sexta-feira, 20 de setembro de 2013

História de Balasar

Uma das maiores descobertas que fizemos no nosso estudo da história de Balasar aconteceu muito recentemente e tem a ver com o período de 1835 e anos seguintes, isto é, com o tempo do começo da devoção à Santa Cruz e com os agitados tempos que se seguiram à vitória liberal de 1834.
Na segunda metade de 1835 e começos de 1836, os balasarenses iam tentar fazer as suas “conciliações” ao juiz de paz de S. Martinho do Outeiro, e não foram lá poucos. Em Rates existe o livro onde elas se conservam.
Da segunda metade de 1836 até Maio de 1837, o juiz de paz do distrito de Balasar, São Martinho do Outeiro e Parada foi António José dos Santos, que residia no lugar do Outeiro, em Balasar. Não teve grande êxito este juiz: de fora de Balasar, ninguém lá veio (durante esse tempo a freguesia deve ter pertencido a três concelhos diferentes: Barcelos, Vila Nova de Famalicão por breve período e finalmente à Póvoa).
Dos anos seguintes, cremos que se não conservam os livros. Mas em 1841 António José dos Santos era ex-administrador do concelho e foi juiz do distrito de Rates, constituído por esta freguesia mais Balasar e Rio Mau. Então sim, acorreu muita gente ao lugar do Outeiro.
Quer isto dizer que há muitos documentos deste período sensível da história nacional e local redigidos em Balasar. O pároco Domingos José de Abreu, por exemplo, em 1836, recorreu duas vezes a António José dos Santos.
O nome deste balasarense adoptivo ocorre em dois autos do juiz de paz outeirense. Um deles é especialmente curioso.
Uma peça decisiva dos processos era o memorial, que expunha as situações que o juiz de paz devia remediar. No presente caso rezava assim:
Senhor Juiz de Paz
João Fernandes da Silva Campos, da freguesia de Balasar, tendo vendido uma junta de bois na feira de quarta-feira, sete do corrente, em Vila Nova de Famalicão, pelo preço de sessenta mil e setecentos e cinquenta réis e tendo metido com este dinheiro mais um pouco de cobre que levou para seus gastos, que tudo fazia a conta de sessenta e um mil e quatrocentos réis, pouco mais ou menos, numa bolsa que trazia na sua besta e vindo na companhia José António Machado, Ana Ferreira, António de Sousa Cumeeira, António da Costa Raposo, António José dos Santos, ferreiro, José Domingues da Silva e José Meira, isto já de noite, entregou a mesma besta com o dinheiro ao dito José António Machado o qual, depois de vir bastante tempo a cavalo, antes de chegar ao lugar das Boucinhas, da mesma freguesia de Balasar, lhe tornou a entregar a besta, ficando para trás; e logo o requerente, em pouca distância, deu fé de que estava roubado e lhe tinham tirado o dinheiro, e se queixou aos sobreditos companheiros.
O suplicante não deseja infamar pessoa alguma, menos ofender-lhe sua reputação, mas não pode deixar de suspeitar esta falta na pessoa do sobredito José António Machado ou de outro qualquer companheiro por seu consentimento. E para usar de querela ou das acções que o direito lhe permitir, pretende chamar à conciliação o dito José António Machado para declarar se ele outro (sic) lhe tirou o seu dinheiro. Protesta dar por testemunhas não só os sobreditos companheiros mas também outros quaisquer que saibam deste facto ou de outro semelhante. Para isso pretende que Vossa Mercê lhe marque dia e hora para a conciliação na forma da Lei. Pede a Vossa Mercê se sirva deferir-lhe e receberá mercê.
Balasar, onze de Outubro de mil oitocentos e trinta e cinco.
João Fernandes da Silva Campos
Como porém José António Machado disse que “não tinha furtado o dito dinheiro nem sabia quem o tenha tirado”, não houve conciliação, isto é, nada se adiantou.
De notar que os feirantes parecem ser dos lugares de Gresufes, Outeiro, Vila Pouca e talvez Além. João Fernandes da Silva Campos talvez fosse da Casa da Tinta.

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