousa nomeou para o efeito uma comissão de que fazia parte, como tesoureiro, seu irmão José Fernandes de Sousa Campos. As obras começaram em 1907 e terminaram em começos de 1910.
Foi uma obra bastante rápida, mas pensada ao longo de muitos anos.
A Independência de 11 de Junho de 1893, ao noticiar o falecimento do brasileiro balasarense “José António dos Santos Reis, casado, negociante à Praça do Almada”, informava que ele tinha deixado “50 000 réis à Junta de paróquia daquela freguesia para auxílio da construção duma igreja paroquial”.
Em 1903, na sequência de graves desacatos acontecidos na romaria do Senhor da Cruz, o Pe. Sousa suspendeu a festa.
Esta decisão talvez se enquadrasse nos seus planos para a construção da nova igreja já que as diligências para a aquisição da capela da Santa Cruz (a que foi demolida) e terreno anexo remontavam a 1897 (a aceitação por parte da Confraria tinha sido publicada no Diário do Governo n.º 195 de 1 de Setembro daquele ano).
Em 1904, baptizou a Alexandrina; em seu tempo foi ela estudar para a Póvoa de Varzim, regressou e mudou-se de Gresufes para o Calvário e depois, já jovem, fez-se cantora e catequista e teve a gesto heróico do salto.
Coube ao Pe. Sousa também redigir e entregar o documento exigido pelos republicanos quando lhe nacionalizaram a igreja acabada de edificar[1].
Fez o testamento em 12 de Dezembro de 1910, já sob a República e com a igreja acabada, e faleceu em 10 de Setembro de 1919.
Não conhecemos escritos deste pároco de Balasar além do seu testamento, que é banal. Mas se aceitarmos que a obra da Igreja Paroquial é um testemunho a seu favor, em particular o interior dela, então devemos concluir que tinha um apurado sentido estético e mesmo teológico, que era homem de vistas largas, que era convincente nas suas palavras pois foi capaz de, em poucos anos, concluir uma obra grandiosa. 
Ao que nos informaram, o Pe. Manuel Fernandes de Sousa Campos está sepultado no cemitério de Balasar, no jazigo do irmão, que era muito rico, e da irmã Rita Fernandes de Sousa Campos. Deixou os seus haveres a esta sua irmã, então viúva e que com ele vivera.

Na imagem, diploma da Cruzada do Rosário, sem data, com a assinatura do Pe. Manuel Fernandes de Sousa Campos.


[1] Quem dirigiu os arrolamentos dos bens paroquiais foi António de Santos Graça, então administrador do concelho, que se portou como um verdadeiro carrasco para a Igreja naqueles tempos difíceis. A atitude do administrador que o precedeu, o professor provisório do Liceu da Póvoa de Varzim Sebastião Tomás dos Santos, fora ainda mais combativa, persecutória. Deles não se pode dizer que cumpriam ordens, pois exerciam o cargo por opção livre.

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