quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

A vista do Dr. Elísio de Moura - 26 de Dezembro de 1938 (fim)


Já se começou a ver que a narrativa original da Alexandrina sobre a visita do Dr. Elísio de Moura, que a seguir o P.e Humberto comenta, é muito sintética. Quantas coisas omitiu! E isto é certamente verdade a respeito de outros episódios, como o do Salto.

Foi mesmo naquela ocasião que, na salinha dos Costas, o Director da Alexandrina, ao referir-lhe o médico que nada de anormal achava na Alexandrina, expôs o estranho fenómeno que nela se verificava quando ouvia pronunciar a palavra «pecado», ou também «pecadores». O Prof. Elísio de Moura, resoluto como um raio, como quem julga haver descoberto finalmente o fio duma intrincada meada, reentrou expeditamente no quarto da Alexandrina.
Sentou-se perto dela e perguntou-lhe: «Ó Joaninha, sabes rezar?... Rezas muito?» «Pouquinho, senhor doutor. Rezo como me permitem as minhas forças!», responde a Alexan­drina. «Diz comigo: Ave Maria...» e rezou com ela toda a oração. Mas o estranho estremecimento não se manifestou. Triunfante, deu-lhe na face uma palmadita e, como explo­dindo, acrescentou: «Vês que desta vez te apanhei em falta? Eu disse «pecadores» e tu...!» Mas gelou-se-lhe a frase na garganta, porque viu a Alexandrina agitar-se violentamente, como sacudida por uma força misteriosa. O professor, então lançou-se nervoso sobre ela e, como a prendê-la num torno, segurou os joelhos sob os ferros da cama, e procurou com as mãos agarrar-se aos ferros do lado oposto, mas por mais esforços que fizesse para conservar firme a doente, não o conseguiu. Além disso, pelas sacudidelas violentas da Alexandrina, foi lançado ao ar umas poucas de vezes, recaindo sempre pesadamente. Teve de desistir, vencido, das tentativas de imobilizar a doente.
A explicação do sucedido, o eminente psiquiatra recebeu-a do próprio Director, que expôs o que havia observado antecedentemente, isto é, que quando a Alexandrina se punha no número dos pecadores, como acontece nas palavras da Ave-Maria: «rogai por nós, pecadores», o estranho fenómeno não se registava. O Dr. Moura, antes de deixar a casa, com a mão erguida para a doente, a despedir-se, dizia-lhe, delicada, afectuosamente: «Adeus, Alexandrina, e reza também por mim!»

Humberto Pasquale, Beata Alexandrina, Edições Salesianas, 7ª edição, págs. 145-6.

A Alexandrina não era ingénua, seleccionava o que queria passar a escrito.

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