terça-feira, 3 de maio de 2011

O P.e Leopoldino, autor mariano (1)

O P.e Leopoldino deve ter escrito para jornais durante mais de 50 anos, talvez 55 ou até 60; durante esse período, pregou também muito e em muitas igrejas. É possível reunir uma pequena antologia dos seus escritos, mas será sempre pouco representativa, pois muito do que publicou saiu anónimo. Aqui, vamos colocar três ou quatro artigos seus de tema mariano. Porventura este será o mais interessante de todos.
Ao tempo da publicação do artigo a Póvoa de Varzim ainda era apenas vila...

A Padroeira da Vila da Póvoa de Varzim

8 de Dezembro de 1904... Dia célebre, dia solene, dia memorável, em que a Celestial Patrona da terra dos poveiros foi coroada no Largo das Dores, re­cebendo das mãos trémulas do venerando Arcipreste António Martins de faria, Ilustre Abade de Beiriz, essa coroa de oiro, que ainda hoje ostenta no dia da sua festa, a atestar a religiosida­de e devoção dos seus queridos e amados filhos desta linda po­voação à beira- mar nascida e de­senvolvida,
Nesse dia magnifico e ines­quecível, ao som festivo dos si­nos das igrejas, ao esvoaçar das pombas, ao estralejar dos fogue­tes, os lábios ferventes dos cató­licos saudando efusivamente a sua Augusta Protectora, repetiam com fé e entusiasmo:

Ave, ó Delícias do Pai, por quem se estendeu, até aos últi­mos limites da terra, o conhecimento de Deus!
Ave, ó Habita­ção do Filho, donde Ele saiu ves­tido da carne humana!
Ave, ó Santuário inefável do Espírito Santo!
Ave, ó Santidade mais excelsa do que a dos Querubins!
Ave, ó Glória mais refulgente do que a dos Serafins!
Ave, ó Lati­tude mais ampla do que a dos Céus!
Ave, ó Luz mais esplên­dida do que a do Sol!
Ave, ó Resplendor mais fúlgido do que o da Lua!
Ave, ó santa Viração que dissipaste da Terra o espírito maligno!
Ave, ó Rainha con­ciliadora da Paz!
Ave, ó Esplen­dor imaculado das mães!

Neste dia para nós tão sole­ne, celebramos com reverência, gratidão e santo prazer, a festa da Imaculada Conceição.
Agora, não faltam coroações, nas vilas, cidades e aldeias, das imagens benditas da Mãe de Deus e dos homens; mas, há 44 anos, os católicos poveiros deram testemunho eloquente de gratidão à sua Padroeira, conse­guindo, com donativos de ricos e pobres, uma artística e valiosa coroa de ouro, e promovendo uma solenidade que marcou nos anais religiosos da sua terra natal.
É que, nos seus corações de filhos, palpitava ardente aquele amor respeitoso e filial, que lhes fazia repetir corno S. Tarcísio:

De que louvores te cumula­remos, ó Maria?
Ó donzela ima­culada, ó virgem impoluta, ó ornamento das mulheres, ó glória das virgens, ó Santa Mãe de Je­sus!
Tu és bendita entre todas as mulheres, celebrada pela tua inocência, assinalada pela tua vir­gindade.
Tu és a expiação da maldição de Adão, tu és a solu­ção da dívida de Eva.
Tu és a puríssima oblação de Abel, tu és a selecção dos primogénitos, tu és o sacrifício imaculado.
Tu és a esperança de Enós (sic) em Deus que o receio não pode destruir, tu és o início da graça em Enoeh (sic) e a emigração para uma vida se­gura.
Tu és a arca de Noé e a con­ciliação da segunda regeneração com Deus; tu, o fulgentíssimo esplendor do sacerdócio de Melquisedeque; tu, a firme confiança de Abraão e a fé submissa na promissão da futura posteridade.
Tu és o novo sacrifício e o racional holocausto de Isaac. Tu, a causa da ascensão pela escada de Jacob e a nobilíssima expressão da fecundidade permanente das 12 tribos.
Tu apareceste como a filha de Judá segundo a geração: tu, a pudicícia de José e a ruína do velho Egipto, da sinagoga dos Judeus, ó Imaculada.
Tu és de Moisés o livro divinamente formado em que se acha escrito o Sacramento da regeneração e insculpida em tábuas, pelos dedos de Deus, a Lei, como no Monte Sinai, onde o novo será vingado da escravidão dos Egípcios intelectuais (sic): assim como o antigo povo, assim este é sa­ciado na solidão com maná e água da rocha e a rocha é o Cris­to que há-de sair do teu seio co­mo o esposo do tálamo nupcial.
Tu és a Vara florescente de Aarão; tu, a filha de David ador­nada com vestidos orlados de ouro e refulgindo com o brilho de vários adereços.
Tu és o espelho dos Profetas e o êxito dos factos por eles preditos.
Por isso, nós conclamamos com a Igreja católica:

Ave, ó Brilho mais variado do que o brilho dos astros!
Ave, ó Nuvem ligeira que derramas uma chuva celeste!
Ave, ó no­bre pregão dos Profetas, ó som admirável dos Apóstolos ouvido por toda a redondeza ria terra, ó excelente confissão dos Mártires, ó laudabilíssima pregação dos Patriarcas, ó supremo ornamento dos Santos!
Ave, ó Causa da salvação de todos os mortais!
Ave, ó Mediadora de todos os que vivem na terra!
Ave, ó Re­paração de todo o orbe terráqueo!
Ave, ó cheia de Graça, é contigo o Senhor que existe antes de ti, que de ti saiu e connosco está!

Animados dos mesmos senti­mentos, vamos, no próximo dia 8, festejar o glorioso aniversário dá coroação da linda imagem da Nossa Celestial Padroeira, celebrando os seus louvores, cantan­do as suas glórias e agradecendo os seus benefícios.
Com Ela levantemos as mãos para o Céu, orando ao Todo Po­deroso pela paz do mundo, tão ameaçada dos desvairos e ambi­ções dos homens sem fé e sem temor de Deus e respeito pelo próximo.
Que Nossa Senhora da Conceição, Padroeira de Portugal, nos livre mais uma vez do flagelo da guerra, procurando nós afastá-lo com a audição permanente da sua voz em Fátima. A Imaculada protege-nos, abençoa-nos e defende-nos, se cumprirmos a Lei do seu Filho.
Idea Nova, 4/12/48

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