O Cónego Molho de Faria envolvera-se
irresponsavelmente numa situação que agora se tornara embaraçosa e era preciso
agora muita humildade para corrigir o mal feito.
O Pe. Heitor Calovi é aqui muito
directo e pode até parecer irónico, mas não era com certeza o caso.
Esta carta põe em evidência o papel
de motor que os Salesianos tiveram nas várias diligências da Causa e o papel sobretudo
burocrático da Diocese.
Do que não
restam, dúvidas – pois também dispomos de documentos para o afirmar – é do
facto de VR. se ter servido, para elaborar o “Parecer”, das informações
veiculadas pela ex-religiosa Maria Machado, melhor dito, das suas acusações e
insinuações maldosas e ressentidas, próprias do seu temperamento arrebatado e
conflituoso. Da Maria Machado e de outra ex-religiosa, a Felismina dos S. Martins,
espírito débil dominado por aquela.
No depoimento
da Felismina lê-se o seguinte: “Muito amargurada, resolvi-me escrever uma carta
ao meu confessor, o Dr. Molho de Faria, para desabafar. A Teresa F. Matias
incitou-me a isto e prontificou-se a ajudar-me a escrever a carta por ser mais
esperta do que eu”. Da primeira, é interessante e sintomático verificar como no
seu depoimento, em 1965, aparecem como que em embrião certas apreciações que
encontramos perfilhadas e desenvolvidas por VR. no “Parecer”.
Foi na base
de tais informadoras, sem se preocupar de verificar se quanto elas afirmavam
correspondia à verdade, que VR. emitiu o seu juízo negativo, concluindo “nada
haver encontrado que ateste algo de sobrenatural extraordinário…”, antes acrescentando
“haver indícios seguros para se
afirmar o contrário”! Um mínimo de isenção e de preocupação por descobrir a
verdade implicava que fosse ouvida a irmã, a mãe, o Pároco, outras pessoas de reconhecido
critério e isenção, mas sobretudo fosse ouvida a Alexandrina.
Tem graça! Tenho
aqui diante de mim os originais de duas cartas que VR. escreveu ao P. Pinho,
uma datada de 2.3.1943 e outra sem data, mas provavelmente anterior à data do “Parecer”
(envio-lhe fotocópia das duas). Na segunda escreve textualmente: “No dia 31 de
Maio estive em Balasar. Fui chamado ao lugar do Calvário. Disse aquilo que
julguei então fazer falta, não pretendendo substituir aquilo que não se
substitui, mas ajudar a obra de Deus. Fiquei bem impressionado… Adiantei-me a
exigir uma reserva escrupulosa seja diante de quem for, mesmo diante de mim. Sem
nada tomar desde Sexta-Feira Santa, lá continua a formidável e misteriosa
agonia tão necessária no momento que passa…”
E, na primeira,
há passagens verdadeiramente curiosas, que nos deixam perplexos sobre a mudança
de linguagem empregue no “Parecer”: “… Li ainda a carta que se dignou enviar,
com excertos dos escritos da Alexandrina, em que parece já se vai historiando o
acontecimento máximo qual a Consagração do Mundo ao Coração Imaculado de Maria…
Gostei e admirei muito… Admirei sobretudo o espírito de simplicidade e máxima
confiança em Deus. Há tanta beleza e exactidão em algumas coisas de real
dificuldade teológica que, ao sabermos donde provêm, não podemos não ver
claramente o dedo de Deus”.
Fico francamente
intrigado e custa-me a acreditar que a mudança de 180 graus operada em VR. a
respeito do “caso” da Alexandrina se tivesse processado a partir de informações
intriguistas e coscuvilhice. Não quero adiantar mais alvitres, mas deixo à sua
consciência a resposta sobre as verdadeiras causas…
E pronto,
acabei.
Se com esta
minha insistência magoei Vossa Reverendíssima, peço-lhe sinceramente desculpa, mas
afianço-lhe que não esteve nas minhas intenções. O que procurei, talvez com uma
certa vivacidade – aliás compreensível – foi esforçar-me por fazer ver a VR. a
justeza da causa que defendo, não certo para proveito meu, mas sim, repito-o,
por amor à Causa e à verdade, que tem de ser o seu suporte.
Com sentimentos
de respeito e consideração, creia-me
dev.do (devotado) in Domino (no Senhor)
Pe. Heitor
Calovi
(Vice-Postulador)
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