Este documento data de 1823, nove
anos antes da aparição da Santa Cruz no Calvário, e dá conta do temor que se
apossou dos liberais quando houve o primeiro levantamento militar contra eles.
Foi registado nos livros paroquiais das visitas e mais tarde veio ordem para o
tornar ilegível. Houve párocos que acataram a ordem, outros nem tanto, como foi
o que riscou a cópia que se coloca ao fundo.
Na verdade, o documento é precedido por parte duma exortação das autoridades eclesiásticas bracarenses adversa ao teor do documento liberal.
Viveram-se então décadas terríveis.
Na verdade, o documento é precedido por parte duma exortação das autoridades eclesiásticas bracarenses adversa ao teor do documento liberal.
Viveram-se então décadas terríveis.
O Doutor Manuel
José Leite Pereira, Abade de S. Pedro de Maximinos, Desembargador, Provisor e
Vigário Geral nesta Corte e Arcebispado pelo Ex.mo e Rev.mo Senhor D. Fr.
Miguel da Madre de Deus, Arcebispo e Senhor de Braga, Primaz das Espanhas,
etc., faço saber aos Rev.dos Párocos que, da parte dos Senhores Governadores do
Arcebispado, me foi dirigida a Exortação seguinte:
Os Governadores
do Arcebispado Primaz aos Rev.dos Párocos, ao Venerável Clero Secular e Regular
e aos mais súbditos desta Santa Igreja.
Aparecendo a
luz, dissipam-se as trevas e, aparecendo a verdade, dissipam-se os erros, os
enganos, tais foram aqueles que motivaram a nossa exortação datada no dia 15 de
Março de 1823, expedida por força da Régia Portaria do teor seguinte:
Manda El-Rei pela
Secretaria de Estado dos Negócios da Justiça:
Atendendo a que
o terrível exemplo de perjuro dado pelo Conde de Amarante pode alucinar alguns
incautos desconhecedores de seus verdadeiros interesses e consequentemente
deixarem-se arrastar por mal-intencionados que só desejam ver derramado o
sangue dos irmãos, parentes e amigos para, no meio da desordem, da confusão e
da carnagem, darem cruento pasto a inveterados ódios e antigas rixas, sem lhes
importar transpor todas as barreiras da humanidade, da honra e da probidade,
virtudes inatas em verdadeiros Portugueses, contanto porém que imaginam conseguir
assim os seus perversos e danados intentos, que o Reverendo Arcebispo Primaz ou
quem suas vezes fizer ordene a todos os Párocos da sua Diocese instruam os seus
fregueses no horror em que devem ter os que, violando um tão sagrado juramento
como o que há pouco prestaram à Constituição da Monarquia, única forma de
governo que pode fazer a felicidade dos Portugueses, se hão deixado,
desapercebidos, fascinar por aquele rebelde, que verdadeiramente lhes façam
sentir os iminentes males que lhes caberiam em partilha se deixassem
contaminar-se com um tão execrando modelo, cumprindo ao mesmo tempo fazer-lhes
conhecer quanta obediência devemos prestar à Constituição e leis regentes (vigentes?), o respeito devido às
autoridades constituídas e quanto enfim seria terrível a Sua Majestade que mais
sectário encontrasse o detestável exemplo de Vila Real, cujo estranho
procedimento entre Portugueses tem profundamente magoado seu coração paternal.
Palácio da
Bemposta, em 5 de Março de 1823.
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