Trespassaram as minhas mãos e os meus
pés. Cerca-me um bando de malfeitores
(Salmo 21, 17)
Estenderam-me na cruz.
Senti como se fosse eu mesma a deitar-me sobre o
madeiro e a estender as mãos e os pés para ser crucificada. Era um abraço
eterno à cruz, a obra da redenção.
Os membros de Jesus estavam nos meus, o Seu divino Coração no meu estava. Éramos
os dois num só corpo a sofrer. Foi violentíssima a crucifixão. Sentia quase
como que se me arrancassem os braços e pernas fora, tal era a força com que
eram puxados para chegarem ao ponto marcado da cruz.
Que brado tão doloroso de socorro saiu de dentro de
mim para o Eterno Pai! Que olhares tão enternecidos saíam dos meus olhos a
fitarem o firmamento, a movê-lo à compaixão!
Vi o soldado que com grande crueldade dava as
marteladas: era destemido, de olhar cruel e aterrador.
Via-o
levantar o martelo ao alto e com toda a força o deixava cair no cravo.
Ecoava
dentro em meu peito o som estrondoso do bater dos cravos. Fiquei com os meus
pulsos e pés abertos como se fossem por eles trespassados[i]:
Sentia
que das feridas dos cravos corriam fontes de sangue.
Sentia
como se outro cravo, mais duro e doloroso, me cravassem no coração.
As marteladas ecoam ao longe mas não movem os corações
Foi
dolorosíssima a abertura das chagas.
Senti
como se os cravos me trespassassem todos os nervos.
Não
senti só os pés e as mãos rasgadas: todo o peito o foi também. Parecia nada ter
dentro: tudo tinha sido esgotado.
dor aumentou, e o último momento da vida, se
não fosse um milagre, era no mesmo instante.
Ao
ser a cruz voltada para revirar os cravos, foi meu rosto no solo muito ferido
e uma golfada de sangue me veio aos lábios.
Que
doloroso foi o retirar dos cravos!
Todas as dores das
feridas e fúria dos soldados vinham bater no meu coração; e sentia como se os
soldados mo despedaçassem e esmigalhassem a dentada, tal era a sua raiva.
Via
as línguas blasfemadoras que blasfemavam contra mim.
O
meu Calvário, o meu Calvário!
Foi
Jesus, não fui eu, que assim foi ferido. Mas não sei exprimir-me doutra forma.
As
pancadas que apertavam os cravos não eram só para o Calvário: pareciam ecoar no
mundo inteiro.
Nem
o som das fortes marteladas sobre os cravos que entoavam ao longe, nem a vista
de tanto padecer, moviam os corações!
Com Ele crucificaram mais dois, um de cada lado (Jo. 19, 18)
Crucificada,
fui levantada ao alto.
Que
grandes dores eu senti em todas as chagas ao deixar a cruz cair na cova com
tanta força! Pareceu cair num poço.
Com
o estremecer da cruz, avivaram-se mais as feridas dos espinhos. E uma chuva de
sangue caía deles, banhava-me o rosto.
Todo o meu corpo restava coberto de espinhos como um
ouriço: tudo era dor, tudo era sangue.
Não cessei mais o meu brado ao Céu: “Socorro, socorro!”.
Fiquei com Jesus tão presa à Sua dor e agonia, que
nada havia que nos separasse.
Ao lado de Jesus foram crucificados os dois ladrões.
Eu sentia que os sofrimentos, as cruzes deles sobrecarregavam sobre mim, sobre
a cruz de Jesus que em mim estava. Sentia sair do Coração divino de Jesus o
mesmo amor, as mesmas graças: um aceitava-as, o outro repelia-as.
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