O estudo da história de Balasar permite um olhar mais realista sobre alguns aspectos da biografia da Beata Alexandrina.
Em passado distante e próximo, como na actualidade, pessoas houve que
fraquejaram muitas vezes e de diversos modos. Esta é a história da natureza humana
no passado, no presente e sem dúvida o há-de ser no futuro; e tal fraqueza é
bem conhecida no Evangelho. A necessidade do arrependimento e da penitência, presente na obra da Alexandrina, é uma
urgência de todos os tempos.
Colocam-se aqui algumas notas sobre mães
solteiras e enjeitados no século XVIII.
Mães
solteiras
Em 192 assentos de baptismo de entre
1700 e 1710, dezasseis foram de crianças de mães solteiras, o que corresponde
aproximadamente a uma em cada dez, sobretudo se se acrescentar que houve dois
baptismos de enjeitados (que podiam não ser da freguesia). São muitas crianças
sem pai identificado para uma terra que teria uns 500 habitantes.
Estes casos de mães solteiras
assinalam-se nos registos de baptismo, mas também nos de casamento e óbito.
Esta chaga social que descarregava sobre
a mãe, além da vergonha da situação criada e que lhe marcava o futuro, todas as
canseiras e custos da criação dos filhos, alguma coisa havia de ter a ver com a
emigração: devia ser desesperante para as jovens ver os rapazes da sua idade a
desertar continuamente para outras paragens. A situação manteve-se por muito
tempo.
Enjeitados
Os registos de baptismo de Balasar, ao
longo do século XVIII, dão notícia de vários enjeitados. Copiam-se dois casos:
Aos doze dias do mês de Setembro de mil
setecentos e dois, fiz os exorcismos a Maria, que enjeitaram na aldeia de
Gestrim (sic), e trazia um escrito
que dizia vinha baptizada. E por ser verdade fiz este termo, que assinei. Era ut supra.
João da Silva.
Aos sete dias do mês de Abril de mil
setecentos e cinquenta e quatro, apareceu uma menina exposta nesta freguesia de
Santa Eulália de Balasar e, por duvidar do seu baptismo, foi baptizada sub conditione[1]
por mim António da Silva e Sousa, Reitor desta mesma igreja, com licença do
padre Encomendado desta mesma, aos oito dias do mesmo mês e ano, e chama-se
Antónia de S. José. Foram padrinhos o Rev. Reitor desta mesma igreja, e Teresa,
solteira, filha de Francisco Machado, de Gresufes, estando por testemunhas o
Rev. Encomendado, João, criado, e José, criado do Rev. Reitor. E por assim ser
verdade mandei fazer este termo, que assinei. Era ut supra.
O Rev. Encomendado João Carvalho.
João, solteiro.
José, solteiro.
[1] Sub conditione quer dizer sob condição;
no contexto, sob a condição de ainda não ter sido baptizada.