sábado, 24 de novembro de 2012

Antes de haver Balasar


É possível que algumas pessoas considerem distracção o que se escreve a seguir, mas a nossa Beata devia gostar bem da sua terra e portanto de a conhecer.
Veja-se o que se pode apurar desses tempos antigos sobre a terra onde ela nasceu e viveu, de quando ainda não havia Balasar:

Pode-se alvitrar, como hipótese de trabalho, uma data aproximada para a criação das paróquias de S. Salvador de Gresufes e Santa Eulália de Lousadelo: qualquer coisa como 950 para a primeira e 1000 para a segunda. Nas redondezas a única igreja paroquial cuja data de construção se conhece, a de Parada, remonta a 953. Como século e meio depois já estavam formadas quase todas as paróquias vizinhas hoje existentes, este alvitre para Gresufes e Lousadelo não deve estar muito errado.
Reúne-se a seguir aquilo que podemos saber com alguma segurança da história anterior destes espaços: informações relativas à antiguidade e à pré-história.
A delimitação da freguesia, ao menos nalguns casos, respeitou marcos pré-históricos. É o caso indubitável das duas mamoas, a que ficava entre Balasar e Macieira e a mamoa de baixo, entre Balasar e Fiães (S. Marinha de Vicente). Os tombos são claros ao reconhecê-las como pontos de referência. Pela indicação que o tombo de Gondifelos (vem a partir da página 25 deste número do Boletim Cultural de V. N. de Famalicão e o que interessa para o presente caso encontra-se logo no princípio) fornece sobre a destruição da mamoa de baixo e por não se conservar delas, nos locais, qualquer memória, deduz-se que talvez tenham sido ambas destruídas antes do século XVIII pelos pesquisadores de “minas encantadas”.
Os outeiros vêm do período de transição da pré-história para a antiguidade. Na freguesia identifica-se o de Revelhe, que ficaria no Telo, já próximo da Quinta, o que deu nome a um lugar em Gresufes, próximo de Vila Nova e Vila Pouca, o Outeiro do Painho, no extremo sudeste da freguesia, e ainda um quarto, associado à mamoa de entre Gestrins e Macieira, mencionado pelos Tombos da Comenda.
Ao contrário das mamoas, estes outeiros ficam no interior de Balasar.
Os arqueólogos nunca efectuaram prospecções nesta freguesia; é possível que haja alguma razão para isso, mas não é tão clara que os tenha mobilizado. Mas foi efectuada prospecção em Penices. Ora este castro foi sem dúvida relevante para Gresufes e ao menos para Escariz, em Balasar: os achados civilizacionais lá encontrados recordam gente que palmilhou as vizinhanças. Em boa parte à memória dele se deverá a criação da paróquia de Gresufes.
É curioso que uma antiga freguesia vizinha de Penices, e portanto vizinha também de Gresufes, se chamasse S. Veríssimo de Pedrafita. Pedrafita ou Perafita são nomes de origem latina para menir. Ora nós inclinamo-nos a considerar perafita a Pedra Negra, o marco que divide ao mesmo tempo Balasar de Rates e Arcos e que, em 1258, foi tomado como o ponto departida para a delimitação do reguengo de Agistrim. Outro marco do mesmo reguengo era a Pedra Curveira. Como era ao pé dela que os homens de Gestrins tratavam com os de Macieira os assuntos relativos ao reguengo, parece que eles lhe reconheciam alguma aura de respeitabilidade, isto é, que o reconheciam também como muito antigo.
É comum encontrar na área das paróquias medievais várias vilas rústicas. Há uma cantiga de amigo que identifica essas vilas simplesmente com casas, mas não eram certamente umas casas quaisquer, mas casas abastadas:

Vou-me a la bailia
Que fazem em vila
Do amor.

Vou-me a la bailada
Que fazem em casa
Do amor.

As Inquirições só identificam uma vila em Balasar, a Vila do Casal, mas a toponímia dá conhecimento de mais duas, Vila Pouca e Vila Nova. A razão por que estas não são mencionadas é sem dúvida por os funcionários régios não verem nenhuma necessidade de se ocupar com Gresufes (a que estas vilas pertenceriam). Conhece-se um documento que assinala ainda uma quarta vila, quando fala da Agra de Vila, não longe da Quinta.
Estas vilas não podem ser confundidas com os latifúndios que foram as vilas romanas: eram vilas góticas.
E é isto que pudemos recolher sobre o espaço que um dia havia de ser Balasar.

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