O que se segue é transcrito de No Calvário de Balasar, do P.e Mariano Pinho. Depois de o lermos, vemos que a Alexandrina foi
muito delicada para com o Dr. Elísio de Moura…
Achando-se
pelo Natal em Braga, onde residíamos, o Dr. Elísio de Moura, conhecido
neurologista, convidámo-lo a vir examinar a doente, a ver se na verdade, a sua
paralisia teria por causa mielite ou não. Acedeu gostosamente ao nosso convite.
Explicámos-lhe
então a razão do nosso interesse em conhecer a causa da doença: — é que tendo
ela êxtase em que se movimentava perfeitamente, era de toda a conveniência
perscrutar o valor desses movimentos, à face da Ciência.
Ergue
bruscamente a cabeça e, em tom bem diferente daquele em que até ali estávamos
conversando, respondeu-nos:
—
Ah, sim? Está bem: eu vou lá e curo-a!
—
Mas, Doutor, não é que tenhamos dúvidas da verdade dos êxtases da doente;
queremos simplesmente saber até que ponto esses movimentos excedem as forças
naturais, suposta a sua paralisia.
—
Sim, sim: eu vou lá e curo-a! — repetiu.
Com
tal predisposição apriorística, pareceu-nos logo que pouco resultado prático
iria dar o tal exame. Mas lá fomos, ele, sua Esposa, o Padre José de Oliveira
Dias, S.J. e nós, no dia 26 de Dezembro de 1938.
Sem
nenhum interrogatório prévio, tratou-a como a própria Alexandrina nos descreve
nas suas notas biográficas:
No dia 26 de Dezembro de 1938, fui visitada e
examinada pelo Sr. Dr. Elísio de Moura, que me tratou cruelmente, tentando
sentar-me numa cadeira com toda a violência. Como nada conseguisse, atirou-me
para cima da cama, fazendo experiências que me fizeram sofrer horrivelmente.
Tapou-me a boca, atirou-me contra a parede, fazendo-me dar uma forte pancada.
Vendo-me quase desmaiada, disse-me:
— Ó minha Joaninha, não percas os sentidos.
Sem querer, chorei, mas as minhas lágrimas ofereci-as
a Jesus com os meus sofrimentos que foram muitos, pois o que digo, nada é do
que passei. Tudo lhe desculpei, porque ele vinha em missão de estudo.
Quanto
aos fenómenos tais quais se apresentam (ele assistiu ao êxtase da Paixão),
— são impressionantes, disse — e muito
impressionantes, para quem não está habituado a observar o que eu
observo: para mim são banais e não vejo motivo, da parte da Ciência, para os
atribuir a forças estranhas.
—
Então que causa lhe atribui? Histeria? — perguntámos.
—
Não.
—
Então?
Respondeu
hesitando:
—
Fraude e auto-sugestão.
É
de notar que o Dr. Elísio de Moura, católico, o melhor psiquiatra português,
mas não sabe nada de fenómenos místicos, como múltiplas vezes mo confessou, nem
está disposto a admiti-los; mostrou-se até algo interessado, quando lhe disse
que médicos eminentes os estudavam e admitiam. Não admite as estigmatizações
dos Santos; mostra-se muito céptico a respeito dos milagres de Lurdes e
indignado com a Voz de Fátima, pelos milagres que lá narra.
Nunca leu nem estudou nada de Mística e afirma-me que não há nenhum médico em
Portugal que saiba disto.
Procurei
convencê-lo que estudasse, pois os teólogos em Portugal precisariam médico a
quem recorrer em casos análogos, possíveis... Respondeu-me que não tinha tempo.