sábado, 17 de janeiro de 2015

A propósito da Igreja do Matinho

Como se mandava reconstruir uma igreja

Os usos de hoje são os nossos, mas são muito diferentes dos de outros tempos. A Igreja do Matinho onde a Beata Alexandrina foi baptizada foi reconstruída na primeira metade do séc. XVIII. Primeiro, o comendador reconstruiu a capela-mor, certamente a sacristia e também a residência, depois os paroquianos reconstruíram de raiz o corpo principal da Igreja. Mas as decisões da reconstrução eram ordenadas pelo visitador. Como não se conservam os Livros dos Capítulos de Visita de Balasar, veja-se o que se passou na extinta paróquia de Santagões.
O Arcediago de Vermoim Rev. Veríssimo Ferreira Marques, em visita de 12 de Maio de 1755, deixou este capítulo:

Achei esta igreja em tão miserável estado que receei entrar dentro dela por estar ameaçando ruína, porque tem as paredes todas rachadas e arruinadas e esbuxadas para fora e o arco também arruinado que (palavra ilegível) compadeço de que possa suceder alguma ruína aos fregueses e pároco caindo e juntamente ameaçando os retábulos e causando-lhes mais dispêndios, pelo que mando que, até à futura visita, cuidem os fregueses de fazê-la a fundamentis, aproveitando-se do que puderem da velha, e a poderão alargar uma vara ou o que for preciso para a parte do sul, puxando o adro mais fora e seguindo para esta obra o parecer do Rev. Pároco, que os há-de aconselhar ao melhor, e, visto o fazerem-na de novo, seja ao moderno, com o arco mais levantado; e lhe deixo tudo o mais à sua disposição, que bem conheço que são zelosos, e para isso farão suas promessas conforme a possibilidade de cada um e, feitas elas, o Rev. Pároco procederá contra os que não quiserem na forma do modo de visita, o que não quero seja necessário do seu zelo.

A fundamentis quer dizer desde os alicerces.
É provável que houvesse algum exagero na descrição do estado da igreja e também é provável que, antes de escrever o capítulo, o arcediago tivesse sondado a disposição dos fregueses e do pároco para avançar com as obras de construírem uma igreja “ao moderno”. De resto estava-se em tempo de muitas construções.
Dois anos depois, em 12 de Agosto de 1757, o visitador regressou e ficou optimamente impressionado, a nova igreja estava “com toda a perfeição”:

Louvo muito ao Rev. Pároco o zelo com que encaminha os seus fregueses para o Céu, doutrinando-os e ensinando-lhes a doutrina, como também a (palavra ilegível) com que concorreu para a factura da nova igreja, que está com toda a perfeição, e não menos louvo aos seus fregueses a satisfação que deram aos capítulos passados, concorrendo para ela com as suas esmolas, que sendo poucos como são deve ser muito louvável.

A Abadessa de Vairão, como padroeira da paróquia, também foi chamada a renovar a capela-mor e a sacristia:

E se fará aviso pelo Rev. Pároco à Rev. Madre Abadessa de Vairão para que da mesma sorte mande concorrer para o que lhe pertencer do arco cruzeiro e fazer a sua capela-mor, que da mesma sorte necessita de reforma, como assim a sacristia.


A sacristia fora capitulada pelo Arcebispo Dom Veríssimo de Lencastre. Mas dessa vez a abadessa parece que não prestou muita atenção à recomendação.

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