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DE MARÇO – SEXTA-FEIRA SANTA (dia do aniversário da Alexandrina)
Envolta na mesma nuvem que ontem sobre
mim desceu, principiei o dia de hoje, dia que só era noite e vida que só era
morte. Faltavam-me as saudades por não receber o meu Jesus. Sofri mais nos dias
passados com a lembrança de hoje não O receber do que hoje por não comungar.
Sofria por sentir pouca pena.
Indiferente a tudo, a minha alma sentiu,
e o meu corpo também, que me levaram presa, e alguns por escárnio a ouvirem a
opinião duma multidão de grande ralé e vil canalha que me condenavam à morte.
Os meus ouvidos ouviam, a uma voz só, a palavra de “morra, condene-se”. Oh, que
gritos os da multidão!
Tomei a cruz, caí repetidas vezes; ia a
cada passo a expirar. Caía e sobre mim ficava a cruz.
Não por dó, mas por receio, queriam
alguém que a levasse. Houve quem caminhasse com ela, não por amor, mas por ser
mandado; mas mesmo assim quanto amor senti o meu coração dispensar-lhe! Que
grande paga!
O meu corpo ia entregue aos malfeitores,
o meu espírito ia só em Deus.
No calvário, o sangue corria por todas
as feridas do meu corpo.
Que horas tão agonizantes!
Sentia na minha alma todos os suspiros
que dava Jesus; todos os olhares que Ele levantava ao céu na minha alma foram
gravados.
Momentos antes de Jesus expirar, só de
longe a longe dava um suspiro. E nesse intervalo de tempo estava como se não
tivesse vida. E a minha alma a sentir tudo isto.
Oh, como era lindo! Que lições tão belas
nos dá Jesus! Tão maltratado e tão cheio de ternura e amor!
Ainda o Seu santíssimo Corpo a sofrer na
terra e a Sua Alma santíssima a voar ao Céu; voava e deixava cair para a terra
bênçãos e chuvas de amor.
Veio o meu Jesus, fez-me por algum tempo
esquecer a dor. Começou o meu coração a dilatar-se e a arder em chamas.
- Venho, minha filha, felicitar-te,
saudar-te, louvar-te pelo teu aniversário, pela tua vida tão cheia de
maravilhas, tão rica de virtudes, tão rica de amor! A tua vida é de rios de
ouro e minas de pedras preciosas! Nunca o mundo viu nem voltará a ver; és a
vida das almas! É com esta riqueza que elas são resgatadas, que elas são
salvas.
- Falai, falai, meu Jesus, são para Vós
as felicitações, as saudações e os louvores.
O que faço eu sem Vós, meu Jesus? O que
sou eu sem Vós? Podeis dizer, podeis falar, a grandeza é Vossa, a miséria é
minha.
- Louvo-te pela tua fidelidade e
correspondência às minhas graças divinas! Louvo-te pela tua reparação!
Quantas vítimas escolhi e recebi uma
recusa; quantas chamei e não me escutaram! A quantas convidei a uma alta
elevação para Mim e nada consegui…
Em ti consolei-Me, de ti tudo recebi. Tu
és o instrumento das almas, és a conquistadora de Cristo! Toda a tua vida é uma
vida de maravilhas!
Se pudesses ver as almas que por ti
foram salvas! E ultimamente, nestes três anos do teu jejum!...
Que grande meio para acudir aos pecadores!...
Mostro aqui o Meu poder, as Minhas ânsias e o Meu amor para com eles.
Nada te disse no aniversário do teu
jejum, para tirar da tua amargura toda a doçura para Mim e todo o proveito para
as almas. E vou já assim preparando-te para tua última fase.
Martírio acompanhado com o jejum será o
maior meio, o último meio de salvação! Não será só riqueza de rios de ouro e
minas preciosas, mas será um mundo de ouro, um mundo das mesmas pedras!
O martírio subirá ao auge e o amor
atingirá toda a altura!
O amor a Jesus, a dor pelas almas,
reparação sem igual!...
Recebe agora, minha filha, o Sangue do
Meu Divino Coração: é a vida que necessitas, é a vida que dás às almas!
Vi o Coração Divino de Jesus a arder em
chamas, a transbordar de amor. Unido aos meus lábios, sentia o Sangue correr e
o meu coração por muito tempo a dilatar-se.
- Minha filha, o Céu louva-Me por te ter
criado, louva-Me pela honra que Me dás e louvor que já da terra recebo.
O Céu louva-Me e sempre Me louvará! Da
terra já recebo louvores e dentro em breve todo o mundo Me dará louvor pela
minha vítima, pela nova redentora.
Prepara-te, filhinha, vou-Me dar a ti. É
um sinal que, mesmo escondido, sempre em ti habito. Repara, desce o Céu sobre
ti. Dou-Me a ti numa comunhão real, numa comunhão eucarística.
Desceu sobre mim a abóbada do céu.
- Que lindo, que lindo! – exclamei eu.
Vale a pena, meu Jesus, sofrer e sofrer tudo para possuir o céu!
Eram tantos, tantos os anjos que batiam
as asas e prestavam homenagens a Jesus!
Desta vez não cantavam. Adoravam e
inclinavam-se em sinal de reverência na presença de Jesus. Ele disse as
palavras Ecce Agnus Dei e depois as
de Corpus Domini Jesu Christi (1).
Parece-me bem que estendi a língua para
receber Jesus. Ficamos por uns momentos num silêncio profundo, numa união tão
grande! Depois Jesus chamou pela Mãezinha.
- Mãe Bendita, vem saudar e acariciar a
nossa filhinha, a nossa vítima!
Ela veio, tomou-me para o Seu regaço,
cobriu-me de mimos e entrelaçou os seus santíssimos braços nos de Jesus, e
estreitavam-me os dois ao mesmo tempo.
- Minha filha, flor mimosa do meu Jesus,
amo-te, amo-te com Ele. Recebe todo o nosso amor.
Saúdo-te pelo louvor, honra e almas que
Nos dás. Sofre, sofre contente! É a Mãe que pede para os Seus filhos, é a Mãe
que pede para os irmãos teus.
Beijava-me dum lado Jesus e do outro a
Mãezinha. Jesus acrescentou:
- Vai, filhinha, vai escrever tudo! Para
tudo o que disseres, tudo o que fizeres, terás sempre a luz do Divino Espírito
Santo; é Ele que fala em ti.
- Obrigada, Jesus, obrigada, Mãezinha!
Fiquei logo duvidosa de tudo e
mergulhada em tanta dor: de nada me valiam as pessoas queridas que me rodeavam.
Vieram ainda espinhos tão agudos a ferirem-me. Por tudo bendisse ao Senhor e,
como remate, rezei o Magnificat.
(1)
No dia 11 de Abril, pergunta-me: “O que querem dizer estas palavras? E as
outras, Corpus Domini Jesu Christi?” Notei também que normalmente ela não sabe
estas frases e, referindo-se a elas, diz: “aquelas palavras que Jesus disse na
comunhão” (Pe. Humberto?)
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