sábado, 7 de maio de 2011

O P.e Leopoldino, autor mariano (3)

Nossa Senhora das Dores

um primeiro momento deste artigo, o P.e Leopoldino analisa a situação existencial do homem, sujeito ao sofrimento, à luz da revelação bíblica, depois evoca a Mãe das Dores, cujo sofrimento ilumina a dor humana, e por fim refere-se à Procissão das Dores, que testemunha a fé na revelação cristã e é um exemplo concreto de esperança.
Todos A amam, todos A respeitam, todos A invocam, porque a dor acompanha a criatura desde o nascimento até à morte.
O homem nasce chorando, vive sofrendo, morre suspirando.
Ao princípio, nas delícias do Éden, reinava o amor, desempenhando o papel hoje atribuído à dor e bem mais satisfatoriamente que esta.
Se a dor nos ilumina e purifica, desprendendo-nos do que é efémero e elevando o coração dos mortais, mais rápida e nobremente exerce a mesma acção o amor.
Não houvesse fraquejado o primitivo amor no Paraíso terreal, se dele conservássemos no peito a chama viva em vez da pobre centelha que tão mal nos aquece, nunca teria existido a dor.
Precipitados no abismo da matéria, Deus, por efeito da Sua Infinita Misericórdia, concedeu-nos no próprio instante em que ia começar a queda, umas asas divinas com que nos sustentássemos e evitássemos a ruína irreparável.
O dilema está posto claramente: ou isto é a dor ou constitui uma fatalidade odiosa que inutilmente nos atormenta!
Temos de escolher entre a pesadíssima e gelada mão da fatalidade a triturar-nos, e contra a qual nada podemos, e a dextra carinhosa e paternal de Deus que, beneficente e compassiva, respeitando a nossa dignidade de seres feitos à Sua imagem e semelhança, nos toca apenas para nos melhorar e mo­dificar, a fim de que possamos alcançar uma eternidade feliz.
Entra um Deus infinitamente bom e um tirano modelíssimo (sic) não existe meio-termo.
O homem sem fé, sem temor de Deus vê no sofrimento uma penalidade que atormenta cruelmente a humanidade, mas o crente vê o justo castigo dos seus desvarios e um acto de amor divino para o chamar ao arrependimento e mudança de vida.
Temos, pois, que nos conformar com a sua sorte e com a assistência do Senhor.
Prevaricámos, devemos reparação ao Criador que nos tirou do nada, satisfação ao Redentor que nos resgatou da culpa!
Mas o homem é um ser insignificante que, olhando para a grandeza do Altíssimo a quem ofendeu, reconhece o seu nada, perdendo a esperança do perdão e da misericórdia.
Mas, de repente, uma doce visão lhe esclarece o espírito e alenta o coração, uma mulher, que é mãe, trespassado o coração com sete espadas de dor, lhe inspira confiança e levanta o ânimo triturado pelo sofrimento, dizendo-lhe com voz sentimental – Vê, filho, se há dor semelhante à minha dor!
Esta cena de compassividade e sentimento maternal dá-se todos os dias e milhares de vezes, por isso, não admira que Nossa Senhora das Dores, sempre terna e compassiva para os que sofrem, conte inúmeros devotos que, reconhecidos, acompanham a sua imagem tão encantadora e atraente que prende os corações que a ela recorreram nos momentos da angústia e do desamparo, formando um cortejo de gratidão e amor à Consoladora dos aflitos, à Protectora dos triturados pelo sofrimento.
No próximo domingo, ao passar a procissão em que tudo é alegria, observando as Confrarias acompa­nhando os grupos alegóricos, espera um pouco e, passado o pálio, pensa um instante nesse novo cortejo de agradecidos, revelador do panorama da dor e sofrimento a quem a Vir­gem Dolorosa protegeu e que justifica a grande devoção que os crentes lhe tributam, porque lhes valeu na desdita e no infortúnio.
Perante este quadro da dor e da gratidão, nada de desespero nem de desânimo – quando as tribulações da vida nos visitarem, levantemos os olhos, invoquemos com esperança o patrocínio de Nossa Senhora das Dores, que soube o que é sofrer e amar, e a paz, a alegria, o conforto voltarão ao nosso coração triturado pelo infortúnio.
Ala Arriba, 14/9/1957

Na imagem, altar-mor da Igreja de Nossa Senhora das Dores, na Póvoa de Varzim. Clique sobre a imagem para a ver em tamanho maior.

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