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"É este o título (Rainha dos Pecadores) que Jesus deu à Alexandrina, no primeiro sábado do mês de Dezembro de 1944 (1).
“Quando estiveres no Céu, serás invocada com o título de Pastorinha de Jesus” – assim lhe prometeu no dia 10 de Novembro desse ano.
A afirmação de Nosso Senhor leva-me a apresentar os pormenores de um facto que está narrado resumidamente na biografia (2) da Serva de Deus, nas páginas 198-199.
Deu-se na freguesia de Penedono (3). Na biografia não citei nomes, porque o acontecimento era recente.
O pároco de então, havia já vários anos, com frequentes pregações em vão se esforçava por chamar o seu povo a uma vida mais cristã. A paróquia, de vários milhares de almas, contava no período pascal poucas dezenas de pessoas.
No ano de 1945, fui convidado pelo pároco para uma pregação de uns dias, no fim da Quaresma.
Pelo muito trabalho, como também pela difícil situação dessa freguesia, não me decidia a responder ao convite.
Falei nisso à Alexandrina.
"Vá – disse-me – vá; eu vou com V. Rev.ª."
Aceitei e cheguei a Penedono. Disse logo ao pároco que a Alexandrina rezava e sofria pelas nossas intenções.
A igreja foi-se enchendo cada vez mais, de dia para dia. Mas o meu convite para se confessarem não foi aceite por ninguém. Nem sequer depois do meu sermão no cemitério, em que falei da morte, nos entes queridos falecidos e no seu apelo vindo da vida além-túmulo, em que há a visão completa das verdades eternas.
O pároco estava acabrunhado e… decidido a deixar a freguesia.
Foi então que, em casa dele, lhe disse uma noite, fortemente:
- Sabe por que os seus paroquianos não se convertem?... É por causa da sua falta de fé!
No dia seguinte, quarta-feira da Paixão, estando eu muito cansado e havendo já perdido a voz, o pároco não queria que eu pregasse mais.
Eu opus-me… e, chegando ao pé do ambão, invoquei a Alexandrina (4). A voz voltou.
A uma certa altura do sermão, dei ordem ao sacristão para tirar o pano que encobria a imagem de Nossa Senhora de Fátima e mandei-lhe acender as velas do altar.
Convidei depois todas as crianças a reunirem-se à volta de Nossa Senhora e, em voz alta, pedimos a conversão das pessoas adultas que enchiam a igreja.
Notei que muita gente começou a chorar.
Na manhã seguinte, antes da missa, eu pus-me no confessionário, enquanto os fiéis já entravam.
Daí a pouco, a mãozinha duma criança abriu a cortina do confessionário, enquanto com outra mão segurava o xaile duma mulher.
- Padre, confesse a minha mãe… Ela não queria, mas eu quero que se confesse e se torne amiga de Jesus.
Foi a primeira pessoa que se confessou. Nesse dia, penúltimo da missão, passou pela freguesia uma onda irresistível de graça. Foi preciso chamar sacerdotes, porque as confissões eram muitíssimas.
A “ovelha negra” da paróquia, depois da procissão com a imagem de Jesus Morto (era Sexta-feira Santa) e do último sermão, compareceu na sacristia com mais homens e disse-me em voz alta:
- Chegou para mim também a hora da graça… Para maior humilhação, confessar-me-ei ao pároco (que estava presente). Peço perdão pelos escândalos que tenho dado. Pelas três horas da tarde, que lembram a morte de Jesus, cá estarei.
Assim falando, começou a chorar como uma criança. O facto causou tal impressão que um grupo de homens renitentes quiseram confessar-se naquela mesma tarde.
No dia seguinte, às quatro horas e meia da manhã, eu entrei na camioneta para voltar para Mogofores (5).
Na escuridão da noite, a correr, chegou ao pé da camioneta um homem, que chamou alto por mim: “Padre Humberto! Padre Humberto!”
Desci e encontrei-me nos braços da “ovelha negra”:
- Eu vim para agradecer a V. Rev.ª a paz e a alegria que trouxe à minha alma!
Não me lembra o que respondi… porque a camioneta estava para partir e tive de subir para ela apressadamente.
Mas o mérito desses milagres da graça era da Alexandrina, como o afirma esta carta do pároco de Penedono a ela dirigida:
“Apenas restabelecido do cansaço devido ao trabalho das duas semanas passadas, sinto o dever de dizer-lhe uma palavra de agradecimento pela chuva de graças que, com tanta abundância, as suas orações e os seus sacrifícios fizeram chover nesta paróquia através das palavras do P.e Humberto. Almas há muitos anos afastadas dos Sacramentos acorreram em grande número a lavar-se nas águas da Penitência e a receber Jesus na Comunhão. Foi um autêntico triunfo da misericórdia divina! Não podendo conter mais a minha alegria, quero agradecer-lhe quanto fez por estas pobres almas…”
P.e Humberto Pasquale
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Se o leitor quiser conhecer um pouco mais de Penedono, veja o
Castelo ou leia sobre o
Magriço, lembrando-se que a balasarense
D. Benta era Grã-Magriço.
(1) “És rainha dos pecadores, és rainha do mundo, escolhida por Jesus e por Maria!” (8-12-1944).
(2) Beata Alexandrina.
(3) Penedono fica na Diocese de Lamego, a uns 100 quilómetros de Balasar.
(4) A Beata Alexandrina só “voou para o Céu” dez anos adiante.
(5) Na Diocese de Aveiro, onde os Salesianos tinham casa e onde residia o P.e Humberto.