domingo, 30 de março de 2014

Mães solteiras e enjeitados no séc. XVIII

O estudo da história de Balasar permite um olhar mais realista sobre alguns aspectos da biografia da Beata Alexandrina. Em passado distante e próximo, como na actualidade, pessoas houve que fraquejaram muitas vezes e de diversos modos. Esta é a história da natureza humana no passado, no presente e sem dúvida o há-de ser no futuro; e tal fraqueza é bem conhecida no Evangelho. A necessidade do arrependimento e da penitência, presente na obra da Alexandrina, é uma urgência de todos os tempos.
Colocam-se aqui algumas notas sobre mães solteiras e enjeitados no século XVIII.

Mães solteiras

Em 192 assentos de baptismo de entre 1700 e 1710, dezasseis foram de crianças de mães solteiras, o que corresponde aproximadamente a uma em cada dez, sobretudo se se acrescentar que houve dois baptismos de enjeitados (que podiam não ser da freguesia). São muitas crianças sem pai identificado para uma terra que teria uns 500 habitantes.
Estes casos de mães solteiras assinalam-se nos registos de baptismo, mas também nos de casamento e óbito.
Esta chaga social que descarregava sobre a mãe, além da vergonha da situação criada e que lhe marcava o futuro, todas as canseiras e custos da criação dos filhos, alguma coisa havia de ter a ver com a emigração: devia ser desesperante para as jovens ver os rapazes da sua idade a desertar continuamente para outras paragens. A situação manteve-se por muito tempo.

Enjeitados

Os registos de baptismo de Balasar, ao longo do século XVIII, dão notícia de vários enjeitados. Copiam-se dois casos:

Aos doze dias do mês de Setembro de mil setecentos e dois, fiz os exorcismos a Maria, que enjeitaram na aldeia de Gestrim (sic), e trazia um escrito que dizia vinha baptizada. E por ser verdade fiz este termo, que assinei. Era ut supra.
João da Silva.

Aos sete dias do mês de Abril de mil setecentos e cinquenta e quatro, apareceu uma menina exposta nesta freguesia de Santa Eulália de Balasar e, por duvidar do seu baptismo, foi baptizada sub conditione[1] por mim António da Silva e Sousa, Reitor desta mesma igreja, com licença do padre Encomendado desta mesma, aos oito dias do mesmo mês e ano, e chama-se Antónia de S. José. Foram padrinhos o Rev. Reitor desta mesma igreja, e Teresa, solteira, filha de Francisco Machado, de Gresufes, estando por testemunhas o Rev. Encomendado, João, criado, e José, criado do Rev. Reitor. E por assim ser verdade mandei fazer este termo, que assinei. Era ut supra.
O Rev. Encomendado João Carvalho.
João, solteiro.
José, solteiro.


[1] Sub conditione quer dizer sob condição; no contexto, sob a condição de ainda não ter sido baptizada.

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