Como
se mandava reconstruir uma igreja
Os usos de hoje são os nossos, mas são
muito diferentes dos de outros tempos. A Igreja do Matinho onde a Beata Alexandrina
foi baptizada foi reconstruída na primeira metade do séc. XVIII. Primeiro, o comendador
reconstruiu a capela-mor, certamente a sacristia e também a residência, depois
os paroquianos reconstruíram de raiz o corpo principal da Igreja. Mas as
decisões da reconstrução eram ordenadas pelo visitador. Como não se conservam
os Livros dos Capítulos de Visita de Balasar, veja-se o que se passou na
extinta paróquia de Santagões.
O Arcediago de Vermoim Rev. Veríssimo
Ferreira Marques, em visita de 12 de Maio de 1755, deixou este capítulo:
Achei esta
igreja em tão miserável estado que receei entrar dentro dela por estar
ameaçando ruína, porque tem as paredes todas rachadas e arruinadas e esbuxadas para fora e o arco também arruinado
que (palavra ilegível) compadeço de
que possa suceder alguma ruína aos fregueses e pároco caindo e juntamente
ameaçando os retábulos e causando-lhes mais dispêndios, pelo que mando que, até
à futura visita, cuidem os fregueses de fazê-la a fundamentis, aproveitando-se do que puderem da velha, e a poderão
alargar uma vara ou o que for preciso para a parte do sul, puxando o adro mais
fora e seguindo para esta obra o parecer do Rev. Pároco, que os há-de
aconselhar ao melhor, e, visto o fazerem-na de novo, seja ao moderno, com o
arco mais levantado; e lhe deixo tudo o mais à sua disposição, que bem conheço
que são zelosos, e para isso farão suas promessas conforme a possibilidade de
cada um e, feitas elas, o Rev. Pároco procederá contra os que não quiserem na
forma do modo de visita, o que não quero seja necessário do seu zelo.
A
fundamentis
quer dizer desde os alicerces.
É provável que houvesse algum exagero na
descrição do estado da igreja e também é provável que, antes de escrever o
capítulo, o arcediago tivesse sondado a disposição dos fregueses e do pároco para
avançar com as obras de construírem uma igreja “ao moderno”. De resto estava-se
em tempo de muitas construções.
Dois anos depois, em 12 de Agosto de
1757, o visitador regressou e ficou optimamente impressionado, a nova igreja
estava “com toda a perfeição”:
Louvo muito ao
Rev. Pároco o zelo com que encaminha os seus fregueses para o Céu,
doutrinando-os e ensinando-lhes a doutrina, como também a (palavra ilegível) com que concorreu para a factura da nova igreja,
que está com toda a perfeição, e não menos louvo aos seus fregueses a
satisfação que deram aos capítulos passados, concorrendo para ela com as suas
esmolas, que sendo poucos como são deve ser muito louvável.
A Abadessa de Vairão, como padroeira da paróquia,
também foi chamada a renovar a capela-mor e a sacristia:
E se fará aviso
pelo Rev. Pároco à Rev. Madre Abadessa de Vairão para que da mesma sorte mande
concorrer para o que lhe pertencer do arco cruzeiro e fazer a sua capela-mor,
que da mesma sorte necessita de reforma, como assim a sacristia.
A sacristia fora capitulada pelo
Arcebispo Dom Veríssimo de Lencastre. Mas dessa vez a abadessa parece que não
prestou muita atenção à recomendação.
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