sexta-feira, 24 de abril de 2015

Quando quiseram remeter a Beata Alexandrina ao silêncio (1)


O recente falecimento da Felismina Martins convida a uma oportuna reflexão sobre o que se passou em 1944, quando quiseram silenciar a Beata Alexandrina. Ouçamos um extracto de Sob o Céu de Balasar:

Três inimigas da aldeia

Também na povoação houve três mulheres que a acusaram a um sacerdote da cúria: - "que a Serva de Deus ‘se armava’ em santa por causa do lucro". A acusação foi aceite e feita própria pela comissão dos Padres, encarregados pelo Arcebispo de examinar o caso de Balasar.
Num relatório elaborado pelo Pe. Mariano Pinho em 1945, lê-se: “Outra acusação para a denegrir é que a Alexandrina excogitou um modo de vida muito rendoso e que, com o muito dinheiro acumulado, já comprou vários terrenos. Trata-se de autênticas insinuações calu­niosas”.
O Padre Humberto, no seu trabalho para a instrução do processo de beatificação e canonização, teve que esclarecer as coisas. Descobriu que o pretexto das três mulheres se fundava na doação de uma horta e de um pequeno campo por parte de duas pessoas amigas a fim de evitar que a mãe e o tio tivessem de trabalhar debaixo de um patrão, longe de casa e da doente, necessitada de constante assistência.
Alexandrina comenta: “Se pelo menos eu sofresse sozinha! Mas custa-me tanto que sofram aqueles que me são caros e a quem tanto devo!”
Outra acusação das três mulheres de Balasar foi que a Serva de Deus "era uma bruxa, uma histérica, uma autêntica intrujona". Também esta acusação foi recebida sem exame da parte dos teólogos de Braga, aos quais se associou ainda um ou outro artigo da imprensa católica.
Extraímos do diário de Alexandrina: “Ó dor que matas a dor! Ó dor que só pode ser compreendida de ti, ó Jesus! Com os olhos em ti, as calúnias, as humi­lhações, os desprezos, os ódios, o esquecimento, têm toda a doçura do teu amor. Venha tudo aquilo que te agradar. Morra o meu nome, como sinto que morreram o corpo e a alma, contanto que viva o teu divino amor nos corações, a tua graça nas almas. Eis porque é que eu me deixo imolar... Jesus, vem! Socorro! Socorro!
Querem privar-me de tudo, ameaçam deixar-me sem Comunhão, proibindo o pároco de vir a minha casa a não ser em perigo de morte... Puseram-me em público sem o meu consentimento; não sabia de nada! E agora querem, à custa da minha dor, recolher as penas que o vento furioso dispersou!" (1-8-1944).
O doutor Azevedo avisou prontamente o Pe. Humberto que havia apenas um mês visitava a Alexandrina: “Se eu não estivesse certo, certíssimo da perseverança da doente, teria passado dias na maior amargura com o receio de que ela perdesse a coragem. Este último sofrimento foi muito agudo. O pároco, então, deu-lhe a notícia de maneira tal, que se a Alexandrina não fosse aquela que nós sabemos, teria caído no desânimo, ao menos por algumas horas. Mas pelo contrário, heróica como é, vence sempre apoiada em Deus”.
Foi nesta conjuntura que o Pe. Humberto se sentiu na obrigação de tomar a defesa da Alexandrina. Enviou ao Arcebispo um longo relatório, pondo a descoberto a inconsistência das acusações feitas sem interrogar quem podia dar provas de tudo quanto sucedia na casa dos Costas. Tomou forte posição contra a grave injustiça, que teve ressonância nacional por ser propalada nos púlpitos e até em vários jornais.
O Pe. David Novais recorda aquele período amargo: “Alexandrina aceitou as disposições com resignação ilimi­tada. Nunca ouvi dos seus lábios uma queixa, nem o nome deste ou daquele. Encontrei-a sempre resignada e com expressões de desculpa!”

As três inimigas da aldeia têm nome, bem o sabemos: Felismina Martins, Mariazinha Machado e Teresa Matias. O sacerdote da cúria de Braga era o Pe. Molho de Faria.

O que se passou foi muito grave e é como tal que deve ser visto.

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