Os Evangelhos não nos dizem nada da
infância nem da juventude de Jesus. S. Mateus e S. Lucas falam do nascimento,
para afirmar que ele foi virginal, segundo o anúncio de Isaías, e para afirmar a
filiação divina. S. Lucas tem depois aquele episódio da ida anual a Jerusalém
aos doze anos, mas é facto isolado. Só podemos imaginar como foi a vida de Jesus
na infância e na juventude. Neste caso, interessa-nos a juventude.
Para fazermos ideia do que ela foi precisamos de saber
alguma coisa sobre o judaísmo do tempo. Como foi a vida dele durante os anos em
que viveu em Nazaré?
Ele seria aplicado e alegre no trabalho,
piedoso, frequentador da sinagoga, atento aos necessitados. Mas sem dar muito
nas vistas, como a sua Mãe. Se considerarmos os modelos de vida activa, Marta,
e de vida contemplativa, Maria, do Evangelho de S. João, Jesus e sua Mãe
viveriam mais a vida contemplativa. Vida que Jesus limitou com a sua
pregação ambulante e pública e a que Nossa Senhora se terá entregado sempre.
S. José, esse terá entretanto falecido.
Por volta dos 30 anos Jesus ter-se-á
aproximado do profeta que então se manifestou, S. João Baptista.
S. João Baptista era um homem do sul, ao
contrário de Jesus, e devia ter tido alguma ligação aos essénios. Era um homem
do deserto e do Jordão. Faz lembrar a entrada dos hebreus na Terra
Prometida. O seu baptismo (no Jordão) proporcionaria como que o ingresso na nova
terra. Jesus era do norte.
Mas não é só a diferença de origem
geográfica que separa e separará Jesus do Baptista. Jesus vai até às pessoas, convive
com elas, instala-se numa cidade, Cafarnaum, ao contrário do Baptista que se
instalou no deserto, usava umas vestes estranhas e se alimentava de modo também
estranho. João testemunha a respeito de Jesus e Jesus testemunhará a respeito
de João.
Mas isto são diferenças menores, a
maior, por sinal, destaca-se também na ligação a S. João Baptista: a filiação
divina. O baptismo no Jordão é um episódio maior dessa revelação. Os
evangelistas referem-no, de um modo ou de outro. Aí é ouvida a voz de Deus Pai
a testemunhar a filiação divina de Jesus, enquanto o Espírito Santo desce sobre
Ele em forma de pomba.
Afirmar de um homem comum que é o Filho
de Deus é abismal, como há-de ser abismal proclamar que Ele ressuscitou.
Nos Evangelhos, para o leitor menos
atento, parece que o que está em causa é sobretudo o ensino de Jesus, o amor
que devemos a todos e a relação com Deus. Mas estes ensinamentos não se separam
das duas questões anteriores: é o Filho de Deus que ensina, é do Ressuscitado
que os evangelistas falam. A importantíssima tarefa deles foi mesmo proclamar a
sua filiação divina, proclamar que Ele ressuscitou e recolher o seu ensino.
Ensino que S. Paulo quase não menciona, bastando-lhe reconhecê-Lo como aquele
que cumpriu as promessas do Antigo Testamento.
Não foi fácil para as primeiras
comunidades absorverem a afirmação da filiação divina nem a da ressurreição.
Nem é para nós. O Natal devia proporcionar uma séria, aprofundada meditação
sobre estes verdadeiros mistérios. A fé não pode ser coisa superficial, deve
ser exigente, para depois merecer uma adesão entusiasta.
Quem de nós faria inteiramente sua esta
citação da Carta de S. Paulo aos Colossenses?
Ele é a imagem de Deus invisível, o Primogénito de toda a criatura:
porque n’Ele foram criadas todas as coisas: nos Céus e na Terra, visíveis e invisíveis (...)Por Ele e para Ele tudo foi criado.Ele é anterior a todas as coisas e n’Ele tudo subsiste.Ele é a cabeça da Igreja, que é o Seu corpo.Ele é o Princípio, o Primogénito de entre os mortos;
em tudo Ele tem o primeiro lugar.
Apelo
de Jesus através da Beata Alexandrina
Desceu Jesus do Céu e vai
falar pela sua porta-voz. Ouvi, meus filhos:
Sereis meus filhos, se me
amardes e seguirdes a minha Lei.
Sereis benditos do meu Pai:
abrasai-vos no meu amor. Dar-vos-ei todas as graças.
Sereis meus filhos se
professardes a minha Lei.
Sereis meus filhos se, por
meu amor, levardes a vossa cruz.
Sereis meus filhos se, por
meu amor, fordes apóstolos do bem.
(30-10-53)
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