sexta-feira, 25 de março de 2016

A Crucifixão na obra da Beata Alexandrina

Trespassaram as minhas mãos e os meus pés. Cerca-me um bando de malfeitores
(Salmo 21, 17)

Estenderam-me na cruz.
Senti como se fosse eu mesma a deitar-me sobre o madeiro e a estender as mãos e os pés para ser crucificada. Era um abraço eterno à cruz, a obra da redenção.
Os membros de Jesus estavam nos meus, o       Seu divino Coração no meu estava. Éramos os dois num só corpo a sofrer. Foi violentíssima a cru­cifixão. Sentia quase como que se me arrancassem os braços e pernas fora, tal era a força com que eram puxados para chegarem ao ponto marcado da cruz.
Que brado tão doloroso de socorro saiu de dentro de mim para o Eterno Pai! Que olhares tão enternecidos saíam dos meus olhos a fitarem o firmamento, a movê-lo à compaixão!
Vi o soldado que com grande crueldade dava as marteladas: era destemido, de olhar cruel e aterrador.
Via-o levantar o martelo ao alto e com toda a força o deixava cair no cravo.
Ecoava dentro em meu peito o som estron­doso do bater dos cravos. Fiquei com os meus pul­sos e pés abertos como se fossem por eles tres­passados[i]:
Sentia que das feridas dos cravos corriam fontes de sangue.
Sentia como se outro cravo, mais duro e doloroso, me cravassem no coração.

As marteladas ecoam ao longe mas não movem os corações

Foi dolorosíssima a abertura das chagas.
Senti como se os cravos me trespassas­sem todos os nervos.
Não senti só os pés e as mãos rasgadas: todo o peito o foi também. Parecia nada ter dentro: tudo tinha sido esgotado.
 dor aumentou, e o último momento da vida, se não fosse um milagre, era no mesmo instante.
Ao ser a cruz voltada para revirar os cra­vos, foi meu rosto no solo muito ferido e uma gol­fada de sangue me veio aos lábios.
Que doloroso foi o retirar dos cravos!
Todas as dores das feridas e fúria dos sol­dados vinham bater no meu coração; e sentia como se os soldados mo despedaçassem e esmigalhas­sem a dentada, tal era a sua raiva.
Via as línguas blasfemadoras que blas­femavam contra mim.
O meu Calvário, o meu Calvário!
Foi Jesus, não fui eu, que assim foi ferido. Mas não sei exprimir-me doutra forma.
As pancadas que apertavam os cravos não eram só para o Calvário: pareciam ecoar no mundo inteiro.
Nem o som das fortes marteladas sobre os cravos que entoavam ao longe, nem a vista de tanto padecer, moviam os corações!

Com Ele crucificaram mais dois, um de cada lado (Jo. 19, 18)

Crucificada, fui levantada ao alto.
Que grandes dores eu senti em todas as chagas ao deixar a cruz cair na cova com tanta força! Pareceu cair num poço.
Com o estremecer da cruz, avivaram-se mais as feridas dos espinhos. E uma chuva de san­gue caía deles, banhava-me o rosto.
Todo o meu corpo restava coberto de espi­nhos como um ouriço: tudo era dor, tudo era sangue.
Não cessei mais o meu brado ao Céu: “Socorro, socorro!”.
Fiquei com Jesus tão presa à Sua dor e agonia, que nada havia que nos separasse.
Ao lado de Jesus foram crucificados os dois ladrões. Eu sentia que os sofrimentos, as cru­zes deles sobrecarregavam sobre mim, sobre a cruz de Jesus que em mim estava. Sentia sair do Cora­ção divino de Jesus o mesmo amor, as mesmas graças: um aceitava-as, o outro repelia-as.




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