Já
se começou a ver que a narrativa original da Alexandrina sobre a visita do Dr.
Elísio de Moura, que a seguir o P.e Humberto comenta, é muito
sintética. Quantas coisas omitiu! E isto é certamente verdade a respeito de
outros episódios, como o do Salto.
Foi mesmo naquela ocasião que, na
salinha dos Costas, o Director da Alexandrina, ao referir-lhe o médico que nada
de anormal achava na Alexandrina, expôs o estranho fenómeno que nela se
verificava quando ouvia pronunciar a palavra «pecado», ou também «pecadores». O
Prof. Elísio de Moura, resoluto como um raio, como quem julga haver descoberto
finalmente o fio duma intrincada meada, reentrou expeditamente no quarto da
Alexandrina.
Sentou-se perto dela e perguntou-lhe: «Ó
Joaninha, sabes rezar?... Rezas muito?» «Pouquinho, senhor doutor. Rezo como me
permitem as minhas forças!», responde a Alexandrina. «Diz comigo: Ave
Maria...» e rezou com ela toda a oração. Mas o estranho estremecimento não
se manifestou. Triunfante, deu-lhe na face uma palmadita e, como explodindo,
acrescentou: «Vês que desta vez te apanhei em falta? Eu disse «pecadores» e
tu...!» Mas gelou-se-lhe a frase na garganta, porque viu a Alexandrina
agitar-se violentamente, como sacudida por uma força misteriosa. O professor,
então lançou-se nervoso sobre ela e, como a prendê-la num torno, segurou os
joelhos sob os ferros da cama, e procurou com as mãos agarrar-se aos ferros do
lado oposto, mas por mais esforços que fizesse para conservar firme a doente,
não o conseguiu. Além disso, pelas sacudidelas violentas da Alexandrina, foi
lançado ao ar umas poucas de vezes, recaindo sempre pesadamente. Teve de
desistir, vencido, das tentativas de imobilizar a doente.
A explicação do sucedido, o eminente
psiquiatra recebeu-a do próprio Director, que expôs o que havia observado
antecedentemente, isto é, que quando a Alexandrina se punha no número dos
pecadores, como acontece nas palavras da Ave-Maria: «rogai por nós, pecadores»,
o estranho fenómeno não se registava. O Dr. Moura, antes de deixar a casa, com
a mão erguida para a doente, a despedir-se, dizia-lhe, delicada,
afectuosamente: «Adeus, Alexandrina, e reza também por mim!»
Humberto Pasquale, Beata Alexandrina, Edições Salesianas, 7ª edição, págs. 145-6.
A
Alexandrina não era ingénua, seleccionava o que queria passar a escrito.
Sem comentários:
Enviar um comentário