sábado, 19 de setembro de 2015

Carta do Pe. Heitor Calovi ao Cónego Molho de Faria em 1981 (2)


O Cónego Molho de Faria envolvera-se irresponsavelmente numa situação que agora se tornara embaraçosa e era preciso agora muita humildade para corrigir o mal feito.
O Pe. Heitor Calovi é aqui muito directo e pode até parecer irónico, mas não era com certeza o caso.
Esta carta põe em evidência o papel de motor que os Salesianos tiveram nas várias diligências da Causa e o papel sobretudo burocrático da Diocese.

Do que não restam, dúvidas – pois também dispomos de documentos para o afirmar – é do facto de VR. se ter servido, para elaborar o “Parecer”, das informações veiculadas pela ex-religiosa Maria Machado, melhor dito, das suas acusações e insinuações maldosas e ressentidas, próprias do seu temperamento arrebatado e conflituoso. Da Maria Machado e de outra ex-religiosa, a Felismina dos S. Martins, espírito débil dominado por aquela.
No depoimento da Felismina lê-se o seguinte: “Muito amargurada, resolvi-me escrever uma carta ao meu confessor, o Dr. Molho de Faria, para desabafar. A Teresa F. Matias incitou-me a isto e prontificou-se a ajudar-me a escrever a carta por ser mais esperta do que eu”. Da primeira, é interessante e sintomático verificar como no seu depoimento, em 1965, aparecem como que em embrião certas apreciações que encontramos perfilhadas e desenvolvidas por VR. no “Parecer”.
Foi na base de tais informadoras, sem se preocupar de verificar se quanto elas afirmavam correspondia à verdade, que VR. emitiu o seu juízo negativo, concluindo “nada haver encontrado que ateste algo de sobrenatural extraordinário…”, antes acrescentando “haver indícios seguros para se afirmar o contrário”! Um mínimo de isenção e de preocupação por descobrir a verdade implicava que fosse ouvida a irmã, a mãe, o Pároco, outras pessoas de reconhecido critério e isenção, mas sobretudo fosse ouvida a Alexandrina.
Tem graça! Tenho aqui diante de mim os originais de duas cartas que VR. escreveu ao P. Pinho, uma datada de 2.3.1943 e outra sem data, mas provavelmente anterior à data do “Parecer” (envio-lhe fotocópia das duas). Na segunda escreve textualmente: “No dia 31 de Maio estive em Balasar. Fui chamado ao lugar do Calvário. Disse aquilo que julguei então fazer falta, não pretendendo substituir aquilo que não se substitui, mas ajudar a obra de Deus. Fiquei bem impressionado… Adiantei-me a exigir uma reserva escrupulosa seja diante de quem for, mesmo diante de mim. Sem nada tomar desde Sexta-Feira Santa, lá continua a formidável e misteriosa agonia tão necessária no momento que passa…”
E, na primeira, há passagens verdadeiramente curiosas, que nos deixam perplexos sobre a mudança de linguagem empregue no “Parecer”: “… Li ainda a carta que se dignou enviar, com excertos dos escritos da Alexandrina, em que parece já se vai historiando o acontecimento máximo qual a Consagração do Mundo ao Coração Imaculado de Maria… Gostei e admirei muito… Admirei sobretudo o espírito de simplicidade e máxima confiança em Deus. Há tanta beleza e exactidão em algumas coisas de real dificuldade teológica que, ao sabermos donde provêm, não podemos não ver claramente o dedo de Deus”.
Fico francamente intrigado e custa-me a acreditar que a mudança de 180 graus operada em VR. a respeito do “caso” da Alexandrina se tivesse processado a partir de informações intriguistas e coscuvilhice. Não quero adiantar mais alvitres, mas deixo à sua consciência a resposta sobre as verdadeiras causas…
E pronto, acabei.
Se com esta minha insistência magoei Vossa Reverendíssima, peço-lhe sinceramente desculpa, mas afianço-lhe que não esteve nas minhas intenções. O que procurei, talvez com uma certa vivacidade – aliás compreensível – foi esforçar-me por fazer ver a VR. a justeza da causa que defendo, não certo para proveito meu, mas sim, repito-o, por amor à Causa e à verdade, que tem de ser o seu suporte.
Com sentimentos de respeito e consideração, creia-me
dev.do (devotado) in Domino (no Senhor)
Pe. Heitor Calovi
(Vice-Postulador)

Sem comentários:

Enviar um comentário