Os
Jesuítas sob ataque republicano
Os Jesuítas, os responsáveis do Mensageiro do Sagrado Coração de Jesus,
foram a principal vítima dos republicanos, o que nem era bem novidade pois o anti-jesuitismo
deles vinha de trás.
Recorde-se o que o padre balasarense António
Gomes Ferreira escreveu n’O Liberal, em
20 de Maio de 1923 sob o título de “Coincidência”:
Os
revolucionários por toda a parte perseguiam tudo o quer cheirasse a religião,
espatifando tudo, arrastando tudo com uma fúria que dava a ideia que foram
muitos manicómios que vomitaram para a rua os seus moradores. Tudo foi
perseguido, mas nomeadamente os Jesuítas… Esses foram monteados como feras da
pior espécie e passaram os trabalhos e as inclemências que se lêem com lágrimas
nos Proscritos.
Considere-se agora este grave mas ridículo
ataque à Companhia que saiu no jornal Republica
em Vila do Conde em 8 de Janeiro de 1911. Tem como antetítulo “A República e a
Religião” e como título “Os Jesuítas”. Saiu em forma de carta dirigida talvez
ao director do periódico.
Meu Amigo
Deixe que lhe recorde
ainda alguns depoimentos esmagadores acerca da conduta dos jesuítas, largamente
justificativo da montaria geral que na Europa sofreram, e que decerto contribuirão,
por sua insuspeita autoridade, para o fazerem adoptar o asserto que expendi de
que eles só podem ser nocivos à religião.
Posto este intróito, que desde há tantos
anos é desmentido ao longe e ao largo nos cinco continentes, vejamos como continua
o anónimo articulista.
A Faculdade de
Teologia de Paris, em 1554, classificou-os de “inimigos da piedade,
perturbadores da paz da Igreja e do sossego público, sediciosos e usurpadores”.
Deve tratar-se apenas de um caso da frequente
incompreensão no começo das grandes obras. Nessa data estavam activos ou tinham
morrido havia pouco jesuítas como S. Inácio de Loiola, S. Francisco Xavier, S.
Francisco de Borja… Não consta que merecessem nenhum destes epítetos.
Em 1599, a
Universidade da mesma cidade chama-lhes cruamente “assassinos de reis,
exortadores de parricidas, monstros, sacrílegos” e outros epítetos assim
contundentes.
Desconhecemos as circunstâncias que
motivaram tão cruéis afirmações, mas devem ter a ver com os Aforismos dos Confessores do
vila-condense Manuel de Sá que aceitava que era legítimo afastar o príncipe
tirano, como toda a gente hoje admite.
Representando a
Pio IV, em 1564, o clero de Roma declarava-os “usurpadores de todos os direitos
e maus mestres da mocidade”.
Estava-se em tempo do Concílio de Trento
quando os sacerdotes precisavam duma urgente e “reverendíssima” reforma. Natural
é que se sentissem incomodados por quem a promovia. Que diriam certos padres
que então residiam em Vila do Conde com as suas mancebas…?
Aníbal Codreto, que
foi da famigerada ordem, acusou-os de “corruptores da juventude, impostores e assassinos”.
O parlamento de
Tolosa, em 1595, julgou-os “falsos profetas, envenenadores da mocidade,
perturbadores.
O parlamento de
Paris, em 1597, classificou-os de hipócritas, desmoralizadores e astuciosos.
O clero de
Inglaterra dizia, em 1601, a Clemente VIII que eles eram “uma causa das
desgraças dos católicos”.
Jerónimo de
Lanusa, teólogo e bispo, qualificava-os perante Filipe II, em 1597, de “inimigos
de Deus, comediantes, soldados iníquos de Jesus”.
A Universidade
de Cracóvia, em 1622, chamava-lhes “envenenadores”.
E … outros
depoimentos virão ainda a elucidá-lo concludentemente.
E podiam vir outros depoimentos (não se encontram na
colecção em linha da biblioteca municipal). Podiam vir as falsidades que
escreveu o Marquês de Pombal, por exemplo.
Mas não veio nada sobre o Pe.
António Vieira nem nada que afectasse os jesuítas portugueses que os
republicanos tinham banido para sempre; era deles que se devia tratar. Não veio
nem uma palavra menos conveniente que se encontrasse no Mensageiro ou que tivesse sido dita pelos jesuítas da vizinhança,
que eram os da Póvoa.
O que está no artigo é o mesmo ódio que enchia
o decreto de Afonso Costa que extinguiu as Ordens Religiosas (os Jesuítas tiveram nele este
tratamento particular: Continua a vigorar como lei da República Portuguesa a
de 3 de Setembro de 1750, promulgada sob o regime absoluto e pela qual os
jesuítas foram havidos por desnaturalizados e proscritos, e se mandou que
efectivamente fossem expulsos de todo o país e seus domínios “para neles mais
não poderem entrar”) e talvez a
leitura de alguma espécie de vade-mécum a que se recorreria para estes efeitos.
Naquele ano de 1911, em Outubro, o
ex-administrador da Póvoa Sebastião Tomás dos Santos afinou por diapasão semelhante.
Também veio com factos antigos ou distantes, esquecido de que, enquanto administrador,
atacara com violência a igreja, principalmente os seus sacerdotes ou leigos
activos; que, como o seu antecessor e sucessor, nada fez para repor a verdade a
respeito do roubo republicano do Colégio do Sagrado Coração de Jesus; que, como
o seu antecessor e sucessor, nada fez para defender o bom nome dos padres
jesuítas da Póvoa, que nem mesmo eles ousaram denegrir porque sabiam que
ninguém o toleraria; que, como o seu antecessor e sucessor, nada fez para impor
alguma decência na imprensa republicana que denegria a imagem dos sacerdotes
poveiros diocesanos.
Parcialidade e mais nada, ridícula
parcialidade.
Em 1913, se não nos enganamos, os
jesuítas portugueses na Bélgica quiseram retomar o Mensageiro e enviaram um número novo para Portugal: os republicanos
escandalizaram-se a ponto de queimar exemplares da revista em público. Foi
então que se alterou o nome dela para O
Apóstolo, o que fez calar a vozearia.
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